Paciente morre esperando atendimento no PA
Um jovem de 23 anos morreu esperando por atendimento em Santa Cruz do Sul, na noite dessa sexta-feira. Ferido gravemente após um acidente de moto em Herveiras, ele teve a entrada no Pronto-Atendimento do Hospital Santa Cruz negada porque era morador de outro município. Segundo testemunhas, Júlio César Padilha agonizou durante cerca de meia hora dentro da ambulância que o trouxe até o HSC, em frente ao prédio do PA, até que morreu nos braços da namorada.
Um médico e o enfermeiro-chefe que atuavam no plantão receberam voz de prisão da Brigada Militar por negligenciar o atendimento e foram encaminhados à Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA). O delegado Márcio Niederauer Nunes instaurou inquérito por homicídio e as investigações devem apontar se de fato a entrada no PA foi negada ao paciente. Nesse caso, os dois devem ser indiciados pelo crime e não está descartado o apontamento de outros responsáveis. Por enquanto, ambos são tratados como suspeitos e por isso não terão os nomes divulgados.
O acidente que resultou na morte de Júlio ocorreu por volta das 18h45. A família trabalhava em um galpão de fumo, no Centro de Herveiras, acertando os últimos detalhes para a entrega do tabaco a uma indústria na manhã deste sábado. O rapaz saiu de moto, sem capacete, para ir até a casa do pai, a cerca de 400 metros de lá. Minutos depois, foi localizado caído ainda dentro da propriedade. Ele estava consciente e soluçava com sangue na garganta, além de apresentar um corte na cabeça. A suspeita é de que com a chuva forte um boi tenha se deslocado para perto de árvores e acabou esticando uma corda, na qual a vítima se enroscou e tombou.
Padilha foi colocado pelo irmão dentro de um carro e levado até o posto de saúde, de onde a ambulância de plantão partiu com o jovem e a companheira dele, Roseli da Silva Alves, 19, para Santa Cruz. Como o caso era grave, o condutor optou por encaminhar o ferido direto para o Hospital Santa Cruz, ao invés de levá-lo para Vale do Sol ou Sinimbu – onde não haveria os recursos necessários. Ao chegar ao PA do HSC, o motorista estacionou o veículo na rampa de acesso das ambulâncias e, antes que pudesse descer a maca, ouviu do enfermeiro-chefe que Júlio não poderia ser atendido no PA por não ser morador.
A entrada no hospital só se daria via convênio, caso alguém assumisse os custos. Diante da intervenção da companheira, a equipe médica reafirmou que o PA não atenderia a vítima e ordenou que a ambulância fosse retirada da rampa, sob a ameaça de chamar um guincho. O veículo foi então estacionado na rua. A Brigada Militar foi chamada e tentou intervir pelo atendimento, que outra vez foi negado, desta vez pelo médico responsável, sob a mesma alegação de se tratar de paciente de outro município.
“Ele estava na ambulância gritando de dor e ninguém do hospital, em nenhum momento, foi sequer ver se ele estava machucado. Só deixaram ele entrar quando caiu morto, dentro do veículo, nos braços da mulher”, afirma o motorista Valdir Siqueira. Entre o momento em que o carro chegou no PA e a autorização da entrada da maca, supostamente já com a vítima em óbito, o tempo ficou entre 20 minutos e meia hora, conforme o relato de testemunhas.
Quando a morte de Padilha foi informada aos familiares pelo médico, o comando da BM ordenou que a guarnição que estava no local desse voz de prisão ao médico e ao enfermeiro por conta do que foi considerada negligência. Ambos foram conduzidos à DPPA, onde os acusados e testemunhas foram ouvidos pelo delegado Márcio Niederauer Nunes. Os dois funcionários do hospital foram liberados.
Mapa mostra onde o PAC Santa Cruz vai atuar
Desde a última quinta-feira, com a autorização de início da construção de um Centro de Referência em Assistência Social (Cras) no Bairro Bom Jesus, o pacote de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de Santa Cruz do Sul começou a sair do papel. Há dez meses, a secretaria extraordinária criada exclusivamente para tratar do desenvolvimento da Zona Sul da cidade vem preparando projetos que somam R$ 71 milhões com recursos do governo federal.
De acordo com o secretário extraordinário do PAC em Santa Cruz, Gerri Machado (PT), a primeira fase do PAC pretende resolver os problemas mais imediatos. “Queremos solucionar o quanto antes a falta de habitação, o fato de haver moradias estabelecidas em áreas de risco e uma carência muito grande de investimentos de infraestrutura, como falta de esgoto, de pavimentação e de drenagem nas ruas. Além disso, há necessidade de espaços públicos de lazer.” No total, 12 bairros e 5.736 famílias serão beneficiados com as ações do PAC I.
A secretaria comandada por Machado, e integrada por outras nove pessoas especializadas em engenharia, serviço social, regularização fundiária e licitações, é responsável por dois programas específicos: o PAC, criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, e o Minha Casa Minha Vida, programa habitacional também financiado pelo governo federal. Esse último programa, estabelecido por meio de parceria público-privada, atualmente é responsável pela implantação de dois novos loteamentos em Santa Cruz, nos bairros Dona Carlota e Santo Antônio do Sul; enquanto o PAC cuida das demais obras explicadas no mapa da página ao lado.
CRONOGRAMA
Com relação ao andamento das obras, Gerri Machado explica que, embora nenhum projeto tenha sido executado ainda pelo PAC, o cronograma não está atrasado. “Em 2010, nos dedicamos aos projetos de engenharia e iniciamos o ano de 2011 fazendo as licitações e contratações de obras. É um processo burocrático demorado. O prazo para concluir as obras é final de 2012.” A previsão é de que a maioria dos projetos, como o calçamento de 57 ruas e a construção de 850 casas nos loteamentos Santa Maria e Mãe de Deus, iniciem no segundo semestre.
“Meu cuidado é não me preocupar com os anseios das pessoas em ter as obras rapidamente. Elas querem isso naturalmente, porque estão há muitos anos esperando. Mas eu não posso fazer uma obra que não esteja devidamente licenciada e bem-projetada”, afirmou ele em entrevista à Gazeta. “Já que lutamos tanto pra conseguir um bom dinheiro para executar isso, não serão dez meses que vão fazer a diferença. Tempo é necessário.”
TRABALHO SOCIAL
Além de modificações estruturais, Santa Cruz já vem recebendo trabalhos de desenvolvimento social. Equipes do PAC e parceiros promovem ações de educação ambiental, culturais e debates com os moradores dos bairros que serão beneficiados. “O programa não quer só mudar o local, mas as pessoas também. Elas têm que entender o que vai acontecer e saber da importância de cada obra para poder cuidar delas depois”, justifica Gerri Machado.
Para a realização do trabalho social, o PAC Santa Cruz tem mais de 145 parceiros, como as secretarias municipais, a Unisc, Conselho da Mulher, assistentes sociais, entre outros. Cada setor ajuda de acordo com a sua especialidade.
Minha Casa Minha Vida
O Loteamento Santo Antônio do Sul, onde estão sendo erguidos 260 apartamentos, é a única obra comandada pela Secretaria do PAC que já saiu do papel e, inclusive, segundo o secretário Gerri Machado, está em fase adiantada. Ele lembra que essa construção não faz parte do PAC. Os apartamentos são executados pelo Minha Casa Minha Vida, por meio do qual a Treviplan Engenharia, construtora responsável, recebe a verba diretamente do governo federal, sem passar pelos cofres públicos. Os 14 blocos de apartamentos têm prazo de conclusão para outubro deste ano.
Já o loteamento Dona Carlota, que abrigará 917 casas, também estabelecido por meio da parceria público-privada, está atrasado. O início, previsto para o fim de 2009, foi adiado para o segundo semestre de 2011. “É uma obra muito grande e nós precisamos da autorização da Corsan, que pediu modificações no projeto”, explica. Como a estrutura é horizontal, a companhia precisa liberar o projeto de bombeamento do esgoto para a estação de tratamento, que fica a cerca de dois quilômetros do loteamento. “Falta só isso para iniciarmos.”
As residências dos dois loteamentos serão destinadas a famílias com renda entre zero e três salários mínimos.
O que vem pela frente com o PAC 2
A principal obra da segunda etapa do PAC é a canalização das sangas a céu aberto, orçada em R$ 15 milhões. Até o momento, o governo federal autorizou a remessa de R$ 500 mil para a realização dos projetos de engenharia. Os arroios das Pedras, São João, Camaquã e Moinho receberão obras visando o fim de enchentes e alagamentos.
Ainda pelo PAC 2, está prevista para este ano a ampliação da Escola Municipal Guilherme Hildebrand, em 300 metros quadrados. O programa também vai financiar as construções de uma sede própria da Unidade Básica de Saúde de Linha Santa Cruz, de uma escola municipal de educação infantil no Bairro Vila Nova e de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) no Bairro Esmeralda. As obras começam a partir da assinatura do contrato com o governo, o que ainda não ocorreu.
Áreas de risco
Uma das intenções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é retirar as cerca de 400 famílias que moram em áreas de risco em Santa Cruz. O número engloba não só moradores de morros ou encostas de rios, como também pessoas abrigadas sob fios de alta tensão. “Não estamos em uma situação de extremo risco, mas é importante prevenir para no futuro não termos problemas”, avalia.
Além da canalização dos arroios, que deverá solucionar parte do problema, o PAC vai dar preferência para os moradores que estão nessa situação quando os loteamentos Santa Maria e Mãe de Deus, que somarão 850 novas casas, estiverem prontos.
O investimento é feito através do Programa Pró-Moradia do PAC, no valor de R$ 62,1 milhões. O município entrou com a doação de terrenos, avaliados em R$ 8,9 milhões. O valor de venda das residências, no entanto, está indefinido. A questão depende de lei municipal e deve ser inclusa na política habitacional da cidade, o que ainda não foi feito.
MAPA: Veja no mapa abaixo as principais obras do PAC Santa Cruz. Clicando nos balões, você vê informações detalhadas de cada empreedimento.
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