Vestido com calça e camiseta brancas, Reynaldo Gianecchini, 38 anos, cruzou os corredores do 9o andar do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por volta das 19h30 da sexta-feira (12), ao lado da irmã, Claudia, 42. Ele estava sereno, um pouco mais magro e acompanhado de um segurança. O ator tem demonstrado tranquilidade, apesar do turbilhão que atingiu sua vida nas últimas duas semanas.
Internado na segunda-feira (1º) com uma faringite, ele recebeu o diagnóstico de um câncer três dias depois. Na quarta-feira (10), após uma bateria de exames, um novo resultado: linfoma não Hodgkin, tipo de câncer que atinge os gânglios linfáticos . À equipe médica de ponta que cuida de seu caso – a hematologista Yana Novis, o infectologista David Uip e o cirurgião Raul Cutait – Gianecchini se disse otimista para encarar a doença. Ele repetiria a frase em comunicado transmitido pela Rede Globo, em uma espécie de carta aberta aos milhares de fãs: ''Estou pronto para a luta e conto com o carinho e o amor de todos vocês''..
Espírito guerreiro
A notícia da doença provocou uma correria de amigos ao Sírio-Libanês na quarta-feira (10). O ator recebeu Claudia Raia, 44, colega de trabalho e com quem estava ensaiando o musical Cabaret (que em princípio estava previsto para estrear em outubro em São Paulo), com adaptação de texto de Miguel Falabella e direção de José Possi Neto. Claudia saiu sem dar entrevistas, aparentemente abalada com a notícia recente.
No dia seguinte, em nova visita ao amigo, esboçou um sorriso ao deixar o hospital e disse: ''Ele é um touro''. A ex-mulher de Gianecchini, a jornalista Marília Gabriela, 63, também foi vê-lo naquela noite. Muito abalada, foi vista chorando nos corredores, mas deixou o Sírio-Libanês dizendo: ''Ele está bem''. Outros companheiros de trabalho, que estavam no Rio de Janeiro, ouvidos por CONTIGO!, também enviaram mensagens de apoio. ''Meu amigo querido, parceiro de muitas estradas e risadas. Tudo vai dar certo'',disse Giovanna Antonelli, 35. ''Tenho certeza de que, com a alegria de viver que ele tem, em breve o teremos de volta ao ofício que tanto ama'', afirmou Mariana Ximenes, 30. Larissa Maciel, 33, colega em Passione, completou: ''Acredito que tudo vai dar certo e logo Giane estará bem, no palco, cheio de energia e iluminando todos nós com seu lindo sorriso!''
Fé da Família
Considerado o ator mais bonito – e um dos mais carismáticos – da dramaturgia nacional, Gianecchini vem enfrentando com relativo bom humor o diagnóstico ruim. Enfermeiras e recepcionistas do hospital contaram que é difícil vê-lo triste. ''Ele é forte, está calmo'', disse uma das funcionárias. Quem demonstra nervosismo com a situação é a mãe do ator, Heloísa, 67. ''Ela está bem abatida, mas diz que tem muita fé'', contou outra funcionária.
Não tem sido fácil para a família, já bastante afetada pela doença do pai do ator, Reynaldo Cisotto Gianecchini, 71, professor de química, que sofre de câncer no pâncreas e no fígado . No hospital, enfermeiras apontam outro traço que os amigos já conheciam da personalidade do ator, a gentileza. ''Ele é muito educado...'', ressaltou uma funcionária. Na quinta-feira (11), Gianecchini seguiu até a academia do hospital, utilizada por pacientes que fazem fisioterapia, e correu uma hora na esteira. Repetiu o exercício na sexta-feira (12). Por enquanto, a alimentação tem sido normal. ''Ele come
de tudo, todas as refeições do hospital'', afirmou Uip.
“Giane disse que pretende estar bem para a estreia da peça Cabaret, no Rio de Janeiro, em março. Olhando, parece que ele não está doente: não há nenhum sintoma visível no
corpo. Ele não está abatido e disse que está bem, não sente dores nem cansaço ou algum sintoma de doença. Parece um homem saudável. Até falei: ‘Meu querido, você deveria ter escolhido um spa melhor, não?’'', contou Possi Neto, diretor de Cabaret e que tem acompanhado a família.
Filmes e teatro
Instalado no quarto 925, o último do corredor do 9º andar do Sírio-Libanês, Gianecchini gosta de ler, ver televisão e acessar e-mails em seu laptop. É pelo computador que conversa com amigos e envia notícias sobre sua saúde. As visitas da família são constantes – a mãe, Heloísa, se reveza com as irmãs mais velhas, Claudia e Roberta – e os presentes não param de chegar. O ator já ganhou várias caixas de bombons e biscoitos. ''Giane é um paciente exemplar, bem-humorado, gentil. Ele é um cara forte e está acreditando'', reforçou Uip.
Segundo uma amiga do ator, ele está bem disposto. ''Inicialmente, reclamou de dores no pescoço, mas nada sério. Ficou surpreso com o resultado do exame porque ninguém esperava, mas está animado e com ótima voz. Temos conversado por telefone. A mãe está ao lado o tempo todo. Até agora está bem, mas quando a quimioterapia começar deve mudar algo porque a pessoa fica um pouco fraca'', disse ela. ''Ele tem visto muitos filmes e lido bastante, também conversamos sobre teatro. Continua com os mesmos interesses, com um astral para cima. Falamos muito sobre os ensaios de Cabaret. Giane e a mãe seguem otimistas. Ele vai fazer a estreia de Cabaret no Rio de Janeiro, tenho certeza'', contou Possi.
Exames nos EUA
Na segunda-feira (15), os médicos ainda aguardavam a chegada do resultado dos exames, enviados para a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, para definir o linfoma e iniciar o tratamento, provavelmente sessões de quimioterapia. ''Quando o paciente apresenta uma causa grave, difícil, é comum mandarmos tudo para lá'', disse Uip em entrevista à CONTIGO!. ''É um estudo que requer refinamento. Não dá para dizer se (o câncer) está avançado ou não. Tudo vai depender do resultado dos últimos exames'', conclui.
O linfoma não Hodgkin possui mais de 40 tipos. Sabe-se que o do ator foi encontrado em dois pontos: no pescoço e na virilha. ''É importante saber em que estágio que a doença está. Se ele tiver nódulos na virilha e no pescoço, pode estar no estágio 3 ou 4. O linfoma não Hodgkin se divide em vários tipos e provavelmente a equipe deve ter mandado fazer uma análise molecular, estudo da genética e variações de cromossomos. Durante o câncer, os cromossomos trocam de lugar e, com isso, a célula fica descontrolada. Para 80%, 90% dos pacientes, a quimioterapia funciona bem e controla a doença'', explicou Mariano Zalis, 49, diretor do Laboratório Progenética do Rio de Janeiro.
Saúde abalada
O corpo de Gianecchini já vinha dando sinais de que algo não ia bem antes da internação. CONTIGO! apurou que, em 29 de maio, o ator passou mal quando posava para o fotógrafo Rodrigo Picorelli, durante uma sessão para a revista Quadrilátero Ipanema, no Hotel Marina All Suites, em Ipanema. Ele chegou bem, mas se queixou de dor de cabeça e contou ter tido febre na noite anterior. Mas, quando a sessão fotográfica começou, Gianecchini sentiu tonturas, teve tremores e febre alta. Foi levado para a emergência de um hospital e fez exames regulares, de sangue e urina – havia suspeita de dengue. Permaneceu dois dias internado e foi diagnosticado com um quadro infeccioso. Então, resolveu seguir para São Paulo e fazer exames mais rigorosos. No dia 7 de junho, aproximadamente uma semana após o incidente no Marina All Suites, o Hospital Sírio- Libanês informou, por meio de boletim médico, que o ator havia retirado uma hérnia inguinal, em cirurgia feita por Raul Cutait.
Diagnóstco
Desde o dia 1º, quando deu entrada no hospital paulistano por causa de uma faringite, Gianecchini sabia que o diagnóstico poderia ser câncer. Enquanto era tratado com antibióticos, surgiu uma erisipela (processo infeccioso cutâneo causado por uma bactéria que se propaga pelos vasos linfáticos) na perna direita.
“Começamos a tratar e a erisipela foi curada, mas os gânglios (linfáticos) estavam aumentados. Achamos que poderia ser por causa da infecção (a faringite), mas a biópsia em um deles apontou para o câncer”, disse Uip. Apesar da possível gravidade, o ator descarta viajar para os Estados Unidos para se tratar, segundo confirmou um parente próximo. “Giane é vaidoso, mas não está preocupado com as consequências físicas da doença. Ele quer mesmo é se curar e vai conseguir”, completou o parente.
Bastidor exclusivo
Por causa da doença, o ator teve de deixar a peça Cruel, que encenavano Teatro Faap, em São Paulo – as apresentações foram canceladas. Em 27 de julho, cinco dias antes
da internação, Gianecchini atendeu, com exclusividade, a reportagem de CONTIGO! pouco antes de subir ao palco. Bem-humorado, abriu o camarim e mostrou o seu amuleto da sorte: uma grande caixa com saquinhos de arruda, sal grosso e fitinhas do Senhor do Bonfim, presente da amiga Claudia Raia. Acabara de se recuperar da cirurgia de hérnia na virilha. “Eu gosto de fazer exercícios, estou há dois meses sem malhar por causa da operação de hérnia. Tive de ficar de repouso. Para mim, era uma eternidade... Estava me sentindo mal sem exercício”, revelou o ator. Gianecchini fez alongamento, lanchou e rezou alguns minutos antes de começar o espetáculo, às 21h.
Apesar de levemente gripado, o ator disse que estava bem e seguia um cardápio equilibrado.''Eu procuro comer coisas leves, não tenho dieta diferente, no geral é uma alimentação saudável. Antes de subir no palco como uma banana por causa do potássio, peito de peru e café com leite'', disse ele, que costumava chegar ao teatro uma hora e meia antes da apresentação. Na ocasião, o ator também conversou com fãs pela internet e falou que a doença nunca o atrapalhou no trabalho. ''Teatro é isso. Você pode estar com febre, mas a gente tem de dar conta do recado. Eu já subi mal, vomitando e fiquei até o fim. Você sai energizado e até melhor”, afirmou.
Em 11 anos de profissão, Gianecchini praticamente emendou um trabalho no outro – na TV, no cinema e no teatro – desde que estreou na novela Laços de Família, em 2000. ''Eu sou um cara que acha que a vida é meio curta. Gosto de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo e se pudesse viajaria mais, faria mil cursos. Meu sonho mesmo é viver da minha arte e continuar fazendo meu trabalho com tranquilidade'', disse Gianecchini. Se depender da torcida, o sonho será realizado.
Pai e filho na luta contra a doença
O telefonema no domingo (14), Dia dos Pais, foi um verdadeiro presente. Em seu quarto de hospital, Gianecchini respirou aliviado quando falou com o pai, o professor de química Reynaldo Cisotto Gianecchini, 71, por telefone e soube que “seu velho” estava se sentindo melhor. Desde o início do ano, o educador – que é conhecido em Birigui como Patão – luta contra um câncer inoperável no fígado e no pâncreas.
O pai tem se submetido a sessões de quimioterapia em Ribeirão Preto e, nos intervalos, recupera-se em Uberaba (MG), no sítio do pecuarista Luiz Henrique Borges Fernandes, padrinho do ator e irmão de Heloísa, a mãe de Gianecchini, conhecida na família como Leninha. Professor do Anglo de Penápolis há quase 30 anos, Patão está de licença médica e não há previsão de voltar a lecionar. “Giane andava meio triste, pois estava ajudando a cuidar do pai”, diz Fernando Torquatto, maquiador e fotógrafo, 41, amigo do ator. A família está sensibilizada com o baque duplo. Há 12 anos, eles perderam Denise, filha de Luiz Henrique, vítima de leucemia. Em 2009, Giane protagonizou uma campanha em prol do Instituto Boa Fé de Combate ao Câncer (INBF) para beneficiar o Hospital Hélio Angotti, em Uberaba, que tratou a prima. Em março, Leninha e Patão foram a Franca, interior paulista, fazer uma operação espiritual com um médium no Instituto de Medicina do Além. “A família é católica, temos rezado para os dois, mas bênçãos de outras religiões são bem-vindas”, disse um parente.
Giane não acompanhou as três consultas, mas ficou com os pais na cidade. Natural de Birigui, o ator gosta da vida no interior e preserva as raízes. Recentemente, disse que se considerava um caipira e que ainda visitava a casa antiga. “Eu já ganhei chave da cidade e tudo. Quando vou lá, fico recluso com a família. Meus pais moram lá. Não são deslumbrados, têm o pé no chão e acompanham de perto meu trabalho”, disse ele, que sente saudade dos tempos de criança, quando andava descalço na roça. Na família, a certeza da recuperação dos Giane – pai e filho – é unânime. Um parente resume o clima otimista: “O caso do pai é mais grave, mas temos fé, ele vai superar tudo. Os dois vão ficar bons, sim”.