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quarta-feira, 28 de maio de 2008

Atraídos pelos holofotes da mídia como mariposas

Por Paulo Bento Bandarra em 27/5/2008

Não é de hoje, não foi a primeira vez. Mas é sempre bom criticar o efeito que os holofotes da mídia provocam em determinadas pessoas e profissões. É evidente que jornalistas vivem disto, precisam disto para se promover, serem conhecidos, serem referência. Mas existe uma enorme quantidade de pessoas que não precisa disto, mas esvoaça como moscas no mel, para usar um exemplo melhor cheiroso do que a realidade. É o caso de pessoas sem grandes conhecimentos, mas exaltadas desnecessariamente por acontecimentos que chamam a atenção. Pessoas que vão para a casa dos acusados para ver se aparecem. Se forem flagradas jogando uma pedra, dizendo um palavrão, gritando esfola, mostrando a sua falta de civilidade: qualquer coisa que chame a atenção das pessoas para mudar a suas vidinhas medíocres pelo menos por um minuto de glória.

Mas existem pessoas que não deveriam fazer este papel triste, por sua formação profissional, por sua formação humanística e, pior ainda, por sua função de peritos, que não resistem a este foco de atração irresistível para os insetos: os holofotes. O psicanalista Contardo Calligaris, colunista da Folha de S.Paulo, disse, nesta terça-feira (20/05), que fazer análise pela TV do casal Nardoni, acusado de matar a menina Isabella, de cinco anos, é algo duplamente errado. O primeiro ponto frágil na análise dos programas de TV sobre o caso é que não se pode fazer isto de fato sem conhecer as pessoas diretamente. A outra questão é fazer uma análise de pessoas que ainda não foram condenadas pela Justiça sobre as reais motivações de um crime que teriam feito.

"Personalidade dominadora"

Uma das alegações básicas em psicanálise e em psiquiatria é que só se pode conhecer o paciente, os seus símbolos, suas motivações, seus significados depois de muito analisar o mesmo. Assim, falar de alguém que não se conhece a não ser por informações pinçadas pelo jornalista na feitura de um perfil de sua própria criação é pecar pela irresponsabilidade. Quantas coisas foram ditas, foram faladas e no fim não eram verdadeiras. Quantas coisas foram ditas com certeza e depois se mostraram totalmente erradas. Opinar pelas motivações e falar sobre a personalidade de pessoas desconhecidas não deveria ser algo que médicos ou psicólogos se permitissem fazer na mídia. Não se pode receitar por telefone e nem para pessoas que não se conhece, quanto mais dar diagnósticos, veredictos, condenações de pessoas das quais não se fez parte da investigação e da análise. E mesmo que tenha sido, jamais de quem se fez e está na fase de investigação ou julgamento apenas. Assim como um suposto culpado pode ter reconhecida afinal a sua inocência, uma suposta motivação apontada pode muito bem nada ter a ver com o caso em tela.

O médico deve se ater à preservação da saúde do seu doente, trabalhar como perito, mas jamais participar da execração pública de uma pessoa. O psiquiatra forense Marcelo Migon, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, disse que Anna Carolina Jatobá, madrasta de Isabella Nardoni, de cinco anos, mostrou um comportamento forte na entrevista dada domingo no Fantástico, ao lado do marido, Alexandre Nardoni. Segundo o psiquiatra, ela mostrou uma "personalidade dominadora". "Por diversas vezes, ela corta Alexandre e conclui a frase. Ela domina a situação, enquanto o pai de Isabella não se emociona. Ele demonstra indiferença incomum para quem está falando do assassinato da filha."

Descrédito com a investigação

Essa observação, segundo o psiquiatra, reforça a tese da polícia de que a madrasta teria tomado a iniciativa de agredir e asfixiar Isabella e de que o pai teria jogado a menina pela janela. O especialista chama a atenção para o fato de o casal direcionar a conversa sempre para o mesmo tema, como, por exemplo, que eles eram unidos ou gostavam muito da Isabella. "Chamamos isso de circunstancialidade. A entrevista não flui com naturalidade. Passa a impressão de discurso ensaiado."

Uma coisa é comentar casos de forma genérica, pela experiência que o profissional possui do caso; outra é particularizar usando a mídia como fonte e, pior ainda, usar o conhecimento de perito ou médico do caso para difundir segredos, diagnósticos e condenações de pessoas pela mídia. Pode o profissional participar de manifestações explicativas e de educação das pessoas do que ocorre. Ao médico não cabe o julgamento de pessoas específicas na mídia. Não pode abusar do seu conhecimento privilegiado para condenar e emitir laudos em público, quando nem mesmo foi solicitado em terreno privado. Divulgar traços pessoais, críticas a personalidades das pessoas ou fazer diagnósticos públicos deve ser evitado a qualquer custo por parte de profissionais de saúde. Apenas coloca em dúvida a capacidade do profissional que chega a diagnósticos de forma tão rápida e baseado em informações tão superficiais.

Alega que o fato da decisão do casal em não participar da reconstituição seria uma confissão de culpa.

O perfil do assassino não prova a autoria. Apenas serve para identificar um suspeito a ser encontrado. E, depois de um mês sendo perseguidos como culpados, e todas as palavras distorcidas, não é de estranhar que o motivo do casal possa ser descrédito com a investigação do que uma evidência de culpa. Reação do casal McCann ao fugir de Portugal depois que a polícia daquele país passou a pressioná-los sem solucionar o caso.

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