O ex-presidente da República e apedeuta permanente Luiz Inácio Lula da Silva fará no próximo domingo uma palestra num seminário promovido pela rede AL Jazeera de TV, em Doha, no Catar. Na margem: perguntam-me por que escrevo “Catar” em vez de “Qatar”. Porque, em português, este “q” sozinho, sem o “u”, não faz verão; ou bem se escreve “Quatar”, mudando-se a pronúncia (”Cuatar”) ou bem se escolhe “Catar” (ou “Katar”). “Qatar” é impossível; o “q”, sem um “u”, é assim como Claudinho sem Buchecha…, também com “u”. Mas volto.
A Al Jazeera pertence ao estado do Catar. O seminário, neste ano, vai debater o levante no mundo árabe — ou em quase todo o mundo árabe, né? A população do Catar, por exemplo, parece estar contente com a sua ditadura, da qual a emissora está proibida de falar. A da síria também. O emirado tem uma renda per capita de mais de US$ 80 mil; a Síria, de pouco mais de US$ 4 mil. Fica para reflexão. Sigamos. A Al Jazeera foi uma grande incentivadora do levante.
Lula foi convidado para falar sobre a consolidação da democracia no Brasil, mas certamente não se furtará a estender seu olhar sobre a paisagem mundial. É uma boa chance de explicar por que, até outro dia, andava de braços dados com todos os ditadores que agora estão em apuros, a começar de Muamar Kadafi. Em julho de 2009, convidado de honra do governo líbio para a Cúpula da União Africana, referiu-se ao ditador como “meu amigo, meu irmão e líder”. Lula elogiou, então, “a persistência e a visão de ganhos cumulativos que norteia os líderes africanos”. Deu uma resposta àqueles que lembravam que estava fazendo salamaleques para tiranias: “Consolidar a democracia é um processo evolutivo”. Na seqüência, desceu o porrete nos países industrializados, os mesmos que hoje se empenham em depor o Kadafi que ele abraçava!
Na era de “líderes” como Barack Obama, Nicolas Sarkozy e David Cameron, é compreensível que Lula seja confundido com um iluminista.
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