JAIR RATTNER
da BBC Brasil, em Lisboa
Cerca de 200 mil pessoas tomaram nesta quinta-feira as ruas de Lisboa para participar de um protesto contra uma proposta de reforma do Código de Trabalho defendida pelo governo do primeiro-ministro José Sócrates.
A manifestação foi a maior convocada pela central sindical CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores de Portugal) nos últimos anos.
Caso seja aprovado pelo Parlamento, o novo código trabalhista, além de facilitar a demissão de trabalhadores, abre a possibilidade de que os empregados trabalhem mais horas sem receber hora extra, formando um banco de horas.
Também está prevista a demissão por inadaptação ao lugar, o que pode acontecer pela introdução de novas tecnologias.
Com as mudanças na lei, o governo pretende atrair mais investimentos para o setor produtivo.
Censura
"Há um crescimento na participação dos trabalhadores nos atos contra o governo, porque cada vez mais os trabalhadores sentem que as injustiças e as desigualdades estão aumentando", disse o presidente da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, no comício que encerrou a manifestação.
Em resposta, o premiê José Sócrates disse que não se impressionou com o número de pessoas na manifestação. "O que me impressionam são os argumentos. Estamos empenhados na negociação para chegarmos a um acordo sobre as mudanças nas leis laborais."
Também nesta quinta-feira, o Partido Socialista, de Sócrates, conseguiu derrubar no Parlamento uma moção de censura apresentada pelo partido de direita CDS.
Paulo Portas, líder do CDS, justificou a proposta de derrubada do governo: "Queremos mais economia e menos impostos, mais liberdade de escolha e mais severidade no combate ao crime, mais atenção ao que se produz e não tanto ao que se especula, mais respeito pelos cidadãos e menos intervencionismo cego".
Nos últimos seis meses, essa foi a terceira moção de censura apresentada contra o governo - que vive seu momento mais difícil desde que José Sócrates assumiu o poder, em 2005.
O país vive dificuldades econômicas, com a inflação chegando perto de 3% --refletindo a alta nos preços dos alimentos e do petróleo.
Dentro do próprio Partido Socialista já começaram a surgir críticas à atual administração.
No último fim de semana, o ex-presidente Mário Soares escreveu um artigo num jornal criticando as políticas do governo.
Nesta semana, o vice-presidente do parlamento, Manuel Alegre --que teve mais de um milhão de votos nas últimas eleições presidenciais--, uniu-se ao Bloco de Esquerda (ex-trotsquistas e ex-maoístas) e políticos dissidentes do Partido Comunista num comício em Lisboa para pedir mudanças na condução da economia a fim de diminuir a pobreza.
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