24/10/2010
Milton Júnior
Do Contas Abertas
Os destaques de compras desta semana começam na papelaria do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados foi um dos poucos órgãos a comprar fitas adesivas nesta semana em que, no universo dos presidenciáveis, o material de escritório foi chamado até de “objeto voador não identificado”. Foram 30 rolos da fita, adquiridos ao preço de R$ 12 cada. O Senado também pediu seis peças do item polêmico, mas por um preço um pouco menor – R$ 9,9 a unidade. Já que o documento de empenho não descreve a finalidade exata do material, prevalece a funcionalidade habitual.
Além das fitas adesivas, o Senado Federal quer garantir a proteção contra o surto da superbactéria KPC em Brasília. Para isso, reservou R$ 7,7 mil para a compra de mil unidades de álcool em gel, destinado a assepsia das mãos e para evitar o ressecamento da pele. A Casa também empenhou R$ 2,5 mil para adquirir cobertores. Não que na capital federal o frio seja rigoroso, mas as 200 cobertas servirão de proteção de móveis durante transporte. Não se sabe o destino da carga. Os senadores ainda parecem não estar satisfeitos com o correio eletrônico institucional, o famoso e-mail. Nesta semana foram reservados no orçamento do órgão R$ 36,2 mil para a compra de 100 aparelhos de “fac-simile”, ou simplesmente fax.
Dizem que a caneta de um juiz é a sua arma contra a injustiça. Por isso é compreensível que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tenha se preocupado em providenciar a compra de quatro mil canetas vermelhas, pretas e azuis. Seriam as metas do CNJ sendo cumpridas a “canetadas”? A aquisição sairá por R$ 920, com cada item saindo por apenas 23 centavos de reais. Além disso, o conselho deve adquirir ainda 250 colas em bastão e 15 latas de colas em spray para fixar avisos e cartazes nas paredes, ao valor de quase R$ 930.
Enquanto isso, na Presidência da República continua a valorização da indústria têxtil. Na última semana foram empenhados quase R$ 6 mil para a compra de diversas toalhas de mesa brancas, de algodão e em costura batida. Também no Palácio do Planalto, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão de inteligência responsável pela segurança presidencial, deve comprar uma TV LCD de 42 polegadas por R$ 2,8 mil. Seria para substituir algum monitor que não esteja transmitindo bem as imagens do Palácio?
Já a Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento se preparou para gastar R$ 1,9 mil na aquisição de canecas plásticas personalizadas. Além disso, preocupados com o meio ambiente, o departamento pretende comprar R$ 2,4 mil em sacolas de tecido reciclado e lavável. Se existe alguma relação entre as canecas e as sacolas é a quantidade: serão 500 unidades de cada item.
Em Salvador, o Comando da 6ª Região Militar reservou R$ 23,4 mil para a compra de seis mil pacotes de refresco em pó, sabor morango, e R$ 13,9 mil para a aquisição de cinco mil litros de sucos, sabor guaraná. É bebida que não acaba mais!
*Todo fim de semana o Contas Abertas publica a coluna "Carrinho de Compras", que traz reservas de recursos em orçamento realizadas por órgãos da União para pagamento de despesas curiosas. Vale ressaltar que, a princípio, não existe nenhuma ilegalidade nem irregularidade neste tipo de gasto feito pela União e que o eventual cancelamento de tais empenhos certamente não ajudaria, por exemplo, na manutenção do superávit do governo ou em uma redução significativa de despesas. A intenção de publicar essas aquisições é popularizar a discussão em torno dos gastos públicos junto ao cidadão comum, no intuito de aumentar a transparência e o controle social, além de mostrar que a Administração Pública também possui, além de contas complexas, despesas curiosas.
Sphere: Related Content