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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

BÍBLIA DO CAOS : NOVO EVANGELHO



5: LXXXI a C

XCIV.
Antigamente se falava , com total convicção: “O que é do homem o bicho não come”. O pessoal todo ainda estava no armário.

XCIII.
“Pérolas aos porcos” é expressão depreciativa. Exceto no Planalto, onde os porcos adoram pérolas.

XCII.
É a eterna istória de só darmos valor ao que vem de fora. A toda hora os jornais se enchem de artigos louvando como fantásticas as previsões de Sibila, Tirésias, Nostradamus e que tais, todos, afinal, estrangeiros. E no entanto ninguém se lembra do nosso genial profeta, o maior cronista do país, Rubem Braga, que há mais de trinta anos lançou sobre o bairro mais famoso do Brasil o seu anátema terrível: "AIDS TI, COPACABANA!"

XCI.
Palavras, palavras, palavras
Ser ou não ser (FRESCO?)

Nunca entendi bem o porquê da prolongada indecisão do Príncipe da Dinamarca ( o Hamlet, esse mesmo) diante de seu problema existencial. Só a necessidade da peça durar três ou quatro horas, enquanto a patuléia ria, berrava, comia e brigava (exatamente como a galera faz hoje nos xous de
roque), pode explicar o fato.

"Ser ou não ser", ora, ora. Quando há uma indecisão dessas, meu Príncipe, a coisa se resolve mais facilmente na Cara ou Coroa. Cara, a gente mata o tio. Coroa, a gente mata a própria mãe. Se a moeda cair em pé (o Lula consegue), a gente mata os dois. De qualquer forma a solução é imediata, sem os intermináveis florilégios:

"Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?"

XC.
Se você está apavorado com tanta violência, é bom prestar mais atenção: a maior violência não anda armada.

LXXXIX.
O Brasil ainda é os Estados Unidos de que eu mais gosto.

LXXXVIII.
Vou andando, como sempre, de vez em quando corro um pouco, o mar à direita, a cidade à esquerda. A areia está dura, seu contato com os pés é um prazer sem igual. Penso, na fluidez do que quase não chega a pensamento: "Sou um homem de praia. Não sou um homem de mar. Vivi toda a minha vida à beira do mar, na praia. Pra mim o mar podia acabar logo ali, na linha do horizonte".

LXXXVII.
Todos sabem - os poucos que sabem - que sou grande admirador da tecnologia. Mas o progresso é sempre melhor? Sempre? Todo dia a gente vê desastres. Terríveis acidentes aéreos, engavetamento de trens, batida coletiva de automóveis. Você alguma vez ouviu falar de algum acidente com os maravilhosos meios de transporte do passado - soube da queda de algum tapete voador, de alguma batida de vassouras de bruxas, de algum enguiço de botas de sete léguas?

LXXXVI.
Minha homenagem, mais uma vez, a São Sebastião, padroeiro desta mui leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Homenagem pequena, mas eu não poderia deixar de fazê-la mais uma vez. Hoje não existe nada de tão representativo do Rio quanto esse São Sebastião todo esburacado. Mas, ao contrário do que pensa a maioria dos devotos, São Sebastião sobreviveu aos buracos ordenados pelo administrador de Roma, Diocleciano. E Diocleciano teve que mandar abatê-lo a pauladas. O Rio não perde por esperar.

LXXXV.
A cada sol que surge, novos e mais novos sinais aparecem de mudanças dos tempos clima & sucessão de horas. Enquanto o frio desagradável que nos assolou (tem sol aí no meio!) vai se dissipando e o ar brilhante da primavera vai penetrando a atmosfera, os ratos de esgoto se tornam mais visíveis, alcatéias de pulhas saem dos ralos e, sobretudo na calada da noite, ouve-se os guinchos e uivos das milícias solertes sentindo seus tugúrios ameaçados pelo calor que aumenta. De vez em quando, insustentáveis, caem do alto alguns gambás não conseguindo mais se sustentar nos galhos e cipós autárquicos. Ao mesmo tempo, alguns raros talentos-malversados são vistos bêbados e cegos pela luz que ameaça despontar. Na saída do túnel vendem-se ainda (forma reflexiva, eles se vendem) muitos sibaritas tediosos da última temporada. Mas há também muita vida antiga preservada no último andar, sobretudo no sótão; gerentes hemiplégicos recebem para derradeira tentativa os vetustos safados. Mas uma janela bate, se abre, e deixa entrar uma lufada (êpa! Nada de Maluf!) de ar fresco, inoculando pneumonia e bronquite nesses remanescentes amigos do peito. Não é necessário ter narinas muito apuradas pra perceber que vai ser tarefa de Hércules livrar toda a área do fedor terrível deixado pelos superexecutivos, vigas, forros, degraus, revestimentos, quase tudo está podre nesta nossa Dinamarca.

LXXXIV.
Proverbial: tanto é verdade que o dinheiro pode tudo que uma pequena moeda, a menor moeda do fabulário econômico, colocada junto ao olho, esconde a luz do sol.

LXXXIII.
Estamos, de novo, fazendo um gigantesco esforço pra desapurar tudo que já desapuramos há muito tempo, quem está com o bilhão e quem é sócio do bilhão. Parece que desta ninguém escapa, estão envolvendo até o Presidente. E todo o país respira aliviado. O Brasil vira mais uma página de sua História?

PS: A interrogação que botamos na frase é pra não exagerar no otimismo. Mas resolvemos dar a eles o benefício da dúvida, perdão da dívida!

LXXXII.
Fiquem tranqüilas as autoridades. No Brasil jamais vai haverá epidemia de cólera. Nosso povo morre é de passividade.

LXXXI.
Lula sabe, Lula é um estudioso da mitologia grega. Daí sua popularidade. Aprendeu com os deuses do Olimpo que pode cruzar mil burros brancos com mil mulas pretas que não dá zebra.

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