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terça-feira, 27 de maio de 2008

Defesa pedirá liberdade do casal sob alegação de que não houve esganadura

Advogados preparam petição para apresentá-la no Fórum de Santana, na Zona Norte.
Defensores também pedirão anulação do processo judicial.
SILVIA RIBEIRO Do G1, em São Paulo

Depois de ir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) tentar libertar Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, a defesa do casal deve requerer por meio de petição à 1ª instância do Tribunal de Justiça de São Paulo a revogação da prisão e a anulação do processo judicial, no qual o pai e a madrasta de Isabella são réus.


De acordo com o advogado Marco Polo Levorin, a nova estratégia será baseada nos pareceres do médico-legista George Sanguinetti e da perita criminal Delma Gama, que expuseram na tarde desta segunda-feira (26) em São Paulo a leitura que fizeram dos laudos.

Para o defensor, Sanguinetti deixou claro que Isabella não sofreu asfixia mecânica (esganadura), diferentemente do que aponta o laudo do Instituto Médico-Legal (IML). A denúncia, baseada no inquérito policial e nos laudos, aponta que a madrasta asfixiou e o pai arremessou Isabella pela janela. “Isso (a exposição dos especialistas contratados) muda substancialmente o processo. Tecnicamente o processo é nulo”, afirmou Levorin.

Ele acredita que a petição poderá ser encaminhada ao Fórum de Santana, na Zona Norte da capital, ainda nesta semana. O pedido está condicionado à conclusão dos pareceres do legista e da perita contratados pela família Nardoni, que também serão remetidos ao juiz Maurício Fossen.

Marco Polo Levorin afirmou que George Sanguinetti e Delma Gama poderão ser convocados para serem testemunhas de defesa do pai e da madrasta de Isabella.

Levorin afirmou que "a peça inicial (do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico-Legal) ficou fulminada". "Este parecer (de George Sanguinetti) é sólido, certo, bem fundamentado e isso vai ser levado em consideração", declarou o advogado advogado do casal.

Segundo ele, estas informações apresentadas pelos dois peritos vão ser levadas ao "conhecimento do poder judiciário". "Nós estamos tratando de prova pericial. Essas provas periciais ajudaram a formar uma opinião pública. Mas os peritos toruxeram informações fortes. Questionaram a metodologia, as informações e vários outros procedimentos", completou.

Com as falhas apontadas, Levorin acredita que a acusação aos seus clientes não foi bem fundamentada. "A imputação do presente caso indica que Anna teria esganado a Isabella, mas uma aula brilhante do professor (Sanguinetti) nos demonstrou a ausência de esganadura. Há de fato agora umsa situação que se reverte. É preciso se buscar esta verdade, que não foi buscada na peça inicial. Vamos requer a nulidade do processo", concluiu.

De cabeça para baixo

A perita criminal e advogada Delma Gama, que também foi contratada pela defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, afirmou em entrevista nesta segunda-feira que Isabella foi lançada de cabeça para baixo pela tela da janela.

Segundo ela, as marcas deixadas na sujeira da parede do edifício foram feitas por uma das pernas de Isabella, e não por uma das mãos. "Esse corpo não foi lançado como está aqui (apontando para um croqui que integra o laudo). Foi lançado de cabeça para baixo", disse. A justificativa seria a amplitude que atinge as pernas em relações aos esfregões na parede do prédio e um pingo de sangue no peitoril da janela.

De acordo com ela, o laudo não prova que a marca de sapato no lençol do quarto de onde Isabella foi arremessada é da sandália de Alexandre Nardoni. Delma Gama criticou o fato de a perícia não ter realizado um levantamento de digitais em todos os objetos da casa.

"No laudo, os peritos dizem que, ao chegarem no local, havia uma desordem caracterizando hábitos rotineiros do casal, que vivem no lixo. Como eles podem afirmar isso? Eles viviam com o casal? Eles tinham a obrigação de fazer o levantamento das impressões digitais nos objetos revirados no apartamento e colher o material biológico para análises comparativos", insistiu.

Delma Gama afirmou, categoricamente, que encontrou o modus operandi e a motivação do crime. "Só não posso dizer agora pois não terminei de estudar os laudos", ressaltou. Segundo ela, a tela foi cortada para jogar algum objeto que seria subtraído do apartamento, e não para jogar a menina. Para ela, o diâmetro da tela era pequeno demais para que o corpo de Isabella fosse lançado.

Segundo a perita, o laudo do Instituto de Criminalística "exprime juízo de valor, algo inconcebível". "O laudo que eu examinei é inconcluso. Na última página, há apenas algumas considerações. É uma agressão à criminalística", afirmou.

Sem marcas de esganadura

O médico-legista George Sanguinetti apresentou antes sua avaliação sobre os laudos periciais da morte da menina Isabella, em 29 de março. Ele foi contratado pelos advogados do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina, para auxiliar na defesa.

Logo no início de sua apresentação, o legista deixou claro que Isabella não foi morta por asfixia, ao contrário do que afirma o laudo. "Não há asfixia mecânica por esganadura sem marcas externas. Não há como. Não houve esta violência", afirmou.

O principal motivo da morte, segundo ele, foi traumatismo craniano. “Ela tinha lesões terríveis que lhe tiraram a vida. Ela tinha lesões múltiplas de cérebro. Depois observem o encéfalo como ficou”, disse.

Para o especialista, houve precipitação por parte dos peritos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo na elaboração dos laudos. "Talvez a pressa, talvez a cobrança, talvez a pressão, não sei. O laudo é inservível, está incorreto. Esse trabalho que está aqui é nulo de direito, porque não tem valor probante. É medíocre. Laudos falhos não tem valor probante", disse, sobre a atuação dos legistas paulistas.

O médico-legista contestou o fato de o laudo do IML apresentar duas causas de morte (asfixia mecânica e politraumatismo). "Este laudo é nulo de direito. Ninguém pode ter duas mortes", completou.

Ele afirmou também, com base nos laudos, que não há lesões nas vias respiratórias superiores de Isabella que justifiquem as esganaduras e que não existe esganadura sem arranhões no pescoço. Sanguinetti explicou que o vômito foi provocado no momento em que ela foi entubada pela equipe de socorro médico que atendeu Isabella.

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