Em casa, Claudia Raia, 43 anos, está na fase de responder perguntas do filho, Enzo, 12, como: ''Por que antigamente não precisava transar de camisinha?'' É uma boa pergunta. Para outra, da filha, Sophia, 7, como: ''Mamãe, você prefere o trabalho ou os seus filhos?'', ela já tem uma boa saída e explica que o trabalho é muito importante, mas que, sem eles, seria impossível. E assim a família de Claudia e Edson Celulari, 52, vai em frente, ela com o musical Pernas pro Ar, na próxima semana em Belo Horizonte, ele com Hairspray, em São Paulo - ambos na estrada. Todos já estão acostumados com as viagens, com a não-rotina de cada ano, principalmente o casal, que já está junto há 17 anos. É uma relação que permite decisões saudáveis, como deixar o marido por uns dias curtindo a mãe, quando ela o visita, para manter a individualidade em funcionamento. Ela não imagina a vida sem ele. O acha bonito e quando se vê em um hotel, sozinha, pensa que seria gostoso passar, ali, um fim de semana com o marido. ''Ele é danado. Eu costumo dizer que ele é um grande maestro.'' Linda (como nas fotos, no Hotel Santa Teresa, no Rio de Janeiro), bem-sucedida e com personalidade evidente, Claudia conta tudo...

Na peça Pernas pro Ar, o sexo entre o casal já se tornou algo eventual. Como não deixar isso acontecer com o passar do tempo?
É uma coisa que deve ser regada. Você tem de instigar. Hoje, quando eu cheguei a este hotel, me deu vontade de passar um fim de semana aqui com o Edson. Estou no Rio, na minha cidade, mas é uma maneira de a gente fugir do cotidiano. Uma coisa que é certa na minha vida com Edson: não temos rotina, viajamos sempre, cada um para um lado. Quando nos encontramos, é forte. Mas tem vezes em que a gente passa dois anos diretos dormindo e acordando junto todos os dias. Não tem receita. É sorte... É amor.

Ele ainda a olha com o mesmo olhar apaixonado do início?
Eu acho que sim. Da minha parte, com certeza. E eu sinto isso também. Amigo é amigo. Marido é marido (risos). É claro que tem de existir amizade, mas é uma coisa que se constrói ao longo dos anos. No começo do relacionamento você não é tão amiga da pessoa. Depois ganha confiança. Mas o amor e o brilho no olho têm de existir.

Qual é a vantagem e a desvantagem na hora em que se jura que vai viver junto até que a morte os separe?
Não tem essa obrigação, né? Mais do que tudo, isso é uma coisa religiosa, um compromisso cultural. Nada lhe obriga estar com a pessoa. Eu não consigo imaginar a minha vida sem o Edson. A gente tem tudo em comum. Eu gosto de estar casada. Ficar solteira não é um estado que me fascine, sabe?

E qual é o fascínio do casamento?
Quando se tem um companheiro de verdade, que está do seu lado em qualquer situação, o casamento é o seu porto seguro, é onde você realmente pode dividir. Isso não tem dinheiro que pague. Eu acordo e digo: ''Eu gosto desse homem. Gosto dele como pessoa. Eu o acho bonito''. Isso tudo, depois de 17 anos, é muito bacana.

Consegue se imaginar à sombra de um homem?
Não. A individualidade é fundamental num casamento. Eu não acredito nessa coisa de tudo junto. Aí, você perde suas relações em consequência do casamento. Edson e eu exercitamos a nossa individualidade. A gente sempre insere o outro porque tem coisas que eu não quero fazer sem ele. Mas eu saio com meus amigos. Ele também. Às vezes, viajo só com a minha irmã. Quando a mãe dele vem aqui, faço questão de dar uns dias para eles se curtirem. Sei que há coisas que são anteriores à minha chegada na vida dele.

Para apimentar a relação, você já fez strip-tease? Já foi a um sex shop?
Já fui milhões de vezes ao sex shop! Quanto ao strip-tease é uma coisa íntima demais para eu lhe responder (risos). Tudo o que puder estimular, ser divertido, ser uma brincadeira, eu acho bom. Principalmente quando você consegue provocar o outro. Não adianta fazer só pra você. Se descobrir que teu companheiro gosta disso ou daquilo, ou que pode excitá-lo de uma maneira diferente, acho que vale tudo.

No musical seu personagem está ''pegando fogo''. Você também pega fogo?
Eu estou sempre em labareda! Edson domina esse fogo. Ele é danado. Eu costumo dizer que ele é um grande maestro e não de uma orquestra, mas de uma filarmônica. Ele é muito hábil.

Uma das coreografias do espetáculo brinca com esse lance de bater. Você bate?
Não. Eu sou só beijos, não sou tapas. E não gosto que me batam também. Eu sou movida a carinho. Se tiver qualquer atitude do meu companheiro agressiva, eu declino. Eu nasci para ser bem tratada. Ser maltratada não me fascina, não me excita. Eu sou muito amorosa e preciso desse tipo de relação.

Suas pernas sempre foram muito comentadas. Já foram motivo de ciúme?
Claro, com certeza! Agora, eu ouço: ''Mãe, você vai sair com um vestido tão curtinho assim?'' E eu digo que vou, ué. Está dando certo ainda. Quando não estiver mais, eu escondo.

Enzo já está com 12 anos. Como é ser mãe de um adolescente?
Ele tem vontades de um adolescente, mas é muito bacana, não é histérico.Nos respeita. Não é do tipo que fica enfiado no quarto e ninguém tem acesso a ele.

Já acha a mãe e o pai um mico?
Um pouco (risos). Pergunta: ''Mãe, você vai me buscar na porta da boate? Não é melhor eu voltar de táxi?'' Não quer muito que a gente apareça. Normal, né?

Você foi uma adolescente assim?
Quando era para eu ser adolescente, já estava em Nova York, morando sozinha. Não houve tempo de dar piti. Lá, eu era garçonete numa lanchonete. Tinha bolsa de estudo, mas tinha de trabalhar para sobreviver. Foi uma fase difícil.

O que tenta passar para os filhos?
Primeiro, que tenham opinião própria. Meus filhos têm muita personalidade. Ele é ariano. Ela, capricorniana. A outra coisa que peço é para conversarem com a gente. Outro dia Enzo queria saber por que as pessoas não transavam de camisinha antigamente. Eu disse que não tinha aids. Eu falo: ''Sem camisinha, nunca. Se engravidar uma menina aos 15 anos, acabou a sua vida''.

E Sophia ouve esses papos?
Nessas horas, a gente a tira de perto. Porque se deixar... Daqui a pouco estou botando pílula no Toddynho dela com 10 anos (risos). Ela é muito atirada, comunicativa. Tenho de segurar a Sophia porque ela é muito precoce.

Você atravessou a barreira dos 40 anos. Como se sente?
Tenho 43 anos. Estou no auge da maturidade e o meu corpo ainda responde aos comandos. Acho que é um caminho que tenho de traçar a meu favor. Se for na pilha de que isso está caindo, que a pele está diferente... O Miguel Falabella me disse: ''Bebê, a gente vai alargando para a alma passar com mais tranquilidade''. É muito bom isso! Eu quase morri de rir! A verdade é que quando você bota o pé pra fora da cama, se não sentir uma dor, é porque morreu (risos). Mas dor é uma coisa que faz parte da minha vida há muito tempo. Eu sou uma dor que tem pernas. Bailarina é dor.