O velho proprietário prefere passar o ponto para sua chefe de cozinha. Negociou com ela a manutenção da estrela na fachada.

Como gosta da cozinheira, o dono do boteco tenta familiarizá-la com a clientela. Transferiu-a do fogão para o balcão. Deu-lhe carta branca.

Ela mandou pendurar um aviso na parede: “Não fazemos barganha”. Levou um sorriso à antiga carranca. Agora, é sociável a mais não poder.

Espero que você continue prestigiando o estabelecimento depois que eu assumir.

Depende. Vai oferecer o quê?

Vamos manter o cardápio.

O cardápio não é ruim, mas pode melhorar.

Aceitamos sugestões.

Eu frequento essas mesas desde o tempo em que um tucano piscava no letreiro.

Bem sei. Mas você há de concordar comigo: depois da estrela, a coisa melhorou.

Ruim não está, mas sempre pode ficar melhor.

Pois me diga: o que podemos fazer para continuar agradando à clientela?

Ouço reclamações nas mesas.

Mas, mas...

Você não é a única pretendente ao negócio.

Como assim?

Você sabe, a turma do tempo do tucano quer voltar. Eles estão no pé da gente.

Sim, sim, tô sabendo. Mas vocês não estão satisfeitos?

Insatisfeita a clientela não está. Mas pode melhorar.

Desembucha homem, diga logo. O que pode ficar melhor?

Veja bem, o cardápio, de fato, tem de tudo.

Pois então...

Mas o pessoal já não se contenta com tudo. Quer mais um pouco.

Você poderia ser mais específico?

Para começar, ajudaria muito se você mandasse arrancar da parede aquele aviso.

O velho dono do negócio, que fiscaliza os diálogos à curta distância, puxou um garçom pelo braço. Cochichou-lhe algo.

Pouco depois, achegando-se ao cartaz na parede –“Não fazemos barganhas”— o garçom colou uma propaganda de pinga em cima da palavra “não”.

A cozinheira fez que não viu. Aprendeu sua primeira lição. O sucesso do negócio não depende da qualidade do cardápio, mas do tamanho do balcão.