Suspeita é de que os afastados achacassem membros da quadrilha que foi desbaratada na terça-feira
da Redação
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O esquema de corrupção envolvia a falsificação e a venda de carteiras de habilitação para pelo menos sete Estados e foi desbaratado com a prisão de 19 policiais, despachantes, médicos, psicólogos, proprietários e funcionários de 17 auto-escolas e Centros de Formação de Condutores (CFCs) em 11 cidades da Grande São Paulo. A Operação Carta Branca foi desencadeada após um ano de investigações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) do Ministério Público Estadual.
O esquema de propinas envolve delegados e investigadores das Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretrans) de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, e do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo - incluindo a Corregedoria, suspeita de achacar os envolvidos no esquema. Em duas oportunidades, donos de auto-escolas e funcionários de Ciretrans acabaram flagrados conversando sobre a arrecadação de dinheiro para os corregedores. Ou seja, quem tinha obrigação de fiscalizar participava da corrupção.
Conforme a investigação, o esquema conta com apoios políticos e influenciaria até a escolha de delegados para ocupar cargos de trânsito. Entre os chefes dessa quadrilha estaria o delegado Juarez Pereira Campos, que dirigiu a Ciretran de Ferraz e foi preso ontem. "Essa é só a ponta do iceberg. Vendiam-se, aqui, carteiras para o Brasil inteiro", disse o promotor Marcelo de Oliveira. Nas buscas realizadas, uma lista de propina foi achada com um investigador (Leia na página C3). Além disso, foram apreendidas dezenas de computadores e documentos, que encheram três caminhões. Foram encontradas centenas de habilitações de pessoas de outros Estados que seriam registradas em São Paulo.
Outras milhares já teriam sido vendidas. Só na Ciretran de Ferraz, 8 mil processos estão sob suspeita. Um dos maiores indícios das fraudes foi detectado por meio de um dispositivo que obriga quem vai renovar a carteira a se identificar por meio da impressão digital.
Assim, o Gaerco descobriu que 1.305 motoristas usaram apenas 64 digitais para tirar as carteiras. Uma mesma digital, por exemplo, foi usada para 150 carteiras de motorista. Só a falsificação desse lote rendeu R$ 2,3 milhões ao esquema. Escutas telefônicas mostram em detalhes como funcionava o esquema. Tudo era tabelado. Uma carteira para alguém de Minas era mais cara: chegava a R$ 1.800. O motivo era o fato de o esquema dos mineiros ter sido denunciado pela imprensa em 2007. Uma carteira para um goiano ficava mais barata. Para um paulista, tirar a carteira só fazendo o exame médico custava R$ 1.100. Para o Rio, a modificação na carteira de habilitação simples para a de motorista profissional custava até R$ 1.350, sem que o candidato precisasse fazer os exames, mesmo que aquela fosse a sua primeira habilitação.
Deputado
Todas as vezes que algum problema acontecia, o grupo recorria aos seus contatos no Detran de São Paulo ou na política. Isso ocorreu quando a carta de Joal da Silva foi apreendida em Franca (SP), sob a suspeita de falsificação . Ele era analfabeto, mas assinava com letra legível o documento. O problema não terminava aí: quem assinou por Joal ainda errou o nome, escrevendo João. Um inquérito foi aberto, o que contrariou o grupo.
Em conversa gravada, os suspeitos dizem que o responsável pelo caso devia "se virar, mover o deputado dele", caso contrário seria engolido, pois já estava tudo "acertado com o delegado de Joaquim". Dizem que a pessoa já havia derrubado um "seccional", em referência ao titular responsável pela polícia na região. O esquema teria influência na polícia, pois seria capaz até de provocar o afastamento de delegados. Eis mais um motivo usado pelos promotores para que fosse decretada a prisão temporária, por cinco dias, dos acusados. "Soltos, eles destruirão provas e tentarão corromper agentes públicos."
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