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terça-feira, 27 de maio de 2008

ONU denuncia racismo e violações aos direitos humanos na Bolívia


REUTERS

LA PAZ - Uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou na segunda-feira que a violência de grupos opositores ao presidente boliviano Evo Morales, que assolou uma cidade do país no último fim de semana, foi um atentado aos direitos humanos com "tons de discriminação racial".

O pronunciamento surge em meio à polêmica provocada principalmente pelas agressões sofridas por camponeses que se encontrariam com Morales na cidade de Sucre, durante uma festa cívica regional.

O presidente boliviano cancelou sua visita a Sucre, mas isto não impediu que manifestantes opositores levassem vinte camponeses seminus até a praça central da cidade, onde foram obrigados a beijar o chão e gritar palavras de ordem contra o governo.

"Estes incidentes violentos são incompatíveis com o respeito aos direitos humanos, ofendem a dignidade humana, os direitos à integridade pessoal e (ao direito de) não ser submetido a tratamento desumano e/ou degradante", disse um comunicado do Alto Comissionado da ONU para os Direitos Humanos.

Esta foi a primeira condenação de um órgão independente à violência política na Bolívia, a pouco mais de dois meses dos referendos revogatórios simultâneos do presidente e dos governadores de nove Estados.

O órgão internacional "se opõe especialmente contra o tom de discriminação racial destes acontecimentos", assinalou o comunicado.

O Alto Comissionado para os Direitos Humanos pediu a punição dos responsáveis e que seja estabelecido um diálogo para baixar a tensão política na Bolívia.

Em uma série de atos públicos, o presidente Morales fez somente referências vagas ao que ocorreu em Sucre, que reanimou a tensão em sua ampla disputa contra os setores conservadores que tentam bloquear mudanças na Constituição.

Os dirigentes cívicos de Sucre, alinhados a líderes de direita que desafiam Morales com processos de autonomia em quatro Estados, lideram há mais de um ano um movimento para fazer com que a sede do governo nacional seja transferido para a cidade, saindo de La Paz.

Essa exigência causou tensões que quase levaram a Assembléia Constituinte ao fracasso. Ela foi feita em Sucre entre agosto de 2006 e novembro de 2007, antes de ser forçada a mover-se para a cidade de Oruro, onde foi aprovada uma nova Carta Magna, que ainda não entrou em vigor.

Os Estados defensores da autonomia, liderados pelo rico distrito agrícola-petrolífero de Santa Cruz, se opõe à Constituição "plurinacional" de Morales, que quer dar mais poder aos indígenas e estabelecer as bases de um governo socialista.

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