27 de Julho de 2008
Cory Booker, 39 anos, é prefeito da capital brasileira nos Estados Unidos: Newark, em Nova Jersey. Os cerca de 30.000 brasileiros que moram no local compraram 60% de todas as residências vendidas na cidade nos últimos anos. Ele governa mais brasileiros do que 4.000 de nossos prefeitos. É uma estrela em ascensão na política americana. Em 2002, sua campanha para a prefeitura de Newark, uma das cidades mais pobres e violentas dos EUA, acabou em derrota, mas virou um documentário indicado ao Oscar. Em 2006, Booker ganhou, com mais de 70% dos votos. Está no meio do mandato e já tem um sucesso vistoso: reduziu drasticamente a taxa de crimes violentos. Em sua cidade, ele concedeu uma entrevista a VEJA, publicada na edição desta semana da revista.
Veja – Quando se mudou para Newark, em 1995, por que o senhor escolheu um dos lugares mais pobres da cidade para viver?
Cory Booker – Para fazer diferença numa comunidade, é preciso conhecê-la. Meu sonho era participar da transformação de uma vizinhança pobre e degradada. Quando me mudei, não foi um sacrifício no sentido óbvio. Na verdade, encontrei uma ligação com aquela comunidade, estabeleci um laço, descobri um sentimento de pertencimento.
Veja – Quando o senhor assumiu a prefeitura, Newark era a cidade mais violenta do país. Como reverteu esse quadro?
Booker – O primeiro desafio é despertar a comunidade para seu potencial. Por muito tempo, os moradores de Newark toleraram crimes demais, toleraram um governo que não lhes prestava serviço. Os habitantes da cidade não exigiam do governo, nem de si mesmos ou de seus vizinhos. O primeiro desafio, então, é despertar as pessoas para o sucesso possível, sepultar o cinismo, o ceticismo. Viver numa comunidade não é como assistir a um jogo de futebol, em que nos sentamos e esperamos as coisas acontecerem no campo.
Veja – A comunidade despertou estimulada apenas por sua retórica?
Booker – Vivemos grandes momentos no meu primeiro ano na prefeitura, mas houve um ponto de virada. Foi o homicídio de três jovens universitários em agosto de 2007 (sob a mira dos assassinos, os jovens foram levados até um muro de concreto, ali se ajoelharam e foram executados, de costas, com tiros na cabeça). Foi um choque, e deu-se então a virada. Diante daquela brutalidade, a cidade podia entregar-se ao desespero, à raiva, à frustração, ou pegar uma estrada diferente. E pegou. As pessoas arregaçaram as mangas, ofereceram-se para realizar trabalho voluntário, doar dinheiro, fazer parceria com a cidade. A mudança foi extraordinária. Hoje, somos a cidade que mais reduz a taxa de crimes violentos nos EUA. No ano passado, ela caiu 5% ou 6%. Neste ano, a queda já está em torno de 37%, 38%. Os outros prefeitos agora nos perguntam o que fizemos para reduzir tanto a criminalidade.
Veja – O que o senhor responde?
Booker – Não há resposta simples ou fácil. Além de despertar a comunidade, é preciso conjugar uma gama ampla de estratégias. Nós contratamos mais policiais, engrossamos o turno da noite, que é quando acontecem os crimes, e mudamos os lugares de plantão para onde os crimes de fato ocorrem. Criamos uma equipe que acompanha o pessoal em liberdade condicional, para evitar que cometam novos crimes e voltem para a prisão. Criamos a divisão de combate ao narcotráfico, porque percebemos que o tráfico de drogas está por trás dos crimes violentos. Investimos em tecnologia para ter uma ampla base de dados. Acabamos de instalar uma centena de câmeras pela cidade.
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