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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Farc estão infiltradas na 'alta esfera' no Brasil, segundo revista colombiana


Membros do governo são citados em e-mails do computador de 'Raúl Reyes', diz 'Cambio'.
Assessoria de imprensa da Presidência disse à Efe desconhecer conteúdo da matéria.
Do G1, com informações de agências

Reprodução
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Reprodução do site da revista 'Cambio' com matéria sobre suposto envolvimento brasileiro com as Farc.

A presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil "chegou até as mais altas esferas" do governo brasileiro, ao PT, a líderes políticos e ao Poder Judiciário, publicou nesta quinta-feira (31) a revista colombiana "Cambio".

A conclusão foi tirada de supostos e-mails encontrados no computador do ex-porta-voz internacional das Farc "Raúl Reyes", afirma a edição número 787 da revista semanal.


O governo colombiano, no entanto, "usou seletivamente os arquivos do computador de 'Raúl Reyes'".

A publicação acrescenta que com "Equador e Venezuela, (os arquivos) foram usados para colocar em contradição (o presidente venezuelano Hugo) Chávez e (o presidente equatoriano Rafael) Correa, hostis a (o chefe de Estado colombiano Álvaro) Uribe".


Com o Brasil, "a articulação foi feita embaixo da mesa para não comprometer Lula, que se mostrou mais hábil e menos combativo com a Colômbia", segundo a revista.



Nos e-mails de "Reyes" - cujo nome verdadeiro era Luis Edgar Devia e que foi morto por tropas colombianas em solo equatoriano em primeiro de março - são mencionados "cinco ministros, um procurador-geral, um assessor especial da Presidência, um vice-ministro, cinco deputados, um vereador e um juiz superior" brasileiros.


Algumas mensagens foram escritas durante o processo de paz da Colômbia entre 1998 e 2002 em San Vicente del Caguán, durante o governo do então presidente colombiano Andrés Pastrana, "e envolvem um prestigioso juiz e um alto ex-oficial das Forças Armadas brasileiras".


A mesma reportagem diz que "a expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também comprometeu importantes dirigentes, políticos e altos membros do PT".



A "Cambio" cita o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, a deputada distrital Erika Kokay (PT) e o chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.


Também são mencionados nesses e-mails o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e o assessor presidencial Selvino Heck.


A "Cambio" disse que teve acesso aos 85 e-mails de "Reyes" entre fevereiro de 1999 e fevereiro de 2008 enviados e respondidos pelo líder máximo das Farc, "Manuel Marulanda" ou "Tirofijo", cujo nome verdadeiro era Pedro Antonio Marín e que morreu este ano.


Ainda segundo a "Cambio", há mensagens de "Reyes" para o chefe militar das Farc, "Mono Jojoy" (cujo nome verdadeiro é Jorge Briceño), para Francisco Antonio Cadena Collazos (conhecido como padre Olivério Medina e também "Cura Camilo") e que atua como delegado das Farc no Brasil - e de todos eles com dois homens identificados como "Hermes" e "José Luis".


"Cura Camilo", preso em São Paulo em agosto de 2005, vivia no Brasil havia oito anos e foi beneficiado com uma proteção especial por ser casado com uma brasileira.


Em 2006, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) concedeu a "Cura Camilo" o status de refugiado, decisão que pesou bastante para o Supremo Tribunal Federal (STF) negar seu pedido de extradição para a Colômbia.

"Cura Camilo" foi "chefe de imprensa" da guerrilha colombiana no início dos frustrados diálogos de paz em San Vicente del Caguán.

Segundo a reportagem de "Cambio", em 22 de fevereiro de 2004, a pessoa identificada como José Luis escreveu a "Reyes" dizendo que "por intermédio do legendário líder do PT Plínio (de) Arruda Sampaio", havia chegado "a Celso Amorim, atual ministro de Relações Exteriores". Procurado pelo G1, Sampaio, atualmente filiado ao PSOL, confirmou que entrou em contato com um assessor do Itamaraty pedindo que "Cura Camilo" fosse recebido no ministério, mas que o fez por motivo "humanitário".

"Para mim, se é um cidadão que procurou o Brasil porque é perseguido politicamente, eu ajudo", disse o ex-deputado, lembrando que também já foi exilado. Ele afirmou ainda que sabia que o colombiano é ligado às Farc, mas que seu pedido não tinha o caráter de promover contatos entre o Itamaraty e a guerrilha como instituição, apenas ajudar um suposto refugiado. Sampaio completou dizendo que não sabe se o pedido foi atendido ou não pelo ministério.

Agenda externa

O chamado "dossiê brasileiro" diz que as mensagens "revelam a importância do Brasil na agenda externa das Farc (...) para dar suporte à estratégia continental da guerrilha".


As Farc, acrescenta a "Cambio", aproveitaram a conjuntura criada pela chegada de Lula e do PT ao poder para "chegar até as mais altas esferas do governo".


A "Cambio" também disse que, apesar de os e-mails serem apenas indícios de um possível comprometimento do governo Lula com as Farc - pois nenhum dos funcionários enviou mensagens pessoais a algum dos membros do grupo guerrilheiro - despertam muitas dúvidas que exigem uma resposta do governo brasileiro.


Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados em abril, Garcia disse repudiar os métodos usados pelas Farc, como seqüestros, ataques terroristas e uso de dinheiro do narcotráfico.


Naquela oportunidade, Garcia afirmou que o Brasil tem que assumir uma posição de não interferir no conflito colombiano, mas que também não pode ficar indiferente.


Recentemente, Garcia classificou como "irrelevantes" as mensagens encontradas no computador periciado pelo governo colombiano.


Consultada pela Agência Efe, a assessoria da imprensa da Presidência da República disse que desconhecia o conteúdo da matéria da "Cambio".

Em entrevista à rede de TV colombiana Caracol, o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, disse que o governo da Colômbia vai respeitar os processos judiciais brasileiros pelos supostos vínculos de altos funcionários do governo com as Farc. Segundo ele, os documentos não vão afetar as boas relações entre os dois países.

“O Brasil, com a informação que tem em suas mãos, é quem deve avançar em analisar as eventuais responsabilidades ou investigações a serem realizadas”, disse, assegurando que a Colômbia respeitará a autonomia do Brasil neste assunto.


Entenda as acusações de ligação entre as Farc e governos

Revista colombiana diz que guerrilha tinha contato com governo brasileiro.
Informações são tiradas de compuatador apreendido após morte de guerrilheiro, em março.
Do G1, em São Paulo

A revista colombiana “Cambio” publicou uma reportagem que afirma que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) tinham laços com o Brasil e que a relação "chegou até as mais altas esferas" do governo brasileiro, ao PT, a líderes políticos e ao Poder Judiciário. As informações, segundo a revista, foram tiradas de supostos e-mails encontrados no computador do ex-porta-voz internacional das Farc Raúl Reyes, morto em 1º de março.

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Reyes, que tinha 59 anos, era considerado um dos homens da linha dura das Farc e braço direito do fundador da guerrilha, Manuel Marulanda ("Tirofijo"), de quem era genro. Ele foi morto com pelo menos mais 10 guerrilheiros durante uma operação colombiana no território do Equador próximo à fronteira. O episódio gerou uma crise diplomática envolvendo os dois países e a Venezuela, que acusou a Colômbia que querer criar uma guerra na região ao não respeitar a soberania do Equador.

Dois meses depois, a Interpol confirmou que os dados encontrados em computadores de Reyes eram verdadeiros, o que mostraria uma relação entre os governos equatoriano, de Rafael Correa, e venezuelano, presidido por Hugo Chávez, com a guerrilha colombiana.

Sem alteração

O secretário-geral da Interpol, Ronaldo Noble, explicou que os peritos internacionais “não descobriram evidências” sobre uma eventual intervenção. “A Interpol conclui que não houve qualquer tipo de alteração nos dados”, pontuou o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble.



As conclusões dos peritos confirmam que Hugo Chávez financiou diretamente a guerrilha colombiana e que, por outro lado, as Farc participaram economicamente da campanha presidencial de Rafael Correa, como candidato à presidência do Equador.

Na época, o jornal espanhol "El País" teve acesso aos documentos dos computadores. Um deles é um e-mail de 12 de novembro de 2007 de um integrante da guerrilha, chamado Iván Márquez, contando aos companheiros que Chávez "aprovou sem pestanejar o pedido de US$ 300 milhões" feito pela guerrilha.

Acusações

Em resposta à conclusão da Interpol, o presidente venezuelano classificou o relatório como uma "palhaçada" e chamou o representante da Interpol como um "vagabundo internacional". "É uma palhaçada que não merece, do meu ponto de vista, um comentário sério", disse.

Logo após a eclosão da crise regional e da troca de acusações entre os presidentes dos três países, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu intermediar uma solução diplomática. Segundo Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, o governo brasileiro usaria os canais diplomáticos para mediar os problemas políticos gerados após a operação militar colombiana.

Em uma entrevista coletiva, Lula disse que o Brasil estaria à disposição da Uribe para ajudar no combate às Forças Armadas Revolucionárias. Em julho, os dois presidentes fecharam dez acordos de cooperação entre Brasil e Colômbia, incluindo dois na área de Defesa.

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