Fernndo Donasci/Folha
A Bandeirantes realizou os primeiros “debates” entre os candidatos a prefeito de seis capitais.
O repórter acompanhou o de São Paulo. Presentes oito (!) postulantes.
Começou às 22h de quinta. Avançou pela madrugada de sexta –40 minutos além da meia-noite.
O embate teve um grande, solitário e inquestionável vencedor.
Ganhou o telespectador que não perdeu um segundo do seu tempo assistindo à pantomima.
Sem desmerecer a meritória iniciativa dos organizadores, é preciso reconhecer:
No Brasil, o excesso de regras transformou esse tipo de evento numa xaropada inútil. Embromação.
Há um pouco de tudo. Publicidade, autopromoção, dissimulação... Só não há debate.
Deve-se aos marqueteiros de campanha e à Justiça eleitoral a conversão dos debates em perda de tempo.
Os publicitários erigiram um escudo de regras que elimina da cena o risco do inesperado, do incidente.
Vem daí, por exemplo, a ridícula seqüência de “perguntas” de candidato para candidato.
O que deveria ser a praxe –a exposição ao questionamento dos jornalistas—tornou-se exceção.
Ficou restrita a um mísero bloco. Ainda assim, sem direito à réplica, transferida a um candidato rival.
À esperteza marqueteira somou-se, uma eleição após a outra, a regulação intrusiva da Justiça.
Obriga-se a emissora a acomodar na bancada até os “debatedores” que não têm densidade eleitoral.
Noves fora o bálsamo visual propiciado pela presença de Soninha, ficou boiando no ar uma pergunta:
Por que diabos deve-se impor à audiência o lero-lero de candidatos com 1% das intenções de voto?
Os tribunais argumentam que agem para preservar a igualdade na disputa. Balela.
Para isso existe o horário eleitoral gratuito. Financiado, a propósito, pelo contribuinte.
A superproteção aos candidatos privou o eleitor do debate genuíno. Tudo se reduz à desconversa.
Em matéria de debates eleitorais, o Brasil tem muito a aprender experiências estrangeiras.
Nos países em que a coisa é pra valer, a regra é não haver muitas regras.
Sob mediação confiável, os candidatos são crivados de perguntas de jornalistas, de platéias especializadas ou de “simples” eleitores.
Na renga de São Paulo, vislumbrou-se apenas o óbvio: na dianteira, Marta e Alckmin preservaram-se. Em terceiro, Kassab tratou de alfinetar os dois.
De resto, o encontro serviu como mera avant-première do lero-lero que será despejado sobre a cabeça do eleitorado na propaganda regular de rádio e TV.
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