ELAINE GUERINE, DE LOS ANGELES
Rodrigo Santoro aguarda a reportagem de ELLE Brasil numa luxuosa suíte do Hotel Beverly Hilton. Como a entrevista foi agendada por um dos maiores estúdios de Hollywood, há todo um protocolo a ser seguido. Sou levada por uma relações-públicas até o quarto, onde outra assessora vai acompanhar a entrevista. “Eles controlam todo o meu tempo”, conta o ator, um pouco constrangido pela rigidez dos americanos durante os eventos de lançamento dos filmes. Mas Santoro terá de se acostumar a esse ritmo industrial de promoção, já que falta pouco para ele se estabelecer como astro internacional.
Bonito, inteligente e talentoso, esse carioca de 31 anos não só conseguiu um papel em Lost, um dos seriados de maior sucesso na TV atualmente, como vive Xerxes, o megalomaníaco conquistador persa, na superprodução 300, que também estréia este mês no Brasil. “Estou feliz por tudo o que está acontecendo”, diz Rodrigo, lindo numa malha de lã preta de gola alta e calça jeans. O bronzeado intenso, que o deixa ainda mais sedutor, foi adquirido nas praias do Havaí, onde ele está gravando as cenas da terceira temporada de Lost, que vai ao ar este mês por aqui, no canal pago AXN. Embora seja o ator brasileiro mais cobiçado do momento, ele mantém o jeito cool. “Sigo o meu caminho. Vou tocando de ouvido, como aprendi na música”, diz. Ainda em março, Rodrigo poderá ser visto no longa nacional Não por Acaso. Em setembro, volta às telas em mais um filme brasileiro, Os Desafinados, de Walter Lima Jr. Ainda está comprometido com Andrucha Waddington para rodar Os Penetras e cotado para encarnar o cantor argentino Carlos Gardel em Dare to Love Me. “A minha vida anda uma loucura”, resume. Não é para menos!
Qual foi a sua reação quando viu o seu nome na revista People na lista dos homens mais sexy? Você conquistou o 12º lugar e Brad Pitt ficou em 15º...
Eu ri. (risos) Na hora, achei engraçado. Mas não me senti mal. Foi até legal. Isso representa algo nos Estados Unidos, pode me abrir portas, me trazer reconhecimento.
Mas você contrariou as expectativas de quem esperava vê-lo outra vez como galã em Hollywood. Está irreconhecível em 300, como o gigante careca, com o rosto tomado de piercings.
Seria mais fácil se eu interpretasse sempre o latin lover, que vende bem no exterior. Mas me interessei por Xerxes porque ele não tem nada de galã. Foi uma oportunidade que caiu do céu. O cara é um gigante assexuado que tratei como entidade, não como humano. Como os espartanos, que enfrentam Xerxes no filme, são guerreiros bem masculinos, achei que dar a ele uma qualidade andrógina enriqueceria o personagem.
Precisou fazer teste para o papel?
Sim. Fui chamado graças ao produtor italiano Gianni Nunnari, que me viu em Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado e Carandiru. Mas não pude viajar porque estava no meio das gravações de Hoje É Dia de Maria – Segunda Jornada. Como o produtor insistiu, gravei uma fita com o teste e mandei pelo correio. O problema é que eu tinha de aparecer careca, já que a produção é inspirada nos quadrinhos de Frank Miller. Tive a sorte de contar com a ajuda de um maquiador da Globo, que aplicou um látex na minha cabeça, me deixando aparentemente sem cabelo.
Foi só o que precisou fazer para ser escalado?
Não. Como estava 10 kg mais magro, ficaram na dúvida se eu conseguiria encarnar Xerxes, que tem 3 m de altura. Tive de convencê-los, por telefone, que eu não era pele e osso. Como as gravações de Maria acabariam em um mês e as filmagens de 300 só começariam em cinco meses, tive tempo para fazer dieta e musculação e recuperar o meu físico.
Diferentemente da sua participação em As Panteras – Detonando, em 300 o seu personagem tem peso na trama. É um tapa com luva de pelica em quem criticou a sua estréia no cinema americano?
Não penso nisso. Quando leio uma crítica, procuro absorvê-la para enxergar como vai me ajudar e o que poderá me ensinar. O que não me ajuda, descarto.
Mesmo por não ter tido falas em s Panteras?
(Risos) Mas desta vez o personagem fala... E é a minha voz mesmo. Como Frank Miller a descreve como uma voz de trovão, trabalhei no registro mais baixo e grave possível. Depois ela passou por um processo de digitalização no estúdio. Tudo isso para fazer o cinema tremer quando Xerxes abre a boca.
O que o motivou a atuar no exterior?
Preciso ser desafiado e me sentir desconfortável. Só assim sinto que estou aprendendo. Tanto nos EUA como no Brasil, poderia viver sempre o galã. Mas fujo do que não me estimula. Tive muitas oportunidades de interpretar amantes nos Estados Unidos, mas não quis corresponder ao estereótipo do latino.
O que o convenceu a integrar o elenco de Lost?
Há dois anos, fui convidado para atuar no seriado Alias, mas na época não pude aceitar. O mesmo produtor me chamou de novo para Lost. Sabia que o seriado era interessante e bem escrito. Mas só fui conhecê- lo melhor quando a produção me mandou os episódios da primeira e da segunda temporadas. Vi um atrás do outro. E o fato de eu ter ficado grudado na TV foi o sinal de que deveria aceitar.
A locação ser no Havaí, o paraíso dos surfistas, pesou?
(Risos) Muito. Amo surfar, e o Havaí é lindo. Tem sido uma bênção trabalhar na praia. Surfo antes de ir para o set e aproveito para pegar onda sempre que termino as gravações mais cedo. É a melhor sensação do mundo. Poder surfar uma hora por dia é o equivalente a viver na Disnelândia para mim.
É verdade que você dispensou o hotel cinco estrelas pago pela produção e usou o dinheiro para alugar um chalé na praia?
Optei por um chalé perto da praia, bem no meio da floresta. É maravilhoso acordar cercado pela natureza. Quando caminho, só vejo árvores e pássaros. É perfeito. É um lugar que me traz paz.
Está decidido que você não volta para a quarta temporada da série?
Isso ainda está no ar. Só posso dizer que ainda pertenço ao mundo Lost, sem dar mais detalhes. Até porque eu mesmo não sei. Estou adorando justamente porque não posso controlar nada. Nós recebemos o roteiro um pouco antes das gravações. Então, não dá para construir o personagem com antecedência. Não conheço sua história. Tenho apenas algumas pistas. E é isso que deixa com a sensação de estarmos perdidos, como sugere o título.
E como anda o coração? É complicado namorar a distância (com a apresentadora de TV Ellen Jabour)?
O coração está ótimo. Sinto saudades, claro. Não só da Ellen, como da minha família, dos meus amigos, da minha casa, do meu cachorro. De tudo. Tenho viajado muito, o que me impede de ter uma rotina no Brasil. Compenso com a internet, o telefone e o rádio. Estamos sempre em contato. Os meus pais e a Ellen já foram me visitar no Havaí.
De certa forma, é um alívio passar essa temporada nos Estados Unidos, onde os fotógrafos não o perseguem tanto?
Sim. Principalmente no Havaí, onde estou vivendo como um autêntico Robinson Crusoé. (risos) Mas eu aprendi a conviver com a fama. No começo, fiquei assustado. Não sabia como agir. Me sentia sem privacidade. Levei tempo para entender e aceitar que esse era o preço a pagar. Hoje percebo que nem é tão alto assim. Só não me deixo levar. Quanto mais nos prendemos ao ego, mais perdemos o foco.
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