ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
O sargento Jorge Kazuo Takiguti e o soldado João Bernardo da Silva, da Polícia Militar de São Paulo, foram absolvidos nesta quinta-feira (17) da acusação de matar e decapitar dois jovens e de participar do grupo de extermínio conhecido como "Os Highlanders".
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A absolvição foi lida pelo juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov após 13 horas de julgamento no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), onde parentes e amigos dos réus, a maior parte deles PMs fardados ou à paisana, lotaram o plenário do Tribunal do Júri.
Do lado de fora do fórum, os parentes dos PMs protestaram estendendo faixas com inscrições nas quais afirmam que Takiguti e Silva são inocentes.
Um terceiro PM, o soldado Jonas Santos Bento, também devia ter sido julgado, mas seu advogado alegou estar doente e não compareceu ao júri. Bento será julgado no dia 1º de novembro.
Takiguti e Silva são acusados de matar Roberth Sandro Campos Gomes, 19, o Maranhão, e Roberto Aparecido Ferreira, 20, o Bebê.
Durante seus interrogatórios, os policiais choraram ao falar de suas famílias. Ambos deixarão hoje o Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé (zona norte de SP), onde ficaram 785 dias --foram presos preventivamente em janeiro de 2009.
"As pessoas não imaginam como é viver na prisão por um crime que não se cometeu", disse o sargento Takiguti, chorando.
O promotor Vitor Petri, responsável pela acusação contra os PMs, disse que vai recorrer da absolvição. Para ele, Takiguti e Silva mataram os dois jovens por acreditar que eles eram traficantes.
O advogado Celso Machado Vendramini, defensor dos PMs, disse que eles foram acusados injustamente "pelo crime organizado" de matar Gomes e Ferreira "porque faziam um bom trabalho policial contra o tráfico de drogas nos bairros da zona sul de São Paulo".
"BICO"
Takiguti e Silva alegaram que, na madrugada do sumiço das vítimas, estavam com suas mulheres, cada um em sua casa.
Para se livrar da condenação, Takiguti até assumiu que fazia "bico" como segurança de um supermercado em São Bernardo do Campo (ABC), o que é proibido pelo regimento da PM. Ele disse que, na noite de 5 de maio de 2008, trabalhou das 7h30 às 19h30 e, depois, foi para sua casa.
Agora, Vendramini tentará reverter o pedido de expulsão de Takiguti e de Silva da PM, que já está sob análise do Comando Geral da PM.
Os PMs eram acusados de homicídio duplamente qualificado --por motivo torpe e pela impossibilidade de defesa das duas vítimas.
Segundo a acusação, os dois rapazes foram detidos pelos PMs no Jardim Imbé, região do Capão Redondo (zona sul de SP), na madrugada de 5 para 6 de maio de 2008, quando foram vistos entrar no carro n.º 37016 do 37º Batalhão, também na zona sul.
Uma jovem que acompanhava os rapazes naquela madrugada reconheceu os dois PMs como sendo quem os levaram depois de mandá-la para casa.
Os corpos dos dois jovens foram encontrados em Itapecerica da Serra, sem as mãos e a cabeça, no fim daquele mês.
Cortar a cabeça e as mãos das vítimas, segundo o promotor Petri, era uma estratégia dos PMs para evitar a identificação das vítimas, daí o nome do grupo de extermínio ser "Os Highlanders".
FORÇA TÁTICA
Outros três PMs --os soldados Rodolfo da Silva Vieira, Marcos Aurélio Pereira Lima e Ronaldo dos Reis Santos-- confessaram as mortes de Gomes e Ferreira durante a fase de investigação do caso. Eles recorreram da sentença de pronúncia e deverão ser julgados pelas mortes em 1º de setembro.
Apontado pela Promotoria e Polícia Civil como chefe do grupo de extermínio, o soldado Vieira já foi condenado, em julho de 2010, a 18 anos e oito meses de prisão pela decapitação do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, 31. O crime foi em outubro de 2008.
Vieira foi condenado pela morte de Alves ao lado dos PMs Moisés Alves Santos, Joaquim Aleixo Neto e Anderson dos Santos Salles, que eram lotados no 37º Batalhão.
Os quatro foram expulsos da PM em dezembro de 2010. A defesa recorreu da condenação dos PMs pela morte de Alves.
Ao todo, os nove PMs acusados de integrar "Os Highlanders" são suspeitos de 12 mortes --em cinco delas, as vítimas foram decapitadas. Todos os PMs eram da Força Tática (espécie de tropa especial) do 37º Batalhão.
CHEFE PROTEGIDO
O soldado Vieira também é apontado pela Polícia Civil como chefe do grupo de extermínio porque contava com a suposta proteção do coronel Eduardo Félix de Oliveira --amigo de seu pai, o capitão Paulo Roberto da Silva Vieira, que, durante anos, esteve lotado no extinto Tacrim (Tribunal de Alçada Criminal).
Oliveira, que já foi até cotado para ser o comandante-geral da PM e ex-chefe da Tropa de Choque, por meio da Comunicação Social da PM sempre negou manter relação de proteção ao soldado Vieira ou a qualquer outro dos nove acusados de integrar o grupo de extermínio.
A Folha tenta entrevistar Oliveira desde 2009, mas ele sempre se nega a falar.
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