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Rio de Janeiro, 16 Mai (Lusa) - O arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer recebeu quinta-feira, no seu escritório no Rio de Janeiro, o certificado de sócio-correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
"Eu agradeço muito, é uma escolha generosa. Vindo de Portugal, para mim é sempre importante", afirmou Niemeyer, após receber o diploma das mãos do embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa.
Segundo o arquitecto, que completou cem anos no final do ano passado, a sua relação com Portugal sempre foi "muito próxima e permanente".
"O Brasil é um prolongamento de Portugal, somos irmãos e sempre nos aproximamos quando é possível. Quando eu estou em Portugal, parece que estou a andar no Brasil no tempo colonial", assinalou.
Niemeyer realçou a importância da ciência na sociedade ao considerar que o conhecimento científico "explica tudo hoje".
"É a ciência que desvenda e abre o caminho", salientou, acrescentando que, assim como a ciência, a arquitectura evolui em função da técnica e da sociedade.
"A arquitectura hoje com o betão armado permite tudo. Ela é muito importante como elemento da sociedade para os grandes empreendimentos urbanos", referiu.
Oscar Niemeyer observou que procura fazer sempre uma arquitectura variada, com um sentido humano que crie surpresa, espanto.
"Uma coisa que o sujeito olha e tem prazer. E uma obra de arte é emoção", salientou.
Durante a cerimónia, o arquitecto elogiou ainda a literatura portuguesa, sua amiga desde os tempos de juventude.
"Eu me lembro, quando era estudante, de começar a ler Eça de Queiroz e os livros de autores portugueses como Guerra Junqueiro, um poeta fantástico. Eu li quando era rapazinho. Assim como Saramago, que é um grande escritor".
Niemeyer revelou ainda que mantém na sua mesa de cabeceira o poema "Trova do Vento que Passa", de Manuel Alegre ", poeta e político português opositor do regime salazarista, que representou com a sua literatura uma bandeira de resistência em Portugal.
Na avaliação do embaixador Francisco Seixas da Costa, o facto de um brasileiro ser sócio-correspondente da Academia das Ciências de Portugal é reflexo da relação de proximidade entre os dois países.
"Oscar é uma grande figura da arquitectura a nível mundial. A instituição é de Portugal mas é também do Brasil. Seria uma lacuna não ter este grande arquitecto na Academia de Ciências de Portugal, que tem vários séculos com pessoas ilustres", afirmou o diplomata à agência Lusa.
Seixas da Costa considerou "um privilégio" ser o transmissor deste título para o arquitecto brasileiro que, aos cem anos de idade, impressiona pela plena actividade intelectual e capacidade crítica.
Considerado um dos grandes renovadores da arquitetura no século XX , Niemeyer trabalha diariamente, no seu escritório, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, apesar da sua idade avançada.
O arquitecto desenhou a maioria dos prédios públicos de Brasília, como os Palácios do Planalto, da Alvorada, do Itamaraty, a catedral, os edifícios do Supremo Tribunal Federal e do Congresso.
A beleza de seu traçado levou as Nações Unidas a declarar a cidade património cultural da humanidade em 1987.
Um de seus projectos mais recentes é o Museu Nacional de Brasília, uma cúpula com quase 90 metros de diâmetro, um mezanino e sobre ele uma rampa com 30 metros de balanço, que é um mirante da cidade.
Outros projectos importantes do arquitecto no Brasil são os conjuntos arquitectónicos da Pampulha, em Belo Horizonte, e do parque Ibirapuera, em São Paulo.
No exterior, destacam-se 15 prédios do bairro residencial de Hansa, na Alemanha, a torre da Defesa e sede do Partido Comunista Francês, em Paris, os anexos da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e uma urbanização no Algarve, em Portugal.
Nos anos 60, Oscar Niemeyer concebeu o projecto para um conjunto de hotel, casino e centro de congressos no Funchal, Madeira, que acabou por ser concretizado cerca de dez anos depois.
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