Pesquisa Google
Pegue o nome e o sobrenome de quem você acabou de conhecer. Vá no Google, respire fundo e prepare-se. Pode vir bomba. O mais popular dos sites de busca da internet tem a ficha de todo mundo que interessa. Fizemos essa proposta para Ana Paula Arosio, que quase não usa o computador e nunca teve a curiosidade de se 'googlar'. Pasma, a atriz viu que sua versão online é uma mulher recatada, praticamente assexuada, que só pensa em cavalos. E, o mais incrível, descobriu coisas de si própria que nem ela sabia.
O computador está no ponto, mas, na hora marcada para a entrevista, 17h, cadê Ana Paula Arosio? Confirmo que vida de protagonista da TV Globo é difícil. A Laura de 'Ciranda de Pedra' ainda teria de gravar duas cenas por quase duas horas. Pragmática, ela avisa, da cidade cenográfica:
'Vamos conversar fora da firma [o Projac, o mega-estúdio do Rio]. Quero relaxar na Barra, perto de onde moro [numa casa no Recreio dos Bandeirantes]. Volto a gravar às oito e meia.'
Corta. Ela chega levemente maquiada, veste camisa cinza, casaco preto e branco, black jeans e tênis preto. Taça de champanhe na mão, Ana começa a se buscar na tela.
'Não uso muito computador, confesso. Também chego em casa, decoro minhas falas, sempre sozinha, e brinco com meus cachorros. Nem à TV assisto.'
Digitamos Ana Paula Arosio no Google e, imediatamente, entramos na Wikipedia, site que é uma espécie de enciclopédia 'livre', ou seja, a informação é fornecida (e alterada) pelo próprio internauta. Pergunto se tudo o que ela lê está certo. Data de nascimento: 16 de julho de 1975. Ok. O currículo, que até os mosquitos que vivem pelo Projac já conhecem, também passou bem: modelo aos 12, primeiras novelas no SBT, o estouro em 'Hilda Furacão', a estréia no cinema com 'Forever' (de Walter Hugo Khouri), o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por 'Celeste e Estrela' (de Betse de Paula), que ganhou no 3º Festival de Cinema de Varginha, há três anos...
'Eu ganhei? Ninguém me avisou!'
Ri, aquela gargalhada que é sua marca registrada, e passa a bola para o empresário, que ficou tão pasmo quanto ela. Mas venceu, sim.
'Ah, eu fico vesga nesse filme. Acho que vou ficar vesga sempre. Quem sabe assim ganho mais prêmios!'
Vamos em frente. A primeira novela contemporânea foi 'Páginas da Vida'...
'Não. Foi 'Razão de Viver', do SBT [1996]. Mas acho que não conta, né?'
Gargalha de novo. No mesmo site, a lista dos namorados. Só os mais famosos, claro. Muitos ficaram de fora -sim, ela é namoradeira. Fazemos um check-list.
Tarcísio Filho [ator]. 'Ok.'
Marcos Palmeira [ator]. 'Ok.'
Michel Bercovitch [ator]. 'Ok.'
O diretor Ricardo Waddington.'Ok.'
Sabe quando namorou e quanto durou com cada um deles?
'Fizeram um apanhado! Bem, Tarcisinho faz muuuitos anos. Eu tava fazendo [a novela do SBT] 'Os Ossos do Barão' [1997]. Marcos eu namorei quando ia fazer 'Terra Nostra' [Globo, 1999]. Michel, durante 'Casa de Bonecas' [espetáculo de 2002, no qual ela também assinou a produção]. Ricardo, na época da [minissérie] 'Mad Maria' [2005]. Engraçado que eu associo todo mundo aos trabalhos!'
Por que só gente do meio?
'O que acontece é que não dá tempo de conhecer gente de fora. Mas eu já tive namorados fora do meio: quando vou pro aeroporto, saio do Projac, eu sempre trombo com alguém! Os atores só costumam sair juntos durante temporada de espetáculo. Não é como numa novela, que a gente grava e vai embora.'
Insisto no tema namoro. Pergunto se, afinal, não teve nada com Rodrigo Santoro à época de 'Hilda Furacão' [1998]. Como é essa história de 'ficar' com alguém no trabalho, beijar muito na boca, e sequer trocar telefone depois?
'Não rolou nada, gato! Não teve troca de fluidos corporais, vamos dizer assim. Brincadeira. Falando sério, não dá tempo para conhecer ninguém durante uma novela. Olha com quanta gente eu contraceno que não dá tempo sequer de dizer um 'Oi'. Mas acho que agora eu vou 'googlar' a galera toda.'
Ana diz que, se pudesse, moraria dentro do estúdio. Em São Paulo, tem um imóvel na Vila Mariana.
Recreio ainda tem ar de interior. Tem a venda, a padaria, sabe? E é colado no Projac. De São Paulo sinto falta de alguns amigos e da comida. Não gosto de trânsito, não ligo pra grandes cinemas ou teatros. Chego em casa, pego um livro, brinco com os cachorros e acabou. Eu me desconecto.'
Entramos numa página que fala das medidas dela. Ana está visivelmente mais magra e diz que entrou numa dieta assim que recebeu o convite para a novela.
'Sou meio sanfona. Estou mais magra, mas não fiz nenhuma dieta radical. Só parei de comer demais. Adoro arroz e feijão, arroz e feijão, arroz e feijão [faz questão de repetir]. Com ovo frito, banana no meio e bife acebolado. Mas qualquer diretor de novela, quando liga para fazer um convite, já manda emagrecer. TV engorda. Quer saber? Me incomoda mais ouvir crítica porque atuei mal do que por estar acima do peso.'
Agora descobrimos os vários sites que repercutem a declaração de que ela jamais colocaria botox ou silicone. Vai contar com a beleza até quando?'Imagina se vou colocar silicone. Jamais. Olha o que eu gosto de fazer: dançar, correr e montar cavalo, tudo pulando. Se tivesse peitão, como ia agüentar esses pulos todos? Mudaria minha altura, se pudesse. Queria ganhar uns dez centímetros [ela tem 1,70 m]! Ser uma mulher que não acaba mais, uma Claudia Raia! A gente olha para ela, e ela continua... Os peitos nunca me incomodaram. Também, quem reclamou já foi.'
Quem reclamou? Ela faz cara de poucos amigos, toma mais champanhe, diz que eu estou querendo saber muito, e vai em frente.
'Você sabe que eu enganei muito a galera no início da carreira de modelo? Como comecei com 13 anos, eu dizia que ia crescer. Mas aos 16 não adiantava mais, porque parei de esticar. Eu falava que era melhor assinar o contrato logo porque dali a três anos estaria mais alta e cara. Não fiquei alta, mas fiquei cara, vai!'
Gargalha, sem dar nome aos bois. Por falar nisso, ela continua firme no seu projeto rural, de montar e competir.
'Ah, sim. Tento manter a regularidade. Ao menos uma vez por mês vou para minha fazenda montar. Também corro, todo santo dia, entre dez e 15 quilômetros.'
Tentamos ser picantes. Colocamos a palavra 'sexo' junto ao nome dela. Nada. Aviso de vírus. Saímos de um site, entramos em outro. Surgem fotos pueris, imagens dela ainda adolescente. Aviso de que a veríamos fazendo strip-tease para Edson Celulari [os dois eram 'casados' na novela 'Páginas da Vida']. O computador trava. Inofensiva na internet, essa Ana.
'Gente, eu sou quase assexuada para eles! Nos sites onde eu poderia estar mais perigosa só aparecem vírus. Ana Paula Arosio pelada ou nua não abre! E olha que não tenho o menor problema em aparecer nua.'
'Beleza não é uma forma de poder. Saúde é. Sem força e energia não há beleza' |
Em revista masculina?
'Me chamam sempre, mas não aconteceu. Acho que não tenho o perfil. Ah, uma coisa que erram nesses sites: meus olhos não são azuis. São cinza-amarelados.'
Ri, querendo confundir. Boa idéia para voltar ao tema beleza. Não é perigoso ser mãe de três meninas numa novela, ainda aos 33 anos?
'Não vejo problema. Acho até que a Laura [a personagem em 'Ciranda de Pedra'] foi uma abertura de leque na carreira. Posso parar de fazer a tonta, ganhei uma personagem densa. E essa história de beleza para mim é diferente. Beleza não é uma forma de poder. Saúde é que é. Sem força e energia não há beleza. Você não conquista coisas duradouras só por ser bonita. É só lembrar, por exemplo, que pessoas apaixonadas tendem a estar mais bonitas.'
Como está mais magra, linda como nunca, elogiada pelo talento, deve estar apaixonada. Está ou não está, Ana?
'Pela Laura [a personagem da novela]. Estou. Ela é uma delícia.'
Ana diz que tem dois perfis no orkut. Nenhum feito por ela. Entramos.
'Gente, o povo põe fotos minhas quando criança, de caipira! Adoro festa junina, mas a minha imagem é de uma mulher meiga, romântica, que só trabalha e pensa em cavalos. O que acho sacanagem nesse orkut é que as pessoas dizem que estão falando comigo, mas não é verdade. E já tenho 400 amigos que sequer conheço! A gente não tem mais controle de nada! Já tive fases de me incomodar, hoje só dou risada. Mas, quer saber, acho que não vou desencalhar mesmo.'
Quer casar, ter filhos? Faz sinal de negativo com a cabeça. E, assim, nos desconectamos.
Fotos: Eduardo Rezende (Aba Mgt)/Assistentes de fotografia: Dyogo Amorim e André Batista Realização: Tina Kugelmas e Paula Lang/Cabelo e maquiagem: Duda Molinos (Duda Molinos Make-Up Studio)Assistente: Catia Marques/Ana Paula Arosio veste cardigã Osklen, meias Lupo e sapatos Gucci para Daslu
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Caro Luciano Trigo,
Parabéns por sua cobertura da Flip.
Interessante a sua busca animada por contradições minhas. Estou acostumado, é do jogo.
Mesmo assim vou lhe explicar novamente o que disse em minha palestra, e que não está escrito no seu site.
Fui perguntado se fui complacente no livro com o usuário de drogas de classe média, supostamente apresentando o que pode ser um drama de forma festiva. Respondi que não sou o juiz do meu personagem (ele foi julgado e condenado pela Justiça), e que meu livro não é uma tese sobre delinqüentes bonzinhos ou mauzinhos, é só uma história de um cara, a que eu quis contar, e não pretende ser nenhuma espécie de síntese ou exemplo social.
Sobre juízo de valor, meu caro, você confundiu as bolas. Expliquei que me recusei a julgar a conduta do meu personagem, no sentido do que é certo e do que é errado, no sentido moral, que era o objetivo da pergunta. Considerar meu personagem fascinante é uma opinião de outra ordem, é uma impressão do narrador, do jornalista. Pergunte ao Fernando Moraes se ele acha o Chatô fascinante, e ele lhe dirá que sim, sem ter que emitir juízo de valor sobre se o sujeito era um canalha ou um herói. Aliás, dei esse exemplo em minha palestra.
O carisma e o glamour presentes na personalidade e na vida do “Johnny” são dados da história que apurei, e demonstrei com fatos na minha reportagem, não são adjetivos inventados por mim. E são os dados que ajudam a tornar o personagem fascinante do ponto de vista jornalístico e humano, mesmo sendo um encrenqueiro – e até por isso.
Quanto à sua pergunta sobre a experiência com drogas levar à libertação ou ao confinamento, você preferiu editar minha resposta (talvez por falta de espaço). O que eu disse é que pode levar aos dois caminhos (não sei se a pergunta me permitia ser mais criativo), mas que o grande erro, a meu ver, é acreditar que tirar do jovem a possibilidade dessa experiência é a melhor forma de protegê-lo.
Mas tudo bem, você conseguiu terminar o seu texto com uma ironia, e isso às vezes é o mais importante.
Um abraço,
Guilherme Fiuza