Cinco pessoas foram presas na megaoperação montada, na
sexta-feira (25), pela Polícia Federal em conjunto com o Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para combater o
tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, e
desarticular um ‘consórcio’ de propinas’ que tinha o envolvimento de 22
policiais militares do 7º BPM (São Gonçalo).
A ação foi batizada de “Operação Martelo de Ferro”, em homenagem à
atuação rigorosa da juíza Patrícia Acioli, assassinada há cerca de
quatro meses. De acordo com a PF, o grupo de policiais militares,
flagrados em escutas telefônicas autorizadas pela justiça, cobrava
propina para liberar criminosos presos durante operações na comunidade. A
tabela variava de R$ 500 a R$ 30 mil, de acordo com o ‘cargo’ ocupado
pelos bandidos na hierarquia do tráfico.
Foram presos dois policiais militares, dois traficantes e uma advogada,
que, segundo a investigação, favorecia seus clientes com informações
privilegiadas e ainda participava do pagamento de propinas aos PMs.
Participaram da ação 410 policiais, sendo 330 agentes federais por
terra, ar e mar. A PF contou com o apoio do Gaeco, do Batalhão de Choque
e da Subsecretaria Estadual de Inteligência.Foram apreendidos material
para endolação de drogas e uma arma.
MP - A operação foi desencadeada após denúncia do
Ministério Público ao Juízo da 3ª Vara Criminal de São Gonçalo sobre o
envolvimento de 22 policiais militares e mais 24 pessoas envolvidas com o
tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, entre elas uma advogada.
Também foi decretada a prisão preventiva dos denunciados, além do
cumprimento de 51 mandados de busca e apreensão.
Entre os policiais denunciados estão dois suspeitos pela execução de
Patrícia Acioli, os cabos Jovanis Falcão Junior e Carlos Adílio Maciel
Santos. Dos 22 policiais, 18 já estavam presos pela corregedoria da
Polícia Militar, com base na investigação da PF. Dois deles tiveram o
mandado de prisão cumprido ontem: Clewton Martins Coelho, Julio Cesar de
Azevedo Alves Neto. Um policial está foragido e outro morreu.
Todos os policiais são acusados de formação de quadrilha armada para
praticar crimes de concussão, extorsão, extorsão mediante sequestro,
peculato, homicídio qualificado, entre outros.
Traficantes - Dos 23 traficantes procurados, 13 estavam presos.
Dois mandados de prisão foram cumpridos ontem, além da prisão da
advogada Diva Gouveia Cunha.
O delegado da PF Victor Hugo Poubel, coordenador da operação,
classificou a ação como embrionária. “A cidade é carente do poder
público e a região necessitava desta operação. Outras operações serão
feitas naquela região”, explicou.
O comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Djalma Beltrami, esteve no
Salgueiro, na manhã de ontem, e conversou informalmente com alguns
agentes da federais. Apesar da presença, o coronel se limitou a dizer,
apenas, que qualquer operação na sua área de atuação é bem-vinda.
Investigação teve início em 2009
A investigação da PF teve início em outubro de 2009 com o objetivo de
apurar o envolvimento de traficantes do Complexo do Salgueiro ligados à
facção criminosa Comando vermelho (CV) com Complexo do Alemão, na zona
norte do Rio e, também, com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC),
de São Paulo.
Durante as investigações, foram interceptadas conversas telefônicas
comprometedoras entre policiais lotados no 7º BPM e traficantes.
Ainda segundo a denúncia, os PMs se revezavam no recebimento de dinheiro
e vantagens dos traficantes para não reprimir o comércio de drogas no
Complexo do Salgueiro. Eles também são acusados de libertar integrantes
do tráfico presos em flagrante e de devolver cargas de drogas
apreendidas
Tráfico movimenta R$ 100 mil por semana
De acordo com o subcoordenador do Gaeco, delegado Daniel Faria Braz, o
Complexo do Salgueiro é um entreposto de drogas e armas. “Nessa região o
tráfico acontecia livremente por conta da ação dos maus policiais. Os
criminosos chegavam a movimentar R$ 100 mil por semana. Com isso, esses
policiais se favoreciam. Era uma relação paradoxal, ao mesmo tempo que
eles precisavam prender para bater suas metas no batalhão, eles soltavam
alguns traficantes para conseguir ganhos ilícitos”, afirmou.
Sobre a participação de oficiais da PM no esquema, Braz disse que não é
possível afirmar. “Não houve nenhuma identificação de oficiais nas
escutas. Não há provas objetivas”, esclareceu.
Ainda segundo Daniel, há um ano, após a ocupação do complexo do Alemão
para implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP),
traficantes teriam migrado para o Complexo do Salgueiro. “Temos a
informação de que bandidos do Alemão estejam em São Gonçalo. Há também,
naquela região, uma ligação direta com o PCC (São Paulo) que envia
drogas para traficantes do município”, revelou.
Rabicó: ‘controle’ dentro de presídio em Mossoró
De acordo com a PF, o comércio de drogas no Complexo do Salgueiro é
comandado de dentro do presídio por Antonio Hilário Ferreira, o Rabicó
ou Coroa, apontado como ‘chefe do tráfico’ e uma das principais
lideranças do Comando Vermelho (CV).
Preso desde março de 2008, inicialmente no Complexo Penitenciário de
Bangu, Rabicó foi flagrado em escutas telefônicas autorizadas pela
Justiça controlando o tráfico local por meio do telefone ou através do
repasse de informações feita pela advogada.
Atualmente, Rabicó está custodiado no Presídio Federal em Mossoró/RN.
Durante as escutas, os agentes descobriram outros homens que teriam
papel primordial para o funcionamento do tráfico na ausência de Rabicó.
Entre os denunciados está Fábio Alves de Andrade, o Tatai, Panela ou
Frigideira, que teria atuação no complexo de favelas da Penha e na
comunidade do Turano, na Tijuca. Fábio é apontado como um dos
fornecedores de drogas e armas para a quadrilha do Salgueiro.
Marcelo Hermínio Pereira, Magrinho; Renato Muniz da Costa Freire, o
Renatinho ou Acanhado; e Wallace da Silva Ferreira, o Jogador,
responsáveis por comandar o tráfico de drogas na ausência do ‘chefe’.
Os demais denunciados cumpriam funções de ‘gerentes’ das ‘bocas de
fumo’, soldados do tráfico, ‘mulas’ de transporte das drogas e
informantes. Todos são acusados de tráfico de drogas e de formação de
quadrilha para a prática de tráfico
Juíza: morta com 21 tiros
A juíza Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros dentro de seu carro, um
Idea Adventure, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, no último
dia 11 de agosto.
O estopim para a morte da juíza foi à execução do vendedor ambulante
Diego da Conceição Beliene, 18 anos – morador do Complexo do Salgueiro,
em São Gonçalo – baleado durante uma operação do 7º BPM (São Gonçalo) na
comunidade, no dia 3 de junho.
Segundo denúncia do Ministério Público (MP), o jovem agonizou durante uma hora até ser ‘socorrido’ – já
cadáver – por uma ambulância do Corpo de Bombeiros.
A última sentença da juíza foi o que motivou a sua execução. No dia 11
de agosto, dia de sua morte a magistrada avisou a advogada dos oito PMs
acusados do auto de resistência que pretendia decretar a prisão deles.
Horas depois, acreditando que a magistrada ainda não havia dado a
sentença, os policiais a teriam executado brutalmente.