Fábio Assunção é com certeza uma agradável surpresa. Ele faz parte de um time de atores que quebra a estigma de galã e mostra muito trabalho. No momento Fábio esta envolvido na produção de duas montagens teatrais, entre elas um texto de Willian Shakespaere. No cinema, ele se prepara para atuar em dois filmes: Bellini 2, baseado no romance de Tony Belotto e Primo Basílio, baseado no romance de Eça de Queiroz. Apesar de tanto trabalho e dedicação, é impossivél ignorar que Apollo, o Deus da Beleza, foi muito generoso com Fábio Assunção.
Revista Città São Paulo : Quando Surgiu a Cindo Produtora?
Fábio Assunção: Eu já tinha produzido “Oeste”,uma peça que eu fiz junto com o Marco Ricca, onde ele dirigiu e eu atuei. De lá pra cá, milhões de vezes nós pensávamos em produzir outras coisas. No ano passado, começou a história da Cinco Produções – Denise Fraga, Marco Ricca, Luiz Villaça, Muriel Matalon e Fábio Assunção. A Denise Fraga queria fazer uma peça com o Marco Ricca, e nós queríamos produzir, aí, tivemos a idéia de fazer a Cinco Produções.
Città : Sua produtora está envolvida na montagem do espetáculo “Ricardo III”? Você atua no espetáculo?
Fábio : A produção e o projeto são nossos. A estréia está prevista para maio no teatro Faap, com direção do Jô Soares. Eu não estou no elenco. Quem irá participar da peça é a Denise Fraga, o Marco Ricca no papel de Ricardo III, a Glória Menezes e grande elenco. O Jô Soares fez a tradução do texto e adaptou para o teatro.Foi um trabalho de cinco meses. Além desse trabalho estamos, com Marcelo Médici no Rio, com a peça “Cada um com seus”Pobremas”. Tem um infantil, o Bruxo ponto.com, que vamos estrear em maio também.
Città : Você está fora do teatro desde 2000. Tem previsão para voltar como ator ?
Fábio : Devo voltar neste ano. Eu tirei um tempo para mim, para montar a produtora, para me distanciar um pouco da mídia, de exposição, num momento pós-separação, também teve a novela Celebridade, depois fiz minissérie “Mad Maria” onde fiquei dois meses em Rondônia e mais quatro meses em estúdio gravando. Aí eu quis me dar um tempo.
Città : E o que você fez neste tempo?
Fábio : Cuidei da minha vida. Estou cuidando da minha saúde, fazendo academia, fico muito com o meu filho. Na verdade, tenho estreitado esta relação com ele. Eu sempre fui um pai presente, mas esse exercício de levar e buscar na escola, de participar de uma outra forma, coisas que quando você está trabalhando não dar para fazer muito. E também foi um tempo para eu me restabelecer profissionalmente.
Città :Você acha que o teatro permite ao ator “errar” mais quando se está em cena, pelo fato de não ter a pressão da audiência?
Fábio : Quando você faz um personagem com verdade não tem um certo ou errado. E na televisão você também pode se arriscar. O Renato Mendes – personagem de Fábio Assunção na novela “Celebridade” em 2003 - foi um grande risco, um tiro que às vezes dá certo ou não. Mas eu nunca acho que é um erro. No teatro, se você se arrisca e constata que deu errado o processo, menos gente fica comprometida. Já na televisão, há uma expectativa maior, têm mais pessoas envolvidas. Por exemplo,”Os Maias” foi a obra que eu fiz que mais fez sucesso entre os críticos. Mas, que menos deu audiência. Foi um grande acerto na minha opinião, mas também um erro em termos de audiência. E pouca audiência na televisão é um risco para muita gente.
Città : Você chegou a freqüentar alguma redação de jornalismo para compor o jornalista Renato Mendes?
Fábio : Eu ia fazer um laboratório com a jornalista Mônica Bergamo da Folha de São Paulo, mas, como “vazou” a notícia, eu não queria que falassem que eu fiz um vilão baseado na Mônica Bergamo, pessoa quem eu tenho um enorme respeito, e acabei não indo. Então, criei o personagem pensando naquela coisa caótica da imagem que é tão forte hoje em dia. O mundo hoje é imagem, as pessoas se relacionam pela internet, fotos, etc. Eu quis fazer do Renato um expoente disso, um cara que só se preocupava com a imagem, que não tivesse nenhum escrúpulo em lidar com as pessoas. Muita gente veio me falar que eu estava fazendo ele sem caráter porque era um jornalista, e eu dizia de forma alguma, pois eu acho o Jornalismo uma área seriíssima, de extrema responsabilidade. Ele poderia ser um engenheiro que eu o faria da mesma forma. Como ele tinha um instrumento de “poder” nas mãos, que era lidar com a imagem, ele decidia uma capa em função de uma coisa de um interesse pessoal.
Città : O Renato Mendes era um jornalista que usava a vida das celebridades para ganhar notícias. O que você pensa dos veículos jornalístico que priorizam a vida amorosa dos artistas em vez da profissional?
Fábio : Tive um único problema com a imprensa que foi na cerimônia do meu casamento. Nós íamos dar uma foto para divulgação, mas teve uma revista que entrou no casamento e tirou fotos não autorizadas e publicou. Devido a isso tem um processo rolando. Fora isso, minha relação com a imprensa é ótima, e eu me acho muito bem cuidado pela imprensa. Não vejo falando mal, apesar de que eu não leio muita coisa, mas acho que me tratam bem sim. Mas a minha preocupação não é a minha relação com a imprensa, e sim que a minha exposição tenha um embasamento artístico, porque eu acho que as pessoas merecem conteúdo.
Città : Você fez um trabalho voluntário com crianças carentes em São Paulo, como foi a experiência?
Fábio : Foi um trabalho com a ONG Meninos do Morumbi, que existe há anos.Eu fiquei lá durante um ano e meio. Como eles não tinham teatro lá, eu me ofereci para implantar um curso. Fiz uma captação de recursos, e contratamos sete professores de teatro para darem as aulas. No curso, tinham uns 150 alunos mais ou menos.E como a ONG trabalha com a lei Mendonça, e esta lei teve um problema no Governo da Marta Suplicy, que captou tudo, acabou sendo um ano difícil para a obter patrocínio, e eu fui obrigado a parar.
Città : Você que trabalhou com os meninos do Morumbi.Fazendo um paralelo com o documentário Falcão meninos do tráfico, exibido na Rede Globo, você acha que dá para mudar este quadro?
Fábio : Acho que isso é complexo demais. Na minha opinião tem que ter a intervenção do exército. Acho que se deve legalizar as drogas, por exemplo, porque não adianta o Governo achar que isso não existe. É importante que se ressalte que a legalização não é a liberação das drogas. Acho que, legalizar ,você tira o poder da ilegalidade. O governo assume este controle e passa a controlar quem consome e pode até com a legalização dar um tratamento para essas pessoas. Não adianta a sociedade fingir que este problema não existe. Dias atrás, a polícia apreendeu 96 kg de maconha, e para isso quantos consumidores são?
E acabar com a droga não dá porque o ser humano se entorpece desde que o mundo é mundo. Ele vai se entorpecer sempre com álcool, nicotina… Se o álcool fosse proibido teriam várias pessoas morrendo em função dele, e o álcool não é liberado, ele é legalizado. Uma pessoa menor de 18 anos não pode beber. Existe um controle do álcool e há punições. Se você estiver dirigindo alcoolizado e atropelar alguém, você vai ser acusado de tentativa de assassinato. Eu não sou a favor das drogas, mas eu acho que tem que parar de fingir que não o problema não existe.
Città : A Rede Record esta investindo muito em dramaturgia. Você já recebeu algum convite da emissora? E se recebesse, você aceitaria?
Fábio : Não recebi nenhum convite, mas caso eu receba vou analisar. Ter novas opções de trabalho é algo realmente positivo para todo mundo. Isso é ótimo porque aumenta o mercado , ele fica mais competitivo , e as pessoas têm mais possibilidades de escolhas.
Cittá : O Lima Duarte uma entrevista para a Folha de São Paulo, na qual ele fez severas críticas à Rede Globo pela falta de estrutura no trabalho. Você leu a entrevista?
Fábio : Não li a entrevista, por isso não posso falar. Mas eu posso te falar por mim. Eu sou contratado da Globo e sou bem tratado lá dentro, eu escolho os meus projetos, posso dizer não, posso dizer sim. Em todos os trabalhos que eu fiz na Globo pude ter o tipo de laboratório que eu quis, eles tem um suporte técnico muito bom. Por exemplo, numa cena de atropelamento sempre tem um médico no set para dizer como o ator (a) deve ficar. O pouco que eu sei aprendi na Globo.
Città : O que mais te agrada em São Paulo ?
Fábio : Uma característica bacana é que São Paulo não te recebe se você não produzir. A cidade te impulsiona. Eu morei durante muitos anos no Rio de Janeiro, e lá eu posso, por exemplo, acordar e ficar jogado em casa, dar uma caminhada na praia. Mas São Paulo não tem isso, ela não acomoda, ela te acelera. A minha programação em São Paulo é trabalhar é ter algum movimento criativo. O Rio é uma cidade que pra mim hoje funciona se eu estiver fazendo televisão.
Città : O público de São Paulo é muito diferente do público Carioca?
Fábio : Eu acho. São Paulo é uma cidade que tem várias opções de teatro, de vários gêneros, os espaços também são diversos, você tem espaços alternativos, salas de concertos, a Sala São Paulo é um primor. O Rio eu acho que é um lugar que certos tipos de peça que funcionam. Eu não quero tirar a importância cultural do Rio. Pelo contrario. Mas o movimento de teatro é maior em São Paulo.
REVISTA CITTÀ SAO PAULO
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