Da Redação
Encarar o expediente ou uma atividade física depois de saborear uma feijoada é praticamente impossível. Mas há outros alimentos mais "inocentes" que também são capazes de roubar nossa energia, como afirma a nutróloga Jane Corona, do Rio de Janeiro.Autora de livros como "Fadiga Crônica" (DP&A Editora) e "Saboreando Mudanças" (Ed. Senac), ela afirma que, para certas pessoas, até um simples pãozinho e o café com leite podem ser causa de problemas digestivos e má disposição.
Não se trata de alergia, mas uma espécie de sensibilidade ao alimento que tem origem no intestino. Quando a mucosa está irritada, seja por estresse, ou pelo consumo de medicamentos, sua permeabilidade aumenta. O organismo passa, então, a absorver moléculas maiores, que normalmente passariam direto, e reage como se tivesse assimilado um corpo estranho. O processo pode ocorrer, por exemplo, com a lactose, o açúcar do leite, ou com o glúten, presente em pães, aveia e farináceos.
Para certas pessoas, alimentos como o glúten, presente nos pães e farináceos, podem provocar indisposição |
Em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, a nutróloga explica que é possível ter mais disposição com algumas mudanças na dieta, como reduzir a quantidade de açúcar e de gordura, caprichar nas frutas e dar preferência aos grãos integrais.
UOL Ciência e Saúde: Evitar carne vermelha é recomendável para quem quer melhorar a disposição?
Jane Corona: Toda proteína em excesso pode roubar energia, especialmente a carne vermelha, que contém muita gordura. Para quem não vive sem carne, eu recomendo que ajude o processo de digestão com muita verdura, além de ervas como hortelã, louro, orégano e manjericão. Também sugiro acrescentar à refeição uma fatia de abacaxi, que acelera a quebra de proteínas, assim como o mamão, a maçã com casca, o maracujá ou algumas gotinhas de limão.
UOL Ciência e Saúde: Que outros alimentos podem interferir no pique?
Jane Corona: Tudo que é consumido em excesso pode fazer mal. Alimentos muito gordurosos, por exemplo, desaceleram o organismo para que o foco seja a digestão. Isso provoca sono e diminui a atividade mental. O excesso de açúcar é outro problema. O corpo estoca a energia que não foi usada na forma de gordura, mas, até que isso aconteça, há uma série de reações químicas que resultam na produção de álcool. O resultado é irritação, cansaço e uma sensação de torpor. É como se você estivesse bêbado de tanto comer doce.
UOL Ciência e Saúde: O mel é mais saudável?
Jane Corona: Não, o mel é igual ao açúcar.
UOL Ciência e Saúde: Para evitar o cansaço durante o dia, como deve ser o café da manhã?
Jane Corona: Sugiro que a pessoa comece o dia com uma boa vitamina de frutas, além de chá verde ou café. A maçã, por exemplo, melhora a imunidade. A banana é rica em magnésio e vitaminas do complexo B, que melhoram a disposição. É bom incluir uma colher de sopa de semente de linhaça, que é rica em ômega 3 e melhora a memória. Em vez de pão, bolo e biscoito, prefira um pão integral regado com azeite. Os cereais integrais levam mais tempo para ser digeridos, com isso você demora mais para ter fome de novo. O carboidrato do pãozinho comum é digerido muito rápido e logo você sente a necessidade de comer de novo.
UOL Ciência e Saúde: E quanto ao leite?
Jane Corona: Os laticínios, em geral, são amigos das crianças. Até os 6 anos, nosso organismo quebra bem as moléculas de lactose, o açúcar do leite. Depois, vai ficando mais difícil. Quem sofre de colite, ou é muito estressado, pode ter problemas com laticínios. Mesmo com o queijo branco, que tem menos gordura. Quando a mucosa do intestino está irritada, seja por estresse, ou pelo consumo de certos medicamentos, sua permeabilidade aumenta. O organismo passa a absorver moléculas maiores, que normalmente passariam direto, e reage como se tivesse assimilado um corpo estranho. O resultado é cansaço, olheiras profundas, flatulência, dores de cabeça e resfriados constantes. É comum esses sintomas ficarem mais intensos na segunda-feira, porque é no fim de semana que as pessoas conseguem tomar um café da manhã mais farto, com muito leite e queijo.
UOL Ciência e Saúde: Mas o cálcio dos laticínios não é essencial para evitar a osteoporose?
Jane Corona: Praticamente não há alimento na natureza que não tenha cálcio. Quem tem intolerância à lactose pode consumir soja e couve-flor, por exemplo, que são ricos nesse nutriente. Também não adianta a pessoa tomar muito leite e, por outro lado, exagerar na cafeína ou na gordura, que prejudicam a absorção do cálcio.
UOL Ciência e Saúde: O iogurte também deve ser evitado por essas pessoas?
Jane Corona: Não, com o iogurte é diferente. Os lactobacilos fazem a quebra das moléculas de lactose, então é como se o alimento estivesse pré-digerido.
UOL Ciência e Saúde: Tem-se falado muito na sensibilidade ao glúten. Quem deve evitá-lo?
Jane Corona: O glúten também contém uma molécula muito grande, a gliadina. Assim como no caso da lactose, se a pessoa sofre de colite, está estressada, ou costuma consumir laxantes e antibióticos, pode ter a permeabilidade da mucosa alterada e, então, o corpo reage ao glúten como um elemento estranho.
UOL Ciência e Saúde: Como descobrir essa dificuldade de digerir o glúten ou a lactose?
Jane Corona: Quando os sintomas indicam essa possibilidade, eu proponho ao paciente um tempo sem o alimento para ver se o problema melhora. Ninguém melhor que a própria pessoa para sentir quando algo não lhe cai bem. Depois que o organismo retoma o equilíbrio, a pessoa pode voltar a consumir o alimento, mas com uma freqüência menor. Sphere: Related Content
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