Padre Luís Inácio Ledur suspeita ter sido enganado em negociação para reforma de paróquias
José Luís Costa | joseluis.costa@zerohora.com.brEmissários do governo português investigam, na Capital, um suposto golpe envolvendo o consulado de Portugal, no qual o vice-cônsul do país europeu, Adelino Pinto, teria desaparecido com R$ 2,5 milhões da Arquidiocese de Porto Alegre.
Pinto conduziu negociações com uma ONG belga para reformar igrejas no Estado, entre elas a Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, e Bom Senhor, em Triunfo. Segundo o advogado do representante português, o dinheiro foi repassado à organização da Bélgica para garantir a doação de R$ 12 milhões prometidos pela instituição em auxílio às paróquias.
Considerando-se vítima de um golpe, que resultou em uma queixa à Polícia Civil, o padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese e pároco há cinco anos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, suspeita ter sido enganado em uma negociação que acreditava ser com representantes do governo português.
Confira a entrevista realizada por ZH com o pároco:
Zero Hora – O senhor pediu emprestada a conta do vice-cônsul para depositar os R$ 2,5 milhões da Igreja para garantir a remessa de R$ 12 milhões?
Padre Luís Inácio Ledur – Não. O seu Adelino foi quem ofereceu a conta do Consulado para facilitar a remessa do dinheiro. Soubemos depois que a conta estava em nome dele e não do consulado. Ele alegou que o consulado não tem CNPJ.
ZH – Não seria melhor usar outra forma, via Banco Central?
Padre Ledur – Aceitamos a sugestão de usar a conta do vice-cônsul porque era preciso enviar o dinheiro com urgência para não perder a doação. O dinheiro era uma caução. Fizemos um documento em cartório.
ZH – O senhor pensou em procurar o embaixador do Brasil para pedir algum auxílio?
Padre Ledur – Sim. Mas o vice-cônsul nos disse para não falar com ele, pois ele seria da Igreja Pentecostal, e iria melar a doação.
ZH – Teresa Falcão e Cunha, da ONG que dizia intermediar a doação da verba, apresentou documentos? Alguma credencial?
Padre Ledur – Não. Não pedimos. Nossa confiança era em Adelino, nunca fizemos negócios com ela.
ZH – O senhor tentou se informar sobre essa ONG com seus colegas, padres portugueses?
Padre Ledur – Não. O vice-cônsul pediu para não contar nada a eles. Disse que poderiam se interessar por verbas e estragar o negócio.
ZH – O senhor reconhece que agiu com ingenuidade?
Padre Ledur – Quem mal não faz, mal não pensa. Agimos com confiança. O tempo todo acreditamos que estávamos negociando com representantes do governo português.
ZH – Quando percebeu que poderia se tratar de um golpe?
Padre Ledur – Quando soubemos que Adelino sacou o dinheiro e tivemos de pedir para devolver por diversas vezes. Teve momento em que desconfiei do negócio. Mas o seu Adelino insistiu várias vezes.
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