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sábado, 31 de maio de 2008

A desproteção às testemunhas

O drama de um homem que denunciou o crime organizado revela as falhas no programa que deveria proteger quem arrisca a vida para ajudar a Justiça
Flavio Machado
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 02/junho/2008.

Assinantes têm acesso à íntegra no leia mais no final da página.

Felipe Varanda
MALA PRONTA
Francisco e a família num quarto de hotel onde ficaram um mês. Eles nem chegaram a desfazer as malas

Sentado numa cadeira de plástico, Francisco (nome fictício) já está acordado quando o sol aparece na janela do quarto do hotel. O apartamento onde ele passou o mês de fevereiro com a família lembra um alojamento de operários, com beliches e camas de solteiro que, juntas, improvisam uma cama de casal. Um armário, em que três das quatro portas não fecham, serve de aparador para as malas ainda não desfeitas. A limpeza do cômodo quem faz é a mulher, Ângela, que lava as roupas da família na pia do banheiro. Um pequeno frigobar faz as vezes da geladeira e um velho aparelho de TV 14 polegadas é a única fonte de lazer. Desde que resolveu denunciar os crimes de seus antigos patrões, além da casa Francisco perdeu a identidade. O homem por trás do nome falso é uma das 631 pessoas protegidas pelo Programa Nacional de Proteção a Testemunhas Ameaçadas no Brasil.

O forte aperto de mão de Francisco contrasta com seu físico franzino. Nascido no campo, aprendeu cedo os segredos para se dar bem no agronegócio. Aos 20 anos, Francisco já era homem de confiança de fazendeiros poderosos. Nas duas décadas seguintes, trabalhou em alguns dos maiores latifúndios do Centro-Oeste. No ano passado, por algum motivo que insiste em não revelar, resolveu contar à Justiça tudo o que sabia sobre as práticas ilícitas dos empresários que conhecia – do envolvimento de políticos com grilagem de terras a contrabando de agrotóxicos proibidos, vindos da China. Sua vida passou a ter preço: R$ 50 mil. Desde então, deixou para trás casa, móveis, fotografias e mais de 40 anos de vida.

Francisco vive uma vida anônima com a família num modesto apartamento pago pelo programa. Sob tutela do Estado, diz que já passou fome para dar de comer aos dois filhos: “Fiquei sem comer para comprar pão para meus filhos. Eu posso perder qualquer coisa, menos minha dignidade. E estão tirando isso de mim”, afirma

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