Manuela Martinez
Especial para o UOL
em Salvador
Um dia depois de o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB) ter decretado "estado de emergência" na Saúde, quase todas as pessoas que procuraram os postos de saúde da rede municipal nesta quarta-feira (28) não conseguiram atendimento. No posto localizado no bairro de Pau Miúdo, a fila começou a se formar ontem (27), às 22h. "Cheguei aqui para marcar uma consulta pediátrica para a minha filha. Passei a madrugada com frio e fome, mas não consegui nada porque me falaram que o posto está sem pediatra", disse a dona-de-casa Maria Amélia de Jesus.Especial para o UOL
em Salvador
O decreto assinado pelo prefeito João Henrique Carneiro permite à prefeitura dispensar o processo de licitação para as contratações de obras e serviços no setor. Segundo o texto, publicado no "Diário Oficial do Município", o estado de emergência vai prosseguir "até o integral saneamento dos serviços públicos de saúde".
"Aqui eles dão um papelzinho para a gente e dizem que só podem atender a 60 pessoas por dia", afirmou a babá Luciene Silva, que procurou hoje pela manhã os serviços odontológicos do posto de Pau Miúdo - de acordo com funcionários, as marcações de consultas para dentistas e ginecologistas somente estão sendo efetivadas depois do dia 17 de junho.
A coordenadora do posto, Célia Oliveira, classificou de "normal" o atendimento da unidade. "Tudo está funcionando, o problema é que a demanda aumentou muito nos últimos meses." No posto localizado no Vale das Pedrinhas, a situação é praticamente a mesma - as pessoas passam a madrugada na fila, à espera de uma ficha. "É muita humilhação, a gente fica aqui durante toda a madrugada e, mesmo assim, não consegue atendimento porque não existe médico", acrescentou a vendedora ambulante Rita de Cássia Santos, que não conseguiu marcar uma consulta hoje no posto localizado no Vale das Pedrinhas.
"A situação é mesmo crítica e o prefeito acertou em assinar o decreto", disse o vereador Sandoval Guimarães (PMDB). "Os postos estão sem medicamentos, há mais de 500 aparelhos de ar-condicionado quebrados, em algumas unidades faltam médicos, enfermeiras, mesas, cadeiras, ou seja, não há infra-estrutura para oferecer um atendimento digno à população."
"Vou ingressar na Câmara com um pedido de improbidade administrativa contra o prefeito por causa dessa vergonha", disse o vereador Antonio Lima (DEM). Nos meios políticos, o decreto assinado por João Henrique é considerado uma resposta ao PT - o partido, desde o começo da administração até o começo desde ano, controlou a Secretaria da Saúde.
Com o rompimento do PT com a prefeitura - o partido decidiu lançar candidato próprio à sucessão, as brigas entre as duas legendas se acentuaram. "Quero ver quem, no PT, terá coragem de falar mal da saúde", disse o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que apóia o prefeito João Henrique.
A líder do PT na Câmara, Vânia Galvão, disse que o partido não foi omisso. "Se houve omissão e pouco caso, isso acontecer porque o prefeito João Henrique não tomou nenhuma atitude." Revoltado com a situação, o pedreiro Jonas Antonio de Jesus disse no começo da tarde de hoje que há três meses tenta marcar uma consulta ginecológica para a sua mulher.
"Venho aqui [posto localizado no bairro de Cajazeiras, periferia de Salvador] quase todos os dias, porque minha mulher trabalha e estou desempregado. Só que nunca consigo a consulta porque não tem médico." Sphere: Related Content
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