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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Os Castelos ( Fernando Pessoa )


A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,

A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Europa yace, puesta en los codos:
De Oriente a Occidente yace, mirando,
Y cúbrenle románticos cabellos
Ojos griegos, recordando.

El codo izquierdo es reculado;
El derecho es un ángulo dispuesto.
Aquél dice Italia donde es posado;
Este dice Inglaterra donde, alejado,

La mano sustenta, en que se apoya el rostro.
Mira, con el mirar sphyngico y fatal,
El occidente, futuro del pasado.
El rostro con que mira es Portugal.

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26/10/2008 free counters

Free Viagra offered to pensioners


Mexico City is giving out free Viagra and other impotence drugs to men aged 70 and older.

Mayor Marcelo Ebrard said the city is implementing the plan because sexuality "has a lot to do with quality of life and our happiness." City Health Secretary Armando Ahued said the government will start handing out doses of one or two Viagra, Levitra or Cialis pills on December




They will be distributed at three centres that specialise in sexual health for the elderly. The men will receive medical examinations before receiving the pills.

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26/10/2008 free counters

DivX Player



Tocador de vídeos compatível com o formato DivX e que também oferece gerenciamento de biblioteca.

DivX_150.jpgSe você costuma baixar vídeos da web, é muito provável que já deva ter lidado com o formato DivX, que se tornou muito popular por conta da compressão utilizada, que reduz significativamente o tamanho final do arquivo sem compromete a qualidade da imagem.

Mas este formato tem um problema. Players populares (tais como o Windows Media Player) não suportam o DivX e o resultado é que muitas vezes os vídeos baixado não podem ser reproduzidos no PC.

Com o DivX for Windows este problema desaparece. Além de gratuito e capaz de lidar com tal formato de arquivo, ele oferece modos de pausa, avanço e retrocesso e reprodução em tela cheia. Também traz função de gerenciamento de biblioteca de vídeos e é capaz de queimar vídeos para discos.

Tem ainda um módulo que permite da reprodução de vídeos no formato DivX diretamente no browser. Caso não deseja ter o Yahoo Toolbar instalado, não se esqueça de desabilitar tal seleção na hora de instalar o software.

DivX_tela.jpg

Atenção leitor: antes de executar qualquer programa em seu computador, principalmente os que fazem alterações no Registro do Windows ou modifiquem informações em seu HD, lembre-se de fazer um backup de segurança do registro do sistema, criar um ponto de restauração e fazer backup dos seus dados.

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26/10/2008 free counters

Alitalia é multada por inconvenientes causados aos passageiros durante greve


Da Ansa
ROMA, 17 NOV (ANSA) - A Alitalia foi obrigada pela Entidade Nacional de Aviação Civil da Itália (Enac) a pagar uma multa de 210 mil euros pela falta de assistência aos passageiros afetados pela greve convocada por um grupo de trabalhadores da companhia, que já dura uma semana

Em um primeiro momento, parecia que a paralisação convocada não afetaria a atividade da empresa, mas durante os últimos quatro dias foram registrados diversos cancelamentos nos pousos e decolagens, além de atrasos de até duas horas.

Os sindicatos que rejeitaram o plano de resgate idealizado pelo governo do premier Silvio Berlusconi alegaram que os atrasos e cancelamentos ocorridos são conseqüência do "clima de forte mal-estar" que impera entre os trabalhadores da companhia aérea.

Segundo o presidente do Enac, Vito Raggio, já foi imposta a primeira multa à Alitalia. "Multamos a companhia pelo ocorrido no dia 10 de novembro, primeiro dia de inconvenientes para os usuários. Não se pode deixar os passageiros sem informações, abandonar os check-in ou cancelar vôos no último momento", explicou.

Nos próximos dias, outras multas podem ser aplicadas, por conta dos outros dias de inconvenientes. Riggio informou também que o Enac pretende intervir diretamente na passagem da antiga Alitalia à Companhia Aérea Italiana (CAI), que será realizada no dia 1º de dezembro.

"A redução do pessoal está sendo feita. Penso em instituir um comitê para a transição, em que estarão representados tanto a antiga como a nova Alitalia e o órgão de vigilância, para preservar os passageiros", acrescentou.

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26/10/2008 free counters

Com Nicole Kidman e Hugh Jackman, filme mais caro da Austrália cria expectativas








Divulgação
Nicole Kidman e Hugh Jackman estão em "Australia", do diretor Baz Luhrmann


SYDNEY (Reuters) - A Austrália vai lançar na terça-feira, com uma blitz de publicidade, a mais cara produção cinematográfica de sua história, esperando que o épico "Austrália" atraia turismo e investidores do exterior para injetar novo ânimo no cinema local.

Descrito como uma mescla de "Entre Dois Amores" e "E o Vento Levou", a aventura romântica de quase três horas de duração protagonizada pelos australianos Nicole Kidman e Hugh Jackman teria custado à 20th Century Fox, de Rupert Murdoch, cerca de 130 milhões de dólares.

"Austrália" é um épico do tempo da 2ª Guerra Mundial sobre uma aristocrata inglesa que viaja à Austrália e se une a um vaqueiro e uma criança aborígine para atravessar a bela e rústica paisagem australiana com um rebanho de gado.

Geoff Brown, diretor-executivo da Associação de Produtores de Cinema e Televisão da Austrália, disse que a indústria espera que o filme do diretor Baz Luhrmann atraia investidores e público de volta ao cinema australiano, após uma série de filmes sombrios que fracassaram nas bilheterias.

"Este é um filme realmente épico, rodado no estilo dos anos 1940", disse Brown à Reuters.

"É uma ferramenta de marketing para o cinema australiano. É um filme australiano do começo ao fim, rodado na Austrália com elenco, equipe técnica, efeitos especiais, iluminação e até diretor australianos. É nosso cartão de visitas para o mundo."

A Tourism Australia gastou 32 milhões de dólares em uma campanha publicitária e promoções ligadas ao filme, visando fazer do país um destino procurado, como fez "Crocodile Dundee" nos anos 1980, no momento em que a crise financeira global atinge o turismo.

A campanha recebeu uma forte injeção de ânimo na semana passada, quando a influente apresentadora de TV norte-americana Oprah Winfrey o descreveu como "o melhor filme que vi em muito, muito, muito, muito tempo".

A indústria cinematográfica local espera que o filme coloque a Austrália no mapa de Hollywood novamente como bom lugar para fazer cinema, dotado de talentos cinematográficos e como país que produz filmes de primeira linha.

Conhecido por "Vem Dançar Comigo" (1992), "Romeu e Julieta" (1996) e "Moulin Rouge" (2001), o diretor Baz Luhrmann reconheceu que será difícil para "Austrália" satisfazer as altas expectativas nacionais.

Mas ele disse que, mesmo que o filme não seja um sucesso financeiro, espera que ele ajude a atrair mais financiamento internacional à Austrália.

"Austrália" vai estrear nos Estados Unidos e na Austrália em 26 de novembro.

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26/10/2008 free counters

Faça seu próprio curry


No passado, homens lançavam-se ao mar em busca de valiosas especiarias. Elas conservavam e davam sabor aos alimentos. Valiam ouro. Algumas são milenares. Combinando algumas, chega-se ao curry

Cíntia Bertolino - O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Na Índia, o curry não se chama curry e sim masala, a palavra hindu que designa mistura de especiarias. Uma masala indiana típica leva em média oito ingredientes - a mais popular delas é a garam masala (veja receita). Mas a combinação e a quantidade de condimentos varia conforme a região, a cidade, a família e até o cozinheiro. Daí a existência de uma infinidade de receitas. As variações, aliás, atravessam fronteiras e fazem sucesso em diferentes países.

Na Tailândia, o curry é bastante picante, traz camarão na mistura e é preparado em pasta. No Japão, o karê, um cozido que pode ser de carne, peixe ou legumes, vem em tabletes numerados conforme o grau de ardência (que vai de 1 a 5). Às especiarias, os japoneses acrescentaram gordura e farinha. Existe também uma versão bem adocicada (sabor maçã e mel) e ao mesmo tempo picante.

Aproveite esta edição do Paladar: escolha as especiarias e prepare seu próprio curry. Para não se perder, use como guia as receitas abaixo, do Restaurante Curry.

POPULAR
Garam masala

1 porção
10 minutos


Ingredientes
1 colher (sopa) de cravo-da-índia; 4 folhas de louro; 4 bagas de cardamomo (só as sementes); 2 pedaços de canela em pau; 1 colher (sopa) de pimenta preta; ½ colher (sopa) de noz-moscada ralada na hora

Preparo
Aqueça uma frigideira e ponha todos os ingredientes, menos a noz-moscada. Mexa por cerca de 1 minuto até que todas as especiarias estejam bem misturadas e o aroma, intenso. Desligue o fogo e ponha a noz-moscada. Triture em um moedor de café ou liquidificador e guarde em vidro bem fechado. Dura até 6 meses.

TRADICIONAL
Curry

1 porção
10 minutos


Ingredientes
6 pimentas dedo-de-moça secas; ½ colher (sopa) de pimenta preta; 6 cravos-da-índia; 2 pedaços de canela; 3 bagas de cardamomo (só utilizar a semente); ½ colher (sopa) de cominho; ½ colher (sopa) de coentro em pó; ½ colher (sopa) de cúrcuma (açafrão- da-terra)

Preparo
Aqueça uma frigideira e adicione todos os temperos, exceto a cúrcuma. Deixe aquecer e mexa bem, com cuidado para não queimar as especiarias. Remova do fogo quando os aromas estiverem intensos. Deixe esfriar e acrescente a cúrcuma. Triture tudo num moedor de café. Mantenha em um vidro fechado. Dura até 6 meses.


- Durante séculos, a pimenta-do-reino foi usada como moeda de troca. Levemente picante, deve ser secada ao sol antes de ser moída

- Existem mais de 200 tipos de chillies, das mais às menos ardentes. Use-as conforme seu gosto

- Conhecido há 3 mil anos, o gengibre é fundamental no curry. É picante e muito saboroso

- Muito presentes na culinária do Norte-Nordeste, as sementes de cominho têm cheiro e sabor pujante

- A mostarda (Mustum ardens, mosto ardente), conhecida há séculos, pode ser branca, preta ou marrom

- A semente de feno-grego entra na composição de várias especiarias. No Egito, é muito usada em pães

- Oriundo das Ilhas Molucas, o cravo é um botão de flor não aberto. Bom em doces e salgados

- A mostarda clara tem sabor mais sutil que a escura. Ambas podem ser usadas na preparação das masalas

- Nativa do Sri Lanka, a canela era vendida a peso de ouro no século 15. Ela agrega sabor e aroma aos pratos

- O perfumado macis (também usado em pó) recobre a noz-moscada e tem sabor delicado

- O coentro desperta amores e ódios intensos, mas suas sementes são fundamentais para o curry

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26/10/2008 free counters

Curry : Tempero que nasceu da saudade


A idéia de usar vários condimentos na comida é indiana. Os ingleses provaram e adoraram. De volta à Inglaterra, inventaram o curry em pó. Não satisfeitos, batizaram de curry uma série de pratos, alguns bem picantes

Cíntia Bertolino - O Estado de S.Paulo


Felipe Rau/AE

Tons de curry

SÃO PAULO - É inevitável pensar no Taj Mahal, em Hrundi V. Bakshi e em Bollywood (a versão indiana, mais colorida e musical, de Hollywood) quando se está diante de um perfumado prato cor de sândalo. Associar a mistura de especiarias chamada curry à Índia não está errado. Esse pó dourado simboliza a culinária indiana para uma grande parcela da população mundial que se interessa por culinária. Seria um estandarte e tanto, não fosse um detalhe: o curry, como se conhece hoje, é uma invenção inglesa, o que faz dele uma espécie de Carmen Miranda dos temperos.



A essência do curry nasceu na Índia, fato indiscutível como o de que a Pequena Notável nasceu em Portugal. Mas foram os ingleses os responsáveis por botar aqueles ingredientes juntos num potinho - assim como foram os brasileiros os responsáveis pelos balangandãs da cantora.

Pode parecer um caso de apropriação indébita, mais um abuso colonialista, mas o curry nasceu da saudade, da nostalgia dos ingleses que voltavam para casa após uma longa temporada na Índia. Os súditos da rainha tomaram contato com a saborosa culinária indiana - temperada com folha de curry, coentro, pimenta, canela... - por volta de 1612, início da ocupação inglesa do subcontinente indiano.

De volta ao lar, criaram uma mistura em pó para tentar imitar os sabores experimentados no estrangeiro. Segundo o pesquisador Alan Davidson em seu The Oxford Companion to Food, essa masala (mistura de temperos) ou curry em pó já era vendida na Inglataerra no final do século 18. A partir daí, surgiram centenas de combinações, mais doces ou picantes, conforme o país, região e paladar.

Curry também é a designação de um prato - geralmente um ensopado de carne de vaca, cordeiro, frango, peixe ou legumes - muito popular no Reino Unido, onde são consumidos 3,5 milhões desse tipo de refeição por semana.

Reputado por fazer um dos melhores curries da Inglaterra, o chef Ajibe Khan, do restaurante Le Raj, em Epsom, Surrey, contou ao Paladar o segredo de seu popular chicken tikka masala, que aliás, é uma receita tipicamente inglesa: "Só usamos condimentos orgânicos, importados de pequenas fazendas em Bangladesh. É a qualidade das especiarias que dá a nossos pratos o sabor e a cor vibrante que outros restaurantes só conseguem usando aditivos. Além disso, a maneira como cozinhamos é artística", diz.

Em São Paulo, o chef japonês Shin Koike, do Aizomê, prepara para o ano que vem a abertura do restaurante dedicado ao karê, o curry à moda oriental, que leva também gordura e farinha. A casa vai se chamar GoGo Curry.

Já Manuela Mantegari Narvania, do restaurante Curry (R. Barão de Melgaço, 636, Real Parque, 3567-2777), aprendeu com a sogra indiana muito do que oferece em seu cardápio. Em seu restaurante o cliente pode dosar o teor da picância. Manuela preparou para o Paladar duas saborosas receitas desta página. Então, nem pense em usar óleo de oliva!


LE RAJ RESTAURANT
Chiken tikka masala

4 porções
30 min.


Ingredientes

1 peito de frango cortado em 6 ou 8 pedaços; 2 colheres (chá) de pasta de alho orgânico; 2 colheres (chá) de pasta de gengibre; 1 colher (chá) de garam masala tostado; 1 pitada de cúrcuma; 2 colheres (sopa) de iogurte; 1/2 colher (chá) de mostarda em pasta; 1 colher (chá) de óleo; 1 colher (chá) de suco de lima; 1 colher (chá) de purê de tomate; 1 colher (chá) de purê de beterraba; 1 colher (chá) de purê de cebola; 1 colher (chá) de farinha de amêndoa; 1 colher de coco ralado fino; 1 colher (sopa) de creme de leite fresco

Preparo

Junte o alho, gengibre, garam masala, cúrcuma, sal, iogurte, purê de tomate e mostarda. Misture tudo, acrescente o frango e deixe marinar por 24 horas. Asse o frango no forno, se possível no tandoor. Ponha o óleo numa panela, acrescente o alho, gengibre, purê de cebola, purê de tomate, purê de beterraba e a farinha de amêndoa. Coloque o frango no óleo e deixe fritar por 5 minutos. Sirva o frango com uma misture de coco e creme de leite.


RESTAURANTE CURRY
Murg malai kabab

2 porções
25 min.


Ingredientes

250g de peito de frango em cubos; 100g de castanha de caju; 1 cebola picada; 2 tomates picados em cubos; 2 dentes de alho; 1 colher (chá) de gengibre ralado; ¼ de litro de água (aprox.); 1 colher (chá) de cominho; 1 colher (chá) de pimenta-do-reino; 1 colher (chá) chili; 1 colher (chá) de curry; 1 colher (chá) de açafrão-da-terra; 1 colher (chá) de tandoori masala; 1 copo de iogurte natural; Sal a gosto

Preparo

Bata a castanha de caju no liquidificador com a água (a água tem que cobrir toda a castanha), por cerca de de 5 minutos até formar uma mistura cremosa. Reserve. Doure a cebola e adicione o alho, gengibre, tomates, misture os temperos e doure até ficar na consistência de um molho. Acrescente a castanha de caju e misture por cerca de 8 min. Adicione mais água se necessário. Deixe o molho esfriar, ponha o iogurte e o peito de frango. Deixe marinar na geladeira por 12 horas. Coloque os cubos num espeto de assar e leve ao forno até estarem cozidos por dentro e dourados por fora.


RESTAURANTE CURRY
Jhinga masala

2 porções
20 min.


Ingredientes

250g de camarão rosa; 2 tomates; 1 cebola; 100g de creme de leite; 1 colher (chá) de garam masala; 1 colher (chá) de pimenta-do-reino; 1 colher (chá) de cominho; 1 colher (chá) de curry; 1/4 de limão; 1 pitada de coentro fresco; sal a gosto

Preparo

Frite a cebola, adicione os tomates e misture os temperos até dourar. Desligue o fogo quando ganhar textura de molho. Adicione o limão, o camarão e cozinhe por 5 minutos. Apague o fogo, acrescente o creme de leite, salpique o coentro fresco e sirva.

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26/10/2008 free counters

Grupo armado invade e rouba condomínio em São Paulo

SÃO PAULO - Um grupo de 20 homens armados invadiu e roubou, na manhã de hoje, o condomínio residencial Jardim Petrópolis, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos usavam camisetas com inscrição da Polícia Civil e teriam entrado no condomínio após dizerem ao zelador que estavam investigando uma ocorrência de tráfico de drogas.



Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado, pelo menos oito moradores foram roubados. Os suspeitos levaram uma carteira, cartões de crédito, um talão de cheque, documentos, dois óculos, uma câmera digital, um laptop, duas alianças, um anel, uma calculadora, cinco celulares, três relógios e R$ 3 mil em dinheiro. Até por volta das 18 horas, ninguém havia sido preso, conforme informações da secretaria.

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26/10/2008 free counters

Cerca de mil mulheres são julgadas por aborto no MS


150 já foram indiciadas e 26 condenadas, realizando trabalhos para entidades filantrópicas como pena

João Naves de Oliveira, de O Estado de S. Paulo


CAMPO GRANDE - Quase mil mulheres estão sendo indiciadas e julgadas pela prática de aborto em uma clínica de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Segundo a delegada que preside os inquéritos, Regina Márcia Rodrigues, de julho último até este mês, 150 já foram indiciadas e os processos são encaminhados para o juiz Aluízio Pereira dos Santos, que já condenou algumas das acusadas a penas alternativas.

Leia reportagem completa na edição desta terça-feira de O Estado de S. Paulo

"È uma situação é muito constrangedora", afirma uma das indiciadas acrescentando que "eles vão fundo nos interrogatórios". Santos concorda, explicando que é necessário invadir a privacidade nesses casos, procurando detalhes da vida sexual e não raras vezes exigir exame de corpo de delito, ouvir namorados, familiares entre outros procedimentos que a questão exige. Das 150 indiciadas que passaram por interrogatório, 37 foram julgadas e 26 condenadas, realizam trabalhos para entidades filantrópicas.

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26/10/2008 free counters

Incidente paralisa parte do pregão na BM&F, Operador atirou contra o próprio peito


Operador atirou contra o próprio peito, foi atendido no ambulatório da Bolsa e encaminhado à Santa Casa

Redação e Agência Estado


Operador é socorrido na BM&FBovespa

Sérgio Neves/AE

Operador é socorrido na BM&FBovespa

SÃO PAULO - Um incidente paralisou parte dos negócios da BM&F por volta das 15h30 desta segunda-feira, 17. Segundo a assessoria da BM&FBovespa, um operador de 36 anos da Corretora Itaú deu um tiro contra o próprio peito durante o pregão. Ele foi socorrido imediatamente no ambulatório da bolsa e transferido para a Santa Casa de São Paulo, que informou que seu estado de saúde é grave.

Em razão do tumulto, os negócios com índice futuro na roda foram parcialmente paralisados pelos próprios operadores, mas não houve decisão da BM&FBovespa para interrompê-los. Os negócios no pregão eletrônico continuaram normalmente.

Texto atualizado às 16h20


(SERÁ QUE O AMBULÁTORIO ESTAVA PREPARADO PARA ESSE TIPO DE OCORRÊNCIA? COM OS EQUIPAMENTOS ADEQUADOS? MEDICAMENTOS ? PROCEDIMENTOS?

A BOVESPA PRATICAMENTE NÃO EXISTE MAIS , FOI COMPRADA PELA BMF E BANCOS... QUASE TODOS OS FUNCIONÁRIOS DA BOVESPA NÃO ESTÃO MAIS ATUANDO, DEVERIA CHAMAR BMF E CIA )


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26/10/2008 free counters

Un millonario alemán pierde cientos de millones apostando a la baja por Volkswagen


Merckle, el quinto alemán más rico, está en conversaciones con un numeroso grupo de bancos para conseguir un crédito puente

ELPAíS.com - Madrid - 17/11/2008


La volatilidad enquistada en los mercados bursátiles desde el estallido de la crisis financiera mundial está dando lugar a curiosas situaciones. Uno de estos episodios fue el fuerte repunte de las acciones del grupo automovilístico alemán Volkswagen al calor de los movimientos especulativos de los fondos de alto riesgo. Pero también ha provocado una crisis en la economía particular de uno de los principales millonarios de Alemania.


Según informa hoy el Financial Times, Adolf Merckle, miembro de una familia con una larga tradición empresarial y cuyas compañías dan empleo a unas 100.000 personas, está en conversaciones con al menos 40 bancos para conseguir un préstamo puente después de perder cientos de millones de euros por apostar que las acciones de Volkswagen iban a bajar.

Pero al final los pronósticos que apuntaban a un descenso en los títulos del fabricante alemán por culpa de la caída de ventas se vieron superados por los movimientos accionariales de Porsche, hasta convertirse en su accionista de referencia. Fuentes de VEM, el brazo inversor de Merckle, que es el quinto alemán más rico con un patrimonio de 9.200 millones de euros según Forbes, no han querido comentar los contactos al FT.








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26/10/2008 free counters

Digital + y Vodafone lanzan una oferta conjunta de banda ancha y televisión


Los operadora completa con la televisión de Sogecable su oferta de telefonía y acceso a Internet

ELPAÍS.com - Madrid - 17/11/2008


Vodafone y Digital+ han firmado un acuerdo para ofrecer una oferta conjunta de acceso a Internet de banda ancha y televisión vía satélite.


Los clientes de Digital + que se sumen a estar promoción van a obtener hasta un 15% de descuento durante 6 meses al contratar la oferta de Vodafone ADSL. Por su parte, los clientes de Vodafone ADSL podrán disfrutar de cualquier paquete y modulo de Digital + durante un período de hasta 3 meses de forma totalmente gratuita, además de un regalo de hasta 2 meses de Abono Fútbol+.

Los nuevos clientes a Digital+ accederán al servicio sin incurrir en costes adicionales, ya que la antena, instalación y cuota serán totalmente gratuitas.

"Estamos muy satisfechos de que Vodafone España haya elegido Digital+ como su oferta audiovisual para completar su paquete triple-play" apunta Carlos Abad, Director General de Sogecable. "Con este Acuerdo los clientes de Digital+ podrán acceder a este nuevo servicio de Vodafone de banda ancha fija y móvil al mejor precio".

El servicio de ADSL de Vodafone se ofrece en dos modalidades -Vodafone ADSL (39,9 ¤ al mes para la opción de 12 Mb y de 34,9 ¤ al mes para la opción de 6 Mb) y Vodafone ADSL Uno (34,9 ¤ al mes para la opción de 12 Mb y de 29,9 ¤ al mes para la opción de 6 Mb).








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26/10/2008 free counters

Los tres grandes incendios de California obligan a evacuar a 26.000 personas


Los bomberos logran frenar el avance de las llamas en dos frentes pero calculan que tardarán dos días en vencer definitivamente al fuego

ELPAÍS.com / AGENCIAS - Madrid / Los Ángeles - 17/11/2008


Más de 26.000 personas han tenido que ser evacuadas ante el avance sin tregua de los tres grandes incendios que azotan el sur de California y que han arrasado en los últimos cuatro días 8.000 hectáreas. Un millar de viviendas han quedado reducidas a escombros, las pérdidas son ya millonarias y los 1.200 bomberos que trabajan en las tareas de extinción dudan en tener el fuego controlado hasta dentro de dos días.

Arnold Alois Schwarzenegger

Arnold Schwarzenegger

A FONDO

Nacimiento:
30-07-1947
Lugar:
(Graz)
Los bomberos luchan contra el fuego en Sylmar, Los Ángeles
Ampliar

Los bomberos luchan contra el fuego en Sylmar, Los Ángeles- AFP

El fuego rodea Los Ángeles (California)

VIDEO - AGENCIA ATLAS - 16-11-2008

Un fuego avivado por vientos huracanados ha devastado el suroeste de Los Ángeles (California) y obligó a 10.000 personas a abandonar sus casas. El incendio se encuentra activo desde el el jueves pasado. 222 casas han sido destruidas. - AGENCIA ATLAS

    Estados Unidos

    Estados Unidos

    A FONDO

    Capital:
    Washington.
    Gobierno:
    República Federal.
    Población:
    303,824,640 (est. 2008)

"Han sido unos días muy duros para la gente del sur de California. Hemos tenido la tormenta perfecta: vientos muy fuertes, altas temperaturas y sequedad", ha resumido el gobernador de California, el republicano Arnold Schwarzenegger, al frente del dispositivo de emergencia.

Uno de los incendios, el más peligroso porque los bomberos apenas han frenado su avance, amenaza la ciudad de Los Ángeles. La lengua de fuego se mueve en dirección norte animada por los fuertes vientos hacia los condados de San Bernardino y Los Ángeles. Al menos 150 casas han quedado reducidas a escombros este domingo y otras 3.500 estructuras corren serio peligro de acabar devoradas por las llamas, informa Los Ángeles Times en su página web. El fuego, que se desató a última hora del viernes, está considerado como uno de los peores registrados en la ciudad californiana en el último medio siglo. De momento 11 personas han resultado heridas en la región por quemaduras leves o intoxicaciones menores debidas a la inhalación de humo.

Los otros dos fuegos que afectan a California están localizados en Santa Bárbara, zona favorita de la gente rica y donde las llamas han arrasado 200 mansiones, y Sylmar, a las afueras de Los Ángeles. Los bomberos han logrado progresos significativos en estos dos frentes durante las últimas horas. El incendio de Sylmar está controlado en un 40% gracias a que el viento ya no sopla con tanta fuerza que en los días previos. Con todo, han ardido 3.800 hectáreas y 10.000 personas permanecen fuera de sus hogares tras ser evacuadas por las autoridades. Cinco bomberos y un vecino han sufrido heridas.

En busca de supervivientes

El episodio más dramático se vivió este sábado en un parque de caravanas o remolques de Sylmar. Allí el fuego redujo a cenizas alrededor de 600 remolques que mucha gente utiliza como vivienda barata.

Aunque en principio no hay constancia de que se produjeran fallecidos, la policía está usando perros especializados en rescates para encontrar posibles cadáveres de residentes de avanzada edad que las autoridades temen que no hayan podido escapar a tiempo. "El fuego se propagó tan rápido por todo el parque que no había manera de pararlo. Fue como encender unas cerillas", ha dicho Schwarzenegger.

Por otra parte, el alcalde de Los Ángeles, Antonio Villaraiosa, ha advertido de que es posible que las autoridades ordenen, por motivos de seguridad, la interrupción del suministro eléctrico. "El fuego está amenazando al suministro", ha declarado Villaraigosa, que ha advertido de la posibilidad de apagones provisionales, y que alternarían entre los diversos barrios de la ciudad para intentar conservar la mayor cantidad de energía posible. "Tendremos que acudir a cortes rotativos", ha explicado.







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26/10/2008 free counters

CADA VEZ MAIS JOVENS






Cada vez mais jovens

Em dez anos, o consumo de maconha cresceu
quatro vezes entre os adolescentes de 16 a 18 anos.
E a tolerância aumentou. Polícia, Justiça e
escola têm punido menos o usuário

Monica Gailewitch


Selmy Yassuda
A atriz Maria Mariana começou a fumar aos 14 anos. Logo na primeira experiência seu pai, Domingos de Oliveira, percebeu que ela havia fumado: ele não achou nenhuma tragédia e deu o aval para que ela usasse a droga em casa

A maconha é a droga ilícita mais tolerada pelos brasileiros. Embora o consumo tenha aumentado regularmente nos últimos anos, a polícia prende menos usuários, a Justiça condena pouco e a escola aceita mais. Dados da Secretaria de Segurança Estadual do Rio de Janeiro mostram que o número de pessoas flagradas com maconha vem diminuindo consideravelmente. Em apenas um ano, houve uma redução de 60%. No Estado de São Paulo, foi de 30%. Em Porto Alegre, os casos caíram pela metade. A situação é semelhante em outras capitais brasileiras. A análise dos últimos censos penitenciários não deixa margem a dúvidas: o volume de condenações por uso de drogas caiu mais de 20% nos últimos anos. Entre as maiores escolas particulares do país, o número de expulsões relacionadas com o uso de maconha também baixou. Hoje, em apenas um de cada dez casos, o estudante é convidado a se desligar do estabelecimento. Geralmente, quando fuma dentro das dependências do colégio.

De acordo com um cálculo aproximado, quase 700 toneladas de maconha são consumidas todos os anos no país. É quantidade suficiente para a confecção de 700 milhões de cigarros e para deixar satisfeitos algo como 5 milhões de usuários – um sétimo do número de fumantes de tabaco. No ranking do consumo das drogas, ela vem quilômetros à frente de crack, cocaína, heroína ou ecstasy (veja quadro). Um levantamento de uso de drogas entre estudantes em dez capitas brasileiras, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelou que o consumo freqüente da maconha quadruplicou em apenas dez anos. O dado mais impressionante, no entanto, é outro. Conforme uma tendência também observada em outros países, esse aumento é maior entre adolescentes e jovens na faixa que vai dos 16 aos 18 anos. Nessa comunidade muito jovem, 13% das pessoas fazem uso da maconha no Brasil. Outro fato surpreendente: algumas estimativas extra-oficiais informam que até 50% dos jovens brasileiros experimentaram a Cannabis sativa, nome científico da erva, pelo menos uma vez na vida. Isso significa que se chegou perto de uma situação em que a dúvida não é mais saber se uma pessoa vai experimentar um cigarro de maconha. Agora, a pergunta mais realista é quando ela fará isso.

O problema desse avanço da maconha é a banalização do vício. A tolerância com o álcool e o cigarro produziu o fenômeno do "cigarrinho" e da "cervejinha". Hoje, já há quem use a expressão "baseadinho" para tratar de uma droga que, como o cigarro e o álcool, tem efeitos colaterais ruinosos. Segundo os especialistas, a maconha produziria uma perda da capacidade cognitiva. Ao fumar um baseado duas a três vezes por semana, o consumo médio de um usuário, a pessoa passa a apresentar alguma dificuldade para reter conhecimentos. Muitos usuários relatam uma perda da capacidade de memorização e também de aprendizado. Mesmo depois da interrupção do uso, o efeito pode persistir. A segunda característica é a perda da motivação. As pessoas, em geral, desistem de projetos a longo prazo e alegam cansaço para tarefas simples. "Quando você fuma, não segue uma seqüência lógica. A atenção fica flutuante. Depois de um tempo, essa postura acaba prevalecendo", diz F.P., estudante paulista de 23 anos e usuário.

Tanto no Brasil quanto em outros países, a maconha conquistou uma legião de usuários na década de 70, durante a fase "paz e amor", que se esticou por anos, sob a influência do movimento hippie dos Estados Unidos. A juventude que usava cabelos enormes, roupas desalinhadas e muito coloridas, numa manifestação de repúdio à cultura bem-comportada das gerações anteriores, também tomou a maconha como um de seus apetrechos na aventura de, como pensava, criar um mundo melhor. O sonho um dia acabou, como se sabe, e a religião do protesto pelas atitudes só sobreviveu em núcleos minúsculos e inexpressivos. Assim, é de perguntar o que faz a maconha conquistar velozmente uma geração de garotos e garotas tão novos nos dias de hoje. Existem várias razões apontadas pelos usuários, jovens ou não, para fumar maconha. Em primeiro lugar, obviamente, os consumidores usam a erva porque sentem que ela lhes proporciona sensações compensadoras. O publicitário paulista R.L., 25 anos, diz que ao fumar maconha sente que "trocou um chip". De repente, passa a ficar despreocupado, sente-se mais divertido e vê as coisas de outra maneira, conta ele. R.L. adora fumar maconha e andar de patins. Em sua opinião, o vento bate em seu corpo de outra maneira, e ele passa a respirar de forma mais satisfatória. Tudo fica mais colorido. "Vou continuar usando enquanto me fizer bem", afirma o publicitário, que fuma três baseados por semana. A mesma sedução a erva exerce sobre o médico D.J., 45 anos, morador de Brasília. Todas as semanas, ele fuma pelo menos uma vez, geralmente com os amigos. O médico diz que passa a reparar em coisas que não perceberia se estivesse sóbrio. Gosta de tocar músicas e fala que seu desempenho ao violão melhora muito quando fuma a erva. "Pareço sentir a música. Para mim, funciona como um drinque depois do expediente", conta o médico.


Orlando Brito
Gabeira: "Os consumidores de maconha de hoje não se enquadram em nenhum estereótipo. Não dá para desconfiar"


A maconha tem ainda sobre as concorrentes a vantagem de já ser considerada uma droga relativamente leve, diante da devastação física e psicológica provocada pelas mais pesadas. Por fim, ela é mais barata. Por 1 real, consegue-se um cigarro. A erva consumida no Brasil vem de dois lugares, do Nordeste e do Paraguai, transportada para os grandes centros em caminhões ou pequenos aviões. Ao chegar às cidades grandes, é dividida em blocos de 10 quilos para traficantes médios, que repartem esses sacos em volumes de 1 quilo cada um para vender aos pequenos traficantes. O preço da maconha vai crescendo conforme o ponto da rota em que se está. O quilo fica entre 30 e 60 reais no sertão de Pernambuco, onde é produzida. Em Ponta Porã (MS), na rota que vem do Paraguai, custa entre 50 e 100 reais. Em Santa Catarina, já se pagam 250 reais por 1 quilo, que bate nos 500 em São Paulo e em 1.000 reais no Rio. Apesar da diferença de rotas entre maconha e cocaína, a rede de traficantes é a mesma. A Polícia Federal diz que o tráfico da erva foi uma etapa anterior à da distribuição da cocaína. Quando passaram a ter contato com os cartéis colombianos de pó, os traficantes já tinham a experiência de distribuir a maconha pelo país e precisaram só fazer a adaptação do sistema à mercadoria mais lucrativa que vinha dos cartéis.

Encontrar a droga está longe de ser um problema para alguém que decida usar maconha. Numa pesquisa recente feita pela Unifesp, cerca de 70% dos usuários consideraram muito fácil achar quem lhes venda. Em geral, o usuário obtém a maconha com um amigo próximo. Alguma pessoa ligada a um pequeno traficante consegue uma quantidade maior e repassa aos outros do grupo. Aquela história de que é preciso subir morro para conseguir um baseado é apenas parte da verdade. A universitária carioca T.L., 20 anos, diz que para comprar a droga só precisa apertar o botão do elevador e sair da portaria de seu prédio. Uma vez por semana, o fornecedor da vizinhança, um jovem de 21 anos que luta jiu-jítsu, passa regularmente com a mercadoria. O encontro é às 18 horas de sexta-feira. Ele pára em frente do prédio dela num bairro de classe média do Rio e faz o sinal: um assovio. A jovem desce do prédio e pega o pacotinho. A trouxinha, com capacidade para dois baseados, custa 2 reais. Muitas vezes, há mais de uma pessoa para comprar a droga e uma delas toma a iniciativa de acender um cigarro ali mesmo na rua. Quando isso acontece, geralmente se passa o cigarro também às pessoas em volta para um "tapinha". Ao contrário da cocaína, a maconha é uma droga mais democrática no sentido distributivo.


Cadu Pilotto
A atriz Claúdia Ohana já experimentou, mas não quer que sua filha Dandara use a droga

A mudança em relação à década de 70 é espantosa. Naquele tempo, havia um preconceito explícito contra quem fazia uso de maconha. O deputado federal Fernando Gabeira, do Rio, lembra que existiam apenas dois caminhos para o jovem rebelde: a luta armada ou o fumo. Gabeira, que percorreu os dois, diz que fumar era uma maneira de protestar contra o sistema e aderir aos ideais pacifistas daqueles conturbados anos. Entre os universitários e intelectuais de esquerda, consumir a erva tinha um significado difuso que poderia traduzir-se em oposição a várias coisas praticadas pelas outras pessoas. Significava, por exemplo, opor-se às guerras, como a do Vietnã, à destruição da natureza e, no caso do Brasil, à ditadura militar que governava o país. Diferentemente de Gabeira, a maioria dos brasileiros jovens e rebeldes aderiu apenas à droga. No início, o grupo de maconheiros era pequeno e facilmente identificável. Além dos cabelos compridos, da calça boca-de-sino, das batas e outros adornos no estilo indiano, muitos deles adoravam pendurar uma foto "rebelde" na parede do quarto, como a do líder guerrilheiro Che Guevara ou do cantor jamaicano Bob Marley. Na Jamaica, maconha é uma religião.

"Era uma curtição", lembra o arquiteto mineiro A.N., 57 anos. Ele usou a droga pela primeira vez em uma viagem à Bahia. Estava com os amigos e doido para saber o que era aquilo de que as pessoas tanto falavam. Da curiosidade, passou ao vício. Fumou todos os dias durante cinco anos. Hoje, "aperta um" raramente. Clientes e colegas nem sequer desconfiam que A.N., um senhor seriíssimo, seja um maconheiro com mais de trinta anos de estrada. Para essa geração, a maconha passou a ser cultuada como uma droga que permitia a reflexão e a divagação, observa o deputado Gabeira. O passo seguinte foi a adesão de outras turmas, como surfistas e universitários. Não há uma figura que sintetize o maconheiro de hoje em dia. Existem cabeludos, carecas, atletas, sedentários, descolados, pobres, ricos, jovens e velhos fumando maconha. E a droga é consumida livremente em lugares como praias, universidades e shows de rock. "Os consumidores de hoje não se enquadram em nenhum estereótipo. São pessoas das quais ninguém desconfiaria", diz Gabeira, que lança um livro sobre o tema no próximo mês.

A maconha resistiu ao avanço de várias outras drogas. Na década de 80, a cocaína se tornou uma coqueluche. Em certos meios, como o mercado financeiro, com seu ritmo alucinante, o pó prosperou muito nesse período. Mais tarde, veio o crack, um tipo de pasta de cocaína para as camadas mais pobres da população e, recentemente, o ecstasy, droga bastante utilizada pelos que gostam de passar a noite inteira sacolejando em danceterias. Comparados aos efeitos dessas drogas, os da maconha são muito mais brandos. Ninguém, por exemplo, vai morrer de overdose de maconha. Seu poder viciante também não é tão alto. De cada dez pessoas que experimentam a erva, só uma desenvolverá dependência. Em usuários de cocaína, esse número é cinco vezes maior. Os males mais freqüentes da Cannabis são comparáveis aos do cigarro e do álcool. Com a vantagem de não deixar a pessoa mais agressiva ou propensa a algum tipo de ato violento, como no caso do álcool. O cantor Lobão, 42 anos, que fez a transição da maconha para a cocaína, vê uma diferença fundamental entre a erva e o pó. "A maconha é um poderoso relaxante mental e muscular. Você fica mais introspectivo. A cocaína é como uma bateria extra. A pessoa ganha uma energia que não tinha. Passa a pensar rápido e se acha brilhante", diz.


A revista High Times, especializada em todos os assuntos ligados à maconha: a droga vem ganhando espaço. Na Holanda e em Portugal, maconha não dá cadeia

Muitos dos que se viciam em maconha passam depois para drogas mais pesadas, como foi o caso de Lobão. Os especialistas afirmam que essa passagem é bastante comum. A erva seria, segundo eles, uma porta de entrada para outras drogas. Isso não significa que toda pessoa que fuma maconha vai passar a cheirar cocaína no mês seguinte e a fumar crack até o final do ano. No entanto, mais de 90% dos usuários dessas drogas fizeram primeiro um estágio na maconha. Estatísticas do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo americano mostram que um em cada quatro consumidores de maconha já experimentou cocaína. O motivo é simples. As mesmas razões que induzem ao baseado podem arrastar a pessoa para o pó. Entre os vários motivos que levam o jovem a fumar maconha, há alguns mais freqüentes: desequilíbrio familiar, necessidade de auto-afirmação perante um grupo de amigos e também a curiosidade. Como essas situações são mais comumente encontradas entre adolescentes e jovens, é explicável por que razão a faixa com maior número de consumidores é a que vai dos 16 aos 18 anos de idade. "Antes, o encontro com a droga acontecia na faculdade. Hoje, a primeira experiência se dá no colégio", diz o psiquiatra Ronaldo Larangeira, professor do departamento de psiquiatria da Unifesp. Todos os adultos sabem o que é a busca de auto-afirmação das pessoas mais novas. Para elas, a necessidade de se sentirem aceitas por seu grupo social é muito maior. Aos olhos inexperientes de alguns jovens, o fumante de maconha revela certa autoconfiança, determinado tipo de coragem, porque faz algo que é proibido. Essa combinação pode tornar-se incontornável para pessoas mais frágeis. Um caso típico é o da estudante paulista Kamila Romero, 19 anos. Kamila sempre via os amigos do bairro usando a droga. O desejo de fazer parte da turma levou a menina a experimentar a erva. Passou a fumar todos os finais de semana e em pouco tempo havia trocado as velhas amizades por novos amigos. Hoje freqüenta uma clínica para dependentes de maconha. Comentário de sua mãe, Lourdes Romero, 47 anos: "Acho que acabei me tornando uma mãe ausente por causa do trabalho. Mas estou apostando tudo no tratamento. Já sinto minha filha mais próxima de mim".


João Passos
O cantor Lobão, hoje afastado das drogas, fez a transição da maconha para a cocaína: "Toda droga é um risco"


Entre os pais, os mais tolerantes são justamente aqueles que já fumaram. A atriz Maria Mariana tinha o aval do pai, o dramaturgo Domingos de Oliveira, para consumir maconha. Ela experimentou a erva aos 14 anos num condomínio onde morava. Assim que terminou de fumar, foi para casa. O pai, Oliveira, abriu a porta e, ao reparar que a menina estava com os olhos vermelhos, perguntou se ela tinha fumado. Sim, tinha. Para o dramaturgo, não foi nenhuma tragédia. Na sua visão, experimentar maconha era uma espécie de rito de passagem. Ele próprio chegou a provar a droga, mas não gostava de fazer uso dela porque se sentia um pouco abobado quando fumava. Com a concordância dos pais, Mariana fumou muito durante três anos dentro de casa mesmo. Hoje, não tem boas lembranças desse período e reprova o consumo da droga. A atriz diz que a maconha deixa as pessoas sem iniciativa e que ficava deprimida com o uso. A atriz Cláudia Ohana fuma apenas em festas e em ocasiões especiais. Ela não gostaria que sua filha Dandara, 16 anos, fumasse maconha. Mas as duas já conversaram sobre o tema e Cláudia disse à filha que, se for experimentar, faça tudo dentro de casa.

Entre as razões que facilitam a adesão à droga, cita-se com freqüência o ambiente familiar desajustado. Um estudo sobre a relação entre pais e filhos e o uso de maconha, conduzido pelo Hospital Mount Sinai, nos Estados Unidos, que teve início em 1979 e ainda está em andamento, mostrou que crianças agressivas, que têm um relacionamento distante com os pais, estão mais predispostas a usar maconha na adolescência. Os especialistas também citam como fator capaz de favorecer a inclinação pela droga o autoritarismo excessivo de alguns pais ou seu inverso, a incapacidade de impor autoridade aos filhos. O fato é que, se alguém fuma maconha, isso não significa que jamais deixará de fazê-lo. Ao contrário. Segundo levantamentos, uma em cada quatro pessoas que experimentam a droga o faz por duas ou três oportunidades e pára. Até os antigos viciados muitas vezes se livram da escravização à droga. "O trabalho de recuperação tem até 40% de chance de sucesso", diz Elisaldo Carlini, especialista no tema e professor da Universidade Federal de São Paulo.


Ricardo Benichio
Ambulatório da maconha, ligado à Unifesp: o trabalho de recuperação com os viciados tem 40% de chance de funcionar sem nenhum problema


No Brasil, consumir drogas é crime. Os infratores estão sujeitos a uma pena que varia entre seis meses e dois anos e que está prevista no artigo 16 do Código Penal. Como esse artigo vem sendo cada vez menos aplicado, VEJA ouviu vinte delegados das polícias Militar, Civil e Federal para saber quais os motivos que as estão levando a abrandar o tratamento aos usuários. As respostas foram parecidas. A droga continua sendo uma prioridade para a polícia. Tanto que as apreensões de maconha cresceram oito vezes de 1993 para cá. O que mudou foi o foco. O policial não tem mais interesse em prender fumantes de maconha por três razões básicas. A primeira é que é outro o conceito que a polícia tem do usuário. Hoje, ele é visto como uma pessoa que precisa de ajuda e não como um criminoso. "A polícia é um reflexo da sociedade. Se a maconha é tolerada largamente, o policial fica influenciado por isso", diz o ex-coronel da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, atualmente especialista em segurança pública do Instituto Fernand Braudel, um centro de pesquisa de São Paulo.

Nas instituições policiais, a explicação para a tolerância com o usuário de maconha está num termo jurídico: adequação social. De acordo com juristas ouvidos por VEJA, a Justiça condena aquilo que é reprovado pela sociedade. Quando uma contravenção passa a ser tolerada pelas pessoas, as sentenças sofrem imediatamente esse reflexo. É o mesmo princípio que leva à complacência com os apontadores do jogo do bicho, por exemplo. Os juízes passam a não condenar o usuário de maconha porque o consumo dessa droga específica não é mais tão recriminado pelas pessoas. No máximo, punem com penas alternativas como trabalhos comunitários e multas. No caso de menor de 18 anos, o tratamento também mudou. Hoje, ele é conduzido às varas da infância e juventude. Lá, é avaliado por uma assistente social e por um médico enquanto espera o julgamento, que em geral ocorre no mesmo dia. As detenções são raras. Os pais são convidados a participar de palestras de orientação sobre drogas e os adolescentes encaminhados para fazer um curso antidrogas e, se for o caso, um tratamento médico. É uma mudança significativa para quem sempre tratou essa questão a bordoadas. "Temos observado que orientar ajuda mais do que repreender de forma enérgica", diz Aglausio Novais Filho, delegado titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, no Rio de Janeiro.


Ricardo Benichio
Kamila, 19 anos, experimentou a droga para fazer parte da turma do bairro. A mãe, Lourdes, não desconfiou


A visão da maconha dentro das escolas também mudou. VEJA ouviu vinte pessoas na área da educação. Foram diretores de instituições particulares, associações de pais e mestres e sindicatos de professores. Todos os entrevistados confirmaram que o tema é tratado com muito mais flexibilidade hoje em dia. Alguns disseram que a maconha é um problema cotidiano nas escolas e, se todos os alunos fossem expulsos, as salas ficariam reduzidas quase à metade. A solução de uma parte dos estabelecimentos foi criar programas de prevenção, em que o assunto é discutido, e introduzir o tema em diversas disciplinas do currículo escolar. Uma pesquisa realizada recentemente pelo Colégio São Vicente de Paulo, onde estudam filhos da elite carioca, revelou que 40% de seus alunos já usaram a maconha, 18% são consumidores esporádicos e 6% são dependentes. O resultado levou a instituição a criar um projeto em que profissionais especializados e coordenadores promovem palestras, dinâmicas de grupo, debates e filmes sobre drogas. O Colégio Objetivo, em São Paulo, também afrouxou o tratamento: não expulsa os alunos que fumam maconha desde 1998. "Houve um aumento considerável no número de casos e nós preferimos adotar uma política de prevenção e orientação", diz Alfredo Antonio Fernandes, coordenador-geral do Colégio Objetivo Júnior. Uma prova de que a maconha atingiu um patamar que nunca havia alcançado: a aceitação.



O que acontece depois

Depois da primeira tragada, a maconha não demora para fazer efeito. A ação da droga chega ao seu pico máximo em apenas vinte minutos. Quem fuma a erva sente um relaxamento geral, aumento da percepção dos sentidos, uma leve euforia e sensação de bem-estar. A noção de tempo e espaço fica distorcida. Os batimentos cardíacos se aceleram e a pressão sanguínea sobe. O fumante apresenta as pupilas dilatadas, certa secura na boca e tem o apetite aumentado. Em alguns casos, o usuário manifesta leve rinite e faringite. Depois de uma hora, o efeito mais forte começa a passar. A partir daí, vai diminuindo gradativamente, mas pode demorar de cinco a doze horas para passar completamente.

A maconha, cujo nome científico é Cannabis sativa, compõe-se de mais de sessenta substâncias. Mas a ação da droga no organismo é resultante de apenas uma delas: o delta-9-tetrahidrocanabinol, conhecido como THC. Ela é a substância ativa que proporciona os efeitos mentais desejados por quem consome a droga. Na década de 60, a maconha apresentava de 0,5% a 1% de THC. O que significa que a geração hippie fumava cigarros de maconha bem mais fracos que os atuais. Hoje em dia, a concentração dessa substância na droga é de 5%. O THC age no cérebro por meio de receptores específicos e outros sistemas de neurotransmissores. Normalmente, uma pequena quantidade da substância, algumas tragadas por exemplo, é suficiente para desencadear o estado de bem-estar e euforia no usuário.

A maconha tem sido o foco de um debate científico acirrado. Nos últimos anos, os pesquisadores vêm procurando dimensionar os malefícios da droga com afinco. Entre algumas dúvidas, já se sabe, por exemplo, que seu uso crônico traz conseqüências danosas à atividade cerebral e provoca câncer. Também descobriram que o THC modifica a forma como as informações sensoriais são processadas pelo hipocampo, uma parte fundamental do cérebro. Um estudo com alunos de 15 a 17 anos, realizado pelo Nida, o instituto americano de abuso de drogas, mostrou que as habilidades em que se exigem atenção, raciocínio e memória ficam prejudicadas entre os usuários pesados de maconha. Os pesquisadores compararam 65 deles, que fumaram maconha diariamente durante trinta dias, e 64 usuários leves, que usaram a droga moderadamente no mesmo período. Depois de 24 horas de abstinência de maconha, foram aplicados vários testes medindo aspectos como atenção, memória e aprendizado. Os usuários pesados cometeram muito mais erros do que os que fumavam pouco.




A maconha no mundo

A maconha é a droga ilícita mais consumida no mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que existam mais de 140 milhões de usuários espalhados pelo planeta. Os Estados Unidos são o país que mais consome. Ela é utilizada com regularidade por 9% de sua população, um contingente de 25 milhões de pessoas. Quase 36% dos americanos já experimentaram a droga pelo menos uma vez na vida. Na Europa, ela é consumida, em média, por 5% da população.

Assim como no Brasil, alguns países europeus têm uma tolerância razoável com as pessoas que fazem uso da droga. Na Alemanha, na Itália e na Espanha, o conceito de que o usuário é um caso de saúde pública e não de polícia vem aumentando. Nesses países, o consumo da maconha continua sendo um ilícito penal, mas a tolerância social a esse hábito tem crescido. Entre os europeus, dois países foram mais longe no caminho da liberalização. Em Portugal, acaba de ser aprovada uma lei que descrimina o uso de drogas. Os consumidores pegos em flagrante não serão mais presos. Agora, quando alguém for apanhado fumando um baseado, será encaminhado para tratamento médico. No máximo, será obrigado a pagar multa, que pode variar de 40 a 250 reais.

O outro país que descriminou a droga é a Holanda. Lá, os usuários podem carregar até 5 gramas de maconha sem ser perturbados pelas autoridades. Há centenas de bares que dispõem de cardápios com inúmeras variações da erva. Elas são consumidas sem a menor cerimônia pelos fregueses. Basta entrar no bar, escolher a procedência da maconha preferida e pedir ao garçom. Tem do Paquistão, da Colômbia, do Marrocos e de outros. No cardápio, igualzinho aos de um restaurante comum, existem avisos sobre qual é a droga mais forte. Para os adeptos, é uma festa.


"Guardava até as pontas"
Divulgação/Paulo de Tarso
O apresentador de TV Thunderbird: "Houve períodos em que eu comprava meio quilo de baseado para fumar"


O apresentador de TV e músico Luiz Fernando Duarte, 38 anos, o Thunderbird, foi consumidor de maconha e de outras drogas. Hoje, está limpo. Sua experiência com a erva:

Veja – Quando você conheceu a maconha?
Thunderbird – Na faculdade, aos 18 anos. Soube que um amigo estava fumando maconha e fui alertá-lo sobre os perigos da droga. Minha educação pregava que as drogas eram um monstro. Acho que isso até favoreceu meu consumo. Quando descobri que a maconha não era um monstro, mas uma coisa simples, corriqueira, percebi que os caretas estavam errados. Os loucos estavam certos. Na primeira vez, imaginei que fosse ver ETs. Só fiquei chapado. Fumei de novo no dia seguinte. Dessa vez foi uma "bomba" enorme e aí sim parecia que tinha sido abduzido por extraterrestres.

Veja – Você comprava?
Thunderbird – Comecei a usar todos os dias e vi que estava na hora de comprar. Era emocionante enfrentar todo aquele perigo de conseguir a droga. Eu me arriscava nas favelas. Naquela época, no começo dos anos 80, tudo era mais difícil. Muito mais do que é hoje. Eu me lembro de que tudo isso me encantava. Mais ainda: a turma da maconha me recebeu muito bem.

Veja – Quantos baseados você fumava por dia?
Thunderbird – Houve períodos em que eu comprava meio quilo de baseado para fumar. Só para mim. Montei uma banda que se chamava Cannabis Sativa. A gente não tocava nada. Só fumava maconha. E aí vieram os primeiros pesadelos. A maconha é muito desmotivante. Dá uma preguiça....

Veja – E os estudos?
Thunderbird – Acordava às 6 da manhã para ir à faculdade de odontologia e tinha de estudar à tarde. Fumava todos e não conseguia acordar. Começou a ficar muito difícil estudar.

Veja – Quando você descobriu que não ficava sem a maconha?
Thunderbird – Quando acabava eu sempre queria mais. Existem períodos de estiagem em que some a maconha do Brasil. Aí batia o desespero. Guardava até as pontas no cinzeiro para não ficar sem.

Veja – Você mudou seu comportamento com as pessoas?
Thunderbird – Completamente. Meu convívio com a família ficou muito difícil. Todos para mim eram caretas. Minha rebeldia nessa época foi fermentando com a maconha e cresceu muito. Em 1980, fumar maconha era um ato de rebeldia. Hoje é corriqueiro.

Veja – Até quando durou seu namoro com a maconha?
Thunderbird – Isso durou até o final da faculdade. Em 1982 briguei com a maconha. Eu fumava e ficava paranóico. Achava que estava todo mundo atrás de mim. Mas não conseguia largar. Aos 21 anos, quando me formei em odontologia, conheci a cocaína.

Com reportagem de Angela Nunes, Anna Paula Buchalla,
Maurício Oliveira, Tatiana Chiari, Ronaldo França e Silvia Rogar







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26/10/2008 free counters

Passageiros da agonia

Passageiros da agonia

No auge da vida, jovens perdem a luta contra as drogas.
Parentes rompem o silêncio e relatam seus dramas

Samarone Lima e Thaís Oyama
Fotos: Album de Familia

Cristiane Gaidies,
a "Maçãzinha", 20
anos. Assassinada
em São Paulo José Eduardo Motta, o "Duda", 24
anos. Suicídio
em Salvador, BA Pedro Públio
de Goes, 21 anos,
afogado em
Brasília, DF

Nelson Dal Poggetto matou-se aos 19 anos, deixando um bilhete de despedida para a família: "Amei muito vocês e vou tranqüilo. Isso vai ser um alívio". Tão jovem, ele sabia o que era sofrer. Desde os 12 anos envolvido com o mundo das drogas, passou da maconha e do álcool para a cocaína, e dela para o crack. "Eu sentia um cheiro de morte no ar", lembra a advogada paulista Nina Dal Poggetto, mãe de Nelsinho. Internado duas vezes, o rapaz voltava a fumar o cachimbinho de crack pouco tempo depois de receber alta. Na última vez, a mãe hospitalizada, ele não apareceu como havia combinado. Preocupada, ela telefonou para o celular. Deu caixa postal. Nina gelou. Sabia que era mais uma recaída. No dia seguinte, o menino apareceu em casa e ligou para a mãe. Estava deprimido e contou que vendera o celular para comprar a droga. "Tudo bem, filho." Nada estava bem. Nelson foi ao banheiro, tomou banho, escreveu o bilhete e deu um tiro na cabeça.
Marcelo Mesquita
Serva, 25 anos.
Overdose em
Marília, SP
Ângela Vieira
Mazzini, 32 anos.
Overdose em
Lisboa, Portugal
Nelson Dal
Poggetto, 19
anos. Suicídio
em São Paulo

Dramas como o de Nina são muito mais comuns do que as pessoas em geral gostam de acreditar. Só no ano passado, 20.000 pessoas morreram no Brasil vítimas da dependência química, entre casos de overdose, suicídios e assassinatos. É um terço de todas as baixas americanas em dez anos de guerra no Vietnã. Já seria um drama a perda de tantas vidas, em geral na flor dos anos. É pior do que isso. Meninos e meninas dependentes não lutam contra um inimigo visível ou facilmente identificável. Lutam consigo mesmos, contra a pulsão irresistível de seguir numa rota de autodestruição. Para os pais, amigos e irmãos, é impossível examinar a trajetória do jovem com a cabeça fria. Remorsos e sentimentos de culpa são inevitáveis. A pergunta que sintetiza essa dor sempre é: "Onde foi que errei?"

Na maioria das vezes, essa pergunta não tem resposta. Numa mesma família, sujeitos ao mesmo tipo de educação, um irmão será "careta", o outro, o malucão. Desfeito o namoro, uma adolescente chorará, poderá até fumar um cigarro de maconha, mas isso passa. A outra afundará em drogas cada vez mais poderosas. Os pais se separaram? Um garotão buscará conforto com os amigos, o outro... Nessa loteria, joga-se com probabilidades. Os meninos são mais sujeitos ao envolvimento com drogas ilícitas do que as meninas, na proporção de quatro para uma. Histórico familiar contendo depressão, tentativas de suicídio ou uso abusivo de álcool e drogas também contribui. Ambiente familiar desfavorável e falta de perspectivas profissionais completam o quadro do que os especialistas chamam de "fatores predisponentes". É pura estatística. Na vida real, um jovem pode não apresentar nenhum desses fatores e no entanto decair. Outro, que tenha todos, pode jamais se envolver com drogas.

Resultados da última pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Cebrid, indicam que a droga é hoje uma ameaça onipresente. O estudo aponta que um quarto dos estudantes brasileiros com idade entre 10 e 18 anos já provou alguma droga ilegal. Na Universidade de São Paulo, uma das melhores e mais disputadas do país, com clientela ultra-seleta, outra enquete revelou que um em cada três estudantes já apertou um cigarro de maconha. A imensa maioria sairá ilesa da experiência. Menos de 2% dos que experimentam tornam-se dependentes. Por que uns recebem o bilhete fatal é um mistério.

Maurício Teixeira
Branco, 16 anos.
Overdose
em São Paulo Adriana de Oliveira,
20 anos.
Overdose em
Inconfidentes, MG Patrícia Guazzelli,
23 anos. Overdose
em Canoas, RS

Substâncias alucinógenas e estupefaciantes fazem parte da história da humanidade. A Bíblia faz referência ao uso de bebidas alcoólicas, a maconha já era utilizada na China 3.000 anos antes de Cristo. Vêm da mesma época os primeiros registros do consumo de ópio, como relaxante e analgésico. No México, um cacto alucinógeno, o peiote ou mescal, integrava os rituais religiosos desde o ano 1000 a.C. Mais recentemente, nos anos 40, soldados nas frentes de batalha da II Guerra Mundial ganharam a coragem que lhes faltava para os combates na base da ingestão de anfetaminas. Aumentava-lhes a vigilância e a excitabilidade. Nos anos 60, a maconha acompanhou os jovens nas manifestações de protesto. Depois, foi tudo ao mesmo tempo. Ácido lisérgico, o LSD, cocaína, heroína, crack, ecstasy, além das drogas antigas. Trata-se de um imenso arsenal químico, oferecido todos os dias, legal ou ilegalmente, para preencher o vazio da vida ou como lenitivo para a dor e o sofrimento. "A tendência do ser humano é buscar alternativas que o ajudem a escapar de sensações dolorosas e desagradáveis. E, para algumas pessoas, a droga é uma saída para isso", afirma o professor Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia na Universidade Federal de São Paulo e diretor do Cebrid. O custo disso pode ser muito alto. Diariamente, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas consomem algum tipo de psicotrópico.
Naílton de Abreu
Torres, 20 anos.
Suicídio em
São Paulo
Mirella Pascotto,
16 anos. Queda
de um edifício
em São Paulo
Marcos Dallal,
36 anos.
Assassinado no
Rio de Janeiro

É arriscado, muitas vezes inevitável, requer atenção da família, mas o uso eventual não conduz necessariamente à dependência. Não fosse o fato de a maconha ser uma droga ilegal, que obriga o fumante a percorrer corredores do submundo para consegui-la, seu consumo numa festinha equivaleria a uma bebida alcoólica, coisa que não leva obrigatoriamente ao alcoolismo. É natural que os pais sintam medo. A ameaça das drogas é a quarta maior preocupação do brasileiro. Só perde para o desemprego, a saúde e o salário, segundo pesquisa do Ibope realizada no início deste ano. Primeiro, a família não sabe até onde o uso da droga pode tornar-se crônico e compulsivo, tomando conta da vida do filho. Depois, há o perigo do envolvimento com a violência do tráfico e de outros usuários. A psiquiatra carioca Maria Tereza de Aquino lembra: "Esses jovens acabam se envolvendo com a polícia, os traficantes e os tiroteios". Maria Tereza tem uma contabilidade macabra. Todos os anos perde uma média de quatro a cinco pacientes de forma violenta.

Foi assim num caso que chocou a cidade de São Paulo, em outubro de 1995, quando Cristiane Gaidies, de 20 anos, morreu alvejada por um tiro de pistola 9 milímetros. A menina, filha de uma psicóloga, até os 18 anos dormia abraçada ao ursinho de pelúcia. Gostava de ir a shopping centers e a shows de rock. No final de 1992, de repente, abandonou os amigos e envolveu-se com maconha e crack. A família tentou de tudo. Levou-a a terapeutas e psiquiatras. Internou-a durante um mês numa clínica especializada. Mas "Maçãzinha", o apelido da garota, recaía sempre. "Ela sumia de casa, ficava vagando pelas ruas fumando crack e depois reaparecia parecendo uma mendiga", lembra-se a mãe, Marli. Foi morta quando tentava roubar um toca-fitas de um Fiat Tipo. O toca-fitas tinha sido exigido por um traficante que a abastecia. Era o preço da droga.
De cada quatro estudantes brasileiros com idade entre 10 e 18 anos, um já experimentou alguma droga ilegal

O que preocupa os especialistas é que a aflição das famílias em relação ao problema das drogas é desproporcionalmente maior do que o grau de informação sobre o assunto. O paulista Égas Branco, professor de tênis, via o filho chegar em casa com os olhos injetados, sintoma mais evidente dos usuários de maconha, mas achava que Maurício, estudante de 16 anos, apenas tinha "tomado umas cervejinhas a mais". A paisagista baiana Almaísa Motta, mãe de José Eduardo, o "Duda", que se suicidou aos 24 anos, não percebia os jarros de chá de cogumelo (um alucinógeno) que o filho colocava na geladeira, ao lado dos sucos de frutas consumidos pela família. O filho de repente começa a mentir que perdeu todo o dinheiro — na verdade, usou-o para comprar a droga. Cerca-se de "más companhias", em geral outros dependentes. Desaparece do círculo familiar. Reduz o ritmo de estudo e de trabalho. É um tipo de vida que as famílias ainda costumam resumir como "vagabundagem". Não é assim. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a dependência pode ser definida como a perda de controle sobre tudo aquilo que envolve o consumo da droga: a quantidade, a qualidade e a freqüência. Um dependente químico, portanto, não é um fraco de caráter, um sem-vergonha ou ovelha negra da família. É um doente. Precisa ser tratado. E rapidamente.

Mariana Johannpeter,
23 anos. Queda de
um edifício, RS José Artur Machado,
o "Petit", 32 anos.
Suicídio no
Rio de Janeiro Fernanda
Ferreira de
Moraes, 16 anos. Overdose em
Contagem, MG

Psicólogos e psiquiatras reconhecem a enorme diferença entre o uso esporádico e a dependência. Mas advertem: quando os pais ficam sabendo, geralmente é porque a situação já fugiu ao controle. O que fazer quando a notícia do consumo de drogas chega em casa? O médico Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, diz que um dos primeiros procedimentos dos pais deve ser parar de acobertar o filho. Se ele consumiu droga e não pôde ir trabalhar ou faltou à escola, o próprio usuário deve se explicar. "Nada de inventar desculpas para ele", aconselha. Ameaças do tipo "se você não parar, vou expulsá-lo de casa" não funcionam. Com o tempo, isso apenas aumenta os atritos. Abrir espaços de diálogo é uma ótima alternativa. Devem-se impor limites. Os pais são responsáveis pela educação dos filhos, e, enquanto eles moram na mesma casa, têm de obedecer a certas regras. Ou seja, é importante o diálogo, mas deixando bem claro que para a família não é "tudo bem" com as drogas. Pais e irmãos devem agir em conjunto, ajudando e encorajando o parente em dificuldade. Ignorar os protestos dos dependentes contra o atendimento especializado é fundamental. "Eles sempre acham que podem se recuperar sozinhos", diz o médico. Devem-se marcar consultas com psiquiatras mesmo contra a vontade do dependente. Se não conseguem levar o filho a uma clínica ou especialista, vale a pena os pais se dirigirem a serviços de atendimento em busca de orientação. É até fácil falar, mas, na procura pela salvação do filho dependente, o que mais acontece são as famílias se dilacerarem.
Marcelo Bhering,
30 anos.
Assassinado no
Rio de Janeiro
André Maciel, 20
anos. Acidente em
uma motocicleta,
em São Paulo
Marcus Roberto
Pazini, 19 anos.
Assassinado em
São Paulo
Ana Catharina
Nogueira, 15
anos. Suicídio
no Recife, PE

"Meu pai não admitia e não admite que uma pessoa não consiga se autocontrolar", lembra a contadora carioca Marcia Dallal. "Quando ele soube que meu irmão Marcos estava envolvido até a medula com drogas — ele era um ex-hippie —, reagiu com ódio." O pai surrava o filho, chamava a polícia. Achava que assim estava ajudando. "Nossa família ficou um trapo. Eu não suportava a forma violenta com a qual papai tratava o Marcos." Afundado na dependência, isolado da família, sem dinheiro, o rapaz foi morto com dois tiros nas costas quando roubava um pedaço de carne. "Nunca mais os encontros em família viram um sorriso", lamenta Marcia.

A dificuldade é convencer o dependente de que ele tem um problema sério de saúde, e não uma rebeldia, um inconformismo às vezes até encarado por ele como coisa positiva. Um estudo realizado pelo departamento de psicologia da Universidade Federal de São Paulo sobre imprensa e drogas aponta as raízes dessa imagem favorável de que as drogas gozam até hoje. De 1968 a 1975, período mais violento da repressão política, havia uma associação constante entre o uso de drogas e a rebelião libertária dos jovens. Em outros países, fenômenos parecidos ocorreram e continuam ocorrendo. A simples associação da droga com a juventude já transfere ao vício uma certa aura benévola. Nos anos 80 veio o susto. Substâncias que antes se ligavam à idéia de "paz e amor" agora vinham vinculadas às palavras violência, tráfico, morte. Mas talvez o maior risco seja o atual, quando essas coisas se banalizaram. Uma das maiores autoridades brasileiras no estudo de drogas, o professor e psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, titular da Universidade de São Paulo, pai de um adolescente, conta que, quando chamou o filho para uma primeira conversa sobre os perigos da maconha, obteve a seguinte resposta: "Nem vem, pai. É claro que eu vou experimentar". O professor ficou perplexo. Percebeu, naquele momento, que seu filho não era diferente da maioria dos jovens: curioso, estava sujeito a uma tragada experimental — e a todos os riscos que advêm dela. O principal: o contato com outras drogas, que criam a dependência química mais velozmente. "O uso da droga, infelizmente, é hoje quase como um rito de passagem para o adolescente. Uma fase parecida com a iniciação sexual", diz Guerra de Andrade.

A família tem de prestar muita atenção nessa "iniciação", porque a recuperação de um dependente é muito difícil, mesmo quando se usam todos os recursos à disposição. Contam-se às pencas histórias de derrotas no decorrer do tratamento. A terapeuta corporal paulistana Tereza de Jesus Ferreira Maciel viu o filho André lutar por cinco anos para se recuperar da dependência de cocaína. "Quatro vezes internado em clínicas especializadas, cada internação era uma esperança. Ele parecia que queria voltar a viver, submetia-se a todas as normas, ganhava peso, ficava lindo. Eu ressuscitava junto", lembra Tereza. Mas a cada recaída ele piorava. Mergulhava ainda mais profundamente nas drogas, apesar de ter vergonha da dependência. Um dia, quando André acabava de receber alta na última de suas internações, ele foi visitar a mãe no trabalho. "Sentou-se, olhou para mim e sorriu daquele jeito horrível como só fazia quando estava sob efeito da droga. Eu disse para ele: 'Você está com a mão na maçaneta da porta do inferno, meu filho'." Era mais uma recaída. Pouco tempo depois, o menino, de apenas 20 anos, estatelou-se num acidente de moto. A mãe tem certeza de que ele estava drogado na hora da morte. Segundo o professor Guerra de Andrade, a maioria dos dependentes clinicamente diagnosticados não consegue recuperar-se. Tratamentos e internações têm sucesso em apenas 30% dos casos. "Nos demais, o paciente torna-se um dependente crônico. Ou, pior, morre prematuramente, como André, de overdose, acidentes, suicídio ou por envolvimento com traficantes", afirma o professor.
Os melhores tratamentos para a dependência de drogas recuperam apenas 30% dos pacientes que
se internam

Mesmo com tão baixas taxas de recuperação, as famílias não poupam esforços. O tratamento de um dependente não exige da família só uma boa dose de paciência e compreensão: requer também uma polpuda conta bancária. As clínicas particulares para tratamento de dependentes cobram, em média, 180 reais a diária, o que totaliza uma despesa mensal de mais de 5.000 reais. Como as internações quase nunca duram menos de dois meses e têm de ser acompanhadas por consultas a terapeutas e psiquiatras, o custo total do tratamento soma uma pequena fortuna da qual poucas famílias podem dispor. Para a grande maioria dos pais de dependentes químicos, portanto, restam os grupos de ajuda mútua, os serviços gratuitos oferecidos por unidades psiquiátricas de algumas faculdades de medicina e os centros de saúde de hospitais públicos, sempre lotados. Os mais pobres ficam a descoberto porque, na guerra contra as drogas, o Brasil ainda luta com estilingues. A verba destinada a gastos com internações, campanhas de prevenção e repressão ao tráfico não passou de 110 milhões de reais no ano passado. No mesmo período, os Estados Unidos investiram 16 bilhões de dólares.
O Brasil gastou com internações, prevenção e repressão ao tráfico de drogas 110 milhões de reais em 1997

As trinta famílias que aceitaram falar a VEJA sobre o inferno das drogas vivido por seus filhos enfrentaram a vergonha e o preconceito porque acham necessário derrubar o muro de silêncio que cerca o assunto. "É a forma que temos de ajudar outros meninos que estão passando pelo que já passamos", justifica Márcio Mesquita Serva, reitor da Universidade de Marília. No dia 18 de janeiro de 1991, Serva foi informado pela polícia de que seu filho, Marcelo, de apenas 21 anos, morrera de ataque cardíaco em uma festa. O professor não acreditou. Fez uma detalhada apuração e descobriu que o rapaz sofrera uma overdose de cocaína, aspirada numa festinha com talagadas de uísque Logan. "É muito mais fácil para a polícia dizer que foi um infarto do que admitir que não consegue conter o tráfico e que a droga está em todos os lugares", reclama. Dias depois de enterrar o filho, ele convocou a imprensa e pediu que algo fosse feito para evitar o surgimento de "outros Marcelos". "Eu não quero mais as mentiras e os enganos", disse ele na época. Tem razão. Droga mata e é preciso enfrentá-la com toda a energia possível. E o melhor jeito de começar a batalha é olhar o problema de frente.
" Perdi meu filho,
meu filhinho, de
quem, naquela fase
horrível, eu tinha
me tornado um
grande amigo...
Foto: Egberto Nogueira

...Ele era um garotão lindo. Com 16 anos, tinha quase 2 metros de altura. Era generoso e educado. Chamava todo mundo de senhor. Não era um aluno extraordinário, mas também nunca havia perdido um ano. Quando minha mulher disse que ele andava chegando tarde, com os olhos vermelhos, achei que fosse coisa da idade. Só descobrimos o problema quando recebemos um telefonema dizendo que o Maurício fora preso. Durante uma alucinação, achou que estava sendo perseguido e arrombou o apartamento do vizinho. Era crack. Fiquei arrasado. Ele prometeu que pararia, e de fato passava alguns dias tranqüilo. Mas depois voltava. Decidimos interná-lo. Ele ficou seis meses e saiu outro. Até passou a rezar. Um dia, Maurício me ligou, pedindo que fosse buscá-lo no Viaduto do Chá. Tremi na hora. Quando cheguei, ele estava sentado na beira do viaduto, com os olhos estatelados. Tinha começado tudo de novo. 'Vacilei, pai!', ele me disse. A morte dele nos foi contada pela polícia. O Maurício estava correndo como louco pela rua. Um policial que já o conhecia conseguiu agarrá-lo e colocá-lo na viatura. Lá, ele começou a ter convulsões. Levado ao hospital, não resistiu a várias paradas cardíacas. Meu filho era fraco, desprotegido, e eu o vi travar uma luta miserável durante um ano para largar a droga. Mil vezes eu queria ter estado no lugar dele."

Égas Branco, professor de tênis, e sua mulher,
Helena, pais de Maurício Teixeira Branco, morto
de overdose aos 16 anos, em São Paulo


"Meu filho foi
enterrado como
indigente. Só
encontrei o corpo
quatro meses depois...
Foto: Paulo Jares

...no cemitério de Santa Cruz. Uma pessoa telefonou e disse que tinha um Marcelo Bhering lá. O corpo tinha uma bala no crânio. Na minha investigação, soube que, junto com uma menina, ele tinha ido de táxi buscar cocaína na Ladeira dos Tabajaras. No último réveillon que passou vivo, eu estava na casa da minha filha. Ele me ligou à meia-noite e ficou falando que não prestava. Telefonou doze vezes. Ele tinha cheirado e estava muito triste. Falava dos filhos e da mulher. Estava muito consciente do que poderia ter feito e não fez, e muito infeliz com a condição de drogado. Dizia que não desejava aquilo para ninguém. O brilho dele sempre foi voltado para o lado esportivo. Dava aula de jiu-jítsu desde os 16 anos e tinha um bom corpo. Quando eu e meu marido nos separamos, acho que isso mexeu muito com a cabeça dele. Tinha 20 anos e não conseguiu superar o desmantelamento da família. O pai sempre foi um mito para ele, e de repente desmanchou tudo. Marcelo não se conformava, chorava muito. Logo depois ele foi morar na Austrália para competir e acho que começou a droga pesada. Em 1994, acabamos internando-o numa clínica, mas ele detestava e saiu. Começou a dar aula de novo, proibia os alunos de usar drogas, mas sentia-se completamente impotente para lidar com a própria dependência. Quando ele morreu, eu e meus outros filhos conversamos e chegamos à conclusão de que ele não estava feliz aqui."

Helena Bhering, mãe de Marcelo Bhering,
assassinado aos 30 anos no Rio de Janeiro


"Várias vezes encontrei
o meu filho conversando
com o espelho, pedindo
a ajuda de Deus...
Foto: Fernando Vivas

...Ele queria sair do martírio das drogas, mas não conseguia. No dia 24 de julho, após várias tentativas perdidas de livrar-se da dependência, o Duda achou em nosso sítio um revólver calibre 38, mantido por medo de assalto. Ele deu um tiro na cabeça. Ainda ficou cinco dias na UTI. Eu olhava para o meu filho no hospital e não queria acreditar que ele fosse morrer. Ele começou aos 16 anos, fumando maconha, depois descobriu o chá de cogumelo. Os potes com a bebida ficavam na geladeira, junto com as jarras de suco da família. Ele me dizia que era suco, e como sempre acreditei nos meus filhos, não me preocupei. Uma namorada do meu filho mais velho desconfiou e, pressionado, Duda acabou abrindo o jogo. Procurei psiquiatras, psicólogos, centros espíritas e até a umbanda, mas nada adiantou. Comecei a compreender que estava perdendo o meu filho. Me convenci que era necessário interná-lo em uma clínica para tratamento de dependentes químicos em São Paulo, porque na Bahia não havia locais apropriados, mas ele se recusou a ir se eu não pudesse ficar com ele. Eu não podia ficar muito tempo longe dos meus outros filhos e do meu trabalho e decidimos buscar ajuda por aqui mesmo. Se na época houvesse lugares parecidos por aqui, meu filho talvez tivesse tido uma chance. Agora freqüento um centro espírita e recebi duas mensagens psicografadas dele. Duda reconheceu que ele próprio fez o seu caminho."

Almaísa Motta, mãe de José Eduardo Motta, o
"Duda", que suicidou-se aos 24 anos em Salvador

"Tenho 51 anos e
nos últimos cinco
envelheci mais de vinte...
Foto: Egberto Nogueira

...tentando fazer do meu filho uma pessoa decente, viva, feliz. Não consegui vencer. O André morreu em um acidente de moto no dia 3 de outubro de 1997, aos 20 anos. Oficialmente, foi vítima do acidente, mas ele morreu por causa das drogas. Descobri o problema quando ele tinha 16 anos e passou um cheque falsificando minha assinatura. Ele revelou que tinha começado com a maconha. Depois veio a cocaína. Tenho duas filhas, e nos tornamos três mães para ele. Em quatro vezes o internamos. Ele cumpria toda a programação, parecia ir bem, dava uma grande esperança de se livrar da dependência. Mas a cada recaída ficava pior. Um dia, ele foi me visitar no trabalho. Tinha saído há pouco tempo de uma clínica. Teve um momento em que ele se sentou, olhou para mim e deu um sorriso estranho. Era o efeito da droga. Eu disse: 'Filho, você está com a mão na maçaneta da porta do inferno'. Era mais uma recaída. Cada internação era uma esperança, mas o custo era muito alto. Eu vivia com a conta no vermelho, fazia chocolate para fora, costurava, trabalhava em dois empregos, mas sempre deixei claro para ele que, enquanto tivesse esperança, eu estaria junto, lutando com ele. Um milagre podia acontecer. Fiz tudo o que foi possível para salvar o meu filho, enfrentei situações terríveis. Agora que ele morreu, sinto um alívio e um vazio enorme. Quando me aposentar, quero construir um lugar para recuperar meninas drogadas."

Tereza de Jesus Ferreira Maciel, mãe de André
Maciel Paulino, morto aos 20 anos,
num acidente de moto em São Paulo

"Ana Catharina,
minha irmã mais
nova, se suicidou
em setembro de 1992,
aos 15 anos...
Foto: Pio Figueiroa

...Seu primeiro contato com drogas foi no começo de 1991. Logo depois de acabar um namoro, ela procurou alívio através de tragadas num cigarro de maconha, presente de um conhecido de Olinda. Só descobrimos seu envolvimento por acaso. Ela estava faltando às aulas na escola, sempre tinha os olhos vermelhos e o andar cambaleante. Quando a pressionei, ela revelou tudo, inclusive o uso esporádico de cocaína. Deu um tempo na droga, mas duas semanas depois chegou em casa do mesmo jeito. Eu e meu irmão decidimos contar ao meu pai, que exigiu dela uma lista dos seus colegas usuários e dos fornecedores. Catharina não queria, mas acabou entregando todos. Chegou a sugerir que gostaria de morar com meu pai em nosso sítio no interior, e tudo parecia resolvido. Fomos embora e Catharina ficou sozinha, com a chave da gaveta onde meu pai guardava um revólver. Meia hora depois escreveu uma carta e ligou para casa se despedindo da empregada, que chegou a ouvir o disparo. Deu um tiro na cabeça. Na carta, acusou meu irmão e a mim por sua morte e pediu apenas para que cuidássemos de seus cachorros, que adorava. Foi um trauma muito grande que demorou a ser superado. Logo depois meus pais se separaram, fui morar sozinha e só agora minha mãe consegue falar dela sem chorar. Quando acontece uma tragédia dessas, ou a família se une ou se afasta. Com a minha aconteceu a segunda hipótese."

Ana Claúdia Nogueira, irmã da estudante
pernambucana Ana Catharina


"A perda de um filho
é uma dor que não
acaba nunca, que fica
com a gente as
24 horas do dia...
Foto: Flavio Canalonga

...Na noite da morte do Marcelo, eu estava em São Paulo, e quando cheguei a Marília, a polícia me informou que a causa mortis tinha sido um ataque cardíaco. Comecei a desconfiar que as coisas não estavam muito claras. Falei com amigos dele e com os empregados da casa e consegui descobrir o que realmente aconteceu na minha casa na noite do dia 18 de janeiro de 1991. Um grupo de amigos do Marcelo, todos de famílias influentes da cidade, consumiu duas garrafas de uísque Logan e cocaína. Na verdade, o meu filho morreu de overdose. É muito comum, nos casos de morte provocada por drogas, os familiares dizerem que a vítima estava consumindo pela primeira vez. Isso é realmente muito bom para quem quer se enganar e não enfrentar a realidade, mas não era o meu caso. É muito mais fácil para a polícia dizer que foi um infarto do que admitir que a droga está presente em todos os lugares na região onde vivo. Imediatamente convoquei a imprensa e divulguei o que tinha acontecido, na tentativa de alertar a sociedade e lutar para que não surjam outros Marcelos. Logo depois a polícia reabriu quatro casos idênticos que tinham sido arquivados. As investigações, como sempre, não deram em nada. Ninguém quer falar das drogas e vamos nos enganando até que, infelizmente, acontece com a nossa família.

Márcio Mesquita Serva, reitor da Universidade
de Marília, pai de Marcelo Mesquita Serva,
morto aos 25 anos de overdose


Os primeiros sinais...

A iniciação nas drogas vem acompanhada, em geral, por mudanças físicas e de comportamento. Sintomas isolados podem significar apenas problemas passageiros de saúde. Dois ou mais sinais servem de alerta:

Olhos vermelhos — o THC, substância encontrada na folha da maconha, dilata os vasos sanguíneos oculares, provocando vermelhidão.

Sangramento nasal — o uso de cocaína estimula a produção de substâncias como dopamina e noradrenalina no cérebro, que aumentam a pressão arterial, ocasionando o rompimento de pequenos veias e artérias.

Perda de peso e apetite — a cocaína provoca aumento na liberação de serotonina, neurotransmissor que inibe o apetite.

Síndrome persecutória — a cocaína causa um curto-circuito no sistema límbico (que comanda as emoções) e no córtex (responsável pelas funções psíquicas), o que pode ocasionar delírios no usuário.

Mudança de amigos — é comum a troca de antigas amizades por outras que facilitem o acesso rápido e constante à droga.

Uso de gírias novas — branquinha, baque, larica, farinha são expressões comuns no círculo dos viciados. Seu uso pode indicar, no mínimo, relacionamento com pessoas ligadas a drogas.

...e o caminho da cura

O caminho da cura exige o reconhecimento, pelo dependente, de que precisa de ajuda. O envolvimento da família e a ajuda profissional são as principais armas à disposição. Algumas vezes, funciona.

Grupos de auto-ajuda — encontro de usuários para troca de experiências e discussão. O objetivo é aumentar a auto-estima com o apoio de pessoas na mesma situação.

Tratamento ambulatorial — consultas regulares a psiquiatras ou terapeutas, acompanhadas por atividades individuais ou em grupo, para restabelecer motivações e estimular a volta à vida normal.

Internação domiciliar — alternativa mais barata e menos radical do que a internação em clínica. Só é possível quando alguém da família pode monitorar o paciente em tempo integral. O dependente tem de se comprometer a aceitar regras como só sair de casa acompanhado e participar de grupos de auto-ajuda ou fazer tratamento ambulatorial.

Internação em clínica — recomendada quando tentativas anteriores de tratamento não deram certo, ou quando o dependente apresenta deterioração física, sintomas psicóticos e pulsões suicidas.

Com reportagem de Alexandre Oltramari,
de Porto Alegre, José Edward, de Belo Horizonte,
Rodrigo Cardoso, de São Paulo, Roberta Paixão,
do Rio de Janeiro, e Juliana De Mari, do Recife




Copyright © 1998, Abril S.A.






No auge da vida, jovens perdem a luta contra as drogas.
Parentes rompem o silêncio e relatam seus dramas

Samarone Lima e Thaís Oyama

Fotos: Album de Familia

Cristiane Gaidies,
a "Maçãzinha", 20
anos. Assassinada
em São Paulo
José Eduardo Motta, o "Duda", 24
anos. Suicídio
em Salvador, BA
Pedro Públio
de Goes, 21 anos,
afogado em
Brasília, DF

Nelson Dal Poggetto matou-se aos 19 anos, deixando um bilhete de despedida para a família: "Amei muito vocês e vou tranqüilo. Isso vai ser um alívio". Tão jovem, ele sabia o que era sofrer. Desde os 12 anos envolvido com o mundo das drogas, passou da maconha e do álcool para a cocaína, e dela para o crack. "Eu sentia um cheiro de morte no ar", lembra a advogada paulista Nina Dal Poggetto, mãe de Nelsinho. Internado duas vezes, o rapaz voltava a fumar o cachimbinho de crack pouco tempo depois de receber alta. Na última vez, a mãe hospitalizada, ele não apareceu como havia combinado. Preocupada, ela telefonou para o celular. Deu caixa postal. Nina gelou. Sabia que era mais uma recaída. No dia seguinte, o menino apareceu em casa e ligou para a mãe. Estava deprimido e contou que vendera o celular para comprar a droga. "Tudo bem, filho." Nada estava bem. Nelson foi ao banheiro, tomou banho, escreveu o bilhete e deu um tiro na cabeça.

Marcelo Mesquita
Serva, 25 anos.
Overdose em
Marília, SP
Ângela Vieira
Mazzini, 32 anos.
Overdose em
Lisboa, Portugal
Nelson Dal
Poggetto, 19
anos. Suicídio
em São Paulo

Dramas como o de Nina são muito mais comuns do que as pessoas em geral gostam de acreditar. Só no ano passado, 20.000 pessoas morreram no Brasil vítimas da dependência química, entre casos de overdose, suicídios e assassinatos. É um terço de todas as baixas americanas em dez anos de guerra no Vietnã. Já seria um drama a perda de tantas vidas, em geral na flor dos anos. É pior do que isso. Meninos e meninas dependentes não lutam contra um inimigo visível ou facilmente identificável. Lutam consigo mesmos, contra a pulsão irresistível de seguir numa rota de autodestruição. Para os pais, amigos e irmãos, é impossível examinar a trajetória do jovem com a cabeça fria. Remorsos e sentimentos de culpa são inevitáveis. A pergunta que sintetiza essa dor sempre é: "Onde foi que errei?"

Na maioria das vezes, essa pergunta não tem resposta. Numa mesma família, sujeitos ao mesmo tipo de educação, um irmão será "careta", o outro, o malucão. Desfeito o namoro, uma adolescente chorará, poderá até fumar um cigarro de maconha, mas isso passa. A outra afundará em drogas cada vez mais poderosas. Os pais se separaram? Um garotão buscará conforto com os amigos, o outro... Nessa loteria, joga-se com probabilidades. Os meninos são mais sujeitos ao envolvimento com drogas ilícitas do que as meninas, na proporção de quatro para uma. Histórico familiar contendo depressão, tentativas de suicídio ou uso abusivo de álcool e drogas também contribui. Ambiente familiar desfavorável e falta de perspectivas profissionais completam o quadro do que os especialistas chamam de "fatores predisponentes". É pura estatística. Na vida real, um jovem pode não apresentar nenhum desses fatores e no entanto decair. Outro, que tenha todos, pode jamais se envolver com drogas.

Resultados da última pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Cebrid, indicam que a droga é hoje uma ameaça onipresente. O estudo aponta que um quarto dos estudantes brasileiros com idade entre 10 e 18 anos já provou alguma droga ilegal. Na Universidade de São Paulo, uma das melhores e mais disputadas do país, com clientela ultra-seleta, outra enquete revelou que um em cada três estudantes já apertou um cigarro de maconha. A imensa maioria sairá ilesa da experiência. Menos de 2% dos que experimentam tornam-se dependentes. Por que uns recebem o bilhete fatal é um mistério.

Maurício Teixeira
Branco, 16 anos.
Overdose
em São Paulo
Adriana de Oliveira,
20 anos.
Overdose em
Inconfidentes, MG
Patrícia Guazzelli,
23 anos. Overdose
em Canoas, RS

Substâncias alucinógenas e estupefaciantes fazem parte da história da humanidade. A Bíblia faz referência ao uso de bebidas alcoólicas, a maconha já era utilizada na China 3.000 anos antes de Cristo. Vêm da mesma época os primeiros registros do consumo de ópio, como relaxante e analgésico. No México, um cacto alucinógeno, o peiote ou mescal, integrava os rituais religiosos desde o ano 1000 a.C. Mais recentemente, nos anos 40, soldados nas frentes de batalha da II Guerra Mundial ganharam a coragem que lhes faltava para os combates na base da ingestão de anfetaminas. Aumentava-lhes a vigilância e a excitabilidade. Nos anos 60, a maconha acompanhou os jovens nas manifestações de protesto. Depois, foi tudo ao mesmo tempo. Ácido lisérgico, o LSD, cocaína, heroína, crack, ecstasy, além das drogas antigas. Trata-se de um imenso arsenal químico, oferecido todos os dias, legal ou ilegalmente, para preencher o vazio da vida ou como lenitivo para a dor e o sofrimento. "A tendência do ser humano é buscar alternativas que o ajudem a escapar de sensações dolorosas e desagradáveis. E, para algumas pessoas, a droga é uma saída para isso", afirma o professor Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia na Universidade Federal de São Paulo e diretor do Cebrid. O custo disso pode ser muito alto. Diariamente, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas consomem algum tipo de psicotrópico.

Naílton de Abreu
Torres, 20 anos.
Suicídio em
São Paulo
Mirella Pascotto,
16 anos. Queda
de um edifício
em São Paulo
Marcos Dallal,
36 anos.
Assassinado no
Rio de Janeiro

É arriscado, muitas vezes inevitável, requer atenção da família, mas o uso eventual não conduz necessariamente à dependência. Não fosse o fato de a maconha ser uma droga ilegal, que obriga o fumante a percorrer corredores do submundo para consegui-la, seu consumo numa festinha equivaleria a uma bebida alcoólica, coisa que não leva obrigatoriamente ao alcoolismo. É natural que os pais sintam medo. A ameaça das drogas é a quarta maior preocupação do brasileiro. Só perde para o desemprego, a saúde e o salário, segundo pesquisa do Ibope realizada no início deste ano. Primeiro, a família não sabe até onde o uso da droga pode tornar-se crônico e compulsivo, tomando conta da vida do filho. Depois, há o perigo do envolvimento com a violência do tráfico e de outros usuários. A psiquiatra carioca Maria Tereza de Aquino lembra: "Esses jovens acabam se envolvendo com a polícia, os traficantes e os tiroteios". Maria Tereza tem uma contabilidade macabra. Todos os anos perde uma média de quatro a cinco pacientes de forma violenta.

Foi assim num caso que chocou a cidade de São Paulo, em outubro de 1995, quando Cristiane Gaidies, de 20 anos, morreu alvejada por um tiro de pistola 9 milímetros. A menina, filha de uma psicóloga, até os 18 anos dormia abraçada ao ursinho de pelúcia. Gostava de ir a shopping centers e a shows de rock. No final de 1992, de repente, abandonou os amigos e envolveu-se com maconha e crack. A família tentou de tudo. Levou-a a terapeutas e psiquiatras. Internou-a durante um mês numa clínica especializada. Mas "Maçãzinha", o apelido da garota, recaía sempre. "Ela sumia de casa, ficava vagando pelas ruas fumando crack e depois reaparecia parecendo uma mendiga", lembra-se a mãe, Marli. Foi morta quando tentava roubar um toca-fitas de um Fiat Tipo. O toca-fitas tinha sido exigido por um traficante que a abastecia. Era o preço da droga.

De cada quatro estudantes brasileiros com idade entre 10 e 18 anos, um já experimentou alguma droga ilegal

O que preocupa os especialistas é que a aflição das famílias em relação ao problema das drogas é desproporcionalmente maior do que o grau de informação sobre o assunto. O paulista Égas Branco, professor de tênis, via o filho chegar em casa com os olhos injetados, sintoma mais evidente dos usuários de maconha, mas achava que Maurício, estudante de 16 anos, apenas tinha "tomado umas cervejinhas a mais". A paisagista baiana Almaísa Motta, mãe de José Eduardo, o "Duda", que se suicidou aos 24 anos, não percebia os jarros de chá de cogumelo (um alucinógeno) que o filho colocava na geladeira, ao lado dos sucos de frutas consumidos pela família. O filho de repente começa a mentir que perdeu todo o dinheiro — na verdade, usou-o para comprar a droga. Cerca-se de "más companhias", em geral outros dependentes. Desaparece do círculo familiar. Reduz o ritmo de estudo e de trabalho. É um tipo de vida que as famílias ainda costumam resumir como "vagabundagem". Não é assim. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a dependência pode ser definida como a perda de controle sobre tudo aquilo que envolve o consumo da droga: a quantidade, a qualidade e a freqüência. Um dependente químico, portanto, não é um fraco de caráter, um sem-vergonha ou ovelha negra da família. É um doente. Precisa ser tratado. E rapidamente.

Mariana Johannpeter,
23 anos. Queda de
um edifício, RS
José Artur Machado,
o "Petit", 32 anos.
Suicídio no
Rio de Janeiro
Fernanda
Ferreira de
Moraes, 16 anos. Overdose em
Contagem, MG

Psicólogos e psiquiatras reconhecem a enorme diferença entre o uso esporádico e a dependência. Mas advertem: quando os pais ficam sabendo, geralmente é porque a situação já fugiu ao controle. O que fazer quando a notícia do consumo de drogas chega em casa? O médico Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, diz que um dos primeiros procedimentos dos pais deve ser parar de acobertar o filho. Se ele consumiu droga e não pôde ir trabalhar ou faltou à escola, o próprio usuário deve se explicar. "Nada de inventar desculpas para ele", aconselha. Ameaças do tipo "se você não parar, vou expulsá-lo de casa" não funcionam. Com o tempo, isso apenas aumenta os atritos. Abrir espaços de diálogo é uma ótima alternativa. Devem-se impor limites. Os pais são responsáveis pela educação dos filhos, e, enquanto eles moram na mesma casa, têm de obedecer a certas regras. Ou seja, é importante o diálogo, mas deixando bem claro que para a família não é "tudo bem" com as drogas. Pais e irmãos devem agir em conjunto, ajudando e encorajando o parente em dificuldade. Ignorar os protestos dos dependentes contra o atendimento especializado é fundamental. "Eles sempre acham que podem se recuperar sozinhos", diz o médico. Devem-se marcar consultas com psiquiatras mesmo contra a vontade do dependente. Se não conseguem levar o filho a uma clínica ou especialista, vale a pena os pais se dirigirem a serviços de atendimento em busca de orientação. É até fácil falar, mas, na procura pela salvação do filho dependente, o que mais acontece são as famílias se dilacerarem.

Marcelo Bhering,
30 anos.
Assassinado no
Rio de Janeiro
André Maciel, 20
anos. Acidente em
uma motocicleta,
em São Paulo
Marcus Roberto
Pazini, 19 anos.
Assassinado em
São Paulo
Ana Catharina
Nogueira, 15
anos. Suicídio
no Recife, PE

"Meu pai não admitia e não admite que uma pessoa não consiga se autocontrolar", lembra a contadora carioca Marcia Dallal. "Quando ele soube que meu irmão Marcos estava envolvido até a medula com drogas — ele era um ex-hippie —, reagiu com ódio." O pai surrava o filho, chamava a polícia. Achava que assim estava ajudando. "Nossa família ficou um trapo. Eu não suportava a forma violenta com a qual papai tratava o Marcos." Afundado na dependência, isolado da família, sem dinheiro, o rapaz foi morto com dois tiros nas costas quando roubava um pedaço de carne. "Nunca mais os encontros em família viram um sorriso", lamenta Marcia.

A dificuldade é convencer o dependente de que ele tem um problema sério de saúde, e não uma rebeldia, um inconformismo às vezes até encarado por ele como coisa positiva. Um estudo realizado pelo departamento de psicologia da Universidade Federal de São Paulo sobre imprensa e drogas aponta as raízes dessa imagem favorável de que as drogas gozam até hoje. De 1968 a 1975, período mais violento da repressão política, havia uma associação constante entre o uso de drogas e a rebelião libertária dos jovens. Em outros países, fenômenos parecidos ocorreram e continuam ocorrendo. A simples associação da droga com a juventude já transfere ao vício uma certa aura benévola. Nos anos 80 veio o susto. Substâncias que antes se ligavam à idéia de "paz e amor" agora vinham vinculadas às palavras violência, tráfico, morte. Mas talvez o maior risco seja o atual, quando essas coisas se banalizaram. Uma das maiores autoridades brasileiras no estudo de drogas, o professor e psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, titular da Universidade de São Paulo, pai de um adolescente, conta que, quando chamou o filho para uma primeira conversa sobre os perigos da maconha, obteve a seguinte resposta: "Nem vem, pai. É claro que eu vou experimentar". O professor ficou perplexo. Percebeu, naquele momento, que seu filho não era diferente da maioria dos jovens: curioso, estava sujeito a uma tragada experimental — e a todos os riscos que advêm dela. O principal: o contato com outras drogas, que criam a dependência química mais velozmente. "O uso da droga, infelizmente, é hoje quase como um rito de passagem para o adolescente. Uma fase parecida com a iniciação sexual", diz Guerra de Andrade.

A família tem de prestar muita atenção nessa "iniciação", porque a recuperação de um dependente é muito difícil, mesmo quando se usam todos os recursos à disposição. Contam-se às pencas histórias de derrotas no decorrer do tratamento. A terapeuta corporal paulistana Tereza de Jesus Ferreira Maciel viu o filho André lutar por cinco anos para se recuperar da dependência de cocaína. "Quatro vezes internado em clínicas especializadas, cada internação era uma esperança. Ele parecia que queria voltar a viver, submetia-se a todas as normas, ganhava peso, ficava lindo. Eu ressuscitava junto", lembra Tereza. Mas a cada recaída ele piorava. Mergulhava ainda mais profundamente nas drogas, apesar de ter vergonha da dependência. Um dia, quando André acabava de receber alta na última de suas internações, ele foi visitar a mãe no trabalho. "Sentou-se, olhou para mim e sorriu daquele jeito horrível como só fazia quando estava sob efeito da droga. Eu disse para ele: 'Você está com a mão na maçaneta da porta do inferno, meu filho'." Era mais uma recaída. Pouco tempo depois, o menino, de apenas 20 anos, estatelou-se num acidente de moto. A mãe tem certeza de que ele estava drogado na hora da morte. Segundo o professor Guerra de Andrade, a maioria dos dependentes clinicamente diagnosticados não consegue recuperar-se. Tratamentos e internações têm sucesso em apenas 30% dos casos. "Nos demais, o paciente torna-se um dependente crônico. Ou, pior, morre prematuramente, como André, de overdose, acidentes, suicídio ou por envolvimento com traficantes", afirma o professor.

Os melhores tratamentos para a dependência de drogas recuperam apenas 30% dos pacientes que
se internam

Mesmo com tão baixas taxas de recuperação, as famílias não poupam esforços. O tratamento de um dependente não exige da família só uma boa dose de paciência e compreensão: requer também uma polpuda conta bancária. As clínicas particulares para tratamento de dependentes cobram, em média, 180 reais a diária, o que totaliza uma despesa mensal de mais de 5.000 reais. Como as internações quase nunca duram menos de dois meses e têm de ser acompanhadas por consultas a terapeutas e psiquiatras, o custo total do tratamento soma uma pequena fortuna da qual poucas famílias podem dispor. Para a grande maioria dos pais de dependentes químicos, portanto, restam os grupos de ajuda mútua, os serviços gratuitos oferecidos por unidades psiquiátricas de algumas faculdades de medicina e os centros de saúde de hospitais públicos, sempre lotados. Os mais pobres ficam a descoberto porque, na guerra contra as drogas, o Brasil ainda luta com estilingues. A verba destinada a gastos com internações, campanhas de prevenção e repressão ao tráfico não passou de 110 milhões de reais no ano passado. No mesmo período, os Estados Unidos investiram 16 bilhões de dólares.

O Brasil gastou com internações, prevenção e repressão ao tráfico de drogas 110 milhões de reais em 1997

As trinta famílias que aceitaram falar a VEJA sobre o inferno das drogas vivido por seus filhos enfrentaram a vergonha e o preconceito porque acham necessário derrubar o muro de silêncio que cerca o assunto. "É a forma que temos de ajudar outros meninos que estão passando pelo que já passamos", justifica Márcio Mesquita Serva, reitor da Universidade de Marília. No dia 18 de janeiro de 1991, Serva foi informado pela polícia de que seu filho, Marcelo, de apenas 21 anos, morrera de ataque cardíaco em uma festa. O professor não acreditou. Fez uma detalhada apuração e descobriu que o rapaz sofrera uma overdose de cocaína, aspirada numa festinha com talagadas de uísque Logan. "É muito mais fácil para a polícia dizer que foi um infarto do que admitir que não consegue conter o tráfico e que a droga está em todos os lugares", reclama. Dias depois de enterrar o filho, ele convocou a imprensa e pediu que algo fosse feito para evitar o surgimento de "outros Marcelos". "Eu não quero mais as mentiras e os enganos", disse ele na época. Tem razão. Droga mata e é preciso enfrentá-la com toda a energia possível. E o melhor jeito de começar a batalha é olhar o problema de frente.

" Perdi meu filho,
meu filhinho, de
quem, naquela fase
horrível, eu tinha
me tornado um
grande amigo...
Foto: Egberto Nogueira

...Ele era um garotão lindo. Com 16 anos, tinha quase 2 metros de altura. Era generoso e educado. Chamava todo mundo de senhor. Não era um aluno extraordinário, mas também nunca havia perdido um ano. Quando minha mulher disse que ele andava chegando tarde, com os olhos vermelhos, achei que fosse coisa da idade. Só descobrimos o problema quando recebemos um telefonema dizendo que o Maurício fora preso. Durante uma alucinação, achou que estava sendo perseguido e arrombou o apartamento do vizinho. Era crack. Fiquei arrasado. Ele prometeu que pararia, e de fato passava alguns dias tranqüilo. Mas depois voltava. Decidimos interná-lo. Ele ficou seis meses e saiu outro. Até passou a rezar. Um dia, Maurício me ligou, pedindo que fosse buscá-lo no Viaduto do Chá. Tremi na hora. Quando cheguei, ele estava sentado na beira do viaduto, com os olhos estatelados. Tinha começado tudo de novo. 'Vacilei, pai!', ele me disse. A morte dele nos foi contada pela polícia. O Maurício estava correndo como louco pela rua. Um policial que já o conhecia conseguiu agarrá-lo e colocá-lo na viatura. Lá, ele começou a ter convulsões. Levado ao hospital, não resistiu a várias paradas cardíacas. Meu filho era fraco, desprotegido, e eu o vi travar uma luta miserável durante um ano para largar a droga. Mil vezes eu queria ter estado no lugar dele."

Égas Branco, professor de tênis, e sua mulher,
Helena,
pais de Maurício Teixeira Branco, morto
de overdose aos 16 anos, em São Paulo


"Meu filho foi
enterrado como
indigente. Só
encontrei o corpo
quatro meses depois...
Foto: Paulo Jares

...no cemitério de Santa Cruz. Uma pessoa telefonou e disse que tinha um Marcelo Bhering lá. O corpo tinha uma bala no crânio. Na minha investigação, soube que, junto com uma menina, ele tinha ido de táxi buscar cocaína na Ladeira dos Tabajaras. No último réveillon que passou vivo, eu estava na casa da minha filha. Ele me ligou à meia-noite e ficou falando que não prestava. Telefonou doze vezes. Ele tinha cheirado e estava muito triste. Falava dos filhos e da mulher. Estava muito consciente do que poderia ter feito e não fez, e muito infeliz com a condição de drogado. Dizia que não desejava aquilo para ninguém. O brilho dele sempre foi voltado para o lado esportivo. Dava aula de jiu-jítsu desde os 16 anos e tinha um bom corpo. Quando eu e meu marido nos separamos, acho que isso mexeu muito com a cabeça dele. Tinha 20 anos e não conseguiu superar o desmantelamento da família. O pai sempre foi um mito para ele, e de repente desmanchou tudo. Marcelo não se conformava, chorava muito. Logo depois ele foi morar na Austrália para competir e acho que começou a droga pesada. Em 1994, acabamos internando-o numa clínica, mas ele detestava e saiu. Começou a dar aula de novo, proibia os alunos de usar drogas, mas sentia-se completamente impotente para lidar com a própria dependência. Quando ele morreu, eu e meus outros filhos conversamos e chegamos à conclusão de que ele não estava feliz aqui."

Helena Bhering, mãe de Marcelo Bhering,
assassinado aos 30 anos no Rio de Janeiro


"Várias vezes encontrei
o meu filho conversando
com o espelho, pedindo
a ajuda de Deus...
Foto: Fernando Vivas

...Ele queria sair do martírio das drogas, mas não conseguia. No dia 24 de julho, após várias tentativas perdidas de livrar-se da dependência, o Duda achou em nosso sítio um revólver calibre 38, mantido por medo de assalto. Ele deu um tiro na cabeça. Ainda ficou cinco dias na UTI. Eu olhava para o meu filho no hospital e não queria acreditar que ele fosse morrer. Ele começou aos 16 anos, fumando maconha, depois descobriu o chá de cogumelo. Os potes com a bebida ficavam na geladeira, junto com as jarras de suco da família. Ele me dizia que era suco, e como sempre acreditei nos meus filhos, não me preocupei. Uma namorada do meu filho mais velho desconfiou e, pressionado, Duda acabou abrindo o jogo. Procurei psiquiatras, psicólogos, centros espíritas e até a umbanda, mas nada adiantou. Comecei a compreender que estava perdendo o meu filho. Me convenci que era necessário interná-lo em uma clínica para tratamento de dependentes químicos em São Paulo, porque na Bahia não havia locais apropriados, mas ele se recusou a ir se eu não pudesse ficar com ele. Eu não podia ficar muito tempo longe dos meus outros filhos e do meu trabalho e decidimos buscar ajuda por aqui mesmo. Se na época houvesse lugares parecidos por aqui, meu filho talvez tivesse tido uma chance. Agora freqüento um centro espírita e recebi duas mensagens psicografadas dele. Duda reconheceu que ele próprio fez o seu caminho."

Almaísa Motta, mãe de José Eduardo Motta, o
"Duda", que suicidou-se aos 24 anos em Salvador


"Tenho 51 anos e
nos últimos cinco
envelheci mais de vinte...
Foto: Egberto Nogueira

...tentando fazer do meu filho uma pessoa decente, viva, feliz. Não consegui vencer. O André morreu em um acidente de moto no dia 3 de outubro de 1997, aos 20 anos. Oficialmente, foi vítima do acidente, mas ele morreu por causa das drogas. Descobri o problema quando ele tinha 16 anos e passou um cheque falsificando minha assinatura. Ele revelou que tinha começado com a maconha. Depois veio a cocaína. Tenho duas filhas, e nos tornamos três mães para ele. Em quatro vezes o internamos. Ele cumpria toda a programação, parecia ir bem, dava uma grande esperança de se livrar da dependência. Mas a cada recaída ficava pior. Um dia, ele foi me visitar no trabalho. Tinha saído há pouco tempo de uma clínica. Teve um momento em que ele se sentou, olhou para mim e deu um sorriso estranho. Era o efeito da droga. Eu disse: 'Filho, você está com a mão na maçaneta da porta do inferno'. Era mais uma recaída. Cada internação era uma esperança, mas o custo era muito alto. Eu vivia com a conta no vermelho, fazia chocolate para fora, costurava, trabalhava em dois empregos, mas sempre deixei claro para ele que, enquanto tivesse esperança, eu estaria junto, lutando com ele. Um milagre podia acontecer. Fiz tudo o que foi possível para salvar o meu filho, enfrentei situações terríveis. Agora que ele morreu, sinto um alívio e um vazio enorme. Quando me aposentar, quero construir um lugar para recuperar meninas drogadas."

Tereza de Jesus Ferreira Maciel, mãe de André
Maciel Paulino, morto aos 20 anos,
num acidente de moto em São Paulo


"Ana Catharina,
minha irmã mais
nova, se suicidou
em setembro de 1992,
aos 15 anos...
Foto: Pio Figueiroa

...Seu primeiro contato com drogas foi no começo de 1991. Logo depois de acabar um namoro, ela procurou alívio através de tragadas num cigarro de maconha, presente de um conhecido de Olinda. Só descobrimos seu envolvimento por acaso. Ela estava faltando às aulas na escola, sempre tinha os olhos vermelhos e o andar cambaleante. Quando a pressionei, ela revelou tudo, inclusive o uso esporádico de cocaína. Deu um tempo na droga, mas duas semanas depois chegou em casa do mesmo jeito. Eu e meu irmão decidimos contar ao meu pai, que exigiu dela uma lista dos seus colegas usuários e dos fornecedores. Catharina não queria, mas acabou entregando todos. Chegou a sugerir que gostaria de morar com meu pai em nosso sítio no interior, e tudo parecia resolvido. Fomos embora e Catharina ficou sozinha, com a chave da gaveta onde meu pai guardava um revólver. Meia hora depois escreveu uma carta e ligou para casa se despedindo da empregada, que chegou a ouvir o disparo. Deu um tiro na cabeça. Na carta, acusou meu irmão e a mim por sua morte e pediu apenas para que cuidássemos de seus cachorros, que adorava. Foi um trauma muito grande que demorou a ser superado. Logo depois meus pais se separaram, fui morar sozinha e só agora minha mãe consegue falar dela sem chorar. Quando acontece uma tragédia dessas, ou a família se une ou se afasta. Com a minha aconteceu a segunda hipótese."

Ana Claúdia Nogueira, irmã da estudante
pernambucana Ana Catharina


"A perda de um filho
é uma dor que não
acaba nunca, que fica
com a gente as
24 horas do dia...
Foto: Flavio Canalonga

...Na noite da morte do Marcelo, eu estava em São Paulo, e quando cheguei a Marília, a polícia me informou que a causa mortis tinha sido um ataque cardíaco. Comecei a desconfiar que as coisas não estavam muito claras. Falei com amigos dele e com os empregados da casa e consegui descobrir o que realmente aconteceu na minha casa na noite do dia 18 de janeiro de 1991. Um grupo de amigos do Marcelo, todos de famílias influentes da cidade, consumiu duas garrafas de uísque Logan e cocaína. Na verdade, o meu filho morreu de overdose. É muito comum, nos casos de morte provocada por drogas, os familiares dizerem que a vítima estava consumindo pela primeira vez. Isso é realmente muito bom para quem quer se enganar e não enfrentar a realidade, mas não era o meu caso. É muito mais fácil para a polícia dizer que foi um infarto do que admitir que a droga está presente em todos os lugares na região onde vivo. Imediatamente convoquei a imprensa e divulguei o que tinha acontecido, na tentativa de alertar a sociedade e lutar para que não surjam outros Marcelos. Logo depois a polícia reabriu quatro casos idênticos que tinham sido arquivados. As investigações, como sempre, não deram em nada. Ninguém quer falar das drogas e vamos nos enganando até que, infelizmente, acontece com a nossa família.

Márcio Mesquita Serva, reitor da Universidade
de Marília, pai de Marcelo Mesquita Serva,
morto aos 25 anos de overdose


Os primeiros sinais...

A iniciação nas drogas vem acompanhada, em geral, por mudanças físicas e de comportamento. Sintomas isolados podem significar apenas problemas passageiros de saúde. Dois ou mais sinais servem de alerta:

Olhos vermelhos — o THC, substância encontrada na folha da maconha, dilata os vasos sanguíneos oculares, provocando vermelhidão.

Sangramento nasal — o uso de cocaína estimula a produção de substâncias como dopamina e noradrenalina no cérebro, que aumentam a pressão arterial, ocasionando o rompimento de pequenos veias e artérias.

Perda de peso e apetite — a cocaína provoca aumento na liberação de serotonina, neurotransmissor que inibe o apetite.

Síndrome persecutória — a cocaína causa um curto-circuito no sistema límbico (que comanda as emoções) e no córtex (responsável pelas funções psíquicas), o que pode ocasionar delírios no usuário.

Mudança de amigos — é comum a troca de antigas amizades por outras que facilitem o acesso rápido e constante à droga.

Uso de gírias novas — branquinha, baque, larica, farinha são expressões comuns no círculo dos viciados. Seu uso pode indicar, no mínimo, relacionamento com pessoas ligadas a drogas.


...e o caminho da cura

O caminho da cura exige o reconhecimento, pelo dependente, de que precisa de ajuda. O envolvimento da família e a ajuda profissional são as principais armas à disposição. Algumas vezes, funciona.

Grupos de auto-ajuda — encontro de usuários para troca de experiências e discussão. O objetivo é aumentar a auto-estima com o apoio de pessoas na mesma situação.

Tratamento ambulatorial — consultas regulares a psiquiatras ou terapeutas, acompanhadas por atividades individuais ou em grupo, para restabelecer motivações e estimular a volta à vida normal.

Internação domiciliar — alternativa mais barata e menos radical do que a internação em clínica. Só é possível quando alguém da família pode monitorar o paciente em tempo integral. O dependente tem de se comprometer a aceitar regras como só sair de casa acompanhado e participar de grupos de auto-ajuda ou fazer tratamento ambulatorial.

Internação em clínica — recomendada quando tentativas anteriores de tratamento não deram certo, ou quando o dependente apresenta deterioração física, sintomas psicóticos e pulsões suicidas.

Com reportagem de Alexandre Oltramari,
de Porto Alegre, José Edward, de Belo Horizonte,
Rodrigo Cardoso, de São Paulo, Roberta Paixão,
do Rio de Janeiro, e Juliana De Mari, do Recife




Copyright © 1998, Abril S.A.











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