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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Dilma Rousseff, a fascinante!

Houvesse professores disponíveis — não os há —, em vez de filosofia e sociologia, que só servirão à esquerdopatia petista, as escolas deveriam voltar a dar aulas de latim. Sim, perdemos muito por ignorar a origem das palavras e seus sentidos ora múltiplos, ora avessos mesmo ao que vai sendo consagrado pelo uso. Assim, digo, sem sombra de dúvidas, que Dilma Rousseff é mesmo uma personagem “fascinante”.

Vá lá ao Houaiss: “Fascínio: qualidade ou poder de fascinar, de exercer forte atração; sensação de deslumbramento, de encanto”. Agora vamos ao Dicionário Latim-Português, de Francisco Torrinha: “Fascinum; fascinus — malefício, sortilégio, quebranto, olhado”. Há mais coisas no verbete, mas preferi ignorar porque remete a certas obsessões que os romanos adoravam desenhar em porte avantajado pelos muros da cidade. Acreditavam ainda que andar com a estrovenga no pescoço, na forma de amuleto, afastava a má-sorte... Olhem que bacana o estudo do sentido das palavras: foi a partir do “quebranto” e do “(mau) olhado”, que deixaria as pessoas meios abobadas, que se chegou ao sentido que conhecemos de “fascinante” — de certo modo, contrário ao original.

Sim, vejo Dilma e penso em fascínios... Mas a propósito de que isso tudo?

Fiquei um tanto abobado quando a ministra, num terninho azul-bebê (Dona Reinalda me disse que aquilo é “azul-bebê” (eu sei qual é o rosa-bebê, nesta casa de mulheres...), disparou a seguinte frase sobre Denise Abreu: “NÓS TÍNHAMOS UMA CONSIDERAÇÃO RAZOÁVEL PELA DOUTORA DENISE”.

Deus me defenda dos sortilégios de Dilma Rousseff. Se tiver de escolher, prefiro que ela me odeie. Que diabo quer dizer “CONSIDERAÇÃO RAZOÁVEL”? Quem é esse “nós”? Ah, Dilma me fascina, mas não me deixa abestado. Reparem que ela usa muito esse pronome. E não é plural majestático, em que o sujeito, humildemente, trata a si mesmo como multidão. Não! O “nós” de Dilma pretende designar, sei lá, algo como “o sistema”, “o coletivo”, “o partido”.

Tenho absoluta certeza de que, quando ela era a companheira Estella na organização terrorista VAR-Palmares, já dizia esse “nós” como quem evoca determinações celestiais — ou do outro extremo do céu, tanto faz, né?, que não quero aqui ser acusado de fazer proselitismo cristão, hehe...

Vou confessar. Senti até uma pontinha de medo por Denise. A companheira Estella tem todo jeitão de que gostava de ler o mala do Pablo Neruda, com aquele ar de Buda dos Andes, e não ganhou seu tempo lendo Borges... Mas eu leio por ela. E se a gente lesse a frase de Dilma ao contrário? Quem diz “NÓS TÍNHAMOS UMA CONSIDERAÇÃO RAZOÁVEL PELA DOUTORA DENISE” está dizendo: “NÓS NÃO TEMOS MAIS UMA CONSIDERAÇÃO RAZOÁVEL PELA DOUTORA DENISE”. Ter sido um deles, como foi Denise, e não ser mais objeto de “consideração razoável” talvez seja um pouco assustador. É como se dissesse: “O sistema não gosta mais de você”.

“Fascinus” puro! Sortilégio!

Entendo também que o “sistema” distribui “considerações” em graus, talvez de acordo com os serviços prestados.

Prestar atenção
Acredito haver aspectos nas entrevistas de Denise Abreu e de Marco Antonio Audi ao Estadão que não podem se perder em meio à voragem e aos detalhes:

1 - A ex-diretora da Anac afirma ter sido vítima de um dossiê. Ela não diz, mas acho que todos entendemos a sugestão de que pode ter sido coisa da Casa Civil. Ela é explícita em dizer que Dilma teria usado contra ela informações que, descobriu depois, estavam no tal dossiê;

2 – Marco Antonio Audi deixa claro que o chinês Lap Chan ameaçou não dar mais um tostão ao negócio e que praticamente impôs a venda da Varig à Gol. Audi ainda teria tentado a TAM, mas não houve tempo. É preciso saber:
a) a TAM estava disposta a dar mais pela Varig?;
b) se a TAM aceitava dar mais, por que o governo só autorizaria a venda para quem aceitava dar menos?;
c) digamos que alguém estivesse escrevendo um roteiro de ficção:
1 – Hipotéticas empresas G e T estão interessadas na também hipotética empresa V;
2 - a empresa V, que não é boba, prefere a empresa T, que paga mais;
3 - mas o negócio depende de autorização do governo, que só aceita vender para a empresa G, que paga menos;
4 – o roteirista já tem um mistério, um enigma, e precisa tirar o leitor ou telespectador da sinuca. O que se passa?
5 – o roteirista, cheio de caraminholas, inclui em sua história o pagamento de um complemento, "por fora" (vocês sabem: "recursos não-contabilizados", como diria Schopenhauer) não ao dono da empresa V, mas aos agentes oficiais que forçaram a venda para a empresa G.

Ah, para que não nos esqueçamos: Dilma, que cuida de coisas tão elevadas, ainda encontra tempo para pedir, pessoalmente, a transferência para Brasília da mulher de um terrorista. Eis um exemplo de consideração bem acima do "razoável".

Histórias verdadeiramente fascinantes, cheias de sortilégios.

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