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domingo, 11 de maio de 2008

EÇA DE QUEIROZ

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26/10/2008 free counters

Parlamentares portugueses vêm ao Brasil para festejos da chegada da família real

da Efe, em Lisboa

Uma delegação parlamentar de Portugal, liderada pelo presidente da Assembléia da República, Jaime Gama, viaja neste domingo ao Brasil para comparecer aos atos em comemoração dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro.

Junto com Gama, integram a delegação de Portugal outros cinco deputados, presidentes de várias comissões parlamentares, que participarão durante três dias das comemorações organizadas no Brasil pelo Congresso.

Gama se reunirá na terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e visitará no Rio a exposição "Um Novo Mundo, um Novo Império: a Corte Portuguesa no Brasil", no Museu Histórico Nacional.

A mostra foi produzida em meio às comemorações dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil, escapando da invasão francesa na Península Ibérica.

Os atos comemorativos da mudança da família real em Lisboa começaram este ano com vários eventos que contaram com a presença de autoridades militares e políticas brasileiras, entre elas o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que agora receberá a visita do parlamentar português.

Durante sua visita ao Brasil, Gama se reunirá com o presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Jorge Picciani (PMDB), o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), e o do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.

A delegação de deputados portugueses participará também, em Brasília, do seminário "As Origens do Estado nacional, das Cortes Gerais ao Parlamento Brasileiro", que contará com a presença de historiadores e especialistas dos dois países.

Além de Gama, integram a representação portuguesa os presidentes da Comissão de Assuntos Constitucionais, Osvaldo de Castro; de Assuntos Estrangeiros, Henrique de Freitas; e da Defesa, Miranda Calha.

Completam a delegação o presidente e o vice-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Brasil, José Lello e Correia de Jesus, respectivamente.

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26/10/2008 free counters

EÇA de QUEIRÓS Personagens ilustres

Abordagem das personagens masculinas e femininas

Eça castigou mais os homens do que as mulheres...

As personagens masculinas, aparentemente fortes, opressoras, dominadoras e caprichosas, acabam por tornar-se mesquinhas e cobardes.

As personagens femininas dialogam muito mais com as emoções, criando um clima de empatia que nega o pseudo mau-trato da mulher na escrita queirosiana.

Américo Guerreiro de Sousa, em reflexão crítica sobre o adultério feminino, presente em algumas obras de Eça de Queirós, anotava: "O adultério resulta das carências seguintes:

* sentimentalidade

* educação errada

* excesso de leituras

* lirismo

* temperamento sobreexcitado pela ociosidade

* luxúria frustrada no casamento

* falta de exercício físico

* falta de disciplina moral."

FRADIQUE MENDES

(A Correspondência de Fradique Mendes)

Figura literária criada, nos verdores da juventude, por Eça, por Antero e por Batalha Reis, o primeiro Fradique é bizarro e provocador. A poesia que dele se publica, nos remotos anos 60, e os gestos que lhe são atribuídos, n'"O Mistério da Estrada de Sintra", fazem hesitar entre o riso e a estranheza.

O Fradique que Eça, anos depois e por sua conta e risco, recupera é mais contido sem ser, todavia, uma figura convencional. É um escritor para sempre adiado, um poeta afectado pela tentação do silêncio que muito bem convinha a um certo fim de século: se a forma perfeita não existe, para quê escrever? Desabafo de Fradique: "Eu não sei escrever! Ninguém sabe escrever!".

Entre o esteticismo e o dandismo, entre a tentação do pitoresco e a ânsia das viagens, entre a dispersão risonha e o cepticismo elegante, Fradique resolve-se, por fim, em esterilidade e quase paródia de si mesmo.

JULIANA

(O Primo Basílio)

Mal aparece, n'"O Primo Basílio", Juliana está marcada. Logo de início, a criada de Luísa mostra umas feições "miúdas, espremidas"; e a "amarelidão de tons baços das doenças de coração" parece anunciar uma vida de frustrações e de sofrimentos. Como se isso não bastasse, o penteado deforma-a até à caricatura: "Usava uma cuia de retrós imitando tranças que lhe fazia a cabeça enorme."

De seu nome completo Juliana Couceiro Tavira, a criada disputa, no romance, protagonismo à patroa. E a chantagem que exerce sobre a adúltera Luísa chega a dividir o leitor, que oscila entre a repulsa e a tolerância. Porque, afinal a curiosidade doentia de Juliana, o seu azedume permanente não são fruto do acaso; eles decorrem de um ódio acumulado, resultado de uma vida oprimida, patroa atrás de patroa, alcunha atrás de alcunha: a isca seca, a fava torrada, o saca-rolhas.

Juliana transporta em si alguma coisa do Eça socialista e reformista, preocupado com injustiças que havia que denunciar; mas o tratamento que a criada sofre, no corpo do romance, acaba por fazer dela figura com sinal negativo. O que, sendo ideologicamente significativo, não impede que Juliana venha a ser uma das figuras mais fortes e impressivas de toda a ficção queirosiana. E para que não se diga que nela nada de feminino sobrevive, aí está o seu fascínio pelo feitio da botina e pela pequenez do pé: "O pé era o seu orgulho, a sua mania , a sua despesa", diz-se dela; e é a própria Juliana quem o confirma, plena de erotismo recalcado, ávida de evidência social: "- Como poucos - dizia ela - não vai outro ao Passeio!"

O CONSELHEIRO ACÁCIO

(O Primo Basílio)

O Conselheiro Acácio é a caricatura do "formalismo oficial", "nunca usava palavras triviais" e "sempre que dizia 'El-Rei' erguia-se um pouco na cadeira". Porque o Conselheiro Acácio é também um patriota atento e venerador; por isso mesmo, "dizia sempre 'o nosso Garrett, o nosso Herculano'".

E contudo, este antigo director-geral do Ministério do Reino tem culpas mal escondidas no seu cartório privado; como se não bastasse que os seus sisudos livros ficassem por vender, Acácio cultivava singulares leituras de cabeceira : as poesias obscenas de Bocage, compartilhadas, no retiro austero da Rua do Ferregial, com a criada com quem vivia amancebado.

É alguma coisa disto que D. Felicidade, beata e pateta, vem a saber. O desgosto é grande, naturalmente porque D. Felicidade nutria pelo conselheiro uma antiga paixão e também uma fixação: "Havia sobretudo nele uma beleza, cuja contemplação demorada a estonteava como um vinho forte: era a calva."

Para o imaginário queirosiano ele veio a transformar-se numa das personagens que de certa forma passaram para o mundo real. Pensando decerto neste burocrata para quem as "curiosidades" do Alentejo eram "de primeira ordem", Eça de Queirós referiu-se várias vezes à mentalidade conselheiral, quando quis aludir à oca solenidade que lembrava esta sua personagem. Longe estava Eça de saber que a língua portuguesa havia de cunhar o adjectivo "acaciano", precisamente derivado do nome da criatura que por ele nos foi legada.

JACINTO

(A Cidade e as Serras)

Zé Fernandes ("homem das serras", que disso se orgulha) coloca, no centro da história que relata, Jacinto, uma figura em mudança. No início d'"A Cidade e as Serras", encontramo-lo eufórico com a Civilização; anos depois, Zé Fernandes observa nele sinais de cansaço: "notei que corcovava". Quando parte para as Serras, Jacinto vai desconfiado, mesmo temeroso; sobrevém, por fim a revitalização inesperada: a do corpo e a do espírito.

Em Paris, Jacinto é ele mesmo mais as geringonças inventadas por uma Civilização tentacular: aparelhos sofisticados (o fonógrafo, o telefone, o conferençofone,o teatrofone), modas bizarras, escovas e pentes de feitios engenhosos, uma enorme biblioteca e modos de vida supercivilizados deixam-no cada vez mais indiferente. Porque a Civilização tudo lhe dá, menos alegria de viver. Razão tinha o escudeiro Grilo, um "venerando preto" que um dia fixou, num diagnóstico insuperável, a doença de Jacinto:"- Sua Excelência sofre de fartura."

A regeneração dá-se no reencontro com as Serras, experiência decisiva de regresso às origens, nisso a que hoje chamamos Portugal profundo; nele desdobra-se uma Natureza aparentemente pura, mas não isenta de sofrimento. E contudo, os costumes e as coisas singelas, tal como a simplicidade dos alimentos, reconduzem Jacinto à alegria de viver e mesmo ao riso. O que não implica a recusa radical da Civilização, mas antes a busca desse "equilíbrio de vida" e da efectiva Grã-Ventura que Zé Fernandes testemunha, por fim; o casamento e a paternidade acrescentam a tais qualidades uma outra: a fecundidade que na Cidade parecia cancelada.

Cabe ao Grilo resumir, outra vez com uma expressão lapidar, esse estádio final da mudança do amo: "- Sua Excelência brotou!" Jacinto já não é "Jacinto ponto final".

CONDE D'ABRANHOS

(O Conde de Abranhos)

Alípio Severo Abranhos é conde e motivo de uma biografia caricata e caricatural.

Em si mesmo, Abranhos satiriza o político do constitucionalismo, a sua mediocridade e o postiço que o atormenta; doutro ponto de vista, ele é sobretudo a falsificação do talento e da habilidade política. Em síntese, a ironia de Eça no seu máximo fulgor.

Se há figura que, na galeria das personagens queirosianas, ilustra a ambição política que não olha a meios para atingir os fins, essa figura é o conde d'Abranhos.

Finalmente ministro da Marinha, o conde ocupava-se "sobretudo de ideias gerais".

A questão - vexatória "só para os espíritos subalternos" - estava em que o ministro situava Moçambique na costa ocidental da África. Quando interpelado por uma oposição zelosa de minúcias, o conde dá uma resposta que o biógrafo classifica de "genial": "- Que fique na costa ocidental ou na costa oriental, nada tira a que seja verdadeira a doutrina que estabeleço. Os regulamentos não mudam com as latitudes!"

TEODORICO RAPOSO

(A Relíquia)

Astuto e atrevido, o "Raposão" maduro que fala ao leitor, deixa para trás uma odisseia de aventuras amorosas e de vistosas devoções.

Teodorico é o herdeiro potencial da "horrenda senhora", sua tia, D. Patrocínio das Neves que, com o seu "carão lívido", o acolhe em sua casa, depois da morte do pai Raposo. Começa então a disputa pelos dinheiros e pelas propriedades da Titi, contra um rival de respeito: o próprio Jesus Cristo.

O estratagema que há-de desbancar o rival diz muito de uma mentalidade que o Eça anticlerical trata de caricaturar. Teodorico empreende uma viagem à Terra Santa; de lá virá a relíquia que deveria converter a tia às virtudes do sobrinho. Só que Deus não dorme e a coroa de espinhos que o sábio Topsius cauciona é misteriosamente trocada pela camisa da Mary, rescendendo ainda aos delírios amorosos do "portuguesinho valente". Expulso do seio da Titi, Teodorico não perde tudo e herda um óculo: "- Para ver o resto de longe! - considerou filosoficamente Justino".

Em constante equilíbrio entre beatice e devassidão, Teodorico vai mais longe do que parece. Perpassa, no seu atribulado trajecto de aventuras e desventuras, uma reflexão sobre a hipocrisia e a duplicidade humanas.

CONDESSA DE GOUVARINHO

(Os Maias)

Da primeira vez que Carlos da Maia ouve falar da senhora condessa de Gouvarinho, a descrição é insinuante: "uma senhora inglesa, de cabelo cor de cenoura, muito bem feita".

Mergulhada no tédio de uma vida sem emoções, a Gouvarinho rapidamente faz justiça ao seu "arzinho de provocação e de ataque" e empolga Carlos. A ligação é breve, mas a senhora condessa não deixa, por isso, de ser amante nervosa e exigente; tão exigente que Carlos rapidamente se farta.

Na galeria queirosiana, a condessa é parte de uma vida colectiva, em que a mulher aristocrata - no caso, aristocrata por casamento - tinha a expressão pública que lhe era concedida pela

vontade masculina: o casamento, as obrigações sociais (receber, estar, conversar), uma ou outra leitura e, quando calhava, o adultério.

Massacrada pelas esquisitices e pelos remoques do conde, a senhora condessa não se ensaia e atira ao chão a loiça, num ataque de fúria; e, humilhada pela lembrança de que "fora ele que fizera dela uma condessa", não esteve com meias medidas: "ali mesmo à mesa mandou o condado à tabua".

DÂMASO SALCEDE

(Os Maias)

Repare-se no nome: Dâmaso Cândido de Salcede. E, logo de seguida, no cartão de visita: por baixo do nome, "as suas honras" - COMENDADOR DE CRISTO, ao fundo a sua "adresse", corrigida para dar lugar a "esta outra mais aparatosa - GRAND HÔTEL, BOULEVARD DES CAPUCINES, CHAMBRE Nº 103".

Depois de uma apresentação como esta, nada a fazer. Dâmaso Salcede está condenado a ser o que é; lisboeta novo-rico, janota e pedante, filho de agiota, o velho Silva, e sobrinho de "Mr. De Guimaran", ele é, para mais, fisicamente caricato: um "moço gordo e bochechudo", de face quase sempre corada e ostentando essa coxa roliça que a palavra perversa e arguta de Eça constantemente põe à vista do leitor.

Mas se Dâmaso é o que é, deve-o ao modelo a que se atrela; a figura de Carlos da Maia é, para ele, obsessiva. A religiosa adoração por Carlos, a quem imita e segue para todo o lado "como um rafeiro", torna-o grotesco; e a imbecilidade das suas opiniões e "toilletes", a inconveniência das suas maneiras e da sua linguagem, tudo acaba por fixar-se num tique expressivo que é, ao mesmo tempo, uma imagem de marca: "chique a valer".

Com as mulheres, nem se fala. Capaz de provocar paixões avassaladoras - tenha-se em vista aquela actriz do Príncipe Real, "montanha de carne" que, em desespero e por causa dele, procura a morte, tragando uma caixa de fósforos -, este homem fatal tudo faz para merecer o cognome de que certamente se orgulha. Dâmaso é, em suma, "o D. João V dos prostíbulos".

Por fim, Dâmaso Salcede acaba como convém: casado, traído, mas igualmente feliz e cheio de si. Ninguém como João da Ega para tudo sintetizar, em conversa com Carlos da Maia: "Coitado, coitadinho, coitadíssimo... Mas como vês, imensamente ditoso, até tem engordado com a perfídia!"

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26/10/2008 free counters

Os Maias

O romance Os Maias foi publicado, pela primeira vez em forma de livro, em Junho de 1888.

Os Maias - Resumo

A acção de "Os Maias" passa-se em Lisboa, na segunda metade dos séc. XIX. Conta-nos a história de três gerações da família Maia.

A acção inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro da Maia – de carácter fraco, resultante de um educação extremamente religiosa e proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem dois filhos – um menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para fugir com um Napolitano, levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho – Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia.

Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos regressa a Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como o João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébiozinho, o maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de Gouvarinho, que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda, que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempos sem êxito, mas acaba por conseguir uma aproximação quando é chamado Maria Eduarda para visitar, como médico a governanta. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante.

Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não era sua mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela.

Entretanto, chega de Paris um emigrante, que diz ter conhecido a mãe de Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse, continha documentos que identificariam e garantiriam para a filha uma boa herança. Essa mulher era Maria Mão Forte – a mãe de Maria Eduarda era, portanto, também a mães de Carlos. Os amantes eram irmãos...

Contudo, Carlos não aceita este facto e mantém abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã. Afonso da Maia, o velho avô, ao receber a notícia morre desgosto.

Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo.

O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - "falhamos a vida, menino!".

Personagens Centrais:

Afonso da Maia | Pedro da Maia | Carlos da Maia | Maria Eduarda | Maria Monforte

Personagens Planas e/ou Tipo:

João da Ega | Eusébiozinho | Alencar | Conde de Gouvarinho | Sousa Neto | Palma Cavalão | Dâmaso Salcede | Steinbroken | Cohen | Craft | Condessa de Gouvarinho | Cruges | Tancredo | Sr. Guimarães | Rufino

Os Maias - Críticas

Quando Eça de Queirós lançou Os Maias, o poeta Bulhão Pato achou que a personagem Tomás de Alencar pretendia ser uma crítica a ele próprio. Publicou então várias sátiras dirigidas a Eça, intituladas O Grande Maia e Lazaro consul, onde mordazmente ridiculariza as obras do romancista. Vejamos um excerto:

"Séria, n’esta nação, não há mulher nenhuma.

Homem? Algum cretino! E com talento, em summa,

Nem mesmo amigos seus! Só elle é que figura

Na tela genial! E não borra a pintura!

Tudo é mesquinho e vil no meu torrão natal!

Assim o dizes tu, consul de Portugal!

Ó Lazaro, fareja as podridões da vida,

como fareja a hyena a carne corrompida!

Não deis ao teu nariz nada affectivo e santo;

Nem um sorriso do berço, nem à cova um pranto"*

*PATO, Bulhão in MARTHA, M. Cardoso, Notas Queirozianas, s.ed., Lisboa, s.e., 1923.

Os Maias - Acção

N' Os Maias podemos distinguir dois níveis de acção: a crónica de costumes - acção aberta; e a intriga - acção fechada, que se divide em intriga principal e intriga secundária. São, aliás, estes dois níveis de acção, que justificam a existência de título e subtítulo nesta obra. O título - Os Maias - corresponde à intriga, enquanto que o subtítulo - Episódios da Vida Romântica - corresponde à crónica de costumes.

Na intriga secundária temos: a história de Afonso da Maia - época de reacção do Liberalismo ao Absolutismo; a história de Pedro da Maia e Maria Monforte - época de instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a história da infância e juventude de Carlos da Maia - época de decadência das experiências Liberais.

Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a desagregação da família - morte de Afonso e separação de Carlos e Maria Eduarda.

Carlos é o protagonista da intriga principal. Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem pelo meio. A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma entidade que se denomina destino.

A acção principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica - peripécia, reconhecimento e catástrofe.

A peripécia verificou-se com as revelações casuais de Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; o reconhecimento, acarretado pelas revelações de Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catástrofe consumada pela morte do avô e a separação definitiva dos dois amantes.

Que a intriga era trágica, já o vinham anunciando inúmeros presságios de desgraça.

Pedro da Maia recebeu uma educação à portuguesa com imposição de uma devoção religiosa punitiva, fuga ao contacto directo com a natureza e o mundo prático. Quando Maria Monforte aparece em Lisboa, atrai-o como um íman; o casamento fez-se contra a vontade do pai de Pedro. Quando esta foge com Tancredo, Pedro acaba com a sua vida. O destino desta personagem foi totalmente condicionado pelos factores naturalistas: a hereditariedade - mãe, e educação, ao contrário dos seus filhos, que não são influenciados por estes factores naturalistas.

Os Maias - Personagens

As personagens intervenientes na acção de "Os Maias" são cerca de 60. É, portanto, impossível e desnecessário fazer a análise de todas elas. Cingimo-nos às personagens principais e algumas personagens planas ou tipo que consideramos importantes para o desenrolar da acção.

Personagens Centrais:

Afonso da Maia | Pedro da Maia | Carlos da Maia | Maria Eduarda | Maria Monforte

Personagens Planas e/ou Tipo:

João da Ega | Eusébiozinho | Alencar | Conde de Gouvarinho | Sousa Neto

Palma Cavalão | Dâmaso Salcede | Steinbroken | Cohen | Craft

Condessa de Gouvarinho | Cruges | Tancredo | Sr. Guimarães | Rufino

Eça utiliza dois tipos de caracterização das suas personagens: a caracterização directa e a caracterização indirecta. A primeira é usada de forma privilegiada para todas as personagens à excepção de Carlos. Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a autocaracterização mista de Maria Eduarda. A caracterização indirecta é utilizada para a personagem Carlos da Maia, do qual apenas se apresentam, inicialmente, pequenos traços físicos, deixando que as suas acções demonstrem a sua personalidade.

Os Maias - Espaços

Nos Maias podemos encontrar 3 tipos de espaço:

Os Maias - Espaço Físico

Exteriores

A maior parte da narrativa passasse em Portugal, mais concretamente em Lisboa e arredores.

Em Santa Olávia passasse a infância de Carlos e é também para lá que este foge quando descobre a sua relação incestuosa com a irmã.

Em Coimbra passam-se os estudos de Carlos e as suas primeiras aventuras amorosas.

É em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exílio; é em Lisboa que sucedem os acontecimentos capitais da vida de Pedro da Maia; e é também lá que decorre a vida de Carlos que justifica o romance - a sua relação incestuosa com a irmã.

O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento pelo pai de Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O próprio resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.

Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vários encontros, quer relativos à crónica de costumes, quer à relação amorosa dos protagonistas.

Subsistem ainda hoje, alguns dos locais retractados n' Os Maias.

Interiores

Vários são os espaços interiores referidos n' Os Maias, destacamos os mais importantes.

No Ramalhete podemos encontrar: o salão de convívio e de lazer, o escritório de Afonso, que tem o aspecto de uma "severa câmara de prelado", o quarto de Carlos, "como um ar de quarto de bailarina", e os jardins.

A acção desenrola-se também na vila Balzac, que reflecte a sensualidade de João da Ega. É referido também na obra, o luxuoso consultório de Carlos que revela o seu diletantismo e a predisposição para a sensualidade.

A Toca é também um espaço interior carregado de simbolismo, que revela amores ilícitos. São ainda referidos outros espaços interiores de menor importância como o apartamento de Maria Eduarda, o Teatro da Trindade, a casa dos Condes de Gouvarinho, o Grémio, o Hotel Central os hotéis de Sintra, a redacção d' A Tarde e d' A Corneta do Diabo, etc.

Os Maias - Espaço Social

O espaço social comporta os ambientes (jantares, chás, soirés, bailes, espectáculos), onde actuam as personagens que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia.

Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olávia, a Toca, as corridas do Hipódromo, as reuniões na redacção de A Tarde, o Sarau Literário no Teatro da Trindade - ambientes fechados de preferência, por razões de elitismo.

O espaço social cumpre um papel puramente crítico

Os Maias - Espaço Psicológico

O espaço psicológico é constituído pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos, que desvenda os meandros da sua consciência, ocupando Ega, também, um lugar de relevo. Destacamos, como espaço psicológico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda; visão do Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim.

Quanto a Ega, reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda.

O espaço psicológico permite definir estas personagens como personagens modeladas.

Os Maias - Tempo

Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual se integram vários "tipos" de tempos:

Os Maias - Tempo Histórico

Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.

N'Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro (Carlos), se destaca relativamente aos outros.

A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente.

Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos

Os Maias - Tempo do Discurso

Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.

Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio, com o avô, instalar-se definitivamente em Lisboa.

Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia (avô), educação, casamento e suicídio de Pedro (pai), e à educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses.

Assim, como vemos, o tempo histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso.

Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada.

O último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.

Os Maias - Tempo Psicológico

O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjectivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.

No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico nalgumas personagens:

Pedro da Maia, por exemplo, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes vermelhos...".

O tempo psicológico introduz a subjectividade, o que põe em causa as leis do naturalismo.

Os Maias - Crítica Social

A crónica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do séc. XIX desenvolve-se num certo tempo, projecta-se num determinado espaço e é ilustrada por meio de inúmeras personagens intervenientes em diferentes episódios.

Lisboa é o espaço privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da acção. O carácter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade, concentrar, dirigir e simbolizar toda a vida do país. Lisboa é mais do que um espaço físico, é um espaço social. É neste ambiente monótono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a crítica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais, representantes de ideias, mentalidades, costumes, políticas, concepções do mundo, etc.

Vários são os episódios utilizados pelo autor para mostrar a vida da alta sociedade lisboeta. Destacamos os mais importantes:

Os Maias - O Jantar do Hotel Central (Crítica Social)

Neste jantar, desfilam as principais figuras proporcionando a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta. Este jantar, pretende homenagear o banqueiro J. Cohen; apresentar a visão crítica de alguns problemas; e proporcionar a Carlos a visão de Maria Eduarda.

Discute-se, neste jantar, a Literatura e a crítica literária, em que Tomás de Alencar, opositor do realismo/naturalismo, revela incoerência condenando no presente, o que cantara no passado. Refugia-se na moral por não ter mais argumentos. Acha o realismo/naturalismo imoral. É um desfasado do seu tempo, defende a crítica literária de natureza académica. Este opõe-se a João da Ega, defensor da escola realista/naturalista. Ega exagera e defende o cientificismo na literatura. Não distingue ciência e literatura.

Nesta discussão entram também, Carlos e Craft, recusando simultaneamente o ultra-romantismo de Alencar e o exagero de Ega. Craft defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza, defende a arte pela arte. O narrador concorda com ambos.

As finanças são também um tema debatido neste jantar. O país tem necessidade dos empréstimos ao estrangeiro. Cohen demonstra o seu calculismo cínico quando, ao ter responsabilidades pelo seu cargo, afirma que o país vai direitinho para a banca rota.

Outro tema também focado é a história e a política, cujos intervenientes são Ega e Alencar. O primeiro, aplaude as afirmações de Cohen, defende uma catástrofe nacional como forma de acordar o país. Afirma que a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da Europa. Aplaude a instalação da república e a invasão espanhola. Alencar, por sua vez, teme a invasão espanhola e defende o romantismo político, esquecendo o adormecimento geral do país.

Cohen afirma que Ega é um exagerado e que nas camadas políticas ainda há gente séria. Dâmaso diz que se acontece-se a invasão espanhola fugiria para Paris.

Deste jantar sobressai a falta de personalidade de Ega e Alencar, que mudam de opinião quando Cohen quer (saliente-se que Ega era amante da sua esposa), e de Dâmaso, que foge de tudo. Sobressai, também, a falta de cultura e civismo (Ega e Alencar quase chegam a vias de facto), que domina as classes mais destacadas, excepto Carlos e Craft.

Os Maias - A Corrida de Cavalos (Crítica Social)

Os objectivos deste episódio são: o contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o rei; uma visão panorâmica desta sociedade sobre o olhar crítico de Carlos; tentativa frustrada de igualar Lisboa às demais capitais europeias; denunciar o cosmopolitismo postiço da sociedade.

A visão caricatural é dada pelo espaço do Hipódromo: parecendo um arraial; as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares e as senhoras traziam vestidos de missa. O buffett tinha um aspecto nojento. As corridas terminaram grotescamente e a primeira corrida terminou mesmo numa cena de pancadaria.

Ressaltamos deste episódio, o fracasso dos objectivos das corridas, o atraso da sociedade lisboeta e a sua falta de civismo

Os Maias - O Jantar dos Gouvarinhos (Crítica Social)

O objectivo deste jantar é reunir a alta burguesia e aristocracia, apresentando a ignorância das classes dirigentes que revelam incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura. Gouvarinho e Sousa Neto discutem. O primeiro, que vai ser ministro, revela imensa ignorância, não compreendendo a ironia de Ega. É retrogrado e tem lapsos de memória.

Sousa Neto desconhece o sociólogo Proudhon, é deputado, não entra nas discussões e acata pacificamente as opiniões alheias. Defende a imitação do estrangeiro.

Os Maias - A Imprensa (Crítica Social)

A Imprensa é também largamente criticada por meio de vários sucedidos. Eça pretende descrever a situação do jornalismo português, confrontando-a com a situação do país.

Dois jornais são alvo de crítica - A Tarde e A Corneta do Diabo. Esta última, cujo director é o imoral Palma Cavalão, tem uma redacção imunda. É este jornal, que publica o artigo de Dâmaso por dinheiro, mas acaba por vender todo esse n.º do jornal a Carlos, também por dinheiro. As suas publicações são, assim, de baixo nível.

A Tarde, cujo director é o deputado Neves, serve-se da carta de retratação de Dâmaso, como meio de vingança contra o inimigo político. Este jornal pública apenas artigos dos seus correligionários políticos.

Assim, Eça pretende denunciar o baixo nível, a intriga suja, o compadrio político, desses jornais que considera espelhos do país.

Os Maias - O Passeio de Carlos e João da Ega (Crítica Social)

Este episódio é o epílogo do romance. 10 anos depois, e quando Carlos visita Lisboa, vindo de Paris. Este passeio é simbólico, por isso, os espaços percorridos são espaços históricos e ideológicos, estes podem agrupar-se em três conjuntos.

No primeiro domina a estátua de Camões que, triste, representa o Portugal heróico, glorioso mas perdido, e desperta um sentimento de nostalgia. A estátua está envolvida numa atmosfera de estagnação, tal como o país.

No segundo conjunto, dominam aspectos ligados ao Portugal absolutista. É a zona antiga da cidade, os bairros antigos representam a época anterior ao Liberalismo, o tempo absolutista, recusado por Carlos por causa da sua intolerância e do seu clericalismo, que levam a que toda a sua descrição seja depreciativa.

No terceiro conjunto, domina o presente, o tempo da Regeneração, como é o caso do Chiado e dos Restauradores, símbolos de uma tentativa falhada de reconstrução do país, e a prová-lo está o ambiente de decadência e amolecimento que cerca o obelisco.

O Ramalhete integra-se neste conjunto, também ele atingido pela destruição e pelo abandono. Pode funcionar como sinédoque da cidade e do país.

Os Maias - A Educação (Crítica Social)

A crítica à educação é feita através do paralelismo entre três personagens - Pedro da Maia, receptor de uma educação à portuguesa, retrograda e com uma imposição rígida de devoção religiosa, aprendizagem do latim com práticas pedagógicas fossilizadas. Fuga ao contacto directo com a natureza e o mundo prático.

Carlos da Maia, fruto de uma educação à inglesa, onde se privilegiava o contacto com a natureza, o exercício físico, a aprendizagem de línguas vivas, o desprezo pelos valores pessimistas e por um conhecimento meramente teórico.

Eusébiozinho, com uma educação retrograda e ultra-romântica, muito religiosa, que o tornou fisicamente débil, apático e corrupto.

De salientar que as três personagens falharam na vida.

Os Maias - Simbolismo

Os Maias estão incrivelmente repletos de símbolos.

Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal como o de Carlos - o nome do último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de presságio.

No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a importância "da terra e da província" no passado da família Maia. A "gravidade clerical do edifício" demonstra a influência que o clero teve no passado da família e em Portugal.

Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma nova etapa - é o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo da Geração de 70, tal como o é Ega. Tal como o país, também eles caíram no "vencidismo".

No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionado com o modo como Eça via o país, em plena crise do regime.

O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. O fio de água da cascata é símbolo da eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz. A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte, no final a sua presença obscura na quintal é uma vaga premonição da tragédia. Ela marca o início e o fim da acção principal.

No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada é um símbolo e presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.

Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trágica. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrícolas o trabalho: qualidades que existiram um dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e todos. No final um partiu o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto era excelso e sublimado na tradição dos antepassados.

No final, a estátua de Camões é o símbolo da nostalgia do passado mais recuado.

Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No início o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um carácter funéreo. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família.

A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no país.

A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o carácter animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lá vão, Carlos introduz a chave no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das relações incestuosas; da Segunda vez ambos a experimentam - a chave torna-se, portanto, o símbolo da mútua aceitação e entrega.

Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.

Os Maias estão também, povoados de símbolos cromáticos: a cor vermelha tem um carácter duplo, Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a sensibilidade à sua volta; espalham a morte. O vermelho é, portanto, o símbolo da paixão excessiva e destruidora.

O vermelho da vila Balzac é muito intenso, indicando a dimensão essencialmente carnal e efémera dos encontros de amor de Ega e Raquel Cohen

O tom dourado está também presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o Outono), a proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, símbolo de uma paixão possessiva e destruidora.

Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o humano, a aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza.

Constatamos que a simbologia d'Os Maias possui uma função claramente pressagiosa da tragédia.

A Mensagem d'Os Maias

A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção iminentemente crítica.

É através do paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia -, que Eça concretiza a sua intenção. Note-se que ambos, apesar de terem tido educações totalmente diferentes, falharam na vida. Pedro falha com um casamento desastroso, que o leva ao suicídio; Carlos falha com uma ligação incestuosa, da qual sai para se deixar afundar numa vida estéril e apagada, sem qualquer projecto seriamente útil, em Paris.

Por outro lado, estas duas personagens, representam também épocas históricas e políticas diferentes. Pedro, a época do Romantismo, e seu filho, a Geração de 70 e das Conferências do Casino, geração potencialmente destinada ao sucesso.. Mas não foi isso que sucedeu e é este facto que o escritor pretende evidenciar com o episódio final - o fracasso da Geração dos Vencidos da Vida.

Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes correntes estético-literárias. Fracasso este que parece dever-se, não às correntes em si, mas às características do povo português - a predilecção pela forma em detrimento do conteúdo, o diletantismo que impede a fixação num trabalho sério e interessante, a atitude "romântica" perante a vida, que consiste em desculpar sistematicamente, os próprios erros e falhas, e dizer "Tudo culpa da sociedade".

Os Maias - Estética

Os Maias distinguem-se no quadro da literatura nacional, não só pela originalidade do tema, mas também pela destreza e mestria com que o autor conta o romance. De facto, tanto a crítica social, como a intriga amorosa são valorizadas pelo rigor e beleza dos vocábulos utilizados.

Por exemplo, o impressionismo, bem patente, caracteriza-se pela frequência de construções impessoais, uma vez que o efeito é percepcionado independentemente da causa, ficando, portanto, o sujeito para segundo plano; percepções de tipo diferente traduzindo ironia; frequência da hipálage (transposição de um atributo de gente para a acção). Relativamente aos substantivos e adjectivos, a obra de Eça contem muito mais adjectivos do que substantivos.

É frequente o contraste substantivo concreto qualificado com um adjectivo abstracto ou vice-versa.

Os adjectivos tem uma função musical e rítmica completando a linha melódica da frase.

O advérbio toma, em Eça, funções de atributo e a sua acção alcança o sujeito ou o objecto. Assim, Eça ampliou o número de advérbios de modo que a linguagem proporcionava, derivando-os dos adjectivos.

O verbo oferece a alternância dos seus sentidos - próprio ou figurado, e o escritor tem de escolher um ou outro. Estes podem invocar conceitos subjectivos múltiplos sem deixarem, por isso, de descrever aspectos das coisas.

Eça utiliza o estilo indirecto livre. Este tipo de discurso permitia-lhe: libertar a frase dos verbos muito utilizados e da correspondente conjugação integrante (ex.: disse que); permitia-lhe, também, aproximar a prosa literária da linguagem falada; conseguia impersonalizar a prosa narrativa dissimulando-se por detrás das suas personagens.

N' Os Maias, existem em maior ou menor grau todos os níveis de linguagem. Da linguagem familiar à linguagem infantil, popular e também neologismos (ex.: Gouvarinhar). Esta obra é muito rica em figuras de estilo, o que lhe concede um cunho particularmente queirosiano. Aliterações, adjectivações, comparações, personificações, enchem Os Maias do início ao final da obra.

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agenda 2007 - ilustração : mostra : 1908 – Do Regicídio à ascensão do Republicanismo
ilustração : mostra : 1908 – Do Regicídio à ascensão do Republicanismo
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18 de Fevereiro a 24 de Maio de 2008 na Sala de Referência | Entrada livre

MOSTRA BIBLIOGRÁFICA
1908 – Do Regicídio à ascensão do Republicanismo

1908 foi marcado pelo Regicídio, ocorrido em 1 de Fevereiro, o que provocou a queda da ditadura de João Franco, cujo governo tomara posse em 1906. Três dias antes, verificou-se uma tentativa de golpe revolucionário, de cariz republicano, em sequência da qual D. Carlos assinou um decreto que previa a deportação para o Ultramar daqueles que atentassem contra a segurança do Estado. D. Manuel subiu ao trono e foi empossado um novo governo, de «Acalmação», chefiado por Ferreira do Amaral, que não chegou ao final do ano, sendo substituído por Campos Henriques.

A difusão dos ideais republicanos fortaleceu-se, através da realização de numerosos comícios em várias cidades e vilas do país. Em 5 de Abril, o Partido Republicano elegeu sete deputados e em 1 de Novembro ganhou a maior câmara municipal do país – Lisboa –, elegendo todos os vereadores.

É uma «viagem» pelos principais acontecimentos de 1908 o que pode visitar nesta mostra, através das primeiras páginas de jornais e de alguns livros publicados nesse ano, como O Marquês de Bacalhoa, de António de Albuquerque, cuja principal personagem é o rei D. Carlos e que, apesar de apreendido, foi um sucesso editorial.

Horário de visita à Exposição:

Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h -17h
Encerra domingos e feriados

Mais informações através do endereço rel_publicas@bn.pt ou dos tels.:
21 798 2124 / 21 798 2428

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Assento de Matrícula no 1º Ano de Direito do Aluno Eça de Queirós


Assento de Matrícula no 1º Ano de Direito do Aluno Eça de Queirós


GABINETE DE ESTUDOS E ESTATÍSTICA

Universidade de Coimbra - Estampas Coimbrãs

A Universidade de Coimbra é objecto de diversas iniciativas a nível cultural, oferecendo perspectivas sobre a sua evolução através dos séculos na sua já longa existência de mais de 700 anos.
Existe contudo um plano que não é, ou, pelo menos, não é habitual sê-lo, abordado: o papel desempenhado pelos Serviços de índole Académica da Universidade de Coimbra, afinal de contas, tão antigos quanto a própria Instituição.

Assim, e no âmbito do projecto Semana da Mostra Cultural da Universidade de Coimbra, o Gabinete de Estudos e Estatística apresenta, a título de participação no referido evento, uma página alusiva ao desempenho e evolução dos Serviços orientados para os Assuntos Académicos, através da recolha em documentos, tais como os Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1559 e 1653, ou compêndios de Legislação Académica abrangendo os anos de 1772 a 1850, de diversos extractos, bem como diplomas, em que a actividade destes Serviços tenha particular destaque.

Não se trata aqui de apresentar um estudo histórico exaustivo, mas apenas e tão só oferecer ao leitor mais curioso uma perspectiva diferente da Universidade e de um dos seus componentes vitais.

GABINETE DE ESTUDOS E ESTATÍSTICA
Estudante de Coimbra - Estampas Coimbrãs

Propinas
Por propina entende-se hoje a taxa de frequência devida pelos estudantes à Instituição de Ensino Superior.
Contudo, nem sempre teve um significado tão restrito, como se pode verificar nos trechos seguintes. Através dos tempos, para além de abranger as taxas pelas matrícula e frequência no ensino superior, esta designação referiu-se também a determinados honorários auferidos tanto por docentes, como por funcionários, revestindo também o carácter de taxa devida pelos próprios Lentes, em virtude dos actos de posse das respectivas cadeiras. Em caso ainda de incumprimento das atribuições académicas ou protocolares, chegou mesmo a assumir um carácter punitivo e disciplinador.

(...) Leuará o Secretario por cada Estudante, que matricular, dez reis, por cada vez: & da proua, & assento de cada curso, hum vintem: (...)

(...) Os dittos Bedeis das faculdades (...) lhes notificaraõ (aos Doutores) os Doutoramétos, Magisterios, & mais graos, em que tem propina, & deuem ser presentes: sobpena de o bedel perder a propina do tal acto, em que o Reitor o mulctará, por se, & ditto do Doutor, que lhe affirmar, que lhe não foi leuado o tal ponto, ou conclusoes, nem notificado o tal grao. E a ditta propina se perse perderá para a arca da Vniuersidade. E se foi acto, em q o tal Doutor perdeo sua propina por lhe não ter notificado, será della satisfeito á custa da ditta propina & ordenado do ditto Bedel.
(...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

(...) quando o doctor repetir, e quando der grao, e quando presidir, e todos os mestres e doctores forem a exame privado com o que se ouver de examinar, e quando forem com o doctor ao lugar aonde ouver de receber o grao, e ahi ao tempo que estiver ao dar do dito grao, e depois quando tornarem com elle até à sua casa.
Os doctores e mestres, que não levarem os ditos capellos, borlas e anéis, pola maneira aqui declarada aos ditos exames, doutoramentos e autos, como dito hé, não vencerão suas propinas e o bedel da Faculdade, de que for o auto, lhas não dará; e será ametade para elle bedel e a outra ametade se meterá na arca da Universidade ou se tornará à pesoa que faz o tal auto, como ao Reitor melhor parecer; e o mestre das cerimonias terá cuidado de ver se os ditos doctores cumprem este estatuto; e o bedel exequtará a pena no modo que dito hé.
(...)

Da arca da Universidade

Ho Reitor, deputados e conselheiros, elegerão cada anno no principio delle hum doctor lente, que tenha cuidado de arrecadar as propinnas dos graos, que são aplicadas à arca da Universidade, dos bedeis, os quaes receberão as ditas propinnas das pesoas, que se ouverem de graduar; e os ditos bedeis, tanto que receberem as ditas propinnas, as entregarão à pesoa que assi for eleita, so pena de as pagarem de seus ordenados em dobro; e cada hum delles terá hum livro, no qual se escreverá o dia, mes e anno, em que entrega a dita propinna, declarando do grao que hé e de quem, ao pee do qual o doctor electo assinará. (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1653

PROVISÃO

Em observancia das ordens que tenho de El-Rei meu senhor: hei por serviço de Sua Magestade declarar e fixar o louvavel costume antigo das propinas, que pagaram e devem pagar os lentes proprietários de cadeiras e substitutos d'ellas com privilegios de lentes, nos actos das posses das sobredictas cadeiras, na maneira seguinte: para o reitor, ou como tal, ou ainda sendo tambem reformador, 4$800 réis; para os seis deputados do conselho da fazenda e estado da Universidade, 1$200 réis, a cada um d'elles; para o procurador fiscal do mesmo conselho, como tal, 1$000 réis, e como mestre das cerimonias, outros 1$000 réis; para o porteiro e guarda-mór dos geraes, novamente substituido no logar do outro improprio official abolido, 960 réis; para o bedel da faculdade, em que se tomar cada posse, 960 réis; para os bedeis das outras faculdades, 480 réis a cada um; para o meirinho geral da Universidade, 600 réis; e para o sineiro, 400 réis. Remetta-se á secretaria, para que nella se expeçam logo as ordens necessarias nesta conformidade. Coimbra, em 5 de Outubro de 1772, - Marquez visitador

Estudantes contemplando a cidade de Coimbra - Estampas Coimbrãs

O Bedel

(...) O Bedel de cadahua das faculdades, chamará à Congregação dellas os Lentes, & Doutores, quando se ouueverm de ajuntar por mandado do Reitor.
Terá cada hum delles hu rol, em q estarão escrittos todos os Estudantes de suas faculdades, com declaração do tempo, em q cadahum começou a estudar, & os annos que tem de estudo; pera que se saiba, se tem tempo bastante, pera responder, & arguir nos actos de exercicios, que ordinariamente se hão de guardar. E auisará disso ao Reitor, pera os constranger a teré os dittos actos nos dias assinados, & arguirem no lugar que lhes couber.
Os dittos Bedeis das faculdades, em que forem os actos, ou graos, seraõ obrigados a leuar pessoalmente todos os pontos, & as conclusoes de quaesquer actos ás casas dos Doutores, Mestres, ou Lentes, que podem, ou deuem ter presentes nos taes actos. (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

PROVISÃO
Ordena que haja um bedel proprio e privativo para cada faculdade.

Coimbra, em 30 de Junho de 1773

Capa de Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

O Escrivão do Conselho
Algumas atribuições e competências

Do Secretario, & Escriuão do Conselho

Averá hum Secretario, Escriuão do Conselho perpetuo, que seja homem de verdade, de segredo, honrado, bom latino, & sem raça algua, & que não tenha outro officio: o qual escreuerá todas as cousas, q se trattarem nos Conselhos da Vniuersidade, & nas Congregações das Faculdades.
(...)
Escreuerá o Secretario do ditto Conselho a Matricula dos Estudantes, guardando o que se declara no titulo da Matricula, & proua dos cursos. E em todo o sobreditto, & cousas, que tocarem a Vniuersidade fará final publico, & assi o fará o seu substituto, que por elle seruir em sua ausencia, sendo eleito, ou dado pelo Reitor na forma destes Estatutos.
(...)
Terá o Secretario hum liuro, que se chamará dos cursos, em q escreuerá todas as prouas dos cursos, que se na Vniversidade fizerem: & nenhua outra cousa se escreuerá nelle: & cada proua de curso irá por seu termo apartado, com dia, mez, & anno assinado pelo Reitor, & duas testemunhas, co hum titulo em cima deste termo, que declare o nome do Estudante, Bacharel, Licenciado, ou outra pessoa, de cujo se tratte:
(...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

Do escrivão do conselho

Averá hum escrivão perpetuo do conselho que seja homem de verdade e secreto e honrado e será latino, o qual escreverá todas as cousas que se tratarem em os conselhos da Universidade, e dará por mandado do Reitor o treslado dos privelegios ou Estatutos dela a quem o requerer (...).

Item, fará mais o livro da matricola, no qual assentará todas as pesoas que se ouverem de matricular no modo e maneira que há declarado no livro da matricola e prova dos cursos [que] com muita diligentia guardará, não matriculando pesoa algua nem passando certidão da dita matricola em outra forma do que hé declarado no capítulo da matricola. (...)

Item, quando ho dito escrivão deixar de todo de escrever o dito offycio, asi por morte como por renunciação ou qualquer outra maneyra, elle ou seus erdeyros serão obrygados a trazer e entregar à Universidade todos os registos e votos, que por razão do dito offycio tiver feytos, para se meterem nos almarios do cartorio em que devem de estar.

Do mestre das cerimonias

Item, haverá hum mestre das cerimonias, que será sempre o que for escrivão do conselho, pela rezão que tem de saber os Estatutos e regimentos da Universidade (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1653


Primeiro Regulamento da Secretaria da Universidade (1846)

PORTARIA - Attendendo a que para a boa ordem e regularidade dos trabalhos da secretaria da Universidade, assim como para a prompta expedição do serviço da mesma, importa muito que que os empregados d'ella tenham regars prescriptas para o exacto desempenho das suas obrigações e mais providências internas, mando que provisoriamente seja adaptado o seguinte

REGULAMENTO DA SECRETARIA DA UNIVERSIDADE

Artigo 1º A secretaria da Universidade compõe-se de duas repartições, a saber:

1ª A dos negocios e expediente litterario da Universidade;
2ª A de contabilidade.
Art. 2º O quadro effectivo da secretaria compõe-se dos empregados seguintes:
1º Um secretario e mestre de cerimonias;
2º Um official maior;
3º Um primeiro official ordinario, encarregado especialmente da contabilidade;
4º Um segundo official ordinario;
5º Um porteiro;
6º Um continuo.
§ unico. Quando a urgencia dos trabalhos o pedir, poderão ser chamados os amanuenses que forem necessarios para o serviços extraordinario.
Secretario

Art. 3º Ao secretario incumbe, além do que lhe está designado nos antigos e novos Estatutos e mais legislação posterior:

1º Receber todas as leis, ordens do governo e correspondencia, que o prelado enviar para a secretaria, e dar-lhes o conveniente destino, fazendo-as archivar depois de cumpridas.
2º Satisfazer e fazer que se cumpra tudo quanto o prelado determinar, pertencente à secretaria, e que pela mesma se costuma expedir;
3º Distribuir o serviço e reger a secretaria;
4º Dirigir e inspeccionar os trabalhos d'ella;
5º Superintender todos os seus empregados, propondo ao reitor as medidas necessarias para a conveniente execução do serviço ou para a repressão de quesquer abusos que nella se possam introduzir;
6º Inspeccionar sobre a conservação e boa classificação dos livros, documentos e mais papeis da secretaria;
7º Conceder licença aos officiaes para sahirem da repartição por um limitado espaço de tempo, durante os trabalhos d'ella, e notar qualquer abuso que o empregado commeter d'esta licença, para ser convenientemente corrigido;
8º Ter em seu poder o inventario do archivo e mobilia, por que é responsavel o porteiro;
9º Empregar amanuenses, quando pela urgencia do serviço fôr necessario, com previa auctorisação do reitor;
10º Fazer observar as leis dentro da repartição e este regulamento.
Official maior

Art. 4º O official maior é chefe da 1ª repartição; e n'esta qualidade lhe compete:

1º Substituir o secretario em todos os seus impedimentos;
2º Dirigir o expediente da sua repartição sob a inspecção do secretario, propondo-lhe tudo quanto julgar conducente ao melhor andamento dos negocios e representando contra qualquer falta ou infracção dos outros empregados no cumprimento dos seus deveres;
3º Apresentar no fim de cada trimestre o indice synoptico da respectiva legislação e providencias litterarias, o qual deverá ser encadernado no fim do anno lectivo;
4º Repartir o trabalho, que accrescer numa repartição, pelos empregados que na outra o podérem desempenhar, e fazendo conservar todo o decoro, polidez e subordinação na secretaria;
5º Assistir, no impedimento do secretario, aos exames preparatorios para os estudos da Universidade nos mezes de outubro e julho;
6º Assignar as copias authenticas de documentos exigidos, ex-officio, pelas auctoridades superiores;
7º É responsavel perante o secretario, pelo cumprimento dos seus deveres e pelo serviço e regularidade da repartição a seu cargo.
1º official ordinario

Art. 5º O 1º official ordinario é chefe da 2ª repartição e encarregado especialmente da contabilidade, nesta qualidade lhe pertence:

1º Processar e conferir as folhas dos ordenados de todos os empregados da Universidade e lançar as competentes verbas dos respectivos assentamentos; e as do expediente dos estabelecimentos, lançando-as nas contas respectivas, exigindo para esse fim os documentos necessarios;
2º Formalisar as contas correntes semanaes e annuaes dos rendimentos dos fundos academicos e das despezas do pessoal e material;
3º Formalisar todos os mappas, orçamentos, documentos e dar todas as informações relativas a esta repartição;
4º Registar os titulos, diplomas, cartas de empregados ou gratificações pessoaes e abrir assentamentos de ordenados;
5º Registar a legislação e documentos officiaes pertencentes ao serviço de contabilidade da secretaria;
6º Satisfazer tambem ao serviço da primeira repartição, quando houver urgencia por quaesquer trabalhos extraordinarios d'ella, se assim lh'o permitirem os da sua propria repartição, em concorrencia com os d'aquella;
7º Fazer a escripturação da responsabilidade do thesoureiro do cofre academico;
8º Formalisar mensalmente a conta de todos os emolumentos pertencentes à secretaria, e fazer a sua distribuição, na conformidade d'este regulamento.
Art. 6º Na ausencia ou impedimento do official maior fará as suas vezes o chefe da 2ª repartição; e quando os trabalhos d'esta lhe não permittam, o 2º official fará as vezes de official maior.

2º official ordinario

Art. 7º O 2º official ordinario tem exercicio na 1ª repartição, e como tal lhe pertence:

1º Satisfazer a todo o serviço d'ella, que, não sendo da competencia do official maior, lhe fôr pelo secretario ou por aquelle ordenado;
2º Ter a seu cargo especialmente o registo da legislação, ordens regias, consultas, mappas, editaes e providencias do reitor e dos conselhos das faculdades;
3º Satisfazer egualmente a qualquer serviço extraordinario, que fôr necessario para a regularidade do expediente da secretaria;
4º Guardar e classificar convenientemente os livros e papeis da secretaria;
5º Fazer as buscas para se passarem as certidões extrahidas dos livros e papeis do archivo, à vista do competente despacho;
6º Substituir o official maior nos impedimentos do 1º official.
Porteiro

Art. 8º Ao porteiro da secretaria pertence:

1º Satisfazer ao que lhe fôr ordenado pelo secretario e pelos officiaes subalternos, para o serviço interno da mesma secretaria;
2º Ter a secretaria aberta nas horas marcadas neste regulamento;
3º Cuidar na boa ordem e conservação dos livros e mais papeis, bem como da mobilia, que lhe será entregue por inventario, assignado pelo official maior e pelo mesmo porteiro, que assim fica responsavel por qualquer falta ou extravio; dando parte quando algum dos objectos se inutilisar, para se providenciar convenientemente á sua substituição e fazerem-se as competentes notas do inventario;
4º Communicar competentemente os recados dos pretendentes, dando-lhes as declarações necessarias e os documentos que lhes devem ser entregues;
5º Receber todos os emolumentos da secretaria e dar conta mensal ao secretario dos que lhes são pessoaes, na conformidade dos Estatutos e mais legislação vigente; e diariamente ao official de contabilidade dos que pertencerem á secretaria.
Continuo

Art. 9º Ao continuo da secretaria incumbe:

1º Todo o serviço interno e externo da secretaria, que lhe fôr determinado pelo secretario e pelos officiaes subalternos d'ella;
2º Cuidar do aceio e limpeza da secretaria;
3º Comprar todos os artigos necessarios para o expediente da secretaria, como livros, papel, etc., segundo as ordens do secretario, dando-lhe de tudo conta com os respectivos documentos.
Emolumentos

Art. 10º Todos os emolumentos que pelos Estatutos e legislação vigente não são pessoaes do secretario, entrarão em uma caixa para serem divididos em duas partes eguaes, uma das quaes pertencerá ao mesmo secretario e a outra será dividida com egualdade pelo official maior e pelos dois officiaes ordinarios, á vista da competente conta.
§ 1º São comprehendidos nas disposições d'este artigo os emolumentos provenientes dos exames preparatorios para a Universidade, buscas, registos e quaesquer outros trabalhos de que possam provir emolumentos.
§ 2º Quando o secretario se achar ausente com licença, o official maior, ou quem suas vezes fizer, vencerá unicamente os emolumentos que pertencerem ao mesmo secretario, não entrando na divisão do resto.
Art. 11º Continuará a observar-se a tarifa dos emolumentos da secretaria, que se acha em prática.

Disposições geraes

Art.12º É expressamente prohibido a qualquer empregado tirar algum livro ou documento para fóra da secretaria.
§ unico. Exceptuam-se os casos em que seja necessario, para bem do serviço, que algum dos ditos objectos seja presente ao reitor, conselho dos decanos, congregações ou para os actos academicos, devendo restituir-se, logo que acabem de servir, ao seu respectivo logar na secretaria.
Art. 13º Os trabalhos ordinarios da secretaria principiarão ás nove horas da manhã e terminarão ás duas horas da tarde.
§ 1º Exceptuam-se porém os tres mezes de maio a julho, em que deverão principiar os trabalhos ás oito horas da manhã. Esta hora poderá ser alterada pelo secretario, quando o bem do serviço assim o exigir.
§ 2º Nenhum empregado poderá retirar-se da secretaria durante o tempo de serviço sem permissão do secretario, nem ainda depois da hora da sahida, sem elle dar os trabalhos do dia por concluidos.
Art. 14º Cessam os trabalhos da secretaria nos dias feriados, na conformidade das leis vigentes.
§ unico. Exceptuam-se, porém, os casos em que o serviço publico ou academico exigir alguns trabalhos a que seja necessario dar expedição nestes mesmos dias.
Art. 15º Todo o empregado, que faltar ao serviço da secretaria, deverá justificar as faltas na conformidade do artigo 137º do decreto de 20 de setembro de 1844.
§ 1º Aos empregados que se ausentarem da secretaria sem prévia licença do secretario, ainda depois da hora da sahida, será marcada falta para os efeitos designados no § 1º do citado artigo do decreto.
§ 2º O official que faltar ao serviço da secretaria com licença não será contado com a parte respectiva dos emolumentos proporcional ao tempo que faltar.

Paço das Escholas, em 31 de janeiro de 1846. -- Conde de Terena, reitor.

Estudantes de Coimbra - Estampas Coimbrãs

Certidões
Emissão de certidões de matrícula, frequência de curso, e outras. A não verificação dos pressupostos para a emissão de uma destas certidões envolvia repercussões que os actuais estudantes sequer suporiam terem existido.

(...)Leuará o Secretario por cada certidaõ, que passar assinada pelo Reitor, vinte reis: pelas outras dez: (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

(...) E quando alguma pesoa pedir certidão de como está matriculada para qualquer cousa que seja, o escrivão a não passará sem mandado do Reitor ou conservador nos casos de sua jurisdição; e nela declarará sempre o tempo que se matriculou e em que Faculdade, e seja em todo caso assinada pelo Reitor, que primeiro que assine mandará trazer o livro da matricola e verá se está matriculado na forma que deve, e não estando assi matriculado não assinará a tal certidão, e a tal pesoa seja excluida do gremio da Universidade, e não gozará dos privilegios della; e o conservador, a instancia do Rector, lançará os taes fora das casas que tiverem d'aposentadoria, pois não an-de ser dadas senão a estudantes. (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1653



AVISO REGIO

Declara que ha Sua Majestade por bem auctorisar a secretaria da Universidade para poder passar certidões das informações academicas, logo que nella forem requeridas; e que egualmente podem ser passadas pela secretaria de estado dos negocios do reino.

18 de Fevereiro de 1824

Privilégios

Da matricula, & proua dos cursos

(...) porém os Religiosos não pagarão cousa algua. (...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559

(...) Os religiosos e collegiaes, de qualquer collegio que seja[m], não pagarão cousa alguma, em todas as Faculdades, para as arcas da Universidade e Faculdade.

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1653
Estudante de Coimbra - Estampas Coimbrãs

Matrículas

Da matricula, & proua dos cursos

Todos os Estudantes seculares, & Religiosos de Collegios não incorporados na Vniuersidade, assi os que ouuiré nas Escolas maiores, como os que ouuirem nas Escolas menores, & assi os Bachareis, q ouuerem de cursar, se escreuerão cada anno em capitulos separados dasfaculdades pelo Secretario do Conselho no liuro da Matricula, cadahum na faculdade em que estuda, fazendo primeiro o juramento (...). E fará o Secretario em cada assento menção do tempo, em que os Estudantes se vem escreuer na Matricula, & da terra donde, & cujos filhos saõ: & pagarão cada hum pelo tal assento dez reis: porem os Religiosos não pagarão cousa algua. E matricularfehão os que estiuerem presentes na ditta Vniuersidade, atè quinze diasdo mez de Outubro: & os que n~eo estiuerem presentes, matricularfehão dentro de quinze dias, depois que vierem: & os que isto assi não cuprirem, não gozarão dos priuilegios da Vniuersidade, nem serão auidos por Estudantes della, nem lhes será contado em curso, o tempo que na Vniuersidade estiveré. E o Conseruador, por ordem do Reitor, lançarà os taes fora das casas, que não forem matriculados, inda que as tenhão de aposentadoria: pois não hão de ser dadas, senão a Estudantes.
(...)

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1559



Da matricola e prova dos cursos

Item, todos os estudantes seculares da Universidade assi os que ouvem nas Escolas como os que ouvem no Collegio das Artes, e assi os bachareis que ouverem de cursar, se escreverão cada anno polo escrivão do conselho no livro da matricola, fazendo juramento, segundo costume, de obedecerem ao Rector que ao tal tempo for e a seus sucesores nas cousas licitas e honestas que tocarem à Universidade; e escreverá cada hum na Faculdade em que estuda, fazendo mensão do tempo em que se vem assentar na dita matricola e da terra donde são e cujos filhos, e pagarão ao dito escrivão cada hum polo tal assento dez reis; e o dito juramento farão os que estiverem presentes até quinze dias depois do principio do mes d'Outubro; e os que não estiverem presentes farão o dito juramento depois que vierem dentro em quinze dias, e os que isto assi não comprirem não gosarão dos privelegios da Universidade, nem serão avisados por estudantes dela, nem lhe será contado em curso todo o tempo que na Universidade estiverem sem serem matricolados cada hum anno pela dita maneira; (...)

(...) antes de o assentar (matricular) lhe dará juramento de quanto tempo há que está na cidade e se passar de quinze dias no dia que veo à Universidade comforme ao que acima hé dito, o não matricolará sem licença do Reitor, o qual não admitirá o tal estudante a se matricolar no tempo que pellos Estatutos era obrigado; e primeiro que o dito escrivão asente algum na dita matricola, alem do juramento, lhe dará juramento de obedecer ao Reitor como hé dito, so pena de privação do offycio e de pagar cinquo cruzados para a arca da Universidade.

In Estatutos da Universidade de Coimbra, 1653

Edital do reformador Reitor

"... Declaro e faço certo que foi Sua Majestade servida abrogar e cassar a permissão dos novos estatutos quanto à admissão da primeira matricula até 7 de janeiro, pelo abuso que d'ella fazem os estudantes; estabelecendo que o ultimo termo da primeira matricula em cada um anno será sempre o respectivo dia 2 de novembro, que se não poderá exceder debaixo de qualquer pretexto, nem ainda o de doença ou falta d'acto."

Coimbra, 30 de Abril de 1782

A título de curiosidade, apresenta-se, neste espaço dedicado ao tema das matrículas, os assentos de matrícula de três alunos que se notabilizaram em campos tão distintos como a Literatura, a Medicina e a Política. A saber:


Assento de Matrícula no 1º Ano de Direito do Aluno Eça de Queirós

Assento de Matrícula no 1º Ano de Medicina do Aluno António Egas Moniz

Assento de Matrícula no 1º Ano de Direito do Aluno António de Oliveira Salazar


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