No mar de dúvidas, o caso Paula vai deixar pelo menos uma certeza: a opinião pública é fascista.
Ela julga sumariamente, pela internet, pela TV ou a milhares de quilômetros de distância do fato. Um oceano é uma poça d’água para os juízes implacáveis da opinião pública.
E são juízes de arquibancada. Juízes que urram suas certezas precoces, no grande big brother que é a vida dos outros.
Uma coisa o fascismo da opinião pública não admite, nem por um segundo: a falta de um veredito. Dêem-lhes um culpado, rápido! Pode ser a mentirosa golpista, pode ser a imprensa sensacionalista, pode ser o Bush (saudades dele) – mas arranjem logo alguém para os juízes de sofá pregar na cruz.
A turba indócil não suporta as nuances da vida. Paula Oliveira surgiu publicamente como vítima de uma barbaridade. Uma pessoa normal, com vida normal, toda retalhada a golpes de navalha. Que bom que houve a indignação geral. Que bom que houve reações imediatas e firmes em solidariedade a ela. Estranho – muito estranho – seria qualquer coisa diferente disso.
Mas a opinião pública é doutora em engenharia de obras feitas. A vítima era vilã? Joguem na fogueira os que se comoveram com ela.
Essa sociedade pura é de uma precisão comovente. O único lugar onde não há precisão é no caso Paula. As autoridades suíças afirmam que ela desmentiu sua própria versão. As autoridades brasileiras na Suíça afirmam que não há nenhuma confissão assinada por Paula. Isso não significa que ela seja inocente. Significa apenas que é um processo mergulhado na nebulosidade – e o Brasil tem a obrigação de evitar que uma brasileira, vítima ou vilã, seja linchada num processo tendencioso.
Os brazucas envergonhados gritam: “É só uma maluca, deixem ela pra lá!” O problema é que Paula virou um caso político. E os suíços querem o seu escalpo.
Os nossos juízes de sofá também parecem querer. São os mesmos que vibraram com a imagem de Celso Pitta sendo preso de pijama. Vilão tem que ser humilhado mesmo. Às favas o estado de direito e toda essa baboseira de garantias individuais.
O caso Paula é dramático, em qualquer hipótese. Justifica toda a perplexidade e a salada de sentimentos em todas as direções. Menos no Fla-Flu mental dos juízes de arquibancada.
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