Último capítulo da novela de Maria Adelaide Amaral vai ao nesta sexta (19).
'Dancin' days', 'Água viva' e 'Roda de fogo' poderiam voltar atualizadas, diz ela.
Quando o último capítulo de "Ti-ti-ti" for ao ar nesta sexta-feira (18), provavelmente a escritora Maria Adelaide Amaral estará às voltas com os detalhes da semana de férias que passará em Nova York, em abril. Um final feliz para a autora que modernizou a faixa de novelas das 19h, com uma releitura pop de obras do colega Cassiano Gabus Mendes (1929-1993).
Veja o site da novela 'Ti-ti-ti'
Obras - assim no plural - porque "Ti-ti-ti" não foi apenas um remake da trama sobre a rivalidade dos estilistas Jacques Leclair e Victor Valentim, originalmente exibida em 1985. Trouxe também outras histórias e personagens criados pelo autor, como o detetive Mário Fofoca (Luis Gustavo) de "Elas por elas" (1982), a sedutora Divina Magda (Vera Zimmermann) de "Meu bem meu mal" (1990), e a cabeleireira Kiki Blanche (Eva Todor) de "Locomotivas" (1977).
O dramático triângulo amoroso entre Edgar (Claudio Marzo), Marcela (Elizabeth Savalla) e Renato (José Wilker), de "Plumas e paetês" (1981), ganhou status de principal história de amor na nova versão de "Ti-ti-ti" . Prova disso é que neste capítulo final o grande mistério a ser revelado será qual dos rapazes a mocinha - hoje interpretada por Ísis Valverde - escolherá.
Segundo pesquisas na web, a preferência do público é que a heroína fique com o Edgar (Caio Castro), cafajeste convertido a bom moço, e não com o romântico Renato (Guilherme Winter). "A natureza humana continua um grande mistério para mim", avalia Maria Adelaide sobre a torcida popular.
Outro diferencial delicioso de "Ti-ti-ti" foi a forma como a novela foi adaptada à cena fashion atual. Se a rivalidade entre Denner e Clodovil - dupla pioneira da moda brasileira - inspirou o Jacques Leclair e o Victor Valetim dos anos 80, nesse 2011 o que não faltou foram musos inspiradores.
Tanto que o remix folhetinesco teve um trio de heróis. A Jaqueline Maldonado de Claudia Raia (em grande momento de carreira na TV) subiu ao olimpo dos protagonistas.
Já os atores Murilo Benício e Alexandre Borges fizeram uma reconstrução originalíssima de Valentim e Leclair em versões que lembravam personagens dos quadrinhos. Excêntricos a ponto de deixar Karl Lagerfeld ou John Galliano "nudes" de inveja na passarela.
Na entrevista a seguir, Maria Adelaide fala sobre "Ti-ti-ti", a participação especial de Fábio Assunção no último capítulo da novela e seu novo projeto: uma série sobre a comediante Dercy Gonçalves (1907-2008). Confira:
G1 - "Ti-ti-ti" trouxe outras tramas e personagens da obra de Cassiano Gabus Mendes. Foi difícil o processo de recuperar essas histórias e amarrá-las à sua novela, mantendo a contemporaneidade?
Maria Adelaide Amaral - Não foi necessário nenhuma pesquisa específica porque assisti a todas as novelas do Cassiano. Com exceção da própria "Ti-ti-ti" e de "Plumas e paetês" não houve nenhuma preocupação prévia em colocar esse ou aquele personagem de outras tramas. À medida que a história pedia, eles foram entrando. Por exemplo, num determinado momento precisávamos de um detetive. Por que não o Mário Fofoca? O Julinho [André Arteche] vai trabalhar num salão de beleza paulistano. Por que não o de Kiki Blanche? E assim fomos fazendo citações e resgatando personagens do Cassiano.
G1 - A "Ti-ti-ti" original fazia uma homenagem à rivalidade de Denner e Clodovil. A senhora se inspirou em estilistas atuais para compor os novos Leclair e Valentim?
Maria Adelaide - O que fizemos foi colocar dois estilistas num contexto mais atualizado da moda brasileira, que é muito diferente do que era há 25 anos. Nos dias de hoje, Leclair só ficaria rico fazendo vestidos de noiva e de festa para atender às ricas da Zona Leste paulistana. Aliás, foi a [consultora de moda] Glorinha Kalil quem nos disse que o único segmento da moda brasileira que não conhece crise é o de noivas e madrinhas. E a partir desse papo com ela resolvemos criar esse Leclair que é muito diferente do original do Cassiano. A novidade em relação à rivalidade dos dois foi a utilização, como arma, das novas mídias eletrônicas. Victor Valentim surge, para o público, de uma nota na internet que se espalha como um rastilho de pólvora.
G1 - Como é a sua relação com a moda?
Maria Adelaide - A moda hoje mobiliza milhões, dá emprego a milhões de pessoas, reflete o mundo e é um grande negócio. Sou uma grande curiosa da moda desde "Mademoiselle Chanel" [peça escrita pela autora em 1993 e que foi montada em 2004, com Marília Pêra no papel da estilista]. Mas sou muito básica no meu estilo, prefiro sempre os minimalistas: Armani, Calvin Klein, Donna Karan e Irie Wash. No Brasil gosto da Huis Clos, da Maria Bonita e adoro as malhas e tricôs da Marisa Ribeiro.
G1 - A senhora concorda que existe uma postura blasé de alguns profissionais envolvidos com a moda? Esse comportamento mais afetado do mundo fashion te ajudou a compor algum personagem?
Maria Adelaide - Sem dúvida: o Ed Silveira [Dorival Carper], por exemplo, foi calcado no André Leon Talley [editor de moda americano]. A Beatrice M. [Clara Tiezzi] e a Laura K. [Sofia Raia], nas dezenas de blogueiras mirins que pontificam sobre moda, às vezes com bastante propriedade.
G1 - O ator Fábio Assunção fará uma participação especial no último capítulo de “Ti-ti-ti”. O convite partiu da senhora?
Maria Adelaide - Fábio é meu queridíssimo amigo, adora “Ti-ti-ti” e o Jorginho [Jorge Fernando, o diretor da novela] sugeriu que o convidássemos para uma participação muito especial no último capítulo e ele adorou a ideia de imediato.
G1 - Pesquisas mostram que o público torce para que a Marcela fique com o ex-cafajeste Edgar e não com o pai de seu filho, Renato. O que explica essa preferência?
Maria Adelaide - A natureza humana continua um grande mistério para mim.
G1 - A novela fez muitas referências ao pop nacional, como “o show do Lobão no Rock in Rio de 84”, principalmente nas falas da Jaqueline Maldonado. A senhora se divertia procurando essas referências?
Maria Adelaide - Quando a gente trabalha com uma equipe de seis pessoas entre 30 e 45 anos, soma o nosso repertório ao deles, as referências se multiplicam e as citações surgem naturalmente.
G1 - A senhora gostaria de ver outras novelas em nova roupagem, como aconteceu nesse caso das obras do Cassiano Gabus Mendes? Quais dariam uma versão remix em 2011?
Maria Adelaide - Gostaria de ver "Dancin' days", "Água viva", "Guerra dos sexos" e "Roda de fogo" reescritas e atualizadas.
G1 - Como é sua rotina quando uma novela está no ar?Já tem planos agora que a novela terminou?
Maria Adelaide - A minha rotina foi trabalhar uma média de 10 horas por dia, sete dias por semana. Mas caminhava e nadava quando dava. Agora terei uma semana em Nova York programada para o final de abril, não tenho perspectivas de férias. Já estou trabalhando no roteiro de um longa-metragem e vou escrever uma microssérie sobre a Dercy Gonçalves que irá ao ar em janeiro do ano que vem.
Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário