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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Angola deve afetar exportações portuguesas, diz ex-ministro

Lisboa, 4 jun (Lusa) - A desaceleração da economia angolana será negativa para as exportações portuguesas, afirmou o economista e ex-ministro português das Finanças Braga de Macedo, após previsões da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontarem para uma queda de 15 pontos percentuais no crescimento angolano em 2009 em relação a 2007.

"Os efeitos da desaceleração da economia angolana terão um impacto indiscutivelmente negativo para Portugal", disse à Agência Lusa o ex-ministro e professor de economia, acrescentando que, "se a economia angolana continuar a crescer e a aumentar as importações de forma sustentável, isso contribui para criar uma relação mais estável com Portugal".

Em maio, a OCDE e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apresentaram o relatório "Perspectivas Econômicas para a África 2008", onde calculam que a economia angolana vai cair dos cerca de 20% em 2007 para 11,5% em 2008 e para 5,1% no próximo ano.

As previsões, que serão apresentadas em Lisboa na sexta-feira, são mais pessimistas que as do Fundo Monetário Internacional (FMI) e que as do governo angolano.

Petróleo

Braga de Macedo minimizou a importância da queda no crescimento da economia angolana, lembrando que "o crescimento econômico de dois dígitos é apesar de tudo a exceção à regra a nível mundial".

Segundo o ex-ministro português, a falta de investimento no setor da extração petrolífera é o maior entreve ao crescimento econômico angolano e explica as estimativas da OCDE e do BAD.

"Quando existem expectativas de aumento do preço de um bem, investe-se menos", disse o economista, lembrando que são muito poucos os setores da economia angolana que não dependem do petróleo e que "mesmo que estes cresçam, isso não será suficiente".

O petróleo representa 60% do produto interno bruto (PIB) de Angola e 95% das exportações do país.

"A especificidade de Angola, é a de que acaba por desprezar o investimento em outros setores da exportação. Angola especializou-se mais do que seria desejável para a sua população", disse Braga de Macedo.

Pobres

O economista disse que a principal mensagem do relatório para Angola é a necessidade de o país inverter a tendência de crescimento "contra os pobres", ou seja, a níveis de crescimento que não têm efeitos proporcionais sobre os mais desfavorecidos.

"Um crescimento de 5% do PIB pode ter grandes efeitos sobre a pobreza desde que seja um crescimento a favor dos pobres, que tente criar empregos e incentivar os setores econômicos domésticos", disse Braga de Macedo.

"Se não se alterar o padrão de crescimento, então é pior. Mas pode haver um ajustamento de políticas que torne o crescimento mais eqüitativo", afirmou o ex-ministro luso das Finanças.

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