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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Revelada ligação do Brasil com as Farc

Karla Correia, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - O governo brasileiro escondeu e o colombiano omitiu, por respeito à boa relação diplomática bilateral. Mas a imprensa insistiu na aparição do Brasil em e-mails recuperados do computador do líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) Raúl Reyes, morto num bombardeiro em março, e encontrou.

“Os vínculos das Farc com altos funcionários do governo do Brasil, entre eles cinco ministros, atingiram níveis escandalosos”, denunciou ontem a revista colombiana Cambio.

As mais altas esferas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores, líderes políticos e o Poder Judiciário facilitaram o trânsito de guerrilheiros pelo Brasil.

A conclusão depreende-se da análise de 85 e-mails que Reyes trocou com líderes das Farc entre fevereiro de 1999 e 2008, aos quais a Cambio teve acesso.

O conhecimento do chamado “dossiê brasileiro” começou a esboçar-se dia 19 quando, em visita a Bogotá, o presidente Lula bebia uma taça de aguardente para esconder o frio. Depois de agradecer Lula pelos seis anos de relações bilaterais dinâmicas e de confiança, o presidente colombiano Álvaro Uribe fez a Lula um breve resumo sobre a os arquivos encontrados no computador que comprometiam cidadãos e funcionários do governo com as Farc.

Terminada a reunião privada, Lula se calou, mas parte da informação foi vazada à imprensa.

Apesar de nenhum dos funcionários do governo ter enviado mensagens a membros da guerrilha, a revista assegura que despertam muitas dúvidas que exigem uma resposta do governo brasileiro.

As Farc, afirma a Cambio, aproveitaram “a conjuntura criada pela chegada de Lula e do influente PT ao poder para chegar às mais altas esferas do governo”.

Citados

Nos e-mails de Reyes, são mencionados cinco ministros, um procurador-geral, um assessor especial da Presidência, um vice-ministro, cinco deputados, um vereador e um juiz superior brasileiros.

A Cambio aponta o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e o assessor presidencial Selvino Heck.

Em resposta, Garcia classificou recentemente como “irrelevantes” as mensagens encontradas no computador periciado por Bogotá.

Também são mencionados nos e-mails o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, a deputada distrital Erika Kokay e o chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

Fora da arena política estão Francisco Antonio Cadena Collazos, conhecido como padre Olivério Medina, e o Cura Camilo, que atua como delegado das Farc no Brasil.

Itamaraty e Garcia negam cooperação com guerrilha

Enquanto o chanceler colombiano Jaime Bermudez declarava que “cabe agora à Brasília determinar as eventuais providências a serem tomadas”, o assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, respondia por meio de sua assessoria que a reportagem da revista colombiana Cambio é “fantasiosa”.

– Não há nenhuma cooperação do governo brasileiro com as Farc, nenhuma. Basta ler os documentos para ter isso claro – disse Garcia. – Isso parece provocação, não há cooperação. É questão de perguntar ao presidente Uribe e tirar a versão.

Segundo a assessoria de Marco Aurélio, nos mesmos e-mails que pautam a reportagem colombiana, ele é citado como “o inefável Marco Aurélio”, sempre tido como homem que impede o contato das Farc com o governo brasileiro.

O Itamaraty também negou qualquer vínculo do chanceler Celso Amorim com as Farc ao dizer que “nunca houve contato direto ou indireto do ministro Celso Amorim com qualquer membro ou representante das Farc”.

Conclusões divergentes

Ao menos dois jornais brasileiros publicaram, no início de julho, matérias sobre relações entre o Palácio do Planalto e as Farc baseadas nos mesmos arquivos a que a revista colombiana teve acesso. As conclusões, entretanto, são diferentes.

Reportagem veiculada na Folha de S. Paulo dia 5 fala sobre as “dificuldades” que a guerrilha teria encontrado para chegar à cúpula do poder no Brasil e cita especificamente um email no qual Raúl Reyes trata Garcia como um empecilho às Farc. Tal mensagem não é mencionada na matéria. O que, na avaliação de assessores do Planalto, seria indício de interesses políticos por trás da matéria publicada na revista, pertencente ao grupo El Tiempo de mídia, cuja família proprietária se estende ao ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.

Fonte citada na reportagem, Santos foi subdiretor do jornal antes de entrar no governo, na gestão do presidente Andrés Pastrana. Seu irmão, Francisco Santos Calderón, também ocupou a subdiretoria antes de candidatar-se à vice-presidência de Álvaro Uribe. Crítico do Conselho Sul-Americano de Defesa – órgão da recém-criada União das Nações Sul-Americanas – Santos teria influência sobre o conselho editorial da revista, dizem assessores.

Com agências

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