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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

#Rio: “Pode haver mais de 5 mil mortos”




  • 18 de janeiro de 2011 |
  • 12h45 |

Major Falconi ficou impressionado com o cenário no Rio (Foto: Paulo Liebert/AE)

CAMILLA HADDAD

Bastaram segundos no Rio de Janeiro, mais precisamente na região serrana do Estado, completamente devastada pelas chuvas, para o major Carlos Eduardo Falconi, de 46 anos, 20 deles no Grupamento Aéreo da Polícia Militar, sentir o primeiro impacto: “O caos era muito maior do que se vê na tevê. As cenas são incríveis”, contou o oficial ontem ao Jornal da Tarde, por celular. “Parece o cenário do apocalipse.”

Até a noite de ontem eram 665 mortos. “Os números oficiais de mortos devem se multiplicar por três e até chegar a 5 mil pessoas”, acredita Falconi. Os desalojados (que conseguiram abrigo na casa de amigos ou parentes) eram 7.780 e os desabrigados, 6.050.

O major e outros nove homens do mesmo grupamento da PM deixaram para trás mulher e filhos na capital paulista e foram participar, no sábado passado, da missão de apoio às vítimas da tragédia. Duas equipes estão na região, onde ficarão por tempo indeterminado, coordenando dois helicópteros – os Águias 7 e 10. “Estamos em áreas onde não há luz, água, há muitos corpos”, afirmou Falconi. Levam bombeiros até locais isolados, distribuem mantimentos, procuram corpos escavando com as próprias mãos.

Não houve escala para a escolha dos policiais. Eles foram para o Rio voluntariamente. Logo na primeira noite de trabalho, as dificuldades foram surgindo. Após enfrentar tempestades e péssimas condições de visibilidade, o grupo dormiu em barracas. Outra parte preferiu se acomodar dentro do própria aeronave.

Outro oficial da missão, capitão José Alexander Freixo, de 38 anos, disse que a situação é “bem complicada”. “Sábado, por exemplo, tinha muita chuva, neblina, nevoeiro… O voo é arriscado, pois estamos falando de uma serra, são vários helicópteros, não só os da PM, sobrevoando. E existem torres de alta tensão.”

Em meio à satisfação de poder ajudar os desabrigados e ao drama por ter de carregar até corpos, bate a saudade de casa. “Não gosto de ficar falando, para não preocupar minha família. Mas tenho esposa em São Paulo e a minha filha de 2 anos, que inclusive fará aniversário no dia 25. Não sei se poderia estar ao lado dela”, conta. “Mas vale pela experiência de vida e até profissional.”

Relatório

Enquanto isso, em São Paulo, no hangar da PM, no Campo de Marte, zona norte, o tenente-coronel Marco Antônio Severo Silva, comandante do Grupamento Aéreo, dá as coordenadas e recebe duas vezes por dia o relatório das atividades, como transportar bombeiros para locais ilhados, levar comida e até resgatar corpos para um IML improvisado.

Segundo Silva, agora os policiais estão melhor acomodados. “Arrumamos uma pensão para eles.” Foram enviados ao Rio pilotos, mecânicos e tripulantes da parte operacional. “São cinco pessoas em cada Águia, entre eles um major, dois capitães e um tenente”, afirma. “O ritmo é intenso.”

Para o oficial, essa é uma tarefa que envolve o emocional e principalmente a habilidade. Foi por essa razão que ele destacou em sua lista policiais mais experientes para atuar em situações de muita chuva. “Mas eles foram voluntários e ainda tem uma lista com mais nomes, até do interior.”

Os oficiais têm dormido por volta das 23h30. Acordam às 5h30 e trabalham até o pôr do sol. O clima, segundo eles, é de muita tristeza. Eles contam que a todo momento aparecem doações, pessoas para ajudar e famílias que se sensibilizam com a tragédia.

Além das aeronaves, a PM paulista enviou um caminhão com querosene de aviação.


Entrevista

Acompanhe a entrevista com o o major Carlos Eduardo Falconi:

O major foi um dos voluntários na missão de ajudar as vítimas da tragédia do Rio. Apesar de ter presenciado tragédias como em São Luís do Paraitinga, em 2010, ficou impressionado com o que viu em Teresópolis. Como foi a chegada ao Rio?
A primeira coisa foi o impacto. A gente vê na televisão imagens como aquela corredeira ao lado de uma igrejinha, mas isso não é nada perto das cenas impressionantes. Parece o cenário do apocalipse.

E os mortos?
Os números oficiais de mortos devem se multiplicar por três e até para 5 mil pessoas. Só em um bairro que estive tinham 1.200 pessoas. Morreram 90%.

O que vocês tem feito?
Temos ajudado a levar bombeiros de um lugar para outro, embarcar medicamento e transportado corpos, porque os familiares têm o direito de enterrar. As pessoas estão escavando com as mãos, com facas. Isso choca bastante.

Como é o trabalho no Rio comparado com a rotina?
Em São Paulo, a gente está acostumado a salvar a vida. Aqui, estão retirando gente morta. Tenho 28 anos de Polícia Militar e 20 no Águia. Esta foi a pior coisa que já vi na vida, a pior experiência.

E sua família?
Minha mulher é médica do resgate (da PM). Ela vem para cá também. Só depende de algumas coisas. Meu filho é pequeno. Mas acho que ela (a mulher) vem, estamos vendo isso.

E vocês se falam?
Sim, todo dia, pelo telefone

E a alimentação de vocês?
Estamos com o pessoal da Cruz Vermelha, no centro de captação de doações. Com todo mundo junto.




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