Reinvenção de "Ti-Ti-Ti" mostra uma saída para a crise das novelas

MAURICIO STYCER
Crítico do UOL

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Todo mundo concorda que existe uma crise na teledramaturgia. As novelas, com seu formato engessado, já não alcançam a mesma audiência de antes. O perfil do público mudou, os seus interesses são outros e as opções na televisão são cada vez maiores.

Veja cenas que foram ao ar em "Ti-Ti-Ti"

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Foto 14 de 57 - Depois de ser expulso de seu ateliê por Jaqueline (Claudia Raia), Jacques (Alexandre Borges) senta-se em um bar e começa a beber. De repente ele se depara com Ari (Murilo Benício) na outra ponta do balcão. Depois de algumas doses, eles começam a trocar farpas. Depois de muitos insultos e mais algumas doses, os dois viram quase melhores amigos. Eles caminham pelas ruas abraçados e cantando. A cena vai ao ar na segunda-feira (24/1/11) Divulgação/TV Globo

A missão dos autores de novela é cada vez mais complexa. No caso da Globo, a dificuldade é ainda maior. Mais que a concorrência da Record e do SBT, que incomoda, manter a hegemonia de anos é fundamental pelos reflexos importantes que tem no faturamento da emissora.

O “remake” da novela “Ti-Ti-Ti”, encerrada nesta sexta-feira, depois de oito meses no ar, ensina algumas coisas neste cenário de crise. Primeiro, e mais importante, que é preciso coragem e criatividade ao olhar para trás.

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  Mário Fofoca, o atrapalhado detetive vivido por Luis Gustavo em "Elas Por Elas" (1982), volta ao ar em "Ti-Ti-Ti" (2010)

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Maria Adelaide Amaral pegou uma novela de sucesso de Cassiano Gabus Mendes, “Ti-Ti-Ti”, exibida em 1985, incorporou elementos de outra obra do autor, “Plumas e Paetês”, de 1980, e ainda “roubou” ideias e personagens de outros trabalhos, como o Mario Fofoca, de “Elas por Elas” (1982).

Mais que um “remake”, a nova “Ti-Ti-Ti’ foi um “mashup”, termo que o pessoal de internet usa para designar um produto criado como resultado da soma de múltiplas fontes.

Sem cerimônia, a autora mudou várias características dos personagens das tramas originais, criou outros tipos e deu destinos diferentes a vários deles. Corajosa, tratou de forma madura de um tema polêmico –os relacionamentos amorosos de um personagem gay– e não teve medo, igualmente, de radicalizar o escracho em torno do núcleo de Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Jaqueline (Claudia Raia).

Com a ajuda do diretor Jorge Fernando, não acomodado no papel de mestre das comédias da Globo, “Ti-Ti-Ti” foi entretenimento de ótima qualidade, com os altos e baixos, naturalmente, que uma produção desta natureza sempre tem.

O seu sucesso já anima a Globo a encomendar novos “remakes”. Falava-se em “Guerra dos Sexos” (1983), um grande sucesso de Silvio de Abreu, mas parece que o projeto foi engavetado. Diz-se agora que a intenção da emissora é refazer “Cambalacho” (1986), do mesmo autor, em 2012.

Tudo bem. Mas, o “mashup” de “Ti-Ti-Ti” estabeleceu um novo padrão. Não basta apenas refazer uma novela do passado, é preciso criatividade e ousadia para deixar uma velha novela com cara de nova.

Em tempo: a novela acabou em alto astral, com participação especial de Rita Lee cantando a música-tema. Um final em tudo coerente com o que foi exibido nos últimos oito meses.

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  Cena em que, após passar a noite com Thales (Armando Babaioff), Julinho (André Arteche) acorda e vê que está sozinho. O surfista deixa bilhete dizendo que foi surfar e não quis acordá-lo

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