Enquanto composição genética afeta função cerebral, sua influência é modulada tanto pela história pessoal como pela condição psicológica
Depressão: o tratamento psicoterápico, principalmente a
terapia cognitiva, poderia ter efeitos diferentes no cérebro, dependendo
da genética de cada pessoa
(Thinkstock)
Utilizar a psicoterapia como tratamento da depressão pode não ser
eficaz para todos os pacientes. Isso porque, além de ser provocada por
fatores psicológicos e ambientais, a doença está relacionada a fatores
genéticos. Embora essa relação já fosse conhecida pela medicina, uma
equipe do Center for Emotion Remediation and Virtual Reality, na França,
decidiu investigar uma questão que permanecia obscura: de que maneira
cada um desses fatores afeta as funções cerebrais. Para tanto, os
pesquisadores analisaram a mígdala, uma área do cérebro que é hiperativa
em pessoas que sofrem de ansiedade e depressão. O estudo, publicado no
periódico especializado Human Brain Mapping, demonstrou que o efeito da psicoterapia em pacientes depressivos pode variar de acordo com suas características genéticas.CONHEÇA A PESQUISAOs pesquisadores descobriram, então, que a atividade da amígdala pode ser modulada dependendo da composição genética do indivíduo, sua história pessoal e sua cognição. Diversos estudos publicados na última década apontam para a possibilidade de que o gene 5-HTTLPR, que codifica o transportador da serotonina (substância envolvida na regulação emocional), pode ter um papel importante na depressão. O gene pode ter uma forma tanto longa como curta, e a versão curta poderia acentuar o impacto emocional de eventos estressantes. Embora essa hipótese permaneça controversa, é aceito que a forma curta do gene desencadeie uma ativação mais intensa da amígdala, uma estrutura cerebral envolvida em emoções e no reconhecimento de sinais de perigo.
Título original: Cognitive Appraisal and Life Stress Moderate the Effects of the 5-HTTLPR Polymorphism on Amygdala Reactivity
Onde foi divulgada: periódico Human Brain Mapping
Quem fez: Cédric Lemogne, Philip Gorwood, Claudette Boni, Mathias Pessiglione, Stéphane Lehéricy e Philippe Fossati
Instituição: Centre Émotion-Remédiation et Réalité Virtuelle
Dados de amostragem: 45 adultos saudáveis
Resultado: Os resultados da pesquisa mostram que enquanto a composição genética dos indivíduos afetou sua função cerebral, sua influência é modulada tanto pela história pessoal como pela condição psicológica .
Pesquisa – No estudo francês, os pesquisadores analisaram o impacto de fatores psicológicos e ambientais no efeito genético, através de exames de ressonância magnética no cérebro. Foram analisados 45 indivíduos saudáveis, incluindo pessoas que tinham a forma curta e a longa do gene. Durante os exames, os voluntários viram fotografias de imagens agradáveis ou desagradáveis, e foram questionados se o efeito da foto era agradável ou não, ou se elas o fizeram pensar sobre eles mesmos.
O resultado dos exames de ressonância mostrou que há uma diferença no gene: aqueles que tinham a forma curta tiveram maior ativação da amígdala quando associavam as fotos com eles mesmos, do que ao decidir se a imagem era agradável ou não. O oposto foi observado nos sujeitos que não tinham a forma curta do gene. Em outras palavras, a atividade da amígdala varia de acordo com a forma do gene e do tipo da atividade mental – se era uma descrição “objetiva” da imagem ou uma associação com a história pessoal.
Antes dos exames de ressonância, os voluntários foram entrevistados sobre eventos negativos que poderiam ter acontecido no ano anterior, tais como dificuldades profissionais, divórcio, luto, etc. Percebeu-se, então, que o stress vivenciado durante esse ano também afetou a influência do gene na ativação da amígdala – sendo tal interação “ambiente-genética” modificada pela atividade mental do indivíduo.
Conclusão – Os resultados da pesquisa mostram que enquanto a composição genética dos indivíduos afetou sua função cerebral, sua influência é modulada tanto pela história pessoal como pela condição psicológica. Extrapolado para o campo da depressão, esses resultados sugerem ainda que a psicoterapia – em particular a cognitiva, que consiste em ajudar pacientes depressivos a perceber o mundo de maneira diferente – poderia ter efeitos diferentes no cérebro, dependendo de determinados genes.
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