FÁBIO ASSUNÇÃO EM PRIMO BASILIO , Parte 1
domingo, 7 de setembro de 2008
R$ 15 bilhões foram desviados de obras públicas, calcula PF
Valor é relativo a período entre 2000 e 2008; peritos analisaram empreendimentos com recursos da União
Fausto Macedo, de O Estado de S. Paulo
Paulo Valadares/AE
Peritos inspecionaram custo mínimo de 313 obras
Os valores do desvio, corrigidos para 1.º de agosto, são relativos ao período entre 2000 e 2008 e foram calculados a partir da análise de 1.770 laudos elaborados pelos engenheiros federais em obras contratadas com recursos da União.
Nesses empreendimentos, espalhados pelos 26 Estados e o Distrito Federal, foram investidos R$ 110,47 bilhões.
Para chegar ao montante do rombo, os técnicos adotaram procedimentos de análise documental, levantamento topográfico, avaliação objetiva da qualidade do pavimento e ensaios laboratoriais.
Os modelos de obras que mais passaram pelo crivo da perícia são as edificações (33%) e as estradas (16%). Também foram alvo pontes (4%), drenagem (5%), hídricas (3%), elétricas (2%), água (9%), saneamento (8%). Os técnicos da PF identificaram superfaturamento médio de 30% nas obras em rodovias. Em alguns casos, o sobrepreço atingiu 250%.
Uma análise mais restrita, tomando por base universo de 430 Formulários de Procedimentos Posteriores - produzidos a partir de leitura minuciosa de laudos conclusivos -, aponta gastos de R$ 26,7 bilhões e desvios de R$ 3,77 bilhões.
Os peritos vistoriaram 9,32 milhões de metros quadrados de área e 3,84 milhões de metros cúbicos de materiais. Percorreram 211,8 mil hectares de terras. Foram inspecionados 364 canteiros. Eles analisaram o custo mínimo de 313 obras e a qualidade do material empregado em 177 delas. Em apenas 58 não identificaram malversação. Superfaturamento é recorrente: 168 contratos com preços irreais.
O índex da perícia enquadra 143 casos por "inexecução parcial ou total" dos serviços; outros 75 apresentaram "deficiência na qualidade"; e 63 não tinham o projeto básico exigido pela Lei 8.666/92, que disciplina procedimentos de licitação.
As fontes dos recursos que escoam pelo ralo da corrupção são ministérios, autarquias e também governos estaduais e municipais que firmam parcerias com a União.
São três os canais do desperdício, indica o catálogo dos peritos: preço muito acima da média de mercado, quantidade insuficiente de material aplicado e o desequilíbrio contratual que permite acréscimo e inclusão de serviços mais caros.
Sonrisal
Protagonistas de tantas aventuras, aqui diante de obras fantasmas na floresta, ali em visita a empreendimentos suntuosos, os técnicos da PF descobrem coisas do submundo do crime que os deixam indignados.
"Viaduto Sonrisal", por exemplo, é o pontilhão que desmancha logo, porque erguido sobre peças descartáveis.
"Contrato imortal" é documento antigo, porque firmado em gestões passadas, mas que ainda tem valor legal para abrigar contratações burlando imposição de uma nova licitação.
Régis Signor, mestre em engenharia civil e doutor em engenharia de produção, e Pedro de Souza Oliveira Júnior, bacharel em engenharia civil, são peritos tarimbados. Mas eles ainda ficam pasmos com o que vêem e anotam em seus cadernos. Os dois integraram a equipe que examinou obras em 5 rodovias no Tocantins. O que mais eles viram, além de descaso e abandono de obras com dinheiro da União, foi sobrepreço.
"Superfaturamento de 250%", aponta Oliveira Júnior. "A cada R$ 1 que o empreiteiro investia, R$ 2,50 ele enfiava no bolso."
O rombo nas estradas sugou R$ 200 milhões. "O gerenciamento de recursos públicos no Brasil é equivalente ao dos países mais pobres da África", compara o perito-engenheiro Marcos Cavalcanti Lima.
Na primeira estrada vistoriada, descobriram superfaturamento de preços e de volume de serviços. "As empresas contratadas cobraram durante quase 11 anos, cujo contrato inicial tinha duração prevista para menos de dois anos, mais de R$ 20 milhões para a execução de 70 quilômetros de uma rodovia que nunca foi acabada", concluíram os peritos da PF.
Ciclone extratropical derruba postes no RS
Ventos de 80 km/h deixaram mais de cinco mil residências sem luz em Porto Alegre
SOLANGE SPIGLIATTI
Segundo a Defesa Civil da cidade, os ventos chegaram a 81 km/h, por volta das 22 horas. Os problemas se concentraram na zona sul da cidade, principalmente no bairro Belém Novo, e no bairro Moinhos de Vento devido ao impacto da ventania na rede de distribuição de energia.
Cinco postes caíram e alguns estariam pendendo. Duas casas foram atingidas por árvores e as famílias foram obrigadas a saírem das residências e transferidas para um abrigo da prefeitura. Ninguém ficou ferido, segundo a Defesa Civil.
El primer ministro de Canadá convoca a elecciones anticipadas para el 14 de octubre
El primer ministro Stephen Harper busca afianzar su poder.- Serán las terceras elecciones en el país en cuatro años
REUTERS - Ottawa - 07/09/2008
El primer ministro de Canadá, Stephen Harper, ha convocado hoy elecciones legislativas anticipadas para el 14 de octubre, en un intento por fortalecer su poder después de dos años y medio a la cabeza de un minoritario Gobierno conservador. Según varias encuestas difundidas la semana pasada, los conservadores tienen tal ventaja frente a la oposición liberal que podrían ganar la mayoría de los 308 escaños del Parlamento.
Harper ha afirmado que Canadá necesita un liderazgo firme en momentos en que la economía está sintiendo los efectos de la desaceleración de su vecino Estados Unidos. Ya ha aclarado que no propondrá el tipo de recortes de impuestos de alto perfil que su Gobierno ha anunciado en el pasado.
"Entre ahora y el 14 de octubre, los canadienses escogerán u Gobierno que vigile sus intereses en momentos de problemas económicos globales", ha dicho Harper en un comunidades. "Escogerán entre orientación o incertidumbre, entre el sentido común o experimentos riesgosos, entre firmeza y temeridad".
Estas serán las terceras elecciones que se celebran en el país en cuatr Sphere: Related ContentSite oficial de Jayme Monjardim
( ADOREI O SITE !!!) Sphere: Related Content
A estupidez e a mordaça
A tentativa de boicote a “Trovão tropical”, mais uma comédia sem graça de Hollywood, é boa publicidade para o filme.
Entidades de defesa dos deficientes mentais, apoiadas por ONGs de vários setores, realizam um movimento nos Estados Unidos e no Brasil (onde “Trovão” está em cartaz há uma semana) para que o público não vá assisti-lo.
O filme de Ben Stiller satiriza as produções cinematográficas de guerra. E está cheio de piadas de mau gosto sobre doenças mentais, com o termo “retardado” sendo fartamente repetido. Tentaram ser politicamente incorretos e foram apenas estúpidos.
O movimento de boicote também sofre da distância entre intenção e gesto. Os defensores das minorias querem golpear a bilheteria da superprodução de 90 milhões de dólares. Acreditam na censura à estupidez.
Nos Estados Unidos, o boicote fracassou. São três semanas de casa cheia nos cinemas. No Brasil, a bilheteria ficou abaixo da expectativa na primeira semana (o filme ficou apenas com o nono lugar). A campanha existe nos dois países. E a liberdade de escolha também.
A reação a “Trovão tropical” é sadia, mas o caminho do boicote é autoritário. É como se o público fosse intimado a não ser estúpido como o filme. Quem achar graça nesse tipo de humor, terá uma motivação a mais para assisti-lo. Quem se incomodar com ele, naturalmente vai propagar o seu mal-estar. A tentativa de cerceamento também é uma forma de estupidez.
Na era da internet e do YouTube, haveria campanhas mais eficientes para se fazer. Por que não um trailer-paródia sobre os “retardados” de Hollywood e seu humor sem graça?
A justiça humanitária não dá aos seus defensores licença para substituir a inteligência pela força.
PS (em 6/9): Em meados dos anos 80, a banda de rock Dr. Silvana, no topo das paradas, lançou seu novo hit “Taca a mãe pra ver se quica”. Fracasso total. Sem boicote de nenhuma ONG pró-mães. Os militantes da ética precisam se lembrar de que não têm o monopólio do bom senso.
P.S.: Beijo tua boquinha gulosa
As cartas de amor do escritor João Guimarães Rosa para a mulher, Aracy (foto), revelam o lado mais sensual do autor de Grande Sertão: Veredas. Quando "Joãozinho" escrevia para "Ara" (era assim que eles se tratavam), em nada lembrava a prosa de Riobaldo e Diadorim. Boa parte dessa correspondência amorosa será revelada numa biografia sobre Aracy, hoje com 100 anos, que será lançada até abril de 2009.
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 8/setembro/2008. |
Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página. |
Aracy Guimarães Rosa, na época em que encantou o escritor. Hoje, ela ainda vive, aos 100 anos
Olhe bem para a boca da bela mulher do retrato. Para esses lábios, um dos maiores nomes da literatura brasileira escreveu: “Antes e depois, beijar, longamente, a tua boquinha. Essa tua boca sensual e perversamente bonita, expressiva, quente, sabida, sabidíssima, suavíssima, ousada, ávida, requintada, ‘rafinierte’, gulosa, pecadora, especialista, perfumada, gostosa, tão gostosa como você toda inteira, meu anjo de Aracy bonita, muito minha, dona do meu coração”.
Sim, ele mesmo. João Guimarães Rosa, o autor de Grande Sertão: Veredas, entre outras obras-primas da língua portuguesa, o diplomata sempre refinado do Itamaraty, escreveu essas linhas condimentadas e centenas de outras para a grande companheira de sua vida, num estilo que em nada lembra a prosa de Riobaldo e Diadorim. Quando “Joãozinho” escrevia para “Ara” (era assim que eles chamavam um ao outro ), era direto, rasgado, explícito. Só pensava em “boquinha sabida”, “pintazinha do pé esquerdo”, “camisolinha cor-de-rosa”.
O acervo – grande parte dele inédito – é composto por 107 cartas, 44 postais, bilhetes e telegramas, escritos por Rosa para Aracy entre 24 de agosto de 1938 e 18 de agosto de 1960. A pesquisa da correspondência foi confiada a duas estudiosas da obra do escritor, Neuma Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará, e Elza Miné, da Universidade de São Paulo. Elas se dedicam agora a escrever a biografia de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, uma personagem extraordinária por motivos que vão muito além da condição de mulher de grande homem.
O livro será lançado ainda no ano do centenário de Aracy, que se encerra em 20 de abril. “Quando comecei a ler as cartas, fiquei muito tímida, como sempre acontece quando lemos a correspondência de alguém”, diz Neuma. “Fiquei muito emocionada com a vida deles. Aos poucos, senti como se fossem da família.”
A pesquisa foi iniciada no fim da década de 90. Em 2006, Neuma e Elza publicaram um artigo analisando a correspondência amorosa, nos Anais do Seminário Internacional em comemoração aos 50 anos de Grande Sertão: Veredas. Na biografia que preparam, as cartas serão reveladas e ganharão sentido no contexto da vida e da época de Aracy.
Aos 100 anos, Aracy vive em São Paulo com a família de seu único filho, Eduardo Tess.
16/04/2008 - 10:41 | Edição nº 517
A lista de Aracy
Enquanto namorava Guimarães Rosa, ela enganou a diplomacia de Getúlio Vargas para salvar dezenas de judeus na Segunda Guerra Mundial
eliane brum (texto) e Frederic Jean (Fotos)
O ANJO DE HAMBURGO Funcionária do consulado brasileiro, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa arriscou a vida para salvar judeus na Segunda Guerra Mundial. Em 20 de abril, ela completará 1 século |
Adolf Hitler queria matar Günter Heilborn. Se tivesse conseguido, Luiza, de 4 anos, não contaria histórias mirabolantes para a família com ares de heroína trágica, Marina não teria criado uma taturana para descobrir como ela virava borboleta e Juliana, ao ouvir uma amiga da mãe dizer que era baiana, não teria declarado: “Eu sou mamífera”. Não teria existido futuro para Günter. E não haveria presente para suas bisnetas trigêmeas. O assassinato num campo de extermínio poderia ter interrompido não apenas a história de Günter, mas toda a teia de acontecimentos, piqueniques, lágrimas, dentes de leite, decepções, joelhos esfolados e perguntas sem resposta que sua vida gerou.
É com essa fita métrica que a História vai medir a estatura de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, a funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo que enganou a diplomacia de Getúlio Vargas para ajudar dezenas de judeus a conseguir vistos para fugir da perseguição nazista na Segunda Guerra Mundial. Ela completará 100 anos no domingo 20 de abril. Separados em tudo, Aracy e Hitler compartilham a mesma data de aniversário. Quando ela nasceu, a mais de 10.000 quilômetros da Alemanha, em Rio Negro, no Paraná, ele completava 19 anos e sonhava em ser artista. Décadas mais tarde, ela viria a tornar-se o anjo de Hamburgo. Ele, o carrasco de 6 milhões de judeus. Em meio ao horror inventado por ele, Aracy descobriu quem era ela.
O que faz alguém decidir que o único modo de salvar também a si mesma é desobedecer a ordens que prometeu cumprir? Que para ser uma boa pessoa é preciso ser uma má funcionária? A mulher sentada numa poltrona do apartamento do filho, em São Paulo, não pode mais responder. Ela sofre de Alzheimer. Os fios de sua memória são como um novelo que escorregou do colo e se perdeu.
Quando a trajetória de Aracy cruzou a de Günter, ela era jovem. E era linda. E não era vista com bons olhos. Em 1934, Aracy era uma mulher desquitada. Naquela época, para a maioria das mulheres, o máximo de ousadia era comprar um fogão a gás. Filha de uma imigrante alemã, Aracy pegou o filho de 5 anos pela mão e embarcou num navio para a Alemanha. Tinha 26 anos, era fluente em várias línguas e decidira ser a dona de sua história.
A vitória da vida Karl Franken sobreviveu a Hitler graças a Aracy. No Brasil, ele encontrou outra fugitiva do nazismo, Gertraud (abaixo, ela segura sua foto). E com ela Karl iniciou uma família... |
Depois de uma temporada na casa de uma tia, Aracy conseguiu emprego no consulado brasileiro em Hamburgo. Os judeus haviam sido expulsos de universidades, repartições públicas e do Exército. Foram obrigados a entregar seus negócios a arianos. Do Itamaraty eram desferidas “circulares secretas” para embaixadas e consulados. Nelas, a ordem era dificultar a entrada de judeus no Brasil. O Estado Novo de Vargas flertava com o nazismo.
O dentista Günter Heilborn não conhecia nem Aracy nem o Brasil. No fim de 1938, ele foi preso num campo de concentração com milhares de homens judeus. Para não morrer de fome, contou à família que tinha de comer as próprias fezes. Enquanto Günter padecia em Buchenwald, Aracy fazia sua escolha. Com a ajuda de Hardner, antigo guarda civil e proprietário da auto-escola onde aprendera a dirigir seu Opel Olympia, ela forjava atestados de residência falsos para que judeus de qualquer parte da Alemanha pudessem pedir vistos em Hamburgo. Conseguia também passaportes sem o J vermelho que assinalava os documentos. Misturava os pedidos à papelada que levava ao cônsul. Ele assinava os vistos, possivelmente sem saber que despachava judeus para o Brasil.Parece fácil fazer a coisa certa. Mas só é fácil para quem vê os fatos iluminados pelo julgamento da História. Aracy era uma mulher sozinha com um filho pequeno num país à beira da guerra. Suas ordens eram fechar a porta para os judeus. Anos atrás, quando lhe perguntaram por que fez o que fez, ela disse: “Porque era o justo”. Em 1982, Aracy foi reconhecida como “Justa entre as Nações”, título conferido pelo Museu do Holocausto, em Jerusalém, aos não-judeus que arriscaram sua vida na Segunda Guerra Mundial para salvar a de judeus. Seu nome figura ao lado de Oskar Schindler e do então embaixador do Brasil em Paris, Luiz Martins de Souza Dantas, outro brasileiro entre as 22 mil pessoas que já receberam a homenagem.
Inge, a noiva de Günter, ouviu rumores sobre o “anjo de Hamburgo”. Naquele momento, ainda era possível conseguir a libertação de judeus que tivessem vistos para deixar a Alemanha. Os nazistas se contentavam em vê-los longe. Em breve, só se satisfariam com eles mortos.
O difícil era conseguir um visto. Na sala do consulado, Inge juntou-se a dezenas de judeus que haviam batido em muitas portas diplomáticas sem conseguir abri-las. Aracy aconselhou Inge a trocar os passaportes de suas cidades – Breslau e Gleiwitz – pelos de Hamburgo para que pudesse ajudá-los. Inge pode ter cruzado ali com Grete e Max Callmann, acuados num canto da sala. “Eu me lembro como se fosse ontem”, diz Grete. “Meu marido viajou para todas as cidades da Alemanha onde existia consulado do Brasil e dos Estados Unidos. Um dia me ligou dizendo que havia chance em Hamburgo. No dia seguinte, estávamos num canto, esperando nossa vez na sala cheia. De repente, uma moça nos chamou. Era a dona Aracy. Ela nos arrumou visto para viajar para o Brasil. Nós quisemos pagar. Mas ela disse: ‘Vocês não me devem nada’.” Na noite de 9 de novembro de 1938, Grete era recém-casada com Max, 22 anos mais velho. Ele havia sido diretor de uma grande loja de departamentos. Como todos os judeus, perdera o posto por um decreto nazista. Sobreviviam agora com uma fábrica de aventais. Grete não conseguia dormir porque Max roncava. Pegou travesseiro e cobertor e transferiu-se para o sofá da sala. “Acordei às 5 horas da madrugada, com um barulho terrível na rua. Os nazistas quebraram tudo o que era de vidro, as janelas das lojas”, diz. Ela sacudiu o marido: “Algo muito ruim está acontecendo”. No dia seguinte, o mundo saberia que os nazistas haviam assassinado dezenas de judeus, incendiado, saqueado e destruído sinagogas, lojas e empresas hebraicas, confinado quase 30 mil homens em campos de concentração. A “Noite dos Cristais” inaugurou o que a História chamaria de Holocausto.
Karl Franken, funcionário de uma loja de roupas para senhoras em Hamburgo, embarcou às pressas num trem para Essen. Pretendia se esconder na casa da mãe. Quando se acomodou numa mesa do vagão-restaurante para jantar, havia ainda um lugar vago. Minutos depois, sentou-se diante dele um oficial da SS. Karl ouviu impassível o nazista discursar. “Foi a única vez na minha vida que tive de levantar e estender a mão. Tive de fazer Heil Hitler”, disse a ÉPOCA, pouco antes de morrer. Tinha 99 anos e ainda vivia a insanidade daquele momento.
‘‘O que Aracy significou para nós? A vida’’ |
O oficial desceu em Bremen sem desconfiar que o jovem alto, olhos azuis, era judeu. Essa história será contada em um livro do Núcleo de História Oral Gaby Becker, do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. Karl escapou e, com a ajuda de Aracy, embarcou no vapor Cap Norte com 10 marcos no bolso. Seu pai, o alfaiate Alex Franken, morrera em Verdun, na França, combatendo pela Alemanha na mais longa batalha da Primeira Guerra Mundial. Em Moers, sua cidade natal, uma placa saudava-o como herói.
Com o visto dado por Aracy, Inge arrancou Günter do campo de concentração. Casaram-se antes de embarcar para o Brasil no navio Monte Sarmiento. A noiva estava de preto – um luto profético. Para muitos, partir significava viver, mas abandonar os pais para morrer. “No trem para Hamburgo, vi pela janela minha mãe quase desmaiar”, diz Grete. “Foi a última vez que eu a vi.” Aos 94 anos, Grete chora sem soluçar. Suas lágrimas deslizam com a mansidão de quem nunca parou de chorar.
Enquanto o povo alemão envergonhava a si mesmo, Aracy desobedecia ao cônsul-geral, Joaquim Antônio de Souza Ribeiro. E apaixonava-se pelo adjunto, João Guimarães Rosa. O jovem diplomata ancorou na Alemanha em maio de 1938. Tinha 30 anos, trocara a medicina pela diplomacia, havia vencido um concurso literário e perdido outro. No Brasil, deixara sua primeira mulher, Lygia, e as duas filhas, Vilma e Agnes.
Aracy era uma morena com mais curvas que o Reno, capaz de fazer os alemães gingar ao virar a cabeça para vê-la passar a caminho do consulado. Para sorte dos judeus, também tinha uma personalidade capaz de azedar um Apfelstrudel. Um dia deu uma bronca tão grande num policial que queria revistá-la que ele se encolheu diante de sua baixa estatura. Aracy, então, atravessou calmamente a fronteira com um judeu no porta-malas do carro.ROMANCE DE NÃO-FICÇÃO Para Aracy, Guimarães Rosa escreveu mais de uma centena de cartas de amor |
Entre 1938 e 1942, Rosa registrou as impressões de um diplomata brasileiro na Alemanha nazista. No diário, ele é contundente ao narrar a perseguição aos judeus – e parcimonioso nas referências ao romance com Aracy: apenas 16 menções. Mesmo assim, a publicação desse diário é barrada pelas filhas do escritor. Agnes e Vilma desejariam reduzir o tamanho de Aracy na biografia do pai. Procuradas, não quiseram dar entrevista.
O romance está bem documentado nas cartas que “Joãozinho” escreveu para “Ara”. “Deixa que eu diga que você estava linda, linda, na hora de partir. (...) Dormi abraçado com a camisolinha cor-de-rosa, toda impregnada do aroma do corpo maravilhoso da dona de meu amor. (...) Serei absolutamente fiel, não olhando para as alemãzinhas, as quais, por sinal, todas viraram sapos!”, escreveu em 24 de agosto de 1938.
A declaração integra um acervo de 107 cartas e 44 cartões, bilhetes e telegramas escritos por ele. Com base no material, as historiadoras Neuma Cavalcante e Elza Miné preparam uma biografia de Aracy. Rosa registrou sem pudor quanto era feliz aos pés de Aracy – pés que eram objeto de fetiche. “Agora vou para a cama, para dormir com a camisolinha cor-de-rosa, depois de conversar um pouco com os chinelinhos chineses, que me falarão dos lindos pezinhos da sua dona”, escreveu no dia seguinte.
...Karl e Gertraud tiveram três filhos. Da esq. para a dir., Arnaldo, casado com Rosana, Claudio, com Tamara, e Roberto, com Siona... |
Enquanto a Alemanha se incinerava em ódio, Ara e Joãozinho queimavam de amor. O que em nada atrapalhou as atividades subversivas de Aracy. O casal nunca viveu debaixo do mesmo teto em Hamburgo. Ela chegou a esconder judeus em casa. “Ele dizia que eu exagerava, mas não se metia muito”, contou Aracy, anos atrás. “Nunca tive medo de nada nem de ninguém.”
Getúlio Vargas passou os primeiros anos da guerra fazendo um agrado ao Eixo pela manhã, piscando para os Aliados à tarde. O ataque japonês a Pearl Harbor derrubou-o do muro. Em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações com o Eixo. Rosa e Aracy foram confinados no balneário de Baden-Baden por quatro meses. Na viagem de volta ao Brasil, casaram-se por procuração no México. Em quase 30 anos ao lado de Aracy, Rosa inventou um mundo e reinventou a língua portuguesa. Ao lançar sua obra-prima, Grande Sertão: veredas, escreveu: “A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”.
Quando Rosa e Aracy desembarcaram no Brasil, a filha mais velha de Günter e Inge começava a falar. Deram a ela o nome da mulher que lhes deu uma segunda vida. A pequena Marion Aracy só falava em alemão – e o governo havia proibido o uso do idioma. “Eu quero descer do bonde”, gritava a menina na língua do Führer. E Günter precisava fugir correndo com a filha no colo. Se fosse preso, só poderia dizer em alemão que também não gostava de Hitler.
A solteirice de Karl Franken durou pouco no Brasil. Logo se encantou por uma fugitiva do nazismo, Gertraud. O primeiro dos três filhos nasceu no ano em que o Brasil declarou guerra à Alemanha. Karl trabalharia por toda a vida na mesma empresa, a Mueller, de brinquedos e botões. Ele e Gertraud se tornariam uma referência na história da Congregação Israelita Paulista.
A única jóia que Grete Callmann conseguiu trazer foi roubada pelos funcionários brasileiros quando o navio ancorou no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1939. Era seu anel de casamento. Grete era pianista. Tinha estudado desde os 6 anos para interpretar Beethoven, Mozart, até Wagner, conhecido por ter sido o compositor preferido dos nazistas. “Quando chegamos, eu sentia em mim todas as doenças que existem. Mas os médicos não encontravam nada”, diz. “Era medo.”
Quando as cartas da Alemanha chegavam, Grete tremia tanto que não conseguia ler. Seus pais estavam num campo de concentração. Ela sabia que um dia as cartas se calariam. Quando a guerra acabou, em 1945, a Alemanha estava coberta de cinzas humanas. Hitler teria dado um tiro na cabeça. Vargas foi deposto. Ao apoiar a democracia lá fora, não dava mais para manter a ditadura aqui. Karl Franken, Grete e Max Callmann, Günter e Inge Heilborn estavam vivos. Assim como as dezenas de judeus salvos por Aracy.Quando a guerra acabou, Grete soube que os pais estavam mortos. Karl descobriu que pouco tinha restado da família. Günter e Inge foram informados de que seus pais tinham sido incinerados. Os “judeus de Aracy” teriam de viver num país tropical, do outro lado do Atlântico com essa herança. Viver era sua vingança. E foi o que fizeram.
Günter e Inge tiveram três filhos – Marion Aracy, Miguel e Ruth – durante a guerra. Günter levou uma década para ter reconhecido seu diploma de dentista. Nos primeiros anos, sustentou a família com a ajuda de prostitutas. Tratava os dentes das mulheres num quartinho de prostíbulo. Quando um policial aparecia, elas diziam que o quarto era usado para fins comerciais. Inge costurou para fora, teve malharia, fez congelados, criou uma colônia de férias em Campos do Jordão. Parecia suportar melhor o peso da vida partida, sorria mais. Günter proibiu o filho de usar marrom, cor do terno que vestia quando foi preso pelos nazistas. Nunca teve bigode. Era chamado pelos netos de “biblioteca ambulante”, porque discorria sobre qualquer tema, de mitologia grega a botânica. Menos sobre o Holocausto.
Em 19 de novembro de 1967, Vera Tess, a neta preferida de Guimarães Rosa, buscava o avô em passos claudicantes pelo apartamento do Rio. Encontrou-o no escritório, tendo um infarto. Aracy perdeu seu grande amor, mas não perdeu a si mesma. No fim de 1968, Geraldo Vandré começou a ser perseguido pelo regime porque a canção “Caminhando” virou um hino de protesto contra a ditadura. Enquanto a repressão o caçava, Vandré compunha, todo refestelado num sofá do apartamento de Aracy.
...Nos anos 70, Karl e Gertraud tiveram os primeiros dos nove netos. Alguns deles se casaram e.... |
O prédio era repleto de oficiais e tinha vista para o Forte de Copacabana. Os netos de Aracy, que passavam as férias no Rio, foram incumbidos pela avó de alertar sobre qualquer movimento verde-oliva. Vandré ficou por lá tocando violão, jogando conversa fora. Depois viajou para São Paulo numa Kombi, com o neto mais velho de Aracy, Eduardo Tess Filho. E de lá para o exílio.
Karl Franken morreu no último dia 1o de março. Faltavam menos de seis meses para completar 1 século. Anos atrás, ele voltou à Alemanha. Não encontrou a placa que homenageava seu pai como herói de guerra. Karl Franken afirmou a ÉPOCA, cinco dias antes de morrer: “Eu sou só brasileiro”.
Günter Heilborn criou uma espécie nova de orquídea. Deu a ela o nome de sua mãe, queimada num forno crematório. Selma tinha pétalas brancas e amarelas. Günter apoderou-se por completo da vida que Hitler queria tomar. Morreu quando quis, em 1992. Inge o seguiu em 2000. Todas as tardes, ele e Inge sentavam-se para ouvir música clássica. Jamais ouviram Wagner. E nunca viram filmes sobre o Holocausto.
Grete Callmann tentou ver um filme sobre o nazismo. Começou a gritar dentro do cinema. Não voltou. Quando seu marido morreu, Grete comprou um piano usado. Seus dedos já não reconheciam as teclas. Aos 94 anos, Grete liga seu radinho ao acordar e atravessa o dia embalada por pianistas cuja vida não foi interrompida.
O RECOMEÇO Karl e Gertraud casaram-se no Brasil e iniciaram a família ao lado: três netos e três bisnetos não estão na foto porque vivem em Israel |
Aos 80 anos, Aracy acabara de retirar dinheiro no banco quando tentaram lhe arrancar a bolsa. Deu tantas bolsadas no ladrão que o deixou estirado na calçada de Nossa Senhora de Copacabana. De lá para cá, a cidade que mais amava no mundo foi se tornando campo minado também para ela. E com relutância, bem devagar, Aracy foi aceitando São Paulo. Nos últimos anos, enquanto saboreava um cigarro, foi cortando um a um os fios que a ligavam ao mundo de fora. Um dia levantou âncora e partiu inteira para dentro de si mesma.
Aos 4 anos, as bisnetas trigêmeas de Günter Heilborn queriam saber por que posavam para fotos. A mãe explicou: “Homens muito maus prenderam seu bisavô, e uma moça muito boa, chamada Aracy, ajudou ele a fugir. Em homenagem a ela, a vovó se chama Aracy”. E por que prenderam?, foi a pergunta seguinte. “Porque não aceitavam que eles eram diferentes.” A família se uniu então no exercício de lembrar de todas as pessoas de diferentes “cores, crenças, tipos e tamanhos” que amavam.
Aracy Guimarães Rosa esqueceu-se de si mesma, mas jamais será esquecida.
...lhes deram cinco bisnetos. A seqüência de fotos da família Franken foi feita uma semana após a morte de Karl. É uma homenagem a ele e a Aracy |
O legado de Aracy
Marion Aracy (sentada) é a filha mais velha de Günter e Inge Heilborn. Seu nome é uma homenagem à mulher que salvou a vida dos pais e tornou a sua possível. Ela teve dois filhos, Selma e Paulo. Selma (de azul), casada com Jorge (de listrado), teve as trigêmeas Marina, Juliana (de rosa) e Luiza (de braços cruzados) e Alexandre, de 2 anos. Paulo, casado com Ana Cintia, é pai de Carolina, de 3. “Sem Aracy, nem eu nem minha família existiríamos. Simplesmente não teríamos acontecido”, diz Paulo Heilborn.
Duas mulheres contra Hitler
Margarethe Bertel Levy e Aracy Moebius de Carvalho foram protagonistas de uma aventura cinematográfica na Alemanha nazista. Tornaram-se amigas para sempre
“Entre mim e Aracy foi um golpe de amor. Só que entre duas mulheres”, ela diz a ÉPOCA. Tem 99 anos, quase não caminha, não enxerga e não ouve. Mas a mente está límpida – o que faz do corpo uma prisão. Em nenhum momento sua situação vira lamúria. Maria Margarethe Bertel Levy prefere a auto-ironia. É uma mulher impressionante. Como sua grande amiga, Aracy. A aventura dessas duas mulheres extraordinárias na Alemanha nazista é um roteiro de cinema pronto.
“Eu era sexy”, ela diz. E Aracy? “Muito sexy, linda, provocante, um corpo maravilhoso, os moços saltavam.” Elas eram tudo isso mesmo. As fotos ao lado (Margarethe de chapéu, Aracy de ombros nus) documentam a afirmação. Conheceram-se porque Aracy precisou salvar Margarethe. Encontraram-se no consulado de Hamburgo, em 1938. Até hoje estão juntas. Margarethe visita Aracy, que não mais a reconhece. O filho único de Aracy, Eduardo, cuida de Margarethe, que é viúva e não quis ter filhos “porque gostava muito de viajar”.
Os muitos significados dessa amizade improvável são tema de investigação da historiadora Mônica Raisa Schpun, do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. “Enquanto as pessoas eram separadas pelo nazismo, essas duas mulheres se encontraram”, diz Mônica. “Sua amizade vai muito além de gratidão.” Sobre elas, Mônica publicou um artigo chamado “História de um happy end transatlântico”.
Margarethe pertencia a uma família rica e liberal. Aprendeu sete línguas viajando. Conheceu o marido, o dentista Hugo Levy, no consultório dele. Ela era sua bela paciente, 16 anos mais jovem. Margarethe e Hugo eram cidadãos do mundo. Quando o cerco nazista apertou, Margarethe procurou Aracy, que escondeu Hugo em casa. Depois, emprestou o carro diplomático para que Margarethe o levasse ao interior. Aracy incluiu uma observação nos documentos do casal: “Transformar em visto permanente na chegada”. Cobriu essas letras miúdas ao levar o visto para o cônsul assinar.
É nesse ponto que a história fica ainda mais cinematográfica. Uma rede de alemães – arianos – ajudou os Levys. Um dia, um oficial da SS, Zumkley, bateu na porta do consultório para contar que a mãe de Hugo salvou sua vida ao amamentá-lo. “Agora chegou a minha vez de salvá-lo”, disse. Zumkley avisou o momento certo de partir. Um paciente, Plambeck, escondeu Hugo em sua casa por 12 dias. Outro paciente, funcionário público, conseguiu convencer um colega a encarregá-lo
Da letra “L” e, assim, fez o inventário – subavaliado – do patrimônio dos Levys. Eles partiram para o Brasil com todos os bens, do consultório aos dois cachorros. Um terceiro paciente garantiu a eles o conforto de quatro cabines no navio Cap Ancona.
Ao desembarcarem em São Paulo, com dinheiro e visto permanente, Margarethe e Hugo integraram-se logo ao Brasil. Margarethe, porém, não escapou da tragédia. “Pegaram minha mãe em Varsóvia. Puseram minha mãe no forno. Ela queimou”, diz. Margarethe crava uns olhos perfurantes, que ela jura que não enxergam direito, e diz: “Com o tempo, a gente não esquece”.
Aracy foi uma católica fervorosa. Margarethe, uma judia sem religião. “Eu não tenho esse apoio. Nasci judia e vou morrer judia, mas não sei nada de religião”, diz. Seu testemunho foi decisivo para que Aracy ocupasse seu lugar histórico no Museu do Holocausto, em Israel. Margarethe ainda visita Aracy, mas não consegue alcançá-la. Aracy esqueceu-se dela. À beira dos 100 anos, as duas mulheres e sua extraordinária amizade só resistem na memória de uma delas.
Acima, as duas amigas quando jovens: Margarethe, à esquerda, e Aracy, à direita Margarethe Levy, de 99 anos. Sphere: Related Content
Planalto tenta 'blindar' Lula contra grampos
Por dentro da grampolândia
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 8/setembro/2008.
Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página. |
Num país onde se calcula que 5 milhões de pessoas sejam grampeadas a cada ano, até o mais protegido dos cidadãos convive com o receio de que suas conversas sejam gravadas. Na última semana de agosto, o serviço de segurança do Palácio do Planalto reforçou a defesa dos telefones usados pelos filhos e familiares do presidente Lula. A troca de números e aparelhos e a realização de varreduras nesses telefones constituem uma providência de rotina, mas desta vez o motivo para a cautela foi a suspeita de que uma organização clandestina de espionagem tem como um de seus alvos a família do presidente. Num encontro com os ministros do Supremo Tribunal Federal, na semana passada, que foram ao Planalto pedir providências diante da descoberta de um grampo no telefone do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, Lula queixou-se de que seus filhos estariam entre os milhões de brasileiros com telefones grampeados ilegalmente. Disse que considera essa situação “insuportável”.
O presidente revelou aos ministros apenas uma ponta da suspeita investigada pelo Planalto. Os agentes da Presidência tentam rastrear uma organização formada por delegados da Polícia Federal e da Polícia Civil de São Paulo, auditores da Receita Federal baseados no Rio de Janeiro e em São Paulo, agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e de uma empresa de espionagem industrial, além de um empresário envolvido em grandes disputas comerciais. A organização se intitula “Grupo dos 13”, uma referência ao número de seus componentes originais, mas é possível que já conte com 20 integrantes, de acordo com o primeiro relato de sua existência, feito ao presidente por um político de sua confiança. Além dos familiares de Lula, o “Grupo dos 13” é suspeito de espionar dirigentes petistas e políticos destacados do partido: os ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci, o presidente Ricardo Berzoini e membros da direção nacional do PT, a ex-prefeita Marta Suplicy e seus aliados paulistanos da família Tatto.
ÉPOCA conversou sobre o “Grupo dos 13”com três pessoas muito próximas ao presidente, para confirmar que a suposta atividade de policiais, agentes e auditores é investigada reservadamente. Uma das evidências da ação do grupo é o relato de que o ex-ministro Dirceu teria sido fotografado em quatro situações diferentes: no interior de São Paulo, em um hotel s do Rio, nas ruas de Miami com um amigo e em uma cidade da Europa. Procurado por um interlocutor, Dirceu confirmou as situações em que teria sido fotografado e admitiu ter tomado conhecimento da existência de um grupo de policiais, mas negou conhecê-lo pelo nome “Grupo dos 13”. ÉPOCA também procurou o empresário citado como integrante da organização de espionagem, que se recusou a comentar o assunto.
Os brasileiros conhecem – muito bem – o risco de organizações paralelas, que funcionam à margem da estrutura do Estado e não obedecem a uma cadeia de comando conhecida. Em sua versão benigna, são grupos de funcionários que partilham uma ou duas doses de uísque no fim do expediente, cultivam afinidades pessoais ou políticas e se ajudam em horas de necessidade. Em sua versão maligna, constituem aquilo que o ministro Gilmar Mendes define como “milícias”.
espionar até a família de Lula
O país conviveu com organizações desse segundo tipo durante o regime militar. Policiais civis agiam à margem da estrutura, às vezes cometiam assassinatos, alguns enriqueciam com a prática de chantagem e crimes por encomenda – mas também eram capazes de realizar prisões espetaculares que garantiam prestígio e impunidade. Nos anos finais da ditadura, bandos formados na repressão política abandonaram a disciplina militar para cometer atos de terror, como explodir bancas de jornal ou preparar crimes gravíssimos, como o atentado à bomba do Riocentro, em 1981.
No Brasil de 2008, a situação é muito diferente. O país vive sob uma democracia estável, as instituições funcionam e asseguram a cada brasileiro o direito de tocar a vida sob o mais amplo regime de liberdades públicas desde que as caravelas de Pedro Álvares Cabral chegaram à Terra de Santa Cruz. Neste ambiente, o poder de ação de grupos paralelos pode ser comparado ao ovo da serpente: se não for eliminado em sua fase inicial, pode crescer para tornar-se um animal perigoso. A truculência não se expressa em atos físicos, mas pela tecnologia eletrônica de última geração, que invade conversas, intimidades e, acima de tudo, atinge liberdades e direitos.
Estima-se que oito em dez grampos realizados no país sejam ilegais, sem a indispensável autorização de um juiz. Há histórias de casamentos infelizes, mas é ingenuidade acreditar que a maioria dos casos envolva maridos adúlteros e mulheres infiéis. Uma parcela imensa das interceptações tem origem no Estado, onde funcionários de áreas estratégicas como a Polícia Federal, a Receita e outros setores recorrem a serviços de terceiros para fazer escutas que a lei não permite.
“Muitas vezes, o grampo legal, feito com autorização de um juiz, é apenas uma cobertura, uma forma de lavar aquilo que já foi obtido ilegalmente”, afirma uma advogada da área tributária. Uma das mais ativas centrais de escuta telefônica do país encontra-se na Polícia Rodoviária Federal, que muitos brasileiros ainda associam a uma visão romântica, criada a partir do seriado Vigilante Rodoviário, da década de 1960.
REVISTA ÉPOCA
Ação da PF leva à prisão de 30 pedófilos no mundo
Marina Mello
Direto de Brasília
Apesar de a segunda etapa da Operação Carrossel da Polícia Federal ter prendido apenas três pessoas pelo crime de pedofilia no Brasil, os desdobramentos do trabalho realizado pela PF tiveram reflexo em outros países, que conseguiram levar para a cadeia mais de 30 pedófilos.
Com informações obtidas pela PF nos computadores apreendidos foi possível detectar para onde as imagens de pornografia infantil eram enviadas via Internet. Somente em Portugal, 23 pessoas foram presas na última quinta-feira, um dia após a operação ter sido deflagrada no Brasil. Na Grécia, dez pessoas foram presas na mesma data.
Diversos países acompanham a investigação brasileira desde a primeira etapa da operação, em dezembro de 2007, e outros pedófilos devem ser presos nos próximos dias, segundo o diretor da Divisão de Combate aos Crimes Cibernéticos da PF, delegado Adalton Martins.
Ele explica que diversas buscas foram feitas e um grande volume de material foi apreendido com o desdobramento desta segunda etapa da operação.
Segundo ele, até em Hong Kong foram efetuadas cinco buscas e um homem foi preso. Na Austrália foi encontrado e detido um homem que tinha em seu poder mais de 50 mil arquivos de pornografia infantil. "Ele disseminava tanto esse conteúdo na rede que foi detectado pelas nossas investigações", explica Adalton.
As informações sobre novas prisões são repassadas pelas polícias de outros países para ele. "Desde que a segunda etapa da operação foi feita, não paro de receber e-mails de autoridades internacionais. Juntos, estamos criando uma rede mundial de combate a pedofilia, com a ajuda da Interpol", explica o delegado.
No Brasil, a segunda etapa da Operação Carrossel culminou na prisão de três pessoas e na apreensão de um grande volume de material, que segundo a PF, apenas em análises preliminares, já se pode dizer que contém pornografia infantil.
Todo esse material servirá de base para que a polícia deflagre novas operações. "Nosso trabalho é ininterrupto", explica o delegado, que coordena o combate a pedofilia dentro da PF.
A corporação ainda não conta com uma unidade específica para combater a pedofilia, por isso, as operações são feitas via Divisão de Combate aos Crimes Cibernéticos.
Redação Terra
Lei brasileira impediu a prisão de 50 pedófilos
Marina Mello
Direto de Brasília
Se a legislação brasileira fosse semelhante à de outros países no que diz respeito ao combate à pedofilia, teriam sido presos mais de 50 pedófilos, e não apenas três, na Operação Carrossel II da Polícia Federal, na última quinta-feira.
De acordo com o delegado que coordenou a operação, Adalton Martins, se a exemplo dos outros países, a lei daqui autorizasse a prisão daqueles que armazenam imagens de pornografia infantil o número de presos no Brasil poderia ser assustadoramente grande.
A legislação só permite que essas pessoas sejam presas em flagrante, o que dificulta o trabalho da PF, conforme Martins. "Tínhamos aqui 113 alvos com suspeita de prática de pedofilia, só que apenas três deles foram flagrados enviando o material e só eles puderam ser detidos. Se a nossa legislação fosse outra, boa parte destes alvos poderia ser presa apenas por terem computadores com fotos e vídeos pornográficos de crianças", explica o delegado, chefe da Divisão de Combate a Crimes Cibernéticos.
Já em países onde a lei autoriza esse tipo de prisão, diversas pessoas foram presas após a Operação Carrossel II ter ocorrido no Brasil. Isso ocorreu porque a PF informou autoridades de Portugal e Grécia quais os computadores suspeitos de enviar material com pornografia infantil.
Martins comemora a colaboração internacional, mas não disfarça a decepção de ver que o mesmo não acontece no Brasil. "A gente fica feliz em ajudar outros países, mas é triste saber que não podemos fazer o mesmo para proteger as nossas crianças", afirma.
A legislação atual, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê no artigo 241: "é proibido apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar por qualquer meio de comunicação, inclusive pela rede mundial de computadores ou Internet, fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo de explícito envolvendo crianças e adolescentes".
Ou seja, se alguém guardar em casa ou no computador fotos de crianças e adolescentes fazendo sexo, ele não está infringindo a lei, segundo o ECA. Apenas quem divulga tais informações pode ser preso e esta é a grande dificuldade das autoridades em combater a pedofilia.
"Existem pessoas que têm em seus computadores mais de 50 mil arquivos de pornografia infantil e nós não podemos fazer nada com elas a não ser que a gente consiga flagrá-las repassando o material", lamenta o delegado.
De acordo com o ECA, quem desobedecer este artigo fica sujeito à pena de prisão de dois a seis anos. Segundo Adalton, a intenção é que também possa receber essa punição quem tiver tais imagens em casa e não apenas quem for flagrado repassando.
O delegado afirma que torce para que o Congresso Nacional aprove o projeto que altera justamente este ponto na lei. Para dele, isso já ajudaria a reduzir a prática da pedofilia. "Torcemos para que isso mude. O principal é a pessoa que estiver mexendo com esse material, pelo menos saber: armazenando essas imagens você está incentivando a prática da pedofilia e você pode ser preso por isso", declara.
O projeto que pode alterar a legislação já foi aprovado pelo Senado e está em tramitação na Câmara. Para valer, a proposta precisa passar por toda a tramitação até chegar à sanção do presidente Lula.
Redação Terra
Partido fútbol México se tiñe de blanco en protesta por crimen
La medida fue una continuación de una marcha de más de 150,000 personas, que caminaron vestidas de blanco y portando velas, realizada el sábado anterior por una arteria de la ciudad para reclamar a las autoridades que controlen los rampantes secuestros y la violencia del narcotráfico.
En el estadio, uno de los más grandes de América Latina y donde México derrotó a Jamaica por 3-0, al menos tres cuartas partes de los 100,000 asistentes respondieron a un llamado de la federación mexicana de fútbol para vestir de blanco.
También vistió de blanco el "Tri," como llaman los mexicanos a su selección, en lugar de su tradicional camiseta verde.
7/9/2008 - 04:47(GMT)MEXICO DF (Reuters) - Decenas de miles de hinchas mexicanos asistieron el sábado al partido por eliminatoria mundialista México-Jamaica, disputado en el estadio Azteca, vestidos de blanco en protesta por una ola de violencia que azota al país.
Momentos antes de que comenzara el partido, la federación cubrió las tribunas con una gran manta blanca como parte de la misma medida de protesta.
Los reclamos por más seguridad comenzaron hace algunas semanas, cuando el cadáver de un menor de 14 años, hijo de un conocido empresario, apareció tiempo después de que fuera secuestrado y aún cuando su padre había pagado el rescate.
Los secuestros en México aumentaron un 40 por ciento entre el 2004 y el 2007, mientras que la violencia de los poderosos cárteles del narcotráfico ha dejado más de 2,700 muertos en lo que va del año, superando el total de 2,500 del todo el año anterior.
(Reporte de Carlos Calvo, escrito por Anahí Rama; Editado por Ricardo Figueroa)
Terra/Reuters
Sphere: Related ContentEl papa "cercano" a Haití, ora por víctimas
7/9/2008 - 11:35(GMT)
El papa Benedicto XVI declaró el domingo que está "cercano a toda la nación" haitiana y ora por las víctimas de los huracanes que "afectaron fuertemente" a Haití, causando 577 muertos y decenas de miles de damnificados, durante una visita a Cerdeña.
"Ante la vista de María, quiero recordar a la querida población de Haití, duramente puesta a prueba estos últimos días por el paso de huracanes", declaró el papa en la misa del Angelus en Cagliari, en Cerdeña, donde estaba de visita por el centenario de la patrona de esta isla al oeste de Italia.
"Ruego por las desgraciadamente numerosas víctimas y por los sin techo", añadió el papa ante decenas de miles de fieles reunidos ante la basílica.
"Estoy cercano a toda la nación y espero que la ayuda necesaria llegue lo antes posible", añadió.
El papa, en visita pastoral de un día, había celebrado antes una misa al aire libre delante del santuario.
El huracán Ike amenazaba el domingo con llegar a las costas de Haití, uno de los países más pobres del planeta, sumido en una crisis humanitaria después de tres tormentas en tres semanas, Fay, Gustav y Hanna, que dejaron miles de habitantes sin techo, sin agua potable ni alimentos.
Según la Oficina de Coordinación de Asuntos Humanitarios de la ONU, han muerto más de 500 personas por el paso de Hanna y el balance sigue aumentando "de hora en hora". Hace ocho días el huracán Gustav ya había dejado 77 muertos.
Terra/AFP
Sphere: Related ContentBrasil dona 100.000 dólares para ayudar a Haití
7/9/2008 - 00:23(GMT)
El gobierno indicó que está donando 100.000 dólares para ayudar a Haití a recuperarse de los huracanes Gustav y Hanna.
En un comunicado el sábado, la cancillería brasileña dijo que el dinero es para proporcionar asistencia humanitaria de emergencia a la población haitiana. Las dos tormentas cobraron la vida de más de 200 personas en Haití, que ahora se prepara al acercarse el huracán Ike.
Terra/AP
Sphere: Related ContentVenezuela y Rusia realizarán ejercicios conjuntos en Mar Caribe
7/9/2008 - 04:47(GMT)
CARACAS (Reuters) - Las fuerzas navales de Venezuela y Rusia realizarán ejercicios de operaciones conjuntas en el Mar Caribe en noviembre de este año, dijo un funcionario militar venezolano de alto rango, citado el sábado por medios locales.
En su último programa dominical de radio y televisión, el presidente venezolano, Hugo Chávez, quien se ha declarado un aliado estratégico de Rusia, dio la bienvenida a las flotas rusas que desean visitar al país tras señalar que al parecer sí querían venir.
El director de Inteligencia Estratégica del Estado Mayor de la Armada de Venezuela, Salbatore Cammarata Bastidas, citado por el diario Vea en su sitio de internet, dijo que los representantes de la Federación Rusa visitarán Venezuela entre el 10 y 14 de noviembre.
Según el funcionario, el objetivo de la misión es unificar lazos de amistad y cooperación entre ambas fuerzas militares.
Cammarata Bastidas agregó que es la primera vez que esta actividad se ejecuta conjuntamente con Rusia, en la que se prevé que participará la aviación venezolana, y estará conformada por cuatro buques y cerca de 1.000 hombres.
La operación naval se realizará en momentos en que aumenta la tensión diplomática entre Moscú y Washington por el reciente ataque a Georgia.
Por su parte, Chávez, quien mantiene un feroz enfrentamiento verbal con el Gobierno estadounidense, ha criticado la reactivación de la llamada "Cuarta Flota" de Estados Unidos, también cuestionada por Argentina y Brasil.
El mandatario venezolano apoyó la decisión de Rusia de reconocer como estados independientes a las regiones separatistas georgianas de Abjasia y Osetia del Sur, convirtiéndose en la segunda nación después de Bielorrusia en respaldar a Moscú.
Chávez ha repotenciado a las tropas venezolanas con misiles rusos, tanques y submarinos a diésel.
(Por Deisy Buitrago; Editado en español por Ricardo Figueroa)
Terra/Reuters Sphere: Related Content
Ex-namorada de suspeito de pedofilia é chamada para depor
Segundo as investigações, as vítimas eram conhecidas do preso.
Atual namorada reconheceu o homem nas gravações obtidas pela polícia.
Do G1, com informações do Jornal Hoje Uma ex-namorada do engenheiro preso nesta sexta-feira (5) sob suspeita de pedofilia foi convocada pela polícia de São Paulo para depor. Segundo as investigações, as vítimas eram conhecidas do suspeito. Por isso, todo o círculo de amizades dele está sendo investigado. Segundo a polícia, a sócia e a namorada assistiram a algumas cenas e fizeram o reconhecimento tanto do acusado quanto do quarto do apartamento dele onde foram gravadas. O depoimento da ex-namorada está marcado para a próxima semana. O engenheiro passou a noite no 77º Distrito Policial, em Santa Cecília, na região central de São Paulo. O suspeito foi detido em seu apartamento, na Mooca, Zona Leste, após ter a prisão temporária de 30 dias decretada. Na casa dele, foram apreendidos brinquedos e balas. A investigação durou cerca de uma semana e começou depois que uma testemunha entregou uma fita à polícia, com imagens fortes. “Nenhum policial terminou de assistir a fita, nenhum quis assistir até o final”, disse o o delegado Carlos Eduardo Carvalho, titular de Delegacia de Repressão a Fraudes. Denúncias Apenas no primeiro semestre de 2008 foram feitas quase 28 mil denúncias sobre pedofilia ou pornografia infantil. O fato do suspeito deste caso ter curso superior e uma rotina aparentemente normal – com filhos, amigos e namorada, chama a atenção. Mas segundo os especialistas, a história não é uma exceção. As pesquisas mostram que esse tipo de violência acontece em todas as classes sociais. Só um detalhe se repete na maioria dos casos: a proximidade do agressor e da vítima. Segundo o levantamento da psicóloga Maria Inês Rondello, 47% dos agressores são parentes ou moram com a criança, 15% são conhecidos da família e 19 % são desconhecidos. O primeiro conselhos que a especialista em casos de violência doméstica dá é que os pais devem sempre ficar muito atentos. Pais e professores também podem descobrir se a criança está sendo violentada observando os sintomas como: ela não consegue dormir ou tem pesadelos, volta a fazer xixi na cama, começa a tirar notas baixas e se afastar dos amigos ou evita ficar perto de um determinado adulto. “Sempre acredite no que o seu filho diz. Se ele disser que fulano bateu, vá investigar”, afirma a psicóloga.
Marcelo Serrado e o Emmy: 'Não esperava'
Semifinalista do Emmy por 'Mandrake', série da Conspiração para a HBO, Marcelo Serrado ficou surpreso. Mas não é o primeiro prêmio que ele leva pelo programa.
_ Ano passado ganhei a premiação da APCA. É uma felicidade, nem sou o primeiro personagem deste programa. É um reconhecimento _ comemora.
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MURILO BENÍCIO e Patrícia Pillar, na cena de “A favorita” em que Flora acha que matou Dodi. Mas ele reaparece do meio de um incêndio. A exibição está prevista para o próximo dia 8
Sphere: Related ContentRússia volta a flertar com o stalinismo
07/09/2008
Arkady Ostrovsky
"Queridos amigos! O livro que vocês têm em mãos é dedicado à história de nossa terra natal... desde o final da Grande Guerra Patriótica até os nossos dias. Traçaremos a jornada da União Soviética desde o seu maior triunfo histórico até a sua trágica desintegração."
Essa saudação é endereçada a centenas de milhares de crianças das escolas russas que, em setembro, receberão um novo livro de história impresso pela editora Enlightenment e aprovado pelo Ministério da Educação. "A União Soviética", explica o novo livro, "não era uma democracia, mas era um exemplo de uma sociedade melhor e mais justa para milhões de pessoas em todo o mundo". Além disso, durante os últimos 70 anos, a URSS, "uma superpotência gigante que administrou uma revolução social e venceu a mais cruel das guerras", pressionou efetivamente os países ocidentais a prestarem mais atenção aos direitos humanos. Desde o início do século 21, continua o texto, o Ocidente têm sido hostil com a Rússia, adotando uma política de duas medidas.
Se não fosse pelo envolvimento de Vladimir Putin, esse livro provavelmente nunca teria visto a luz do dia. Em 2007, Putin, então presidente russo, reuniu um grupo de professores de história para falar sobre sua visão do passado. "Não podemos permitir que ninguém nos imponha um senso de culpa", foi sua mensagem.
Os anos 90 foram, em grande parte, livres de ideologia na Rússia. O país estava cansado dos grandes planos e muito preocupado com sua sobrevivência econômica. Quando Putin chegou ao poder em 2000, ele disse que a idéia nacional da Rússia era "ser competitiva". Mas então, conforme o preço do petróleo subiu e a Rússia passou a se sentir novamente importante, a necessidade de uma ideologia tornou-se mais urgente. Incapaz de fornecer uma visão ou estratégia para o futuro, o Kremlin voltou-se, inevitavelmente, para o passado.
Numa escolha sugestiva, o livro cobre o período de 1945 a 2006: desde a vitória de Stalin na "grande guerra patriótica" ao "triunfo" do putinismo. Ele celebra todos os que contribuíram para a grandeza da Rússia, e denuncia os responsáveis pela perda do império, independentemente de sua política. O colapso da União Soviética em 1991 é visto não como um divisor de águas a partir do qual uma nova história começa, mas como um desvio desafortunado e trágico que obstruiu o progresso da Rússia.
É fácil demais condenar a manipulação russa da história por motivos ideológicos, ou a restauração do hino soviético por Putin, em 2000.
Mas a verdade é que a maioria dos russos - 77% de acordo com uma pesquisa - acolheu de bom grado a restauração do hino, e pelo menos metade do país vê o papel de Stalin na história como positivo.
Isso leva a outra verdade desconfortável: a versão da história retratada no novo livro é muito mais uma derrota para o liberalismo russo e para os intelectuais liberais - os jornalistas, historiadores e artistas que deveriam se opor à ideologia soviética -, do que uma vitória para Putin. A destruição da União Soviética não gerou uma nova ideologia liberal pós-soviética. A derrota do golpe liderado pela KGB em agosto de 1991, por centenas de milhares de russos que arriscaram suas vidas ao defender o parlamento em Moscou, não se tornou um divisor de águas. Não foi celebrada como o nascimento de uma nova nação, mas meramente como o colapso do velho modelo.
O que aconteceu culturalmente na Rússia nos anos 90 foi um tipo de reação adolescente contra um pai dominador. Ironia e xingamentos inundaram o domínio público. Mas a rejeição elegante da cultura soviética acrescentou pouco à sua compreensão. E ao mesmo tempo em que rejeitaram a cultura soviética, a mídia e a arte popular se engajaram num exercício extraordinário de auto-depreciação. O slogan desses anos parecia ser: "Nós somos os piores."
É fácil perceber como um oficial da KGB ou um aposentado pode sentir que perdeu muito no início dos anos 90. Mas por que os intelectuais e artistas que haviam defendido perestroika e que deveriam ser os mais beneficiados com o colapso da União Soviética também se comportam como perdedores? Um dos motivos é que eles perderam o status especial que tinham durante o regime comunista, e não tinham talento, integridade ou independência suficiente para usufruir de sua nova liberdade. A ironia penetrou em todas as áreas da cultura russa. Os símbolos e slogans soviéticos tornaram-se um campo rico para o pós-modernismo. A história soviética foi estilizada e comercializada antes de ser abordada e estudada apropriadamente. Isso começou no meio dos anos 80 e abrangeu as artes visuais, o teatro e a literatura. Algumas das imagens mais memoráveis vêm de uma série de pinturas de Leonid Sokov, em que Stalin e Marilyn Monroe aparecem em poses amorosas.
Foi divertido, mas nada além disso. Na metade dos anos 90, a cultura russa já estava flertando com a cultura soviética dos anos 30. Um dos destaques da temporada teatral de 1994 foi uma produção estudantil extraordinária de uma comédia de 1934, "A Maravilhosa Fusão", de Vladimir Kirshon. Cheio de sinceridade e energia, a peça era fiel ao período e expressava a ingenuidade e a excitação da juventude soviética antes da Segunda Guerra. Ela não propagava a ideologia soviética, mas estava saturada de nostalgia pelo senso de propósito associado ao idealismo soviético. Ela foi precursora do que se tornou uma onda de nostalgia numa escala muito maior e mais prejudicial.
No mesmo ano do retorno do hino soviético em 2000, o Canal Um reativou um jingle da era soviética para o principal programa de notícias das 9 da noite, o Vremya. Melodias, assim como aromas, podem ser muito evocativos. A melodia assinalou o retorno de uma cobertura noticiosa da era soviética. De fato, era como se o Estado estivesse enviando sinais para o país como um todo - sinais de restauração e revanche. E isso não era mais nenhum jogo ou piada. Os piadistas foram rapidamente removidos. O Kremlim e a KGB - agora chamada FSB e resgatando muito de seu poder perdido - estavam mais sérios do que nunca.
Os ícones da ideologia soviética são revividos não por causa de sua conexão com os ideais bolcheviques, comunistas ou revolucionários - longe disso - mas como símbolos da grandeza imperial russa. A revolução está firmemente fora de moda na Rússia, e o comunismo foi descartado. O mausoléu de Lênin deixou de ser um símbolo nacional há tempos. Durante uma parada militar recente na Praça Vermelha, a pirâmide construtivista projetada por Alexei Shchusev em 1924 para guardar os restos mortais de Lênin foi coberta modestamente com imagens de vitória. Não havia espaço para o bolchevique morto na celebração do renascimento russo. Mas o resgate do hino soviético quebrou um tabu que, para melhor ou pior, existia desde o discurso de Kruschev em 1956 - restabelecendo Stalin como um grande líder nacional. O apelo do ditador não estava no seu passado comunista, mas em seu legado imperial. "O império de Stalin - a esfera de influência da URSS - era maior do que todas as potências da Eurásia no passado, até mesmo do que o império de Genghis Khan", maravilha-se o livro de história.
Stálin ocupa um lugar de honra na história russa moderna, junto com Ivã, o Terrível; Pedro, o Grande; e agora Putin. A Rússia ainda está longe de erigir monumentos para Stalin, mas a aceitação dele como uma figura histórica positiva, ou pelo menos complexa, é um fato estabelecido. Não importa que todas as famílias russas tenham parentes ou amigos próximos que sofreram com o terror de Stálin. O mito é mais forte do que o conhecimento de primeira-mão. A Rússia hoje não é um Estado totalitário, tampouco um Estado socialista. Mas na ausência de uma ideologia liberal própria, o nacionalismo fora de moda, numa roupagem neo-stalinista, tornou-se a força mais poderosa da sociedade russa. Foi essa força que levou os tanques russos para a Geórgia e que amedronta a maioria dos vizinhos do país. No processo de "restauração", a Rússia não voltou ao passado soviético - mas chegou a um novo cruzamento que ameaça seus vizinhos e cidadãos.
Arkady Ostrovsky é chefe de redação da revista The Economist em Moscou.
Tradução: Eloise De Vylder
Usuário terá bicicleta grátis por 30 minutos em estações do Metrô
da Folha Online
A partir do próximo dia 21, o metrô de São Paulo vai disponibilizar 80 bicicletas para os usuários. Durante os primeiros 30 minutos de uso, o serviço de empréstimo será gratuito. Após este período, serão cobrados R$ 2 a hora e R$ 50 a diária. Capacete e cadeado também vão estar à disposição dos interessados. Inicialmente, oito estações vão fazer parte deste projeto, que está na primeira fase e será implantado no centro e nas zonas leste e sul.
Neste videocast, o gerente de Comunicação e Marketing do Metrô, Marcello Borg, explica o objetivo desta ação, que visa estimular o uso de bicicletas em pequenos trajetos para melhorar o trânsito, o meio ambiente e a qualidade de vida. Veja também a opinião do publicitário João Paim, que utiliza a bicicleta diariamente, como meio de transporte, mas faz críticas ao novo serviço do Metrô e ao preço estipulado para a utilização.
Hoje, enquanto carros utilizam 17 mil km de ruas e avenidas, existem só 4,5 km de ciclovias fora de parques --e elas não ligam pontos importantes.
O projeto, criado para desestimular o uso de carro e desafogar o metrô, foi elaborado pelo Metrô em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. A inspiração veio do serviço municipal de bicicletas de Paris, que começou em 2007 já com a oferta de 10 mil bicicletas e a promessa de dobrar esse número.
As estações que farão parte do projeto estão nas zonas sul (Vila Mariana), leste (Carrão, Corinthians-Itaquera e Guilhermina Esperança) e centro (Sé, Paraíso, Anhangabaú, Marechal Deodoro). Outras oito estações terão pára-ciclos (estruturas para acorrentar bicicletas).
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