Consultório médico no Morumbi, em São Paulo, decidiu atender somente urgências se o paciente for realizar pagamento via convênio (Foto: Juliana Cardilli/G1) O movimento em consultórios médicos visitados pelo G1 nas primeiras horas desta quinta-feira (7) aponta que a paralisação da categoria modificou a rotina de médicos, funcionários e pacientes. A reportagem visitou estabelecimentos em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Salvador, São Paulo e no Rio de Janeiro.
Nessas capitais, o atendimento foi ao menos parcialmente afetado. “Vamos parar tudo. Em respeito aos pacientes, bloqueei minha agenda só para aderir ao movimento”, explicou o cardiologista João Batista, que mantém consultório em Salvador.
Mas houve profissionais que preferiram manter a rotina, mesmo concordando com a reivindicação. “Estou em um momento da vida em que preciso fazer dinheiro. Já fui para a rua, já fiz passeata, já fiz manifestações, e ainda vou fazer, mas eu preciso trabalhar no momento”, disse o nefrologista Mauro Marrocos, que atende em São Paulo.
Até por volta das 11h, não havia um balanço do movimento. A Associação Médica Brasileira estimava no começo desta quinta uma adesão de 70% dos médicos. O grupo pretende suspender por 24 horas o atendimento a pacientes de operadoras de planos de saúde.
A categoria reivindica reajuste no pagamento feito pelos planos e menos interferência dos convênios no tratamento dos pacientes. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reguladora dos planos de saúde no Brasil, não tinha até o fim da manhã informações sobre a quantidade de médicos que teriam aderido à manifestação.
Os pacientes encontrados nos consultórios nesta manhã também se dividiram entre o apoio à paralisação e as críticas. Em todas as capitais visitadas, não foram encontrados casos de pessos que perderam viagem. Os sindicatos orientaram os médicos a remarcar todas as consultas.
Veja abaixo como atendimento pela manhã nas capitais visitadas pelo G1:
Presidente do Sindimedico-DF faz plantão para
esclarecer sobre paralisação (Foto: G1) Brasília
A reportagem esteve no Centro Clínico Sul no Plano Piloto, que tem 220 clínicas divididas em duas torres. Entre os 40 consultórios visitados pela reportagem, sete estavam com portas fechadas, nove estavam abertas, mas não realizavam qualquer atendimento – particular ou de convênio –, oito prestavam atendimento normal e 16 só faziam atendimento particular.
O cardiologista João Batista, médico há 40 anos, só atende clientes particulares e mesmo assim cruzou os braços. “Vamos parar tudo. Em respeito aos pacientes, bloqueei minha agenda só para aderir ao movimento”, disse. Nas clínicas que vetaram pacientes de planos, a informação é que consultas foram remarcadas. “E assim acontece em todas as clínicas que participam do movimento no Distrito Federal”, diz Gutemberg Fialho, médico e presidente do Sindimédico-DF. “A adesão aqui é 100%, atendimento só em emergência”, disse.
Mas nem todos deixaram de atender conveniados. Na torre 2, no térreo, o consultório do cardiologista Federico Queiroga seguia com atendimento normal. Ele conta que não acha justo “punir duplamente o paciente”. “Nós lidamos com a vida dos pacientes todos os dias. Sou a favor dessa luta da minha classe, mas acho que o governo é quem deveria intervir a favor dos médicos. O paciente não tem culpa”, disse.
Rio de Janeiro
A reportagem percorreu salas de um edifício comercial no Leblon, na Zona Sul do Rio, e constatou que todos os consultórios médicos e dentários suspenderam o atendimento a pacientes conveniados a planos de saúde. "Em março meu chefe me avisou para não marcar ninguém no dia 7. Hoje é a primeira vez que vejo esse consultório vazio. Ontem tive que marcar consulta de 20 em 20 minutos, não podia deixar os pacientes na mão. Eles não têm culpa", contou Vanessa Martins, secretária de uma clínica onde trabalham mais de 10 médicos.
As chefes da secretária Lucia Teixeira também não marcaram pacientes para esta quinta. Como o consultório ficou vazio, Lucia aproveitou para fazer faxina no lugar. "Amanhã volta tudo ao normal, mas hoje não temos pacientes. As doutoras vêm mais tarde para atender pacientes particulares. Enquanto o consultório esta vazio, vou fazer faxina aqui", disse.
Médicos protestam no Centro de São Paulo na
manhã desta quinta-feira (Foto: Juliana Cardilli/G1) São Paulo
Em um prédio de 17 andares que tem apenas consultórios médicos na região do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, a movimentação parecia normal, apesar de alguns médicos só atenderem com pagamento particular. Dos 13 consultórios que já estavam abertos logo no começo da manhã – entre laboratórios, diversas especialidades médicas e dentistas – cinco atendiam pacientes de convênios normalmente e outros cinco só marcaram pacientes com pagamento, apesar de terem convênios. Os outros três só aceitam consultas particulares normalmente.
Um dos médicos que decidiu não aderir à greve, apesar de concordar com ela, foi o clínico geral e nefrologista Mauro Marrocos. “Estou em um momento da vida em que preciso fazer dinheiro. Já fui para a rua, já fiz passeata, já fiz manifestações, e ainda vou fazer, mas eu preciso trabalhar no momento”, afirmou. “Também estou fazendo uma pós-graduação e minha agenda está lotada, não tenho como encaixar os pacientes. Mas a paralisação é mais que justa.”
Aguardando para ser atendida no consultório, a professora Gisleine Sanches, de 32 anos, ligou antes de ir ao local para saber se seria atendida. “Achei melhor conferir para não perder a viagem”, contou ela, que não teve problemas para passar pelo médico, mesmo com o pagamento feito pelo convênio.
Pela manhã, um grupo realizou uma passeata pelo Centro da capital paulista.
O movimento está bem abaixo ao de uma quinta-feira normal, quando a sala de espera fica lotada. Isso mostra que as pessoas estavam avisadas sobre o movimento e nem chegaram a se deslocar em busca de atendimento"
Marcelo Junqueira, coordenador de ambulatório de instituto em Salvador
Bahia
Em Salvador, ao menos parte da categoria aderiu à paralisação. No Instituto Cárdio Pulmonar, na Avenida Garibaldi, apenas quatro médicos fazem atendimento a pacientes que se dispõem a pagar por consulta particular nesta manhã. De acordo com o coordenador do ambulatório da unidade, Marcelo Junqueira, 90% dos profissionais entraram no movimento. Ainda segundo ele, em uma manhã normal, 13 médicos atendem em consultório. Nesta quinta-feira, trabalham um cardiologista, três gastroenterologistas e um pneumologista.
“O movimento está bem abaixo ao de uma quinta-feira normal, quando a sala de espera fica lotada. Isso mostra que as pessoas estavam avisadas sobre o movimento e nem chegaram a se deslocar em busca de atendimento”, diz.
Débora Angeli, coordenadora da Comissão Estadual de Honorários Médicos, informou que a adesão da categoria na Bahia está entre 85% e 90% nesta quinta-feira. "Não é só uma questão de valor de pagamento que está defasado, mas temos que pensar na qualidade do atendimento dos pacientes diante dos nossos custos em manter o consultório. O baixo valor reflete na assistência e na qualificação dos profissionais", diz.
Marinalva Soares conseguiu marcar consulta pelo
plano de saúde e concorda com o movimento
(Foto: Pedro Triginelli/G1) Belo Horizonte
No bairro Santa Efigênia, na Região Leste de Belo Horizonte, um trecho da Rua Domingos Vieira é conhecido por abrigar vários consultórios médicos particulares. Em um dos prédios, que segundo a administração tem cerca de 100 consultórios, o movimento foi abaixo do normal. A paralisação dos médicos contra os planos de saúde dividiu profissionais e diminuiu o número de consultas do dia.
A médica endocrinologista Eliane Maria Ferreira de 48 anos disse que está atendendo pacientes com plano de saúde, mas está se sentindo uma “fura greve”. “Como sou endocrinologista, atendo muitos pacientes com diabetes. Não podia deixar eles sem atendimento. Muitos deles são do interior. Apesar de estar atendendo na parte da manhã, não descarto aderir à greve na parte da tarde”, disse.
Em 21 consultórios visitados pelo G1, nove estavam fechados e sete estavam atendendo pacientes com plano de saúde. De acordo com o médico ortopedista Breno Silva Duarte, ele aderiu à paralisação para apoiar a categoria. “O plano de saúde está tendo aumento e esse valor não é repassado para a categoria. Recebi e-mails falando sobre a paralisação. Tem que seguir a categoria”, disse.
A cabeleireira Marinalva Soares, de 46 anos, conseguiu marcar uma consulta para o filho pelo plano de saúde e disse que concorda com a paralisação. “Eles têm que reivindicar o direito deles. Só não pode prejudicar a população”, disse.
Bancária Michele Correia criticou forma de protesto
(Foto: Adriana Justi/G1) Paraná
Em Curitiba, o movimento afetou a rotina do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), que atende diariamente 700 consultas normais, mas nenhuma foi marcada para esta quinta. Segundo o coordenador de emergência do IPO, Dr. Luciano Prestes, os 50 médicos que trabalham na clínica aderiram à paralisação. Eles estão atendendo somente as emergências. “Hoje o IPO está deixando de atender a 700 pacientes”, afirmou.
A paciente Ivete de Oliveira da Rosa, que aguardava atendimento médico em uma clínica particular, disse que apoia a causa. “Tá certo. Eles têm que reivindicar mesmo. Acho que os médicos estudam muito para não serem valorizados. Se eu não pudesse consultar hoje, não teria problema, eu voltaria outro dia”, afirmou.
Já a bancária Michele Aparecida Correia, que também esperava que a consulta marcada fosse realizada, é contra a paralisação. “Acho que se a gente paga um plano de saúde, que não é barato, e não é atendido, seria melhor não ter. É um absurdo você chegar e não ser atendido. Isso é problema dos médicos, eles têm que resolver com o sindicato deles”, confirmou.