** Marco Antinossi, da Agência Lusa ** Rio de Janeiro, Brasil, 05 Jun (Lusa) - A mais velha geração de emigrantes portugueses prepara o seu último grande presente ao Brasil, com a construção de um centro cultural, no Rio de Janeiro. O centro será construído ao lado do Real Gabinete de Leitura, um dos maiores símbolos da emigração portuguesa no estrangeiro, afirmou à agência Lusa o presidente da instituição António Gomes da Costa. "Será o último desafio, a última grande doação da velha geração de emigrantes portugueses que, há muitas décadas, cruzou o Atlântico para aqui criar raízes, realizar os seus sonhos e morrer", disse. "Uma geração que marcou a sua imagem no Brasil pela capacidade de doação ao país, pela construção de um forte movimento associativo, além dos empreendimentos comerciais", salientou. A velha geração de emigrantes, que chegou ao Brasil até meados da segunda metade do século passado, criou uma extensa rede de associações, com 180 instituições em todo o país. Essa rede incluiu desde instituição culturais, económicas, como as câmaras de comércio, de assistência médica e hospitalar, até associações dedicadas ao cuidado de idosos carenciados. O centro cultural vai acolher o crescente número de livros do Real Gabinete Português de Leitura e será dotado de toda a moderna tecnologia, como forma de atrair novas gerações de leitores. "Os jovens não sentem atracção pelo livro, é preciso ter computadores e Internet", salientou Gomes da Costa, ao avançar que o projecto está em fase final e que a construção deverá ser iniciada ainda este ano. O centro cultural vai funcionar num edifício anexo ao Real Gabinete de Leitura, na parte antiga da cidade do Rio de Janeiro, adquirido com o auxílio da Fundação Calouste Gulbenkian. Os detalhes da construção do centro cultural, como dimensões e custos de adaptação do edifício e de instalação de novas tecnologias, ainda não estão definidos. "O centro cultural está na fase inicial de projecto, num segundo momento vamos buscar fontes de financiamento e esperamos contar com a ajuda de Portugal", afirmou Gomes da Costa. Criado em 1837, por um grupo de comerciantes e intelectuais, o Real Gabinete Português é considerado um símbolo da emigração portuguesa pela beleza arquitectónica e pelo raro acervo. Com o objectivo de proporcionar aos emigrantes pobres acesso à leitura e inspirados pela comemoração, em 1880, dos 300 anos da morte de Camões a colónia portuguesa do Rio de Janeiro financiou a construção do prédio. Em estilo neo-manuelino, grande parte dos materiais para construção do prédio, cenário de vários filmes, foi importada da Europa, como as pedras de lioz da fachada e dos vitrais do salão. Desde 1936, o Real Gabinete recebe um exemplar de todos os livros editados em Portugal, como única instituição no estrangeiro com o estatuto de "depósito legal". Com mais de 350.000 livros, o acervo do Real Gabinete só é comparado ao da Biblioteca Nacional, também no Rio de Janeiro, oriunda da Biblioteca Real, legado de D. João VI ao filho e primeiro imperador do Brasil, D. Pedro I. Uma raridade do acervo é a primeira edição de "Os Lusíadas", do século XVI, que pertencia à Companhia de Jesus, da cidade de Setúbal, e que hoje é guardada no cofre da biblioteca, ao lado de obras de Eça de Queiroz. Gomes da Costa salientou que os novos emigrantes portugueses que desembarcam no Brasil, ao contrário da velha geração, permanecem apenas um determinado período. "Os portugueses que vêm actualmente são ligados a um contrato de trabalho dos grandes grupos empresariais, quando terminam vão embora, não têm aquele mesmo espírito aventureiro das gerações passadas", afirmou. "Trata-se de um outro tipo de emigração, de pessoas com preparo intelectual e com a responsabilidade de administrar os investimentos portugueses", disse.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
10 Junho: Velha geração de emigrantes portugueses prepara "última grande doação" ao Brasil
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