RIO (Reuters) - O ex-ativista político italiano Cesare Battisti, que aguarda decisão sobre sua extradição à Itália, afirmou nesta quinta-feira em audiência na Justiça Federal do Rio de Janeiro que decidiu fugir para o Brasil por ser um país que não costuma extraditar presos políticos.
Battisti, condenado à revelia por quatro homicídios na Itália, afirmou que foi aconselhado por políticos e intelectuais com quem mantinha contato a vir para o Brasil depois de ter revogada sua condição de refugiado político na França.
"Escolhi o Brasil porque aqui tem muitos refugiados italianos aos quais foi negada a extradição pelo STF (Supremo Tribunal Federal)... O Brasil não tem a tradição de extraditar pessoas por crime político, e escolhi o Brasil pela importância da comunidade italiana aqui", afirmou durante audiência sobre processo de falsidade ideológica por ter sido detido com um passaporte francês falso no Rio em 2007.
O ex-ativista, que aguarda preso em Brasília decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o pedido de extradição da Itália aprovado pelo STF, negou ter usado passaporte falso para entrar no país.
Apesar de portar um documento italiano de outra pessoa com sua foto, Battisti disse que não precisou apresentar o documento adulterado ao chegar no aeroporto de Fortaleza em 2004, pois já era aguardado por agentes brasileiros e franceses.
Esse passaporte, segundo Battisti, foi roubado em um hotel do Rio de Janeiro e um outro documento falsificado lhe foi enviado por contatos na França. O segundo passaporte, que teria um visto brasileiro falsificado, foi apreendido com Battisti em Copacabana quando o ex-ativista foi preso no ano de 2007.
Durante a audiência, Battisti afirmou que mantinha contato com políticos e intelectuais brasileiros, inclusive com o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
Segundo o advogado de Battisti nesse processo, Luiz Eduardo Greenhalgh, o italiano está decepcionado com Gabeira, porque o parlamentar se negou a atuar como testemunha de defesa do italiano.
"Acho que o Cesare está magoado com o deputado Gabeira. Por diversas vezes na sua estadia aqui no Rio de Janeiro, Fernando Gabeira conversou com Cesare Battisti. Os dois se conheciam e têm uma trajetória comum, de luta armada, refúgio, banimento e exílio", disse o advogado a jornalistas. "Nós o colocamos como testemunha, e ele mandou um ofício dizendo que não tinha nada a esclarecer sobre os fatos", disse Greenhalgh.
Por cinco votos a quatro, o STF decidiu no dia 18 de novembro extraditar Battisti, mas deixou a palavra final sobre o caso ao presidente Lula.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu status de refugiado político a Battisti em janeiro, alegando que o ex-ativista foi alvo de repressão do governo italiano e não conseguiu se defender de forma plena na Justiça do país europeu, contrariando decisão do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
Cesare Battisti, de 54 anos, foi condenado à revelia à prisão perpétua por quatro homicídios na Itália nos anos 1970. Na época, ele, que alega inocência, integrava a organização Proletários Armados pelo Comunismo, grupo radical de esquerda.
A ação do governo brasileiro de conceder refúgio foi criticada por autoridades italianas. A decisão provocou ainda uma crise diplomática com a Itália, que chamou de volta seu embaixador no Brasil para manifestar "surpresa e pesar" e discutir o caso.
A condenação do ex-ativista na Itália ocorreu após sua fuga em 1981 para a França, que acolheu italianos sob a condição de que abandonassem a luta armada.
Battisti deixou a França após a revogação de sua condição de refugiado e veio para o Brasil, foi preso em 2007 e passou a cumprir prisão preventiva para fins de extradição em Brasília.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
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