O estudo analisou e quantificou o impacto da mudança climática no desenvolvimento do país, nos setores da agricultura, energia, zonas costeiras e transportes, a partir de duas possíveis trajetórias do clima desenvolvidas pelo Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). A primeira, A2, prevê altas emissões de gases poluentes e aumentos na temperatura de 3 a 8°C em todo o território brasileiro até 2100. A segunda, B2, prevê baixas emissões e aumento de 2 a 5°C.
De acordo com o relatório, "os piores efeitos da mudança do clima recairão sobre as regiões Norte e Nordeste, as mais pobres do Brasil". O estudo conclui, portanto, que se o país não agir, a mudança climática só fará aprofundar as desigualdades regionais e de renda. "Todos os impactos climáticos têm consequências econômicas e socias. As populações de menor renda são sempre as mais vulneráveis, tanto em termos de moradia quanto também em termos de agricultura familiar", afirma Jacques Marcovitch, coordenador geral da pesquisa. A agricultura familiar, ou de subsistência, é a que tem menos acesso às inovações tecnológicas no setor. Inovações, essas, que levam ao desenvolvimento de novas espécies de plantas mais resistentes ao calor e à diminuição das chuvas.
De acordo com o estudo, até 2100 haverá uma diminuição de 2 a 2,5 mm diários de chuva no Nordeste, causando perdas agrícolas em todos os Estados da região. Esse déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte e afetaria a vazão de rios importantes para a geração de energia, como o Parnaíba. A redução da vazão pode chegar a 90% entre 2070 e 2100. Na Amazônia, o aumento da temperatura pode chegar a 8°C, reduzindo 40% da cobertura florestal e alterando o bioma da região para savana (sem levar em conta o aumento do desmatamento). No Brasil inteiro, todas as culturas sofreriam redução das áreas de produção, com exceção da cana. A soja chegaria a uma queda de 34%, o milho, 15% e o café, 18%. Para se adaptar a essa mudança, o relatório propõe o desenvolvimento de novas culturas com investimentos de R$ 1 bilhão por ano em pesquisas. A modificação genética é a alternativa mais viável para minimizar os impactos, seguida por novas técnicas de irrigação.
Uma das opções, segundo o coordenador, é criar um mercado de carbono: as empresas que reduzem mais as suas emissões são premiadas de alguma forma. Tomando como referência o Plano Nacional de Energia 2030 do governo federal, a redução estimada de emissões seria de 1,8 bilhão de toneladas de CO2 entre 2010 e 2030. Isso geraria um ganho para a economia de US$ 34 bilhões em 2030 (ou US$ 13 por tonelada). Outra recomendação é brecar o desmatamento da Amazônia, que gera mudanças no clima local e regional e pode resultar em uma perda de até 38% das espécies e 12% de serviços ambientais em 2100 (equivalentes a US$ 26 bilhões por ano).
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