Leitores estão me perguntando por que não comentei reportagem de hoje do Estadão, segundo a qual, sob pressão do prefeito Gilberto Kassab, servidores comissionados da Prefeitura de São Paulo estariam colhendo assinaturas em favor da formação do PSD. NÃO TOQUEI NO ASSUNTO PORQUE, ATÉ AGORA AO MENOS, O FATO NÃO EXISTE! No máximo, o que é notícia é o mau passo do Estadão. Uma coisa é jornalismo vigilante; outra, pegação no pé gratuita. Tanto é assim que a versão impressa do jornal teve de recorrer ao um truque. Vamos ver.
*
Informa a versão impressa:
Funcionários comissionados da Prefeitura de São Paulo estão recolhendo assinaturas de eleitores para a criação do novo partido do prefeito Gilberto Kassab, o Partido Social Democrático (PSD). O Estado teve acesso a um e-mail em que uma assessora de uma subprefeitura afirma ter recebido do prefeito a “missão” de coletar nomes do “maior número de pessoas”.
A mensagem foi enviada a amigos pela assessora no último domingo, dia 12. “Meu chefe mor (Kassab) passou uma missão para nós, pobres mortais dependentes dos cargos comissionados (hahahaha)… Preciso arrecadar o maior número de pessoas”, afirma o texto, encaminhado de um e-mail pessoal. “Explico o motivo: O Kassab fundou um partido novo… O PSD - Partido Social Democrático - e precisa do maior número de pessoas que aceitem essa nova fundação.”
Às 23h de ontem, na versão online, lê-se o seguinte parágrafo:
A mensagem foi enviada a amigos pela assessora no último domingo, dia 12. “Meu chefe mor (Kassab) passou uma missão para nós, pobres mortais dependentes dos cargos comissionados… Preciso arrecadar o maior número de pessoas”, afirma o texto, encaminhado de um e-mail pessoal. “Explico o motivo: O Kassab fundou um partido novo… O PSD - Partido Social Democrático - e precisa do maior número de pessoas que aceitem essa nova fundação.”
Voltei
Ou seja: a assessora mandou a mensagem de seu e-mail pessoal. Ouvida pelo jornal, ela diz que quem lhe pediu foi uma amiga sua, ligada a um subprefeito, não o próprio prefeito, conforme está no e-mail. O editor não é bobo. Até este ponto, não havia matéria. Então se recorreu a um truque. O que, na versão online, era informação apurada pela própria reportagem — A MENSAGEM FOI ENVIADA DE E-MAIL PESSOAL — virou a resposta do “outro lado”. Todo mundo sabe que o dito “outro lado” é tomado sempre como mera desculpa da pessoa supostamente flagrada em delito.
Então ficamos assim:
- Kassab não pediu nada à dita servidora, mas, segundo ela própria, foi uma amiga, “ligada a um subprefeito”;
- ela enviou a mensagem de seu e-mail pessoal, fora do horário de expediente.
Cadê a matéria?
Não obstante, a manchete de agora do Estadão Online informa que o DEM pretende pedir investigação sobre essa gravíssima denúncia… Qual? O jornalismo precisa tomar cuidado com essas notícias que ficam com cheiro de “operação casada”, ainda que não sejam. Não destaquei a reportagem no clipping, em suma, porque não existe reportagem, a menos que alguém me indique o que há de imprório, irregular, ilegal ou aético no que foi noticiado. Vejo, no máximo, a disposição do jornal de pegar no pé de Kassab, o que também não é notícia nova.
Explicado?
Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário