Eduardo Sciarra
No início do seu governo, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, respaldado pelo “eixo” Antonio Palocci, no Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles, no Banco Central, conseguiu inverter a tensão pré-eleitoral e as expectativas mais sombrias do mercado, mantendo (e aprofundando) o receituário macroeconômico de Fernando Henrique Cardoso.
Em poucas palavras, reiterou o compromisso do governo anterior com a estabilidade monetária, o câmbio flexível e o ajuste fiscal: a mesma agenda que o PT combatera quando na oposição.
Bafejada pelos ventos favoráveis da economia mundial pré-crise, a nau Brasil reencontrou o caminho do crescimento, com melhoria no perfil de distribuição da renda.
Infelizmente, desde o começo do segundo mandato, o governo transmite inquietantes sinais de “nostalgia ideológica” que comprometem um dos principais fatores do seu relativo sucesso econômico: a política de austeridade no gasto público está ameaçada por uma recidiva da paixão petista pelo Estado gastador.
Os números do Ministério do Planejamento, do Tesouro Nacional e do site Contas Abertas no período de 2003 a 2008, já mostravam que as despesas com servidores civis ativos cresceram 37%. Essa tendência se acentuou nos meses de janeiro a maio deste ano, quando 7.521 servidores somaram-se à folha de pagamento do governo. Na comparação com os sete primeiros meses do ano passado, os gastos não financeiros governamentais ficaram R$ 39,5 bilhões maiores em 2009. E o orçamento para 2010 autoriza a contratação de 77 mil novos funcionários.
O leitor ou leitora percebeu alguma melhoria correspondente na qualidade dos serviços públicos à população, principalmente em setores prioritários como educação e saúde? Nem eu. Ganho de eficiência, se houve, limitou-se à arrecadação: nunca o contribuinte brasileiro pagou tanto imposto para bancar o esbanjamento do governo. Mesmo assim, este tem dificuldade para fechar suas contas. Daí a resistência do Ministério da Fazenda a pagar a restituição do Imposto de Renda (IR) devida às pessoas físicas em 2009.
Na realidade, o estouro dos gastos de custeio da burocracia contrasta com o raquitismo financeiro dos investimentos públicos, aquela parte da despesa do governo que fortalece a infraestrutura, multiplica os postos de trabalho no conjunto da economia e ajuda os brasileiros a viverem melhor. Como parcela do Produto Interno Bruto (PIB), os investimentos federais em infraestrutura não ultrapassam 0,36%. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que o Palácio do Planalto alardeia como sua grande contribuição ao desenvolvimento nacional, é, de fato, o retrato vivo dessa precariedade. De fevereiro de 2007 até abril deste ano, foram concluídos somente 7% das 11.990 realizações previstas. A quantia investida, também até abril deste ano, foi de R$ 137,2 bilhões, magros 21% do investimento total de R$ 646 bi projetados para o quadriênio 2007/2010.
Para piorar, estudos do Banco Central e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) preveem que a expansão das despesas de custeio pressionará os índices da inflação para cima no ano que vem. No final de setembro, o Banco Central reviu de 3,9% para 4,4% a projeção de aumento do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) em 2010. E tome mais uma longa temporada de taxas de juros nas alturas.
Enfim, o governo que, se beneficiou da herança bendita do seu antecessor, agora, engendra uma bomba-relógio fiscal para quem vier a sucedê-lo.
Eduardo Sciarra (DEM-PR) é deputado federal e presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados.
Lula acumula: -Aposentadoria por invalidez,aposentadoria de Aposentadoria por invalidez,Pensão Vitalícia de "perseguido político" isenta de IR,salário de presidente de honra do PT,salário de Presidente da República.Você sabia??? Sphere: Related Content