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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Caminhões destroem pontes em SP enquanto órgãos e motoristas trocam acusações


Fabiana Uchinaka
Em São Paulo
  • Pontilhão Gabriela Mistral: construção da CPTM à frente
    e antiga ponte de 3,4 m ao fundo


Sete placas e um sinalizador de excesso de altura, que pisca em luzes amarelas, não são suficientes para evitar que caminhões entalem quase todos os dias na ponte da avenida Gabriela Mistral, no bairro da Penha, zona leste de São Paulo. O pontilhão, de 3,4 metros de altura, sustenta os trilhos da Linha 12 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e está completamente danificado, representando o ponto mais crítico da cidade no mapa das ocorrências entre construção e caminhões com excesso de altura.

São tantos os acidentes no local, que uma nova ponte, 1,25 metro mais alta, já está sendo construída e, segundo a CPTM, deve ficar pronta até setembro. No caso desta ponte, a obra é de responsabilidade da companhia de trens, mas poderia ser do Metrô, da Siurb (Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras, responsável pela parte estrutural das pontes municipais), das subprefeituras (que respondem por manutenções de pequeno porte), do governo do Estado (quando são obras intermunicipais) ou até de shoppings (que cuidam de passarelas). Cada órgão é "dono" de uma construção.
A divisão de responsabilidades não é clara e gera um jogo de empurra entre os órgãos, sem que ninguém saiba precisar o número de ocorrências na cidade. Sabe-se, porém, que entalamentos, de pequenas ou grandes conseqüências, são freqüentes e resultam em inúmeros problemas para todos os envolvidos. O prejuízo é evidente: os acidentes custaram à Siurb, só neste ano, R$ 25 milhões em manutenção para reverter os danos estruturais, aos motoristas multa de R$ 127,80 e cinco pontos na carteira de habilitação, e aos paulistanos quilômetros e mais quilômetros de lentidão. A CET também calcula que precisa administrar mais três quilômetros de congestionamento a cada 15 minutos de vias obstruídas para a remoção de um veículo.

  • Diversas pontes de SP apresentam estrutura comprometida

Troca de acusações
Além do pontilhão da avenida Gabriela Mistral, outros seis pontos concentram a maioria dos entalamentos: pontes Eusébio Matoso, Tatuapé, Limão, Atílio Fontana, Freguesia do Ó e avenida do Estado. A CET afirma que nesses locais há um grande afluxo de caminhões com excesso de altura que "arriscam a passagem" e que, se há entalamento, é por desrespeito à regulamentação estabelecida. "Os motoristas não respeitam nada, circulam onde não devem, cometem uma série de infrações e depois falam que se perderam ou não viram a placa", diz a companhia.

O engenheiro Edemar Amorim, presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, chama a atenção ainda para o risco que as estruturas desgastadas representam e cobra punição para aqueles que destroem os viadutos. "As pontes e os viadutos da cidade precisam desesperadamente de manutenção, o que não existe e é gravíssimo", diz. Ele defende multa e apreensão do caminhão. "Além disso, é preciso mandar prender as pessoas que são teimosas. Quem derruba uma estrutura está cometendo quase um crime doloso, quase um assassinato. Nós temos que coibir com rigor o motorista irresponsável", acredita.

Segundo ele, o problema da altura é simples de resolver: bastaria colocar uma armação de madeira na porta da transportadora com a altura mínima dos viadutos. "O caminhão que passar por ali pode seguir, o que bater precisa ser descarregado", explica. O especialista diz também que não adianta sofisticação eletrônica. "Isso vale para países desenvolvidos, aqui o motorista não respeita. O acidente acontece por ignorância, falta de educação e punição, por mal preparo dos motoristas, que sempre acham que dá. Ninguém mede, ninguém examina, ninguém sabe fazer conta, muitos não sabem nem ler a placa".



O presidente do Sindicato dos Condutores em Transportes Rodoviários de Cargas Próprias de São Paulo, Almir Macedo Pereira, líder dos caminhoneiros, defende a categoria dizendo que "é fácil jogar os problemas no colo dos outros" e que "os especialistas só falam em punição". "É muito fácil implantar as coisas e deixar as pessoas se virarem. Ninguém se preocupa com o motorista que vem lá da Bahia, chega aqui e se perde. Que está tentando trabalhar, pagar o caminhão e ainda leva a multa. Ninguém se preocupa em gerar condições para que o motorista trabalhe com segurança, em horário adequado, que tenha educação, saúde. Claro que tem muito caso de distração, mas também não há sinalização adequada. Os motoristas precisam de todo tipo de orientação, principalmente os que vêm de fora e chegam a São Paulo sem informação", afirma.

Ele conta que em outros países a sinalização vem desde longe e em grandes quantidades, para que o motorista vá se preparando. "Tem carga que não agüenta uma freada de repente, é muito perigoso", completa.

Polêmica nas alturas
O sindicato reclama que a altura marcada nas placas das pontes não corresponde à altura real. Pereira diz que os constantes recapeamentos das vias fazem com que a pista suba, o que atrapalha consideravelmente o cálculo do motorista de caminhão.

A CET descarta que haja este problema e diz que no processo de recapeamento é retirada uma camada de asfalto. Já a Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras (Siurb), responsável pela parte estrutural das pontes, diz que "a altura indicada nas placas corresponde à altura real, com uma pequena margem de segurança".

  • Rebaixamento da avenida do Estado

Seja como for, o rebaixamento do leito (greide) em 80 centímetros foi a solução adotada pelo Metrô de São Paulo para resolver o problema dos caminhões entalados nas avenidas do Estado e Tiradentes, que influem no trânsito do entorno da estação Armênia. A mudança, que deve vigorar em cinco meses, aumentará a passagem dos atuais 4,3 metros para 5,1 metros e deve evitar choques nas principais vigas da estrutura elevada da estação.

Além disso, o Código Brasileiro de Trânsito determinou, em 1998, que a altura mínima das pontes em áreas urbanas é de 4,4 metros e a altura máxima dos veículos, com ou sem carga, também é de 4,4 metros. Isso significa que muitas vezes, mesmo que pontes e caminhões estejam regulares, o tráfego pelas vias paulista pode ser arriscado e a margem de segurança é quase inexistente.

A CET ressalta que "todos os túneis, viadutos, pontilhões e pontes estão regulamentados", mas a reportagem constatou construções mais baixas. O viaduto na avenida de Estado (sob a estação Armênia do Metrô) tem atualmente 4,3 metros e o pontilhão da avenida Gabriela Mistral apenas 3,4 metros. E justamente nesses pontos, o sinal das infrações é facilmente visível: concreto destruído, cabos arrebentados, ferro corroído e entortado.

A Siurb explica que as construções mais baixas são anteriores às novas normas técnicas e estuda-se, caso a caso, qual é a melhor técnica para alterar a ponte ou o viaduto. Ao todo, afirma a secretaria, são 16 obras em andamento, fiscalizadas pelo Ministério Público.


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