26 de outubro de 2010 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo
Em janeiro de 2002, o prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, foi sequestrado, torturado e morto a tiros. Desde a primeira hora, o seu partido fez o que podia para que a polícia considerasse o assassínio do companheiro crime comum. Mas não conseguiu evitar que, ao cabo de 5 anos de investigações, o Ministério Público paulista concluísse que Daniel foi eliminado por uma razão incomum. Ele queria acabar com a "privatização" das propinas arrecadadas de empresas de transporte da cidade. O esquema era operado pelo segurança do prefeito, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra - preso e prestes a ser julgado como mandante do assassínio do chefe.
Daniel não se opunha à extorsão. Ele se insurgiu apenas contra a apropriação pessoal de parte da bolada que devia ser toda ela entregue ao PT para reforçar o caixa 2 da agremiação. Graças ao testemunho de João Francisco Daniel, irmão do prefeito, soube-se também que o então secretário de governo do município, Gilberto Carvalho, era o incumbido de repassar o dinheiro ao partido. Ele próprio contou isso a João Francisco, acrescentando que entregava as somas ao presidente da legenda à época, José Dirceu. As acusações não tolheram a carreira de Carvalho. Desde 2003, ele chefia o gabinete do presidente da República.
O futuro do mais próximo colaborador de Lula poderá já não ser tão auspicioso. Ele corre o risco de ter os seus direitos políticos suspensos durante até 10 anos e de ter de devolver uma parcela dos milhões desviados da prefeitura de Santo André. É a pena que o Ministério Público pede para Carvalho e outras cinco pessoas, além de uma empresa e do próprio PT, numa ação apresentada em 2007 - e que, enfim, foi plenamente acolhida. Na semana passada, negados os últimos recursos dos acusados, a juíza Ana Lúcia Xavier Goldman confirmou a pronúncia de Carvalho e demais envolvidos como réus de uma processo por improbidade administrativa.
Em casos do gênero, os acusados têm direito à defesa prévia - o que, em boa parte, explica os 3 anos transcorridos entre a iniciativa dos promotores e o início efetivo da ação judicial. Carvalho, que já foi ouvido sobre o esquema de corrupção pelo Ministério Público e pela CPI dos Bingos do Senado em 2005, diz estar com a consciência "absolutamente tranquila". Por que não? O prefeito com quem trabalhou decerto também tinha a consciência em paz enquanto imaginava que todo o produto da chantagem a que a sua gente submetia os prestadores de serviços ao município estava em boas mãos - nos cofres clandestinos do PT.
Carvalho se permitia até debochar de quem o procurava para denunciar "que havia coisas erradas na administração Celso Daniel", lembra a psicóloga Mara Gabrilli, cujo pai era dono de uma empresa de ônibus, a Viação Expresso Guarará, submetida à extorsão pela prefeitura. Inicialmente tentou reagir à chantagem. Mas acabou submetendo-se a ela diante do truculento "cobrador", o Sombra, que fazia a cobrança empunhando um revólver. Mara, que entraria para a política, se elegeria vereadora e, agora, deputada federal pelo PSDB, chegou a procurar o presidente Lula no seu apartamento em São Bernardo para denunciar o que estava ocorrendo. "Ele me recebeu por 40 minutos, eu contei tudo. Mas nenhuma medida foi tomada", relata. Diante disso, ela resolveu procurar o Ministério Público.
No banco dos réus, fazem companhia ao primeiro interlocutor de Lula o Sombra, o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-secretário de Transportes de Santo André Klinger Luiz de Oliveira Souza, entre outros, mais o PT. Segundo a denúncia, o segurança do prefeito entregava o dinheiro extorquido ao empresário, que o repassava a Carvalho. Ele, por sua vez, se incumbia de levá-lo ao PT. "A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre de sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos", especificaram os promotores. "Era voz corrente na cidade", recorda Mara, "que Gilberto Carvalho era o homem do carro preto, o cara da mala, que levava dinheiro da corrupção para José Dirceu."
23/08/2010 Márcia Lopes e Gilberto Carvalho: os irmãos paranaenses no governo federal
A trajetória de Márcia Lopes e Gilberto Carvalho, os irmãos paranaenses que cuidam hoje das duas “joias” da gestão petista no governo federal
Uma cuida do Bolsa Família. O outro, do próprio Lula. Na reta final do atual governo, as duas “joias” da gestão petista estão sob responsabilidade dos irmãos paranaenses Márcia Lopes, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Gilberto Carvalho, chefe do gabinete da Presidência.
Ela está no cargo desde abril, enquanto ele permanece como escudeiro do presidente desde a campanha presidencial de 2002. Nas últimas quatro décadas, porém, a história de ambos se cruzou poucas vezes até o reencontro em Brasília.
A trajetória de Márcia Lopes e Gilberto Carvalho, os irmãos paranaenses que cuidam hoje das duas “joias” da gestão petista no governo federal
Apesar de não ser tão incomum – vide o caso dos senadores Alvaro e Osmar Dias –, a trajetória dos irmãos chama a atenção. E diz muito sobre as raízes do PT no Paraná.
Marcia, 53 anos, e Gilberto, 59, são filhos de pioneiros humildes que desembarcaram em Londrina em 1938 (dois anos depois da fundação da cidade), vindos do interior de São Paulo. O pai foi vendedor de sapatos, garçom e no Natal fazia bico como Papai Noel. A mãe vendia marmitas e puxou os quatro filhos para a igreja.
Da favela ao Planalto
É no catolicismo que começa a história política da família. Os dois filhos mais velhos seguiram a vida religiosa. Marilena, que faleceu aos 47 anos, foi freira. Gilberto saiu de casa aos 11 anos para o seminário e, em vez de virar o padre bonachão que todos esperavam, foi parar no Palácio do Planalto.
Primeiro, fez noviciado em Cornélio Procópio (Norte Pioneiro) e então mudou-se para Curitiba, onde terminaria a educação religiosa. Na capital, formou-se em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná e começou a estudar Teologia na Pontifícia Universidade Católica.
No segundo ano do curso, descobriu que estava no caminho errado. Gilberto era membro da congregação palotina, grupo conservador de origem alemã. No começo dos anos 1970, entretanto, aderiu à tese de que os católicos deveriam optar preferencialmente pelos pobres, cerne da Teologia da Libertação. Desentendeu-se com os palotinos, abandonou a universidade e partiu voluntariamente para viver na miséria.
Em 1976, foi morar na antiga favela da Vila São Paulo, no Uberaba, desalojada posteriormente devido à urbanização do Rio Belém. Pouco antes, foi trabalhar como operário não qualificado na companhia de plásticos Providência. Vivia com um salário mínimo por mês.
“Na verdade, queria ser lixeiro. Quanto mais na base da pirâmide social, melhor. Mas meu corpo não aguentava a correria”, lembra o “Baixinho”, como é chamado por Lula, ao se referir ao trabalho de catar o lixo. A inspiração era padre Alfredinho, suíço que ganhou fama por viver em comunidades miseráveis do Norte do país. A admiração permanece – Gilberto mantém uma foto do religioso na antessala do gabinete presidencial.
Em pouco tempo o abismo entre a realidade social brasileira e a atuação formal da Igreja o fez desistir de ser padre. “Mas eu nunca perdi a fé”, afirma. Na favela, conheceu a primeira mulher, que era professora voluntária, e com ela teve três filhos (Gilberto ainda adotou outros dois no segundo casamento).
Na virada para a década de 80, ingressou no movimento sindical e, por tabela, conheceu Lula. A convivência desembocou na fundação do Partido dos Trabalhadores. “A origem do PT era um negócio tão rudimentar no Paraná que eu ia para as cidades que não conhecia para bater de porta em porta e tentar fazer filiações. Eu era como um vendedor de Avon.” Em 1986, Gilberto concorreu a deputado federal e fez 25 mil votos. Não se elegeu por causa da legenda – que não fez votos suficientes.
Depois, presidiu o partido no estado por quatro anos e concorreu a vice-prefeito de Curitiba na chapa de Claus Germer, em 1988. Convocado por Lula, deixou o estado de vez para tocar em São Paulo o Instituto Cajamar, berço da Fundação Perseu Abramo, que cuida da formação política dos petistas. Galgou outros cargos no partido, como o de secretário nacional de Comunicação, até que, em 2002, foi assessorar Lula na quarta tentativa de ser presidente.
Com a vitória, permaneceu como o “faz-tudo” do Palácio do Planalto. “Sou o responsável pelo meio de campo entre Lula e todo mundo”, explica. Cotado para ser presidente do partido no começo do ano, foi logo vetado pelo chefe. “Ele quis que eu ficasse aqui até o final do mandato. Não quer que o governo baixe o ritmo.”
Graças à opção, viu de perto a irmã virar ministra.
De “boneca viva” a ministra
Ao começar a falar sobre a própria vida, a ministra do Desen-volvimento Social Marcia Lopes, frisa: “Adoro um discurso”. Lembra que estreou na política aos 5 anos, quando ganhou o prêmio de “Boneca Viva” da paróquia – concurso comum no interior, no qual as meninas disputavam um título de beleza, mas que geralmente era vencido por aquela que vendia mais rifas que as concorrentes.
Mais velha, Marcia costumava acompanhar a mãe em visitas à prisão, onde oferecia pão-doce e rezava o terço com os detentos. “Sempre foi uma preocupação muito grande dos meus pais que tivéssemos espírito comunitário.”
Também influenciada pela mãe, começou a dar aulas de catequese aos 17 anos. Na época, fazia ao mesmo tempo política não partidária na paróquia, no grupo de jovens, no grêmio estudantil – em qualquer lugar. Somou todas as experiências e foi fazer o curso de Serviço Social na Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Seguiu no mesmo ritmo, no centro acadêmico e, já formada, no sindicato da categoria. Graças ao irmão, aderiu à Teologia da Libertação. Mas nunca pensou em ser freira – casou-se cedo e teve quatro filhos.
Logo depois de formada, tornou-se professora da UEL. Também ajudou na fundação e estruturação do PT no Paraná. Mas só entrou na política para valer em 1993, quando foi secretária municipal de Assistência Social de Londrina, durante a gestão do ex-prefeito Luiz Eduardo Cheida. No cargo, trocou experiências com o prefeitura de Belo Horizonte na época, Patrus Ananias.
Em 2000, elegeu-se vereadora de Londrina. No fim do mandato, em 2004, foi convidada para ser secretária nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social. Em pouco tempo, virou braço-direito do então ministro Ananias.
Com saudades da família, voltou para a Londrina e para a UEL em 2008. “Além de sentir falta dos filhos, ela saiu do ministério porque se enrolou toda pagando passagem de avião”, conta o irmão, Gilberto. O exílio acabou em março, quando Ananias deixou o governo e convenceu Lula a colocá-la na vaga.
O irmão, a pessoa mais próxima do presidente nos últimos 7 anos e meio nega ter feito lobby familiar. “Só fui saber do convite para ela assumir o ministério depois que já tinha sido feito e aceito.”
Sobre o futuro, nenhum dos dois é enfático – tudo depende da eleição de outubro. O fato é que Lula deixará a Presidência e quase certamente sairá de cena. Mas o Bolsa Família, segundo todos os presidenciáveis, seguirá em frente. Só falta saber nas mãos de quem.
Fonte: www.gazetadopovo.com.br
FRISTÃO
Eis a imagem. E mais esclarecimentos:
O escritor Ysis Hublet, 67 anos, foi liberado pelo Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, após ser detido por ter desferido duas bengaladas no deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Dirceu não registrou queixa contra ele e mandou entregar-lhe um impresso intitulado "Treze Manipulações no Processo contra José Dirceu".
(...)
Ao agredir Dirceu, Hublet gritou: "Fristão! Fristão!", referindo-se a um feiticeiro fictício, autor de livros de cavalaria dos Séculos XVI e XVII, época em que esse tipo de literatura era bastante difundido na Espanha de Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote. Quanto contido por seguranças e questionado por jornalistas, o agressor deixou dúvidas de que tivesse gritado "Cristão" ou "Fristão". [estado.com.br]
Atualização: o Estadão publicou um ÁLBUM DE FOTOS DA BENGALADA. Como é uma janela em Flash, não tem como colocar o link. Azar o deles: copiei todas as fotos, com as legendas, e coloquei aí embaixo. Sensacional demais.
O escritor Yves Hublet, de 67 anos, atacou o deputado José Dirceu com sua bengala nesta terça-feira.
Yves estava desde às 13h no Salão Verda da Câmara dos Deputados
Yves Hublet disse que estava visitando a Câmara e foi ACOMETIDO POR "UM SÚBITO DE NERVOSISMO" ao dar as bengaladas em Dirceu
Assim que Dirceu apareceu, deu com a bengala na cabeça do deputado.
Dirceu, após receber o golpe do escritor...
... e vendo as imagens da agressão.
Yves Hublet é autor dos livros Planeta água, Mico-Leão e a Grande Guerra de Dona Baleia, UMA TRILOGIA ECOLÓGICA.
Yves já foi filiado ao PDT
Após depoimento, o agressor aconselhou a leitura do livro Dom Quixote.
José Dirceu ainda não decidiu se vai processá-lo por injúria real. A pena para esse crime varia de 3 meses a 1 ano.
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