Publicada em 23/03/2011 às 23h18m
Jailton CarvalhoBRASÍLIA - Numa denúncia que pode provocar uma reviravolta no quadro político no Distrito Federal, o empresário José Seabra Neto, dono do semanário "Jornal da Quadra", decidiu romper um pacto de silêncio e acusou Agnelo Queiroz (PT) de usar caixa dois para se eleger governador do DF na campanha eleitoral do ano passado. Numa entrevista exclusiva ao GLOBO, na segunda-feira, Seabra disse que recebeu R$ 50 mil por semana durante toda a campanha para produzir edição semanal de 100 mil exemplares do "Jornal da Quadra", com matérias favoráveis a Agnelo e contra o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), principal adversário na disputa. Os pagamentos não constam na prestação de contas de Agnelo à Justiça Eleitoral. ( Leia também: Dono de jornal diz que dinheiro de Agnelo Queiroz vinha em envelopes )
" Se ele publicar, vou processá-lo "
- Sou testemunha ocular. Eu recebi dinheiro para fazer um jornal para apoiar Agnelo Queiroz. Nós tirávamos 100 mil exemplares por semana. O pagamento era feito semanalmente em espécie, R$ 50 mil - disse Seabra.
Ao todo, ele teria recebido R$ 800 mil entre junho e novembro do ano passado para produzir 16 edições do jornal e distribuir os 100 mil exemplares principalmente no Plano Piloto. Segundo o empresário, o caixa dois tinha como coordenador o delegado da Polícia Civil Miguel Lucena, hoje diretor da Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal). Seabra diz que recebia envelopes com o dinheiro das mãos de Lucena ou de outros emissários do delegado. Na época, Lucena era coordenador de Inteligência e Segurança da campanha de Agnelo.
Segundo ele, alguns pagamentos foram feitos numa das lanchonetes do Centro Empresarial Norte, um prédio de salas comerciais no início da Asa Norte. A sala 108 B, do prédio, abriga a sede administrativa do "Jornal da Quadra". Lucena chegava com o dinheiro guardado num envelope ou enrolado num jornal e entregava o pacote. Seabra diz ainda que manteve encontros e recebeu pelo menos um dos pagamentos no café do Garvey Hotel, no Setor Hoteleiro Norte.
O empresário sustenta que recebeu um dos pagamentos no estacionamento de uma loja do supermercado Walmart, próximo a Rodoferroviária. Naquela semana, o pagamento seria feito por um outro emissário da campanha. Seabra não revela o nome. O emissário, que não queria ser visto na companhia de Seabra, teria marcado o encontro. Ele teria entregue o dinheiro ao dono do "Jornal da Quadra" sem sair do carro. Seabra sustenta que depositava os recursos numa conta na agência do BRB (Banco Regional de Brasília).
Procurado pelo GLOBO, Agnelo escalou o advogado Luiz Carlos Alcoforado para rebater as acusações. Coordenador jurídico e responsável pela prestação de contas de Agnelo, Alcoforado negou qualquer irregularidade e chamou para si a responsabilidade por eventuais vícios:
- Ninguém fez arrecadação de maneira imprópria ou ilícita. Se essa premissa fosse tolerável, certamente nós não teríamos terminado a campanha com um déficit. Nós estamos ainda devendo a vários prestadores de serviço. Se houve qualquer vício, qualquer defeito, o responsável serei eu porque eu fui contratado para fazer isso.
Miguel Lucena confirmou que teve vários encontros com Seabra durante a campanha, mas negou que tenha dado dinheiro ao empresário. Num dos encontros, ele diz que foi levar um artigo escrito pela mulher, a ex-deputada Maria José. Em outros, Seabra teria apenas participado de reunião como amigo de pessoas ligadas à campanha. Lucena disse que vai processar Seabra por denunciação caluniosa:
- É mentira. Ele tem que dizer onde foi o local que eu fiz e a forma que dei (o dinheiro). Se ele publicar, vou processá-lo.
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