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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Governo do AC usou cobaias humanas para estudar malária, diz ONG

MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha

Uma associação do Rio de Janeiro entrou com ação na Justiça contra a União e o governo do Acre por considerar que houve uso de cobaias humanas em estudos sobre a malária no Estado.

Segundo a Abraspec (Associação Brasileira de Apoio e Proteção aos Sujeitos da Pesquisa Clínica), pessoas contratadas em 2003 pela Secretaria da Saúde do Acre foram expostas até 2007 a cerca de 300 picadas diárias do mosquito transmissor da malária, para colher o inseto e fazer os estudos sobre a doença.

A malária é uma doença infecciosa provocada por protozoário e transmitida pelo mosquito Anopheles. Entre os sintomas da doença, para a qual não há vacina, estão calafrios, suor, anemia e aumento do tamanho do baço e do fígado.

A entidade pede a condenação da União por suposta negligência. A ação ocorre após reportagem publicada, em maio, em um site noticioso local.

A Abraspec afirma que os agentes são tratados de maneira "indigna" e "degradante" e correm risco de morrer. Contesta também o uso de dinheiro público para esses estudos.

Um desses funcionários afirmou nesta terça-feira à Folha que ficava com as calças suspensas e pernas esticadas em lugares abertos, geralmente perto de rios, na região de Cruzeiro do Sul (AC) para atrair os mosquitos.

"Ficávamos com um tubo de sucção para puxar o mosquito quando pousava. Eu mesmo peguei malária oito vezes, e falavam que era normal", disse Marcílio Ferreira.

Nesta terça-feira, a Justiça Federal no Acre intimou o governo do Estado e a União a prestarem esclarecimentos em 72 horas.

Em nota, a Secretaria da Saúde negou o uso de "cobaias humanas". Disse que a captura de mosquitos transmissores é um procedimento de rotina. Segundo a pasta, técnicos são treinados para a obtenção de espécies de insetos quando pousam na pele, mas não há contato direto. Para isso são usados equipamentos, como fardas, para proteção.

Segundo a coordenação-geral do Programa Nacional de Controle da Malária, do Ministério da Saúde, a técnica de "isca humana" é recomendada por ser "mais direta e satisfatória".

O procurador da República no Acre Anselmo Lopes disse hoje que ainda não é possível afirmar se a técnica foi desenvolvida com segurança ou se a vida dos funcionários esteve em risco.

"Estamos recolhendo informações. Pessoas relatam que contraíram malária, mas não temos provas disso. Podemos pedir ajuda à Polícia Federal."
A AGU (Advocacia-Geral da União) informou ontem que ainda não havia sido intimada da ação.

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