Na última quinta, por exemplo, os visitantes da página do Ministério da Justiça foram submetidos a um texto que começa assim: “A moradora do município de Sapucaia do Sul, Luisa Angelina, está esperançosa de que a criminalidade na sua cidade diminua...”

Candidato do PT ao governo gaúcho, o ministro Tarso Genro passara pela cidade de Luisa, no interior do Rio Grande do Sul. Levara aos eleitores locais o “Terriório de Paz”, do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania).

O texto do ministério informou que, no mesmo dia, Tarso implantara o Território da Paz em outros dois municípios gaúchos: “Assim como Luisa, moradores de Esteio e Cachoeirinha também começam a ser beneficiados por projetos [...] que vão melhorar a segurança pública”.

Anotaram-se comentários elogiosos dos prefeitos das três cidades –dois do PT e um do PSB. Realçaram-se tópicos do discurso de Tarso, o ministro-candidato.

Na mesma quinta, o Ministério do Desenvolvimento Social submeteu os visitantes do seu portal a um roteiro do titular da pasta pelo interior de Minas. Dividido entre uma candidatura ao governo do Estado e ao Senado, o petista Patrus Ananias visitaria três cidades mineiras.

Em Uberlândia, pronunciou uma palestra a vereadores. Discorreu sobre “os investimentos e programas sociais” que carreara para a cidade e região. Coisa de R$ 90 milhões, o texto fez questão de informar.

Patrus foi brindado com uma “honraria”. Uma “moção de aplauso em reconhecimento ao trabalho desenvolvido”.

Em Patrocínio, o ministro-candidato do Bolsa Família inaugurou dois centros de assistência social. Em Ituiutaba, Patrus abriu uma “Feira Regional Popular Solidária”. Nessa cidade, informou o texto, o ministro despejara “quase R$ 25 milhões anualmente”.

Candidato do PT ao Senado, o ministro José Pimentel (Previdência) deflagrou na última sexta o cadastramento dos agricultores familiares e assalariados rurais.

Gente que integra o grupo de “segurados especiais” da Previdência. A iniciativa visa mapear os dados dos trabalhadores rurais de todo país. Porém, o texto levado ao portal da Previdência dá especial relevo ao Ceará, Estado do candidato Pimentel.

A abertura passa a impressão de que o cadastramento se daria apenas no Estado natal do ministro: “Começa nesta sexta-feira, no Ceará, o cadastramento...” No segundo parágrafo: “O lançamento [...] contará com a participação do ministro...”

Só no quarto parágrafo informa-se: “Em todo o Brasil serão coletadas informações dos segurados especiais...” No parágrafo seguinte, retorna-se ao pedaço do mapa que interessa a Pimentel: “No Ceará, os dados [...] começarão a ser colhidos por 25 sindicatos...”

Na véspera, quinta-feira, o portal da Previdência anunciara que Pimentel iria à cidade cearense de Paracuru. Assinaria uma ordem de serviço para a construção de uma agência da Previdência. Na cidade, investimentos de R$ 845 mil. Em todo o Ceará, R$ 82,6 milhões.

Só então o texto se preocupa em mencionar o Brasil: 720 agências. Investimentos de R$ 618,3 milhões.

Entre todos os ministros-candidatos, Carlos Lupi (Trabalho) é o que se serve com maior frequência do "palanque eletrônico" de sua pasta. Candidato a uma cadeira no Congresso pelo PDT do Rio, Lupi transformou o Estado numa extensão de seu gabinete.

Na última quinta, a página eletrônica do ministério informou que Lupi estaria no Rio na sexta. Foi a Nova Iguaçu, na baixada fluminense. Para quê? Assinou com a prefeitura local um termo de compromisso para prover cursos profissionalizantes a 4 mil jovens. Bolsa de R$ 100. Por seis meses.

No final de novembro, a equipe de Lupi levara ao portal três textos laudatórios. Um no dia 26. Dois no dia 27. Num, Lupi inaugura agência do Sine em São Gonçalo. Noutro, o ministro leva qualificação profissional a jovens do Leste fluminense.

Mais: “A agenda de Lupi [...] inclui ainda visita ao canteiro de obras do Complexo Petroquímico de Itaboraí. Tida como a segunda maior obra do mundo em andamento...”

No terceiro texto, os visitantes do portal do Trabalho foram cientificados de que Lupi seria “homenageado pelas relevantes ações à frente do ministério”. Onde? No Rio, claro. “Ordem do Mérito dos Trabalhadores Brasileiros”, eis o nome da comenda.

A equipe de Lupi esmerou-se em lustrar-lhe a biografia: Em meio a cifras e programas, anotou: “Suas marcas à frente do ministério são a defesa dos direitos dos trabalhadores e a qualificação profissional como eixo da política de geração de emprego e promoção da cidadania”.

Informou-se o nome da mulher do ministro, o número de filhos do casal, as ligações de Lupi com Leonel Brizola etc, etc e tal. Os visitantes do portal só não foram informados do essencial. Não há no texto vestígio do nome da entidade que concedeu a honraria a Lupi.

Na última sexta, o "palanque virtual" da pasta do Trabalho noticiou que Lupi anuncia, nesta segunda, a abertura de uma linha de crédito para a compra de táxis (R$ 200 milhões). Vale para todo país. Mas virá à luz, obviamente, no Rio.

Não há ilegalidade na ação dos ministros. Sempre poderão alegar que estão apenas divulgando dados oficiais de suas pastas. O problema está no timbre das notas. Há um quê de 2010 em todas elas.

Não se deve perder de vista um detalhe: o funcionamento dos portais e os salários dos servidores que os abastecem são bancados pela Viúva. Uma veneranda, desprotegida e apartidária senhora.