Roberta Queiroz
SERPRO, EM BRASÍLIA: concurso para 581 empregos em TI |
SÃO PAULO - Vale a pena encarar um concurso público na área de TI?
Pelo menos 1 117 vagas serão abertas no setor público para profissionais de TI em 2008. Neste primeiro semestre, órgãos como Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e Supremo Tribunal Federal (STF) anunciaram mais um ciclo de contratações. E para ter direito a um dos lugares nessas instituições o único caminho é o concurso público. Atravessá-lo não é algo trivial.
Só em 2007, 8 milhões de pessoas se inscreveram em algum tipo de concurso no país, segundo números da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos, do Rio de Janeiro. Na área de TI, a concorrência é grande. No último concurso do Serpro, realizado em 2005, eram 23 333 inscritos para 1 980 vagas, o equivalente a 11,7 candidatos por vaga. Na Companhia de Processamento de Dados de São Paulo (Prodesp), o processo de seleção realizado em 2004 teve concorrência de 30 pessoas para cada cadeira — no disputadíssimo vestibular de Medicina da USP são 32,43.
Tanto interesse pelo governo se justifica, em parte, pela oportunidade de bons salários no início da carreira, sem precisar apresentar um currículo recheado de experiências. Os valores são convidativos, principalmente para quem está começando: variam de 2 201 reais como analista de informática da Celepar (Companhia de Informática do Paraná) a 5 484,08 reais como analista judiciário, com ênfase em informática, do STF. “Com o mercado competitivo, o acesso ao primeiro emprego ficou difícil, e o governo passou a ser uma boa opção para os jovens”, afirma Joel Dutra, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo.
É o caso da mineira Kerley Silva, de 26 anos, que, ao terminar a faculdade de Ciências da Computação, buscou uma colocação em empresas privadas e não conseguiu. “Na faculdade, optei pelo estágio de monitoria e não tinha experiência no setor privado. Isso diminuiu ainda mais as minhas chances”, diz. Depois de cinco entrevistas sem sucesso, a recém-formada resolveu pensar no emprego público como opção. Passou dois meses estudando para os concursos do Serpro e da Companhia de Tecnologia da Informação de Minas Gerais (Prodemge). Em maio de 2005 passou na prova do Serpro e, após seis meses, foi chamada para começar a trabalhar.
Kerley conseguiu uma aprovação em tempo recorde. A média de tempo de estudo para conseguir um crachá de servidor público costuma ser bem maior. “A maioria leva em média três anos se dedicando integralmente aos estudos para conseguir uma vaga”, diz José Luis Baubeta, diretor da Central de Concursos, empresa paulista de cursos preparatórios. O segredo para o sucesso, segundo Kerley, é a disciplina. “Como não tinha muito tempo disponível porque fazia websites em casa, passei a dedicar duas horas do meu dia para os estudos, todos os dias da semana, inclusive sábados e domingos”, diz.
As chances de realizar cursos, treinamentos e avançar no desenvolvimento profissional também são um ponto a favor das instituições do governo. Somente na Prodesp foram investidos 938 mil reais com treinamentos dos funcionários em 2007. “Precisamos capacitar nossos funcionários com tecnologias de ponta para atender à demanda de um estado como São Paulo”, afirma Leão Carvalho, diretor presidente da Prodesp. A formação oferecida pelas empresas públicas e a grandiosidade de projetos realizados podem abrir as portas da iniciativa privada para os profissionais de TI. “Ter acesso a projetos de grande porte e a ferramentas avançadas colocam o profissional numa vitrine em relação ao mercado”, diz Marco Vinicius Mazoni, diretor presidente do Serpro.
Contratação por CLT
A estabilidade, que ainda funciona como um chamariz para as vagas públicas, não está mais tão presente nas empresas de tecnologia do governo. Hoje são poucos os órgãos, como o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Rio de Janeiro (Proderj), o MCT e o STJ, que ainda mantêm a estabilidade entre os benefícios. A maioria possui a forma de contratação baseada na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), o que não garante a permanência no emprego. É claro que a demissão não é um processo tão simples como nas empresas privadas. “Os funcionários possuem acordos coletivos que garantem mais segurança e por isso não são demitidos facilmente”, diz Mazoni.
Imaginar que conquistar uma vaga pública pressupõe uma vida tranqüila, com pouco trabalho e salário fácil, também é um engano, especialmente quando se fala em Tecnologia da Informação. A área de TI é tão dinâmica e as novidades surgem tão rapidamente que não há espaço para profissionais acomodados. “Quem não se atualiza acaba sendo expelido pelos próprios colegas”, diz Fernando de Abreu Faria, que por cinco anos comandou a TI do Banco Central.
A atualização profissional é obrigatória, mas não garante promoções. Em muitos órgãos do governo, a influência política na indicação dos nomes para os cargos mais altos é uma realidade. Em geral, os presidentes das empresas, diretores e secretários são nomeados por indicação. Naturalmente, alguns funcionários de carreira conseguem chegar a cargos de diretoria, mas não é uma tarefa fácil. O paulista Marcos Tadeu Yazaki, de 42 anos, é um exemplo. Funcionário da Prodesp há 14 anos, ele já foi analista de sistemas, especialista em informática, gerente, superintendente de área e, hoje, é diretor de atendimento ao cliente. Acima dele, há apenas o presidente da empresa. “Sempre procurei participar de grandes projetos e me atualizar. Mesmo com as mudanças de governo briguei por desafios e conquistei novas posições”, diz.
Hoje em dia há ainda um obstáculo a mais para ascender na carreira pública: a necessidade de concurso para a mudança de alguns cargos. “Antes existiam concursos internos, o que permitiu que eu mudasse de cargo com mais facilidade. Hoje, para mudar de analista para especialista, é preciso prestar um novo concurso”, afirma Yazaki.
Prepare-se!
Veja algumas dicas de Adalberto Pinto, professor especializado em técnicas de estudos para concursos, da Central de Concursos
1. Dedique pelo menos duas horas por dia aos estudos.
2. Pesquise provas antigas do órgão em que você pretende entrar.
3. Leia bem o edital e compare as provas anteriores. “É importante comparar o que o edital está cobrando com o que já caiu em outras provas. O conteúdo geralmente é muito grande e é preciso dar foco nos temas que sempre aparecem.”
4. Não deixe de lado as matérias que são sua especialidade. “Por achar que já sabe do assunto, algumas pessoas não estudam os temas que consideram mais fáceis. É aí que erram.”
5. Não basta apenas entender e sim fixar. As questões são sempre repetidas.
Onde estão as oportunidades? | |||
Instituições públicas que já programaram concursos neste ano | |||
INSTITUIÇÃO | VAGAS | CARGOS | SALÁRIOS (em reais) |
SERPRO (www.serpro.gov.br) | 700, sendo 581 para profissionais de TI | Analistas e técnicos | 2 306,06 (analista) 1 325,03 (técnico) |
MCT (www.mct.gov.br) | 338 | Tecnólogos, pesquisadores e analistas | 2 119,46 (pesquisador) 1 571,45 (técnico) (1) |
STF (www.stf.gov.br) | 84 | Analista judiciário para informática e técnico judiciário para programação de sistemas | 5 484,08 (analista) 3 323,52 (técnico) |
PROCERGS (www.procergs.com.br) | 37 | Técnicos e analistas | 3 330,70 (técnico com ênfase em JAVA) 1 285,23 (técnico em operação) |
CELEPAR (www.celepar.pr.gov.br) | Não definidas | Técnico de Informática júnior e Analista de Informática júnior | 2 201 (analista) 1 265 (técnico) |
(1) Podem ser incluídos, nos dois casos, 900 reais de gratificação. Pesquisadores podem ter uma remuneração maior, dependendo do currículo. Profissionais com especialização têm um aumento de 27%, mestres, de 52,5% e doutores, de 105%. |
Ele chegou lá
Veja como o engenheiro Washington Salles, de 49 anos, chegou ao posto de CIO da Petrobras
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