Medicamento aumentou em 44% o desempenho de cobaias que nunca se exercitaram.
Mas, para ninguém se empolgar muito nas Olímpiadas, antidoping foi criado junto.
Você é uma daquelas pessoas sedentárias que adoram assistir às Olimpíadas, mas morre de preguiça só de pensar em ir para a academia? Pois imagine levantar do seu confortável sofá, tomar um comprimido e conseguir competir lado a lado com os atletas olímpicos. Pode parecer coisa de ficção científica (ou desenho animado) por enquanto, mas é exatamente isso que um grupo de pesquisadores americanos acredita ter conseguido: uma pílula que transforma o mais preguiçoso dos mortais em atleta.
Uma pílula não, duas. A equipe do Salk Institute, nos Estados Unidos, desenvolveu dois medicamentos diferentes que têm esse “poder”. O primeiro, conhecido por enquanto apenas pelo nada simpático nome de “GW1516”, não mostrou o efeito desejado nas cobaias sedentárias, mas aumentou em 77% o desempenho dos camundongos que fizeram exercício moderado (50 minutos por dia) anteriormente. O segundo remédio, que também não tem um dos melhores nomes, “AICAR”, não teve um resultado tão significativo nos pouco exercitados, mas nos sedentários, que nunca tinham feito exercício na vida, melhorou a performance em 44%.
Por “melhorar a performance” entenda-se: os camundongos desenvolveram uma grande resistência física, correndo muito mais e cansando muito menos – um verdadeiro “supermouse”.
Os dois remédios agem nas mesmas áreas do cérebro que são ativadas durante o exercício físico. A idéia é uma continuação de um trabalho anterior da equipe: em 2004, eles alteraram geneticamente camundongos para ativar essas regiões cerebrais. O resultado foi extremamente positivo: não apenas o desempenho dos roedores melhorou, mas eles também se tornaram resistentes à obesidade e mantiveram suas taxas de açúcar sob controle -– diminuindo o risco de diabetes.
Como não é possível alterar geneticamente um ser humano, entra na história a busca pelos medicamentos. Mas, por enquanto, ainda vai demorar para eles chegarem às prateleiras, porque é preciso testar a segurança e a eficácia da medicação.
O risco de problemas não é nada desprezível, segundo o brasileiro Paulo Zogaib, professor de Medicina do Esporte da Unifesp (Universidade Federal Paulista). “O organismo é extremamente balanceado e mexer na resposta de um gene pode ser perigoso. Você altera uma coisa aqui e o corpo vai querer se equilibrar de novo. Não sabemos as conseqüências disso”, explicou ele ao G1.
Para o especialista, no entanto, é questão de tempo até algo do tipo chegar às pessoas. “É uma forte tendência atual na medicina geral, não apenas esportiva, procurar esse tipo de medicamento,” disse ele.
E isso é muito bem vindo, não apenas para quem gosta de esporte, mas principalmente para as pessoas que não gostam. “As principais causas de mortes por doença estão ligadas aos problemas cardíacos. E o principal fator de risco dos problemas cardíacos é o sedentarismo, então qualquer coisa que ajude as pessoas a se exercitar é importante”, afirma Zogaib.
E, no ritmo das Olimpíadas, se algum atleta passou por essa novidade e pensou que pode ser uma maneira de chegar na frente dos outros, pode ir tirando o cavalinho da chuva. A equipe liderada por Ronald Evans desenvolveu, junto com os medicamentos, o teste de antidoping para detectá-los no organismo.
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