Já tratei deste particular aqui algumas vezes. Muitos leitores me perguntam, até de boa-fé: “Reinaldo, você não exagera nas críticas ao PT? Os partidos não são, todos eles, mais ou menos suspeitos? Não mentem sempre um pouco? Não têm defeitos?” Respondo: claro que sim! Ninguém seria aprovado num teste de santidade, e política não é mesmo para santos — aliás, ninguém gostaria de viver a dura vida de um santo. A questão é o grau da delinqüência intelectual e política desta legenda ou daquela. A questão é saber quando um partido, APESAR DE TODOS OS SEUS DEFEITOS, faz a democracia avançar e quando força um recuo.
Sou especialmente crítico ao PT porque acho que o partido, depois da redemocratização, de que foi só coadjucante, faz o estado de direito recuar. Tenho exposto as minhas razões de modo sistemático nos últimos, deixe-me ver, 14 anos pelo menos. Não que não tenha sido muito duro com o governo FHC também. Com efeito, eram restrições de outra natureza. O ex-presidente respeitava as instituições democráticas e o estado de direito. Não é, em regra, o caso do PT.
Fiz, acima, o que muitos chamam “nariz de cera”, uma introdução razoavelmente longa para chegar ao ponto. E qual é o ponto da hora? Vejam primeiro esta imagem.
Viram? Então leiam agora o que segue:
A gráfica Pana — que alguns petistas tentaram invadir no último fim de semana para impedir a divulgação do documento assinado por bispos da Regional Sul I da CNBB — rodou, há duas semanas, 75 mil cópias do “jornal” da CTB, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, com 4 páginas coloridas. O custo da impressão: R$ 5 296 reais, pagos pela central. O folheto — QUE É ILEGAL, DIGA-SE!, traz na capa uma foto de Lula e Dilma, erguendo os braços, sobre o título: “O desafio do 2º turno”. Dentro, todas as “reportagens” pedem mobilização para eleger Dilma presidente ou fazem propaganda do governo. O título da primeira é: “Dilma: Para o Brasil Continuar no Rumo Certo”, que é um mote de campanha.
Além disso, a gráfica Pana, que fatura em média R$ 400 mil por mês, publicou material eleitoral para outros petistas, entre eles, o deputado federal Paulo Teixeira, um dos que estavam presentes na vigília que bloqueou a porta da gráfica. No santinho em questão, Teixeira aparecia junto com o deputado estadual Simão Pedro (PT). A dupla gastou R$ 172 mil na Pana. A gráfica também imprimiu material para o diretório estadual do PSTU nesta eleição — o partido pagou R$ 32 mil por alguns panfletos. Até a Mulher Pêra, candidata a deputada pelo PTN, encomendou serviços por lá: no caso dela, 20.000 “jornaizinhos”, que saíram por R$ 4 mil.
Entenderam o ponto? A Mitra Diocesana de Guarulhos já havia deixado claro que a encomenda para a impressão do apelo de católicos contra o aborto partira dali, não do PSDB. Os petistas e a imprensa amiga dos petistas, no entanto, não quiseram nem saber: foram logo buscar vínculos entre a gráfica e o partido, embora a empresa tenha exibido todos as provas de que a encomenda partira da diocese. E daí? Não se tomou nem mesmo o cuidado de fazer o que se está fazendo aqui: “Essa gráfica costuma imprimir material de vários partidos políticos?” Costuma! Inclusive do PT, o que desmonta a acusação, não fossem as demais evidências.
Fica demonstrada, assim, a honestidade do escândalo que os petistas tentaram fazer. Lembro-me do ar “serioso” de José Eduardo Cardozo a lamentar os “vínculos” da gráfica com os tucanos. Vejam um tuíte do deputado petista Paulo Teixeira no dia em que se praticou constrangimento ilegal contra o gerente da empresa:
Ele sabia, é óbvio, que ele próprio era cliente da gráfica que acusava de manter vínculos com os tucanos.
Então volto agora àquela questão inicial. Quando me perguntam: “Você não exagera com o PT?” Não! Eles é que exageram na vigarice. Na entrevista coletiva de Cardozo, mesmo sabendo de tudo isso, tentou-se criar um escândalo político, adicionando, diga-se, uma outra falsidiade: a de que Paulo Ogawa, aquele senhor que sofreu o constrangimento ilegal, teria sido funcionário do Ministério da Saúde quando Serra era titular da pasta. Tratava-se, como informei aqui, de um homônimo — e, pois, o PT mentia. Mesmo assim, parte do jornalismo online manteve a mentira no ar.
Republico, agora, o vídeo, feito pelos próprios petistas, em que, com a ajuda da imprensa — especialmente daquele tipo particular de jornalismo que tem sido feito pelos portais de telefonia —, pratica-se uma verdadeira blitz fascistóide contra a gráfica. Quem já viu o filma que relata o constrangimento ilegal leia o que vem depois.
Se sou muito duro com o PT? Não! Acho até que sou caroável demais! Essa gente não tem limites e pode destruir o que encontra pela frente se julgar que se trata de uma necessidade partidária.
José Eduardo Cardozo, o “ético” do PT, deveria vir a público para se desculpar com a empresa e com o sr. Paulo Ogawa em particular. Mas ele não vai fazer isso porque julga que o homem, coitado!, é apenas um dano colateral na luta de seu partido para construir um mundo mais justo. Se, na trajetória, eles tiverem de destruir algumas pessoas, paciência, não é? Mao Tse Tung, Stálin e Pol Pot pensavam o mesmo. Os tempos são outros, eu sei. Hoje, os comissários do povo praticam assassinatos morais.
Por que mesmo sou tão duro com “eles”? Está explicado desde sempre. Aqui está devidamente exemplificado. Deve haver algum caminho jurídico que puna também este tipo de litigância de má fé. Numa democracia exemplar, o sr. Paulo Ogawa arrancaria até as calças do PT por conta do constrangimento que sofreu e da satanização a que ficou exposto. Espero que tenha clareza disso e tome as devidas providências.